quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Primeira mulher eleita para a presidência da Causa Real


Teresa Côrte-Real sucede a António de Souza-Cardoso na chefia da associação que defende o ideal monárquico em Portugal

As reais associações que integram a Causa Real elegeram este domingo, em Rio Maior, a primeira mulher para a presidência da associação que representa o ideal monárquico em Portugal.
Teresa Côrte-Real, professora no Colégio de Santa Doroteia e formada em Relações Internacionais, liderava a única lista candidata aos órgãos sociais da Causa Real e sucede a António de Souza-Cardoso.
A eleição resultou do voto dos 80 delegados presentes no XXIV Congresso da Causa Real, que decorre este fim de semana em Rio Maior e representando as Reais Associações existentes no continente e ilhas.
A nova presidente explicou ao DN que aceitou candidatar-se com "a missão muito clara de demonstrar a actualidade da solução monárquica".
Isso passa por "dois pontos muito importantes", referiu Teresa Côrte-Real: promover o "património comum que apenas a Monarquia pode representar" como factor de união e "a valorização do mundo português, da comunidade lusíada espalhada no mundo" e que tem em D. Duarte, Duque de Bragança, um elemento agregador.
Eleita para um mandato de três anos, Teresa Côrte-Real disse ir liderar uma "lista de continuidade em que entram pessoas novas" e com uma "representação transversal a todo o país em termos de origens profissionais e etárias".
"Achamos que é possível construir algo de diferente e há uma alternativa que pode aumentar a soberania e a coesão nacional" dada a sua "natureza inclusiva", enfatizou a primeira presidente da Causa Real.
A Causa Real é uma associação que visa a defesa do ideal monárquico, da instituição real "e no limite a restauração da monarquia em Portugal", lê-se na respetiva página oficial na Internet.
Fonte: DN

terça-feira, 30 de outubro de 2018

Portugal não era uma potência racista

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Um aristocrata do Reino do Congo, no que é hoje Angola, com a bandeira de Portugal. A aristocracia congolesa era reconhecida por Portugal, e os seus membros ocupavam cargos no governo local e no exército.

" Para destuir um povo, devem primeiro cortar-se as suas raízes" 
Alexander Solzhenitsyn

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

A alternativa

As eleições brasileiras trouxeram um vento de guerra ideológica a Portugal. Guerra amena, a nível da classe política – esmagadoramente pêtista ou sem vontade de se dissociar do pensamento dominante, com uma maioria de esquerda e uma minoria de neutros, indecisos e não comprometidos. Guerra entre todo um tolerante exército e um tenebroso candidato fascista, totalmente isolado mas armado até aos dentes.  Totalmente isolado porque, a crer nas reportagens da televisão portuguesa, todos os entrevistados estão contra ele e não há manifestação em que não se grite “ele não”. Armado até aos dentes porque carrega todo o arsenal bélico que a palavra “fascista” implica.
Para o combater, só mesmo um luso abaixo-assinado, apelando à unidade anti-fascista dos eleitores brasileiros. Foi o que destemidamente fizeram centena e meia de personalidades portuguesas. Porque se bem que, sempre segundo a comunicação social portuguesa, todos estejam contra Bolsonaro, parece que sempre há cinquenta milhões de incautos eleitores brasileiros que votaram nele, que inexplicavelmente votaram nele, cedendo a múltiplas e infames manipulações e ignorando o perigo iminente do fascismo.
Porque se Bolsonaro é “fascista” e de “extrema-direita”, já Haddad não é “comunista” nem da “extrema-esquerda”. É um académico moderado, que passou incólume e honestíssimo por entre os pingos da chuva, enquanto os seus companheiros do PT montavam os mecanismos de saque.
Quanto ao abaixo-assinado, não me vou alongar muito mais em comentários agrestes (por ser amigo de alguns dos signatários), mas não posso deixar de notar o quê de arrogância ou até de neo-colonialismo por detrás da iniciativa: ter nomes representativos da ex-pátria-mãe a recomendar aos cidadãos da ex-colónia e actual país irmão o voto em determinado partido não será muito democrático. A atenuante é que o documento não deve produzir grande efeito.
Por boas e más razões, não me parece que Jair Bolsonaro seja fascista, a não ser se considerarmos “fascista” sinónimo de “mau”: mau rapaz, má pessoa, desumano, cruel, criatura que podia ter sido porta-bandeira de Átila, familiar da Inquisição, guarda de Auschwitz, sicário de Anastácio Somoza. É com este sofisticado rigor que parte dos media, dos intelectuais e das personalidades preocupadas com o que vai pelo mundo, classifica de “perigo para a democracia” tudo o que saia da vulgata, sem procurar identificar a raiz dos problemas.
É tentar esvaziar o mar com um balde, porque é de um incontornável fenómeno de rejeição popular que se trata.
Politicamente, admite-se um leque que vai de direitas e centros liberais e internacionalistas até às extremas-esquerdas das “causas fracturantes”. Desde que não saiam destas baias, que monopolizam a respeitabilidade democrática, tudo se admite – dos bilionários da informática aos saudosos do trotskismo ressuscitado, dos eternos devotos do rigorosamente ao centro, aos originais que vêem nos beijos dos netos aos avós um caminho para personalidades autoritárias.
Na realidade, o que acontece desde o Brexit britânico de Junho de 2016 é um movimento de contestação ao sistema instalado. Um sistema que reduziu a política a uma criada de servir da economia; que desindustrializou a Europa e os Estados Unidos; que baniu os valores nacionais e familiares, tidos como símbolos de guerra e de opressão. Como esse mesmo sistema foi incapaz de integrar a agenda político-social crítica de globalizações e migrações descontroladas, de violência consentida e de micro-causas peregrinas, o mercado político extravasou para os tais líderes populares (ou populistas), vindos não se sabe bem de onde, mas fora dos cânones da respeitabilidade burguesa e partidária. E capazes, até por isso, de encarnar a cólera dos cidadãos desesperados com a corrupção, a hipocrisia e a falta de alternativa do sistema.
As grandes convulsões e revoluções resultam sempre de uma incapacidade de os regimes reconhecerem os seus erros e vazios e de se reformarem e regenerarem em conformidade. As grandes revoluções – e contra-revoluções – nasceram precisamente desse desvio da representação política em relação à realidade social, do facto de os modelos políticos deixarem de responder ou corresponder aos anseios sociais.
Foi assim com a Revolução Francesa que, como escreveu um historiador, “quando aconteceu já ninguém em França acreditava que Luís XVI fosse rei de França pela graça de Deus”, a começar pelo próprio Luís XVI…
A Rússia czarista também não resistiu ao impacto da guerra que acelerou um processo que vinha de trás. Assim, a autocracia dos Romanov caiu do modo que caiu e deu lugar ao que deu lançando, com o bolchevismo, uma ameaça sobre toda a Europa.
Foi esse real e iminente perigo comunista, a par da Grande Guerra e da destruição do “mundo de ontem” (de que falava Stephan Zweig), que foi decisivo para o fim das sociedades constitucionais liberais no Sul e Centro da Europa e para desencadear regimes anti-liberais, dos fascismos aos nacionalismos autoritários e às ditaduras militares.
Este contexto histórico dos fascismos não costuma ser referido. Os fascistas e os fascismos aparecem do nada, como produto da conspiração de elites tenebrosas e aventureiros e condottieri sem escrúpulos. Por ignorância ou por malícia, oculta-se sempre a origem das coisas. Em Portugal, por exemplo, fala-se da Ditadura Militar e de Salazar, omitindo a violência da Primeira República e a ditadura informal, mas real, do Partido Democrático.
Voltemos ao Brasil e à eleição presidencial: o fenómeno Bolsonaro não é só mas é também a rejeição de um mecanismo de poder e corrupção montado pelo PT em mais de uma década de governo, sob uma retórica generosa e igualitária. É também um “basta” das classes médias e populares, ameaçadas na sua segurança e exploradas pelo Partido dos explorados que se transformam em exploradores.
Há uma mudança de paradigma. Desta vez não é a ameaça da revolução e da ditadura comunista, mas são os efeitos perversos da globalização; é o descontrolo das migrações culturalmente diversas; é o terrorismo; é a imposição da contracultura agressiva das minorias. Contra estas coisas, as nações, as sociedades, as famílias, revoltam-se e defendem-se. Com soluções às vezes de excepção e que podem pôr em questão os fundamentos ideológicos e institucionais vigentes. Mas é precisamente o fracasso do que está, a incapacidade do modelo político de responder ao presente, que leva o povo a buscar alternativas onde as há.
Fonte: Observador

