quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Os portugueses da Birmânia, um povo de soldados

Foto de Nova Portugalidade.


Chegaram a Myanmar (o nome por que o birmaneses designam o seu país) na terceira década do século XVI, servindo sucessivamente as dinastias de Ava, Toungoo e Konbaung. Ao longo de 300 anos, a minoria luso-birmanesa especializou-se como grupo social estratégico, desempenhando funções administrativas relevantes no palácio, no comércio internacional e no exército.

Em Merguy, Tavoy e Dagon (hoje Rangum, capital histórica do Myanmar), principais portos de mar, a função de shabandar, ou seja, de capitão portuário, foi sempre desempenhada por estes católicos habilitados para o uso das duas línguas francas então usadas no Sudeste-Asiático, o malaio e o português. Depois, com a afirmação do poder britânico a partir de meados do século XVIII, passaram a dominar o inglês e ganharam uma nova competência; transformaram-se em tradutores e intermediários em todas as embaixadas enviadas pelos britânicos à corte birmanesa. Posto que Calcutá, então sede do poder britânico na Índia, se transformara lentamente em importante pólo comercial, os governantes birmaneses ali procuraram estabelecer agentes comerciais e diplomáticos. Assim, coube aos portugueses da Birmânia tal importante tarefa. Não é, pois, de estranhar que a sua influência fosse crescendo, ao ponto de um dos últimos reis da dinastia Konbaung ter tomado como uma das suas mulheres uma rapariga luso-birmanesa.

Mas foi como comunidade marcial que os nossos luso-birmaneses ganharam notoriedade. Nas lutas com o Sião, com o império chinês e, finalmente, durante as três guerras com os ingleses - primeira guerra anglo-birmanesa (1824-1826), segunda guerra anglo-birmanesa (1852-1853) e terceira guerra anglo-birmanesa (1885) - as unidades católicas do exército real birmanês, armadas à europeia, transformaram-se na espinha dorsal do dispositivo birmanês. Para além de unidades de atiradores, constituíram-se unidades de artilharia de campanha cuja eficácia foi repetidamente comprovada nos campos de batalha, em assédios e operações defensivas.

Na imagem, uma força de infantaria composta por portugueses da Birmânia. A portugalidade do contingente é-nos revelada pela bandeira, uma cruz negra sobre fundo vermelho.

MCB

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