Foi no dia 5 de Setembro de 1997 que o mundo foi surpreendido com a morte da Madre Teresa de Calcutá, fundadora das Missionárias da Caridade e prémio Nobel da Paz, que a 26 de Agosto completara 87 anos. Alguns dias antes, mais precisamente no último dia do mês de Agosto desse ano, uma outra notícia chocante, no sentido mais literal e dramático do termo, causou consternação mundial: Diana Spencer, princesa de Gales pelo seu casamento com o herdeiro do trono britânico, morreu em Paris, vítima de um brutal acidente automobilístico.
Há quem diga que, para Deus, não há coincidências. A verdade é que nada faria suspeitar que aquelas duas pessoas tão diferentes, se iriam encontrar em vida e também na hora da morte. Com efeito, não obstante pertencerem a diferentes confissões cristãs, a princesa Diana tinha procurado na Madre Teresa algum apoio. Por sua vez, a santa dos mendigos de Calcutá morreu quando estava, precisamente, a preparar uma cerimónia religiosa em sufrágio da sua amiga Diana, falecida apenas uns dias antes. Não era de esperar esta amizade, mas a fama da benemérita religiosa católica já há muito tinha ultrapassado as fronteiras da sua Igreja, sendo mundialmente reconhecida e respeitada pela sua santidade. Também foi, como é da praxe em relação aos verdadeiros discípulos de Cristo, violentamente criticada, sobretudo pela sua denúncia dos excessos da sociedade consumista e pela sua corajosa defesa do direito à vida dos nascituros.
Diana Frances Spencer, também conhecida por Lady Di, e Agnes Gonxhe Bojaxhiu que, em religião, foi a Madre Teresa de Calcutá, estavam, em termos humanos, nos antípodas: Diana era jovem, elegante, bonita e princesa; Teresa era idosa, pequenina, e – que me desculpem os que, como eu, são devotos da santa – bastante feia. Enquanto Diana vivia entre reis e príncipes, morava em palácios reais, vestia lindamente e usava diademas e outras jóias magníficas, Teresa de Calcutá percorria os bairros de lata, entre os mendigos mais miseráveis, sempre vestida com o seu pobre sari branco debruado a azul, com um único adereço: um pequeno crucifixo ao ombro.
Paradoxo: aquela que tudo tinha para ser feliz, não o era; e, aquela que nada tinha do que muitos entendem indispensável para a felicidade, era felicíssima! Com efeito, a princesa, apesar de todo o glamour e esplendor da sua condição real, era uma pessoa profundamente infeliz, mas a pequenina religiosa, sem quaisquer bens, nem beleza que atraísse, irradiava uma alegria que a ninguém deixava indiferente.
No momento do acidente fatal, dadas também as circunstâncias trágicas em que o mesmo ocorreu – curiosamente, no parisiense túnel d’Alma! – foram inúmeras as manifestações de pesar pela morte da princesa de Gales. Com a morte de Teresa de Calcutá aconteceu outro tanto e, desde então, a sua popularidade só tem aumentado, graças também à sua beatificação em 2003, escassos seis anos depois da sua morte. Treze anos depois, em 2016, Agnes Bojaxhiu foi canonizada, depois de comprovado, científica e teologicamente, mais um milagre atribuído à sua intercessão.
Vinte anos volvidos sobre a tragédia que vitimou a princesa Diana e sobre a santa morte da Madre Teresa de Calcutá, talvez seja hora de fazer o balanço, certamente provisório, destas duas vidas tão diferentes que Deus, mais do que o calendário, juntou no seu derradeiro momento. Talvez seja chegada a altura de reconhecer que os nossos sonhos de poder, riqueza, fama e beleza mais não são do que pesadelos do egoísmo, porque incapazes de encher de felicidade o coração humano. Mas, quantas jovens, se lhes fosse dado escolher ser Diana de Gales ou Teresa de Calcutá, fariam sua esta última opção?! Quantos pais, até católicos, prefeririam uma filha missionária da caridade a uma filha princesa do Reino Unido?!
Talvez a infeliz vida e tristíssima morte de Diana de Gales tenha desmentido, de uma vez por todas, o disparatado conto da menina que, qual gata borralheira, casa com um príncipe e é muito feliz para sempre. Talvez seja chegado o momento de reconhecer, neste vigésimo aniversário da morte de Santa Teresa de Calcutá e da princesa Diana, que a verdadeira felicidade não está na beleza, nem na fama, nem na riqueza, nem na saúde, nem na juventude ou na elegância, mas em amar, mesmo quando se é pobre, velho, sem beleza física e, até, se vive entre os mais pobres dos pobres.
Também pode haver, e é urgente que haja, muitas princesas e rainhas santas, como a Rainha Santa Isabel de Portugal e a Santa Joana, princesa, bem como ‘primeiras damas’, governantes e deputadas que sejam igualmente virtuosas. O importante não é ter, mas ser; não é brilhar, mas servir; não é procurar a própria felicidade, mas fazer felizes os outros porque, como Jesus Cristo ensinou há dois mil anos, há mais alegria em dar do que em receber (Act 20, 35).
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