domingo, 28 de outubro de 2018

Le duc et la duchesse de Bragance au Palais d’Ajuda



Le duc et la duchesse de Bragance étaient lundi soir au Palais d’Ajuda lors du dîner donné en l’honneur des souverains belges en visite d’Etat au Portugal.




sábado, 27 de outubro de 2018

XXIV Congresso Nacional da Causa Real em Rio Maior

O Cine-teatro de Rio Maior recebe no sábado e domingo, 27 e 28 de Outubro, o XXIV Congresso Nacional da Causa Real. A organização do evento está a cargo da Real Associação do Ribatejo.

Durante o congresso vão ser discutidas estratégias para reorganização interna e de comunicação com a sociedade portuguesa em geral e eleito a nova direcção nacional e respectivos órgãos sociais.

Paralelamente ao congresso, no sábado, dia 27, no Restaurante “Salarium”, nas Marinhas de Sal (Rio Maior), decorre um almoço onde vai ser apresentado a nova direcção nacional da Causa Real. Mais tarde, o Restaurante “Gato Preto”, em Rio Maior, recebe um jantar de convívio que contará com a presença dos Duques de Bragança e a presidente do município, Isaura Morais.

A Causa Real é uma organização nacional monárquica, apartidária, composta por várias Reais Associações regionais implantadas em Portugal e no estrangeiro.


Fonte: O Mirante

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Os alemães que se tornaram portugueses

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Conde de Schaumburgo-Lippe


As relações entre Portugal e a Alemanha terão sido, ao longo dos séculos, as mais sinceras e menos calculadas; logo, que entre alemães e portugueses, que jamais colidiram nos interesses, há uma relação de afecto, respeito mútuo e consideração. Lembro que os alemães que em Portugal viveram desde o século XV foram sempre agentes de elevação e aprimoramento. Há muitos anos, tendo o Professor Artur Anselmo como professor num curso sobre a história da edição em Portugal, fui confrontado com a evidência da prioridade alemã na instalação da arte negra ou da imprimição em Portugal, com esses míticos Johann Gherlinc - talvez o impressor do incunábulo Tratado de Confisson - mas também Valentim Fernandes (ou antes, Valentin Ferdinand), escudeiro de D. João II e expoente da prototipografia portuguesa, mais Hermann von Kempen, coroas de glória da edição em Portugal. Valentim Fernandes foi português por adopção, tabelião dos mercadores de Lisboa e dono da Formiguinha que acompanhou as primeiras jornadas ao Oriente, tradutor das viagens de Marco Polo, responsável pelas Ordenações.

