terça-feira, 19 de setembro de 2017

As Consequências dos Incêndios


“A informação que temos não é a que desejamos;
A informação que desejamos não é a que precisamos;
A informação que precisamos não está disponível”
                                                        John Peers

Na torrente de palavreado e na esquizofrenia televisiva - ambos muito elucidativos, produtivos e pedagógicos – estamos em crer que muito poucos portugueses se darão conta da verdadeira dimensão da tragédia e das terríveis consequências de toda esta débacle nacional.
                Pois a sua dimensão é nacional e já ultrapassou até as fronteiras estando longe de tal nos ser lisonjeiro.
                Vamos tentar sistematizar todo este âmbito de modo a torná-lo mais compreensível, pondo desde logo de parte as vítimas mortais e a destruição de casas de habitação, que julgo serem as únicas que são evidentes para todos, sem embargo de tal não ter engendrado novos comportamentos e atitudes …
                Em termos materiais os custos dos incêndios florestais têm uma dimensão dificilmente aferível.
                Começa com a perda de floresta, ela própria, e os custos directos e indirectos que comporta.
                Desde logo as exportações derivadas dos produtos lenhosos, que somam anualmente muitas centenas de milhões de euros.
                Existem estatísticas de tudo isto que podem ser consultadas, pelo que não irei perder tempo com esses números. Mas convém, ilustrar os sectores afectados: serrações; pasta de papel; madeira em bruto; lenha e resíduos; frutos secos; cortiça; resina; mobiliário, etc.
                E lembramos que o pequeno país que hoje somos, apenas tem um terço do território com apetência agrícola (em constante diminuição, devido a construção de vias de comunicação algo descoordenada; urbanização em terrenos que deviam ser preservados para a agricultura e abandono); outro terço é improdutivo e o restante terço é de grande aptidão silvícola. Ora é este que, fundamentalmente arde…
                A destruição de floresta e das árvores e arbustos mais ou menos isolados acarreta a destruição de muita vida animal e vegetal associada (selvagem e doméstica); prejudica a actividade cinegética, polui os rios, as albufeiras e a própria atmosfera!
                O desaparecimento do coberto vegetal além de demorar muitos anos a ser reposto, deixa a superfície do terreno escalavrada e completamente exposta à erosão e ao arrastamento da camada mais úbere, aquando das primeiras chuvas, sobretudo se forem intensas.
                Esta catástrofe ajuda à desertificação do interior, à perda de postos de trabalho e à pobreza e miséria forçada de muitas famílias.
                O combate aos incêndios causa acidentes, mortes, perda e desgaste de material; desperdício de milhares de horas de trabalho que melhor seriam aproveitadas noutras áreas e cansaço extremo induzido em milhares de pessoas envolvidas no combate a esta verdadeira praga.
                Para já não falar nos milhões de euros vertidos nos meios aéreos o que constitui um negócio chorudo, que bom seria fosse terminado.
                Além disso e parece que ninguém quer reparar nesse “pormenor”, o combate aos incêndios consome milhares de quilómetros cúbicos de água que muita falta fazem ao abastecimento das populações, ao regadio e ao abastecimento dos níveis freáticos, numa altura em que as reservas estão no seu ponto mais baixo!
                Os incêndios pela mácula que causam são ainda prejudiciais ao turismo e à imagem do país. Parece a cultura do feio…
                Mas se os níveis de prejuízos materiais são difíceis de contabilizar o que se pode dizer dos morais?
                De facto esta repetição absolutamente inacreditável e inverosímil é sintoma de uma sociedade doente que olha, a nível das autoridades e do comum do cidadão, com ar contemplativo o desfiar das desgraças.
                Ninguém reage!
                As causas dos incêndios, cuja maioria tem origem em 99%, em erro, descuido ou acção criminosa, todos perpetrados por humanos, não abonam nada a nós mesmos.
               Quando a complementar tudo isto, existir quem se aproveite da desgraça para fazer negócio, ainda piora as coisas.
                Por outro lado assistir ao “espectáculo” das chamas, quer ao vivo, quer nas pantalhas das televisões, causa uma dor psicológica, revolta e desespero em muitas mentes, mais susceptíveis a estes eventos.
                Percorrer a seguir os campos e ver toda a paisagem devastada, triste e negra representa uma dor de alma que deprime os mais fortes.
              E, qual “cereja em cima do bolo” o granel relativo à distribuição dos donativos – a que, em muitos casos, se cobra 23% de IVA, não há adjectivos para qualificar: infama - nos!
                E tudo isto dura há 40 anos e ninguém faz nada! Nada, nem na prevenção, na educação, na repressão, na legislação, etc.
                A única coisa que sabem fazer é despejar dinheiro na compra e aluguer de meios a fim de apetrecharem um serviço de Protecção Civil, que não tem escola, estrutura, carreira, organização e sobretudo cadeia hierárquica capaz, e que se tornou um feudo das organizações partidárias que dominam os governos!
                Outra tragédia!
                Pois senhores, quanto mais dinheiro verterem no combate aos incêndios, mais incêndios haverá!
                Os incêndios, como o terrorismo têm de ser considerados uma acção de guerra.
                E guerra é guerra.
                Se estes governantes se portam como totós (e fico por aí), há que correr com eles e pôr lá outros.
                E, como pelos vistos, o actual sistema político só páre (do verbo parir) totós destes, torna-se urgente mudar o sistema político.


João José Brandão Ferreira

Oficial Piloto Aviador


Fonte: O Adamastor

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