Nascido Jorge Martins em Alpedrinha, terra das Beiras, era humilde filho do caseiro de uma quinta. Damião de Góis diz da família que seriam "gente muito baixa, popular e pobre", o que parece confirmar-se pelo destino que o rapaz, fugido da terra de origem, veio a conhecer em Santarém: foi guardador de porcos, trabalho decerto honrado, mas tão desprestigiado para um moço nascido em 1406 como nos nossos dias. Seja como for, a sorte de Jorge mudou ao ter maneira - que lhe chegou por via da Igreja, verdadeiro elevador social - de frequentar a universidade, que então se situava em Lisboa. Cumpriu lá a formação que se esperava de um homem da Igreja e foi capelão no Hospício de Santo Estói. Tornou-se reputadíssimo latinista, chegando a confessor de Dom Afonso V. O Rei enviou-o em missão a Paris, que Jorge cumpriu como diplomata e onde aproveitou para prosseguir os estudos.
Homem verdadeiramente notável, de inteligência brilhante e reconhecida, Jorge Martins tornou-se Dom Jorge da Costa ao ser elevado a Bispo de Évora, que foi por um ano após 1463. Foi depois Arcebispo de Lisboa até 1501 e, dali à sua morte, Arcebispo de Braga e, por isso, Primaz das Espanhas. Em 1476, Sisto IV fê-lo cardeal. Em 1483, contudo, Alpedrinha abandonou o Reino para lhe não mais regressar. Incompatibilizado com Dom João II, que sucedera a Dom Afonso V em 1481, o Cardeal Jorge da Costa mudou-se para Roma, de onde nunca deixaria de ir estendendo a sua influência. Ao governo de muito da Igreja portuguesa, que manteve de Roma, foi-lhe adicionado o de numerosas dioceses italianas. Ao longo da carreira, Alpedrinha, como a História o registou, foi Bispo de Évora, Porto, Viseu, Algarve e Ceuta, assim como Arcebispo de Braga e Lisboa. Em 1503, foi eleito Papa pelo Colégio dos Cardeais, mas recusou receber a Tiara papal. Fê-lo Júlio II que, diz-se, recusaria já Papa a vénia do cardeal português por entender que devia ter sido aquele a herdar os destinos da Igreja.
Vindo do nada para tornar-se um dos homens mais influentes da Igreja e da Europa do seu tempo, Dom Jorge da Costa morreu em 1508 aos 102 anos. Se a tivesse desejado, poderia ter sido o segundo filho de Portugal a sentar-se na cadeira de Pedro.
Fonte: Nova Portugalidade
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