Depois, o que teria sido o Portugal militar dos séculos XVII e XVIII sem o conde-duque de Schomberg e sem Friedrich Wilhelm Ernst zu Schaumburg-Lippe ? O que teria sido do património monumental português sem esse príncipe e protector das artes e das letras que foi o Rei D. Fernando de Saxe Coburgo-Gota, edificador da Pena, salvador da Batalha, entusiasta e divulgador da ópera, comissário das participações portuguesas nas primeiras grandes feiras mundiais ?

Os alemães que em Portugal viveram lutaram sempre contra o preconceito xenófobo, tiveram de provar superioridade e exibir público amor por nós para, finalmente, serem aceites como iguais. Não há campo onde não se tenham evidenciado. A arqueologia portuguesa, que era coisa pouco menor que campanhas de destruição (com excepção honrosa para Estácio da Veiga), ganhou respeitabilidade científica com o casal Leissner (Georg e Vera) e com o Instituto Arqueológico Alemão. Os alemães rendidos a Portugal estiveram em todos os campos das letras, das artes, da música, da investigação científica e da promoção da educação. Nunca nos tentaram colonizar ideologicamente. Amaram este país e, que eu saiba, nunca lhes tributámos agradecimento.

MCB

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

O Rei Como Pilar Moral



Escreveu S.M.F. El-Rei Dom Pedro V de Portugal: “As nossas desagradáveis questões políticas têm feito esquecer a natureza verdadeira das cousas, e para os seus fins tem confundido tudo.”; e ‘Se os governos quiserem hoje ser úteis à sociedade, se eles não quiserem adiantar a época do terrível cataclismo que espera um estado de coisas factício em que o dolo e imoralidade e o ludíbrio do Povo ocupa uma parte tão considerável, eles terão que olhar mais pelo Povo que padecia em silêncio sem se queixar porque já nem mesmo se sabe queixar.’; e também: “Sabemos que os Reis são homens como os outros, que eles têm desejos, paixões e defeitos; que eles têm os meios naturais de satisfazer a esses desejos, de ceder ao império dessas paixões, e de seguir a via errónea dos seus defeitos; mas devemos também lembrar-nos que existe para eles uma lei moral muito mais severa do que para os outros, porque quanto mais elevada é a posição tanto maior é a influência do exemplo.”
Subscrevemos sem moderação as palavras d’El-Rei, pois, de facto, a função Real é um Ofício que o Monarca deve desempenhar com sentido de missão, pois constantemente sobre o escrutínio público o Rei procura desempenhar o melhor possível o seu serviço dirigido no sentido do aperfeiçoamento constante.
Só um Rei terá uma superior consciência dos problemas nacionais, pois a educação de um Príncipe é orientada da forma que se entende ser a mais adequada ao melhor desempenho do seu futuro mester de Rei, de forma a reinar da forma mais útil e favorável para o País. Reinar é uma especialização na defesa dos interesses da Nação que nunca podem ser alvo de desdém e indiferença.
A mais-valia do Monarca consiste num misto de preparação, probidade e neutralidade, que evita que o Rei caia no aperto da impreparação – maduro a tomar decisões nunca saltará etapas que possam perigar o estado da Nação -, nunca tropeçará no embaraço da falta de ética, na enrascada do comprometimento, pois mantém uma posição de neutralidade em relação a questões políticas, imune a lobbies, sem compromissos unilaterais que feririam a dignidade do poder moderador que se Lhe exige, enquanto Chefe de Estado, e de titular do poder executivo, que delega no Ministério do Reino, governando não as pastas, mas o Presidente do Ministério ou PM.
A política, pela sua própria essência, campo de pelejas intermináveis, sobrecarregada de invejas, tem esse destino singular de ser ferida e acicatada, por questões, interesses e lobbies partidários, económicos e financeiros ou mesmo desta ou daquela classe social. Por isso não poucas vezes o bem comum não está suficientemente acautelado.
Assim a função de reinar elimina os comprometimentos e as frívolas promessas de campanha e torna a chefia do Estado merecedora de confiança, porque independente de calendários e questiúnculas eleitorais.
Ora, com a figura do Rei que exprime a virtude da dedicação ao bem comum e tem uma superior consciência dos assuntos nacionais, representando da forma mais ética possível a Nação, a Comunidade confia no Rei e revê-se nele, e quererá seguir-lhe o exemplo o que vai fazer repercutir nas instituições democráticas essa ordem.
No nosso ainda novo século, como em nenhum outro antes, testemunha-se nas repúblicas o maior desprezo pela política e pelas instituições, supostamente, democráticas, muito pelo que acontece nos gabinetes do actual sistema, em que políticos manhosos, empanturrados de afetação, sobranceria e questiúnculas de ética duvidosa, exercitam a poder com dominação achando-se depositários da jurisdição totalitária de abater a vontade do Povo e os princípios morais que devem reger o exercício de funções públicas.
Muitas vezes num ambiente de óbvias tensões, de uma enorme cadeia de causas e feitos, de inúmeros interesses individuais, é esse fim último de Bem Comum que só uma figura totalmente livre e independente pode ter o discernimento para perceber. Essa liberdade, absolutamente necessária, só um Rei possui: “Nosso Rei é livre!”. O Rei, também, protege e ama o Povo e a Nação e todas as suas coisas; aos primeiros ama como um Pai e as suas coisas guarda como se fossem Suas. Lembremo-nos da célebre tirada d’ El-Rei Dom João II: ‘Quero que se entenda que a Bandeira Portuguesa defende e protege até um papagaio!’
Servir! – Sempre servir… o Povo, a Nação, até à morte e até depois dela… pelo exemplo!
Miguel Villas-Boas

domingo, 21 de outubro de 2018

A Portugalidade, obra do padre e do missionário

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«Se quiseres chegar ao coração dos povos e tocar a sua alma, começa por compreendê-los – na sua língua, nas suas tradições, nos seus costumes, nos seus olhos, nos seus valores; só então poderás ver a sua alma e saberás como levar até ela a Mensagem.»

Eis uma citação de um Manual de Instruções para os Missionários Portugueses de meados do século XVI, tão longe do «crês ou morres» referido por historiadores desonestos como atitude predominante dos evangelizadores lusos. Para que esta tarefa se tornasse possível, os Missionários Portugueses elaboraram manuais para a aprendizagem da língua portuguesa para as populações autóctones, bem como para tornar acessível aos missionários e colonizadores as línguas nativas. Desse extraordinário esforço resultou um conjunto de obras impressas que ainda hoje nos espanta pela sua precisão e técnica pedagógica: desde as «Cartinhas para ensinar a ler» de D. Diogo de Ortiz, Bispo de Ceuta, até aos manuais, dicionários e gramáticas das línguas nativas, como a «Arte da Língua de Angola» ou «Arte da Gramática das Línguas mais usadas no Brasil», entre muitos outros.

«Se quiseres chegar ao coração dos povos e tocar a sua alma…». Esta frase e tudo o que se lhe segue, escrita no século XVI por Portugueses e para Portugueses, traduz exatamente o sentir e a alma de um povo que soube encontrar-se com os outros povos que a Europa ainda não conhecia; com todos os defeitos, erros e desatinos que muitos cometeram – sem eles não seriam humanos; mas era uma linha de conduta que acabava sempre por vir ao de cima, tal como vinha já dos primeiros tempos da nacionalidade, e como continua ainda hoje num povo que não perdeu as faculdades de hospitalidade, convivência e abertura.

É este o sentido profundo da Portugalidade, que, apesar das sombras que também a enegreceram, conseguiu criar uma identidade e civilização comuns. Mau grado as dificuldades e obstáculos, o pequeno retângulo europeu conseguiu espalhar-se pelo mundo graças à sua capacidade de se envolver com o outro e compreendê-lo.

Miguel Martins

sábado, 20 de outubro de 2018

O nosso Rei é livre

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Em 1986 Marcelo Rebelo de Sousa definia deste modo os partidos políticos: “toda a associação duradoura de cidadãos ou entidades em que estes se agrupem, que vise representar politicamente de modo global a colectividade e participar no funcionamento do sistema de governo constitucionalmente instituído, para o efeito contribuindo para a designação dos titulares dos órgãos do poder político do Estado.

O processo de integração europeia - no qual Portugal participa precisamente desde aquele ano - tornou patente a insuficiência de uma definição como a anterior, que exclui a dimensão supra-estatal da acção partidária bem como a possibilidade de criação e estabelecimento de partidos transnacionais destinados a actuar em sistemas políticos, como é o caso do da União Europeia, que integram mas extravasam o âmbito nacional. É impossível dissociar os partidos dos países europeus e os seus líderes desse processo de integração. Eles estão na sua génese e, em boa medida, contribuíram para o moldar.

O Parlamento Europeu constitui a instituição europeia - ou órgão se nos ativermos à classificação tradicional portuguesa - em que mais directamente se reconhece essa presença dos partidos políticos e dos seus eleitos e é a que, nos termos dos Tratados que regem a União, deveria representar directamente os cidadãos da Europa. Esses mesmos Tratados atribuem aos «partidos políticos ao nível europeu» - designação ampla que inclui partidos nacionais e partidos europeus constituídos e a constituir - a função de contribuírem «para a criação de uma consciência política europeia e para a expressão da vontade dos cidadãos da União.»

Hoje não existem apenas partidos políticos nacionais mas, também, partidos políticos europeus e vislumbra-se a possibilidade de criação de verdadeiros partidos políticos globais que substituam as “internacionais” vigentes, como a IDU – International Democrat Union (conservadora), a Internacional Socialista, a Internacional Liberal, a CDI – Centrist Democrat International (democrata-cristã/popular).

A experiência da “europeização” das instituições e actores políticos aprofundou e articulou os diferentes níveis e modalidades de formações partidárias que passaram a coexistir e a interagir. Dessa coexistência e interacção resultou a agregação da maioria dos principais actores políticos nacionais em torno das grandes famílias políticas e a sua articulação de um modo transnacional. Esta circunstância é um resultado inevitável da existência de uma nova esfera de actuação política e não deve ser vista como inerentemente negativa. Será aquilo que, em concreto, dela for feito e pode ser usada muito justamente em benefício dos interesses nacionais.

No entanto, a criação e funcionamento destas redes partidárias transnacionais – formais e informais – aconselha a existência de um poder livre da sua influência, detentor de autoridade própria, emanada do povo que serve e da história que a legitima. Um poder imune, pela natureza e pelo exercício, ao potencial efeito prejudicial das redes. Capaz de representar a nação, de se identificar com ela e de se dedicar a ela exclusivamente.

Sendo certo que a Chefia de Estado republicana não acarreta necessariamente a influência de, ou absorção por, ligações, cumplicidades ou interesses diferentes dos nacionais, é evidente que o curso das carreiras políticas contemporâneas, cada vez mais perpassadas pela realidade europeia, os propiciam e estimulam. Não se trata, portanto, de entender que os presidentes da república não representam os interesses específicos dos seus Estados, mas, antes, que os monarcas constitucionais são mais aptos a fazê-lo e que o fazem com mais autoridade e maior liberdade por serem distintos e mais distantes das famílias políticas europeias.

Já em 1985, ante a adesão de Portugal à CEE, Gonçalo Ribeiro Telles escrevia que “A economia da grande maioria das nações tem hoje que se integrar em espaços mais vastos e de maiores recursos. A independência dos povos históricos depende, por conseguinte, na afirmação que fizerem, em termos de instituições, de cultura e de educação, das suas raízes históricas e da maneira própria de ser e de estar no Mundo. (…) A monarquia é portanto, mais do que uma necessidade, um dever patriótico desta geração.

João Mattos e Silva disse-o magistralmente em 2010: “o Chefe do Estado tem de ser livre, como gerador e garantia da nossa liberdade. Por isso, e em nome dela, te convido a fazer a escolha da liberdade ao querer e lutar pelo regresso do Rei, livre de todas as pressões políticas e económicas, de todas as ideologias, acima das facções, comprometido apenas com a nação que fomos, somos e seremos.

A actualidade e lucidez deste convite impõem a sua renovação permanente.
Se a política portuguesa hoje não é compreensível na sua plenitude sem que se tenha em conta a participação de Portugal na União Europeia, a europeização da política nacional recomenda que a Chefia do Estado seja confiada a quem possa exercê-la em liberdade.
O nosso Rei é livre.


João Vacas
Associado nº 1924 da Real Associação de Lisboa

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Dignidade institucional...

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...ou como ele gosta de referir, sentido de Estado, nestes tempos onde o vale tudo faz escola diária, num sentido sem sentido algum.

MRS ontem respondeu a quem o interrogava acerca das eleições brasileiras, com o clássico ..."não comento eleições noutros países".

Certo.

Hoje, não resistindo a mais uma trica politicamente correcta, resolveu iniciar o discurso com ..."um dia de más notícias", logo rematando com o "extremismo, racismo, xenofobia", etc. Sem dizer um único nome, todos entenderam e o alvo também, é quase certo que por lá terá quem lhe puxe pelo cotovelo e lhe segrede o dito ao ouvido.
Errado.

Brilhante sentido de Estado, para quem num futuro próximo forçosamente sentar-se-á diante do potencial dirigente do país que não é nada mais, nada menos, senão o principal integrante da CPLP. 


Nuno Castelo-Branco


quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Obrigado, Brasil, pela coragem e pela fidelidade

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Lindíssima cerimónia no Mosteiro dos Jerónimos junto dos túmulos de Vasco da Gama e Luís de Camões, onde a Armada brasileira foi deixar prova de afecto e de respeito. O Navio-escola Brasil, da Marinha daquele país-irmão, esteve em Lisboa por ocasião de uma viagem de instrução. Na capital portuguesa, a tripulação brasileira visitou o Mosteiro dos Jerónimos, tendo depositado uma coroa de flores junto do túmulo de Vasco da Gama e homenageado os descobridores portugueses. Gesto importante nos tempos que correm, e prova de que estes ódios que hoje vemos acirrados contra os grandes da nossa História são coisa artificial e sem relação com a opinião dos povos com que nos fomos encontrando ao longo das eras. Se o Brasil vem prestar tributo a Vasco da Gama, porque deveria Portugal envergonhar-se do grande capitão?


terça-feira, 16 de outubro de 2018

Pré-inscrições abertas para os primeiros Estudos Gerais Pe. António Vieira

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A Nova Portugalidade lança em Novembro o primeiro dos seus Estudos Gerais Padre António Vieira, evento anual de dois dias em que poderás ouvir historiadores, politólogos, pensadores e outras personalidades de interesse sobre a História do Império, de Portugal e da Portugalidade, assim como sobre o seu futuro. O primeiro destes Estudos Gerais, cujo programa revelaremos plenamente a breve trecho, incluirá oradores como Jaime Nogueira Pinto, Riccardo Marchi, Narana Coissoró e Pedro Santana Lopes. Dada a limitação no número de participantes, a NP recomenda vivamente os interessados a fazerem o quanto antes a pré-inscrição. Esta pode ser realizada através de mensagem privada para a página de NP, sendo depois disponibilizados lá os seguintes passos a dar.

Há muito tempo que não se falava orgulhosamente de Portugal. Agora será diferente.

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Marcelo Rebelo de Sousa: o Pecado Original

Será que Marcelo exerce a sua magistratura como um Rei? Não. Faltam-lhe duas coisas: a verdade que o afasta do original e a distância que precisávamos que o Chefe de Estado tivesse do sistema político

Marcelo é um animal político no melhor sentido da palavra. Porque tem instinto, inteligência emocional, energia, fome de palco, vontade de intervir naquilo que hoje chamam o espaço público. Se estivéssemos a falar de um Chefe de Estado à americana, Marcelo tinha tudo: o sorriso, o afecto, a disponibilidade, a fotogenia, tudo o que se procura num político que possa assumir-se como agregador da nação, das suas culturas e identidades – numa época onde elas valem sobretudo pelo que se vier a saber que fizemos por elas e muito menos por algum trabalho sério que aprofunde a agregação cultural e sentido identitário da Nação.
E nisso Marcelo parece tão imbatível que começamos a temer que se nos acontecer uma graça ou uma desgraça, Ele nos entre pela porta adentro.
Nessa linha deste espumoso paternalismo ou, para ser mais sério, de alguém que parece preocupar-se com a vida e o bem-estar da Nação que representa, não há pai para Marcelo. Fareja a desgraça e faz dela uma festa de reconciliação e unidade; celebra a vitória, com enorme generosidade medalhística; e faz algo que exige vocação e sacrifício – que o diga Rui Rio, está presente! No bem, no mal, no assim-assim! No incêndio mais devastador, na mais paradisíaca praia fluvial, ou nos anos do sobrinho de um dos seus condóminos, Marcelo está lá! Disposto a tudo, atento ao que mexe, armado de um sorriso que nos reúne e que ele faz questão de registar em todas as selfies que puder.
O clímax deste frenesim mediático do Presidente a que assisti com genuíno divertimento – foi quando afastou a equipa médica que o tratou e fez (ele próprio) o relato do boletim clínico (dele próprio), numa altura recente em que um golpe de sol lhe terá provocado uma quebra de tensão.
Para o populismo que aí anda, onde uma Cristina Ferreira vale 10 primeiros-ministros e um Cristiano Ronaldo 100 Governos e Assembleias juntos, Marcelo veste bem o que os dias das sociedades mediáticas e dos populismos fáceis parecem exigir a um Chefe de Estado. A frivolidade que é inerente a este tipo de cultura recente pode tornar estas figuras mais fugazes, pelo desgaste e cansaço que advém de ter que estar, como a melga e o tremoço, sempre, alegremente, presentes!
Mas não é só esta a outra face da moeda. A outra pode resumir-se verdadeiramente numa palavra singela: a Verdade! Nada ou quase nada do que nestas sociedades populistas parece, realmente é! E, principalmente, nada é para ser levado muito a sério. Vejam com cuidado que consequências práticas advieram, em todos os principais dossiers da vida pública, de tanta rodopio e preocupação “marcelista” com a vida dos Portugueses.
A cereja em cima do bolo vem agora com Joana Marques Vidal. Recomendo que ouçam, serena e atentamente, as palavras espalhadas já nas redes sociais do publisher do Observador, José Manuel Fernandes, a este propósito. O afastamento de Joana Marques Vidal é o exemplo de um “conluio” estabelecido entre o sistema político para se proteger das suas fragilidades. E tal como noutras circunstâncias a rosto deste “conluio” reuniria numa “selfie” sorridente, Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa.
Muitos têm dito que Marcelo exerce a sua magistratura como um Rei. Faltam-lhe, sinceramente duas coisas – A VERDADE que o afasta do original para uma mais vulgar imitação daquilo que afinal só parece ser e o pecado original de tudo isto; A INDEPENDÊNCIA – a distância que todos precisávamos que o Chefe de Estado tivesse do sistema político e das suas declinações!
  • António de Souza-Cardoso
  • Presidente da Causa Real

Fonte: Observador

domingo, 14 de outubro de 2018

Bombeiros da Póvoa condecorados com Medalha de Mérito de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa



A Real Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Lisboa por decisão de Dom Duarte Pio de Bragança, concedeu à Real Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários da Povoa de Varzim a Medalha de Mérito de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa – Padroeira do Reino.
A cerimónia da entrega do reconhecimento será no dia 21 de Outubro, pelas 11h, na Igreja de São Roque no Largo Trindade Coelho, em Lisboa, durante a missa comemorativa dos 150 anos da Real Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Lisboa.
O acto religioso será celebrado por Dom Manuel Clemente, Cardeal Patriarca de Lisboa, que irá merecer honras de transmissão pela TVI e pela Radio Renascença.

sábado, 13 de outubro de 2018

Quando um povo se faz patriota

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Comemora-se dentro de dias a batalha de Valverde, travada a 14 de Outubro de 1385, dois meses após Aljubarrota. Coube uma vez mais a Nuno Álvares Pereira vencer no campo de batalha.

A vida do Santo Condestável é orgulhosa réplica ao anti-herói que hoje se exalta como exemplo. Não é, pois, de estranhar que tantos desertores medalhados e promovidos às culminâncias do Estado, tantos objectores de consciência e tantos arranjistas tenham saído à liça para macular o herói português de sempre com defeitos e até, pasmemos, com as mais descabeladas insinuações sobre o património que Nuno Álvares Pereira teria acumulado no rescaldo da Revolução de 1383-85. Uns, menos atrevidos, nele só querem ver o cavaleiro da Idade Média tardia, entranhado da ética cavaleiresca. Outros, cujo horizonte e gabarito se limita à exaltação da vida entre a gamela e os negócios, minimizam-lhe as qualidades intemporais do arrojo e destemor reduzindo-o a um caudilho militar ou, pior, a um ambicioso manipulador que "fez" D. João I para destruir a velha nobreza que tomara partido por Castela. De Nuno Álvares conheço razoavelmente a bio-bibliografia oitocentista e novecentista, mas às interpretações hodiernas da grande figura prefiro, de longe, por que mais impressivas e exaltantes, a Crónica do Condestável (1526), o Condestável de Portugal (1610), de Francisco Rodrigues Lobo e El Heroe Portugues : vida, haçañas, vitorias, virtud, i muerte d'el Excelentissimo Señor, el señor D. Nuño Alvares Pereira, Condestable de Portugal , de António de Escobar.

O verdadeiro milagre de Nuno Álvares foi o de formalizar o patriotismo. Onde antes havia comunidades dispersas, vínculos e suzeranias, feudatários e pendões e caldeiras, Nuno Álvares fez uma comunidade de destino, insuflou-lhe unidade e libertou-a do tempo pequeno dos interesses. O milagre português confunde-se com Nuno de Santa Maria. Antes dele, para além dos "factores democráticos", pouco mais havia que uma lealdade dinástica, um território-património, um Estado que se confundia com as necessidades dos reis. Depois de Nuno Álvares, o Estado passou a ser um nós e os reis passaram a ser reis portugueses. Tudo isto confunde os marxistas e os capitalistas, que só entendem a nação ou como "superestrutura" ideológica ao serviço de "interesses de classe" ou como necessidade "sexy", que a não vingar, aceita a mudança "sexy" das fidelidades bem pagas, o confortozinho da alcova e da mesa bem servida. Portugal foi e é uma nação pobre. Milagre foi o de haver conseguido fazer tanto com tão pouco e, depois, com tanto medo à solta, projectar Portugal para fora da Europa, dando-lhe um destino e uma missão que continua, queiram ou não os tribalistazinhos filoeuropeus, a confundir-se com as sete partidas do mundo. D. Nuno não é uma personagem literária; existiu e é vulto inspirador para tantos que teimam em permanecer portugueses - isto é, nós - num tempo de penumbra e demissão.

MCB

sexta-feira, 12 de outubro de 2018

D. Afonso Henriques Armou-se a Si Próprio Cavaleiro



Sua Mercê El-Rei Dom Afonso I Henriques, Pela Vontade dos Portugueses e Pela Graça de Deus Rei de Portugal, fazendo jus à nobreza, valentia e coragem que corria em suas veias, e que se traduziram nos Actos que levaram à Independência do Condado Portucalense e ao subsequente Nascimento de Portugal, quando era jovem havia-se armado a Si próprio “Cavaleiro”.
Em 1125, com apenas 14 anos de idade, num acto de importante relevância política, o efebo Príncipe Dom Afonso Henriques, conforme o uso e costume dos reis, arma-se a si próprio “Cavaleiro” na Catedral de Zamora, cidade onde se auto-refugiara. O Infante Portucalense torna-se assim guerreiro e cavaleiro independente considerando legitima a pretensão de tomar o governo do Condado Portucalense, pois quando o Conde D. Henrique faleceu, em 1112, o governo do condado foi assumido por Dona Teresa, uma vez que, Afonso Henriques, o filho de ambos tinha apenas três anos de idade.
Dona Teresa, em 1121, auto-intitulara-se Rainha, mas os conflitos com o Clero e a sua relação com o fidalgo galego Fernão Peres, a quem entregara o governo dos distritos do Porto e Coimbra, originou a insurreição dos Portucalenses e do próprio filho o Infante D. Afonso Henriques, invariavelmente afastados, por forasteiros, da gestão dos negócios públicos.
Assim, Dom Afonso Henriques considerando-se usurpado dos seus legítimos direitos prepara a senda aventureira que o haveria de levar a conquistar o governo do Condado Portucalense e depois à Fundação da Nação Portuguesa e a recortar o território deste tão grande País, Portugal. O primeiro Acto da Sua Gesta pode-se pois considerar o episódio em que se armou a Si próprio Cavaleiro.
O relato de Frei António Brandão in ‘Crónica de D. Afonso Henriques’é expressivo: ‘Célebre e glorioso se pode reputar, entre nossa gente o ano do Senhor de 1125, pois nele tomou a Ordem de Cavalaria o infante D. Afonso, filho da rainha D. Teresa, com cujas armas se ilustrou o nome português.
E porque o facto foi mui notável e o são também as palavras com que se lhe refere a História dos Godos, será bem trasladá-la neste lugar, para satisfação dos curiosos leitores, e são as que se seguem:
«Na era de 1163 (1125, pois só a partir de 1422 é que os documentos portugueses passam a usar a era de Cristo, logo têm que se diminuir 38 anos) o ínclito infante D. Afonso, filho do Conde D. Henrique, tendo 14 anos de idade, se armou cavaleiro na igreja da catedral da cidade de Zamora. Ele mesmo, com suas próprias mãos, tomou as insígnias militares do altar do Salvador, a uso dos reis, e se vestiu a loriga, e como gigante (que era grande de corpo) se mostrou semelhante em suas façanhas ao leão, e ao filho do leão, quando anda feroz na montaria. Foi de gentil presença, amável por sua formosura, de engenho claro, de corpo bem composto e agradável, de ânimo intrépido. Com razão podemos chamar a este rei D. Afonso, o Viriato cristão, ou o primeiro Hércules Lusitano, respeitando os imensos trabalhos que passou na dilatação da Fé, e as obras de valor estranho que executou.»’
E depois, pelas mãos do Grande Dom Afonso Henriques seguiram-se os restantes Actos que culminariam com o Nascimento de Portugal.
Miguel Villas-Boas

quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Duquesa de Coimbra elogiada pela imprensa internacional


Filha de D. Duarte de Bragança tem 21 anos e é elogiada pelo seu estilo de vida 'anónimo'. 


A filha de D. Duarte de Bragança e D. Isabel de Bragança, D. Maria Francisca de Bragança, de 21 anos, voltou a ser destaque na imprensa internacional. Um ano depois de marcar presença no baile ‘Le Bal’, em Paris , Maria Francisca, que recebeu recentemente o título de duquesa de Coimbra, está a ser novamente falada pela imprensa internacional, desta vez por ser uma jovem da realeza que não ambiciona a fama. Uma publicação da revista espanhola Vanitatis define Maria Francisca pela sua simplicidade, realçando alguns aspectos como manter as redes sociais privadas e raramente estar presente em eventos sociais, protegendo-se dos holofotes da fama. A publicação considera que a jovem tenta manter uma vida 'anónima', aproximando-se da realidade vivida entre os jovens da sua idade. Maria Francisca vive em Lisboa, com os irmãos Afonso e Dinis, estuda Comunicação Social e Cultural na Universidade Católica de Lisboa e evita falar para os meios de comunicação social, reforça a publicação espanhola.


Fonte: CM

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

A espada sagrada

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Entre a chegada de Pêro da Covilhã, em 1490, e a morte do jesuíta português Luís Cordeiro, em 1640, foi marcante a presença portuguesa na Etiópia. Depois, um manto de silêncio abateu-se sobre a memória daquelas relações, não só por Portugal ter perdido o interesse pelo Corno de África, mas por aquele reino cristão africano ter entrado num longo ciclo de decadência, guerras civis e invasões que se prolongariam até meados do século XIX.

Em 1860, dois padres capuchinhos italianos internaram-se na Etiópia e foi-lhes dito que num mosteiro das terras altas havia uma bandeira sagrada, objecto de veneração, e que todos os anos era passeada em procissão. Curiosos, os dois religiosos requisitaram um guia e tomaram caminho para ver a preciosa relíquia. No dia da procissão, foi desvelado o segredo: a bandeira era a de Portugal, o pendão das quinas.

Décadas depois, o viajante austríaco Philipp Victor Paulitschke (1854-1899), pioneiro dos estudos etnográficos naquela parte do continente negro, sabendo da existência de uma espada sagrada à qual as tribos Gallas prestavam adoração, pediu que a mesma lhe fosse mostrada. Para seu grande espanto, mostraram-lhe uma espada portuguesa do século XVI.

MCB

terça-feira, 9 de outubro de 2018

A Golpada Republicana



O hediondo atentado terrorista perpetrado pela Carbonária que ceifou barbaramente as vidas d’El-Rei Dom Carlos I de Portugal e do Príncipe Real Dom Luís Filipe de Bragança, marcaram o princípio do fim da Monarquia Portuguesa.
Com o patrocínio da maçonaria e a conivência do Grupo dos 18 composto pelos membros do Comité revolucionário para a revolução pelas armas da qual faziam parte membros do Partido Republicano, da Maçonaria, da Carbonária e dissidentes do Partido Progressista, o Regicídio foi o primeiro passo para a agenda desta coligação negativa de terroristas e criminosos sediciosos que visava depor o Rei e apropriar-se dos meios de poder e coacção num novo regime.
O magnicídio marcou o princípio do fim da Monarquia Portuguesa, e isso se pode ver naquela mesma noite, pois para além dos fiéis de sempre, que subsistiam de revólveres na mão como uma última linha pretoriana de defesa do novo Rei D. Manuel II e da Coroa, represtinando esses tempos em que era a nobreza de espada a assegurar a guarda do Rei, pouca foi a fidalguia que acorreu ao Paço para partilhar a dor da Família Real e ainda menos os políticos, persistindo apenas um João Franco e um Vasconcellos Porto. Todos os outros refugiavam-se na penumbra do medo ou na indiferença das suas casas; outros, jogadores demagogos da política aguardavam para ver o que ia resultar daquela situação! Havia ainda aqueles inocentes de qualquer falta de dedicação, pois que o progresso existente ainda não bastava para lhes fazer chegar a notícia à província, onde cidadãos urbanos nostálgicos da vida rural e descontentes com o rumo do rotativismo se haviam refugiados nas suas Casas e Solares apalaçados.
Mas os dias seguintes trouxeram, não um clamor de justiça e resgate pela afronta do assassínio daquelas vidas cortadas aos 44 anos e 22 anos, mas um torpor revoltante.
João Franco foi demitido, e de facto se podia ser culpabilizado de negligência na segurança da Família Real, que quase sem escolta percorreu os 100 passos até à morte num laudau, expostos à mercê dos terroristas carbonários, e também, podia ser responsabilizado por levantar inoportunamente a falsa Questão dos Adiantamentos à Casa Real, não podia ser admoestado pela política que desenvolvia em consonância com o Rei – cada vez mais executivo -, pois o rotativismo partidário tornara impossível governar com o Parlamento. O afastamento do Presidente do Governo seria uma opção de consequências trágicas para a Monarquia, porque a estabilidade governamental só voltara com a reforma que El-Rei Dom Carlos I estava a empreender com o governo de João Franco que perdurou entre Maio de 1906 e Fevereiro de 1908 – antes disso, nos anos anteriores sucediam-se governos um atrás do outro.
Além disso, com a queda do Governo de João Franco Castello-Branco as forças militares fiéis à Monarquia sofreram um rude golpe, quando o novo governo de Acalmação afastou o Ministro da Guerra António Coelho Vasconcellos Porto e o Ministro da Marinha Ayres D’Ornelas – um dos últimos heróis de África ao lado de Mouzinho e Paiva Couceiro. Foi um desacerto fatal, pois estes Ministros, para além do brio e da fidelidade à Coroa, eram excelentes estrategos e possuíam um forte ascendente sobre as altas e médias patentes militares, para além de serem especialistas nessa subestimada arte das nomeações. Somam-se ainda outras tolices imputadas ao novo governo: a substituição no comando militar de Lisboa de Pimentel Pinto por Rafael Gorjão; no dia 6 de Fevereiro é revogada a Lei de Imprensa e ressurgem os jornais republicanos embargados por anteriormente terem sido acusados de incitamento à revolução, como o Correio da Noite, o Diário PopularO País e o Liberal; em 12 de Fevereiro são amnistiados, os revolucionário do 28 de Janeiro de 1908, Afonso Costa, António José de Almeida, Egas Moniz, França Borges e João Chagas, e ainda os marinheiros implicados nas revoltas de 8 e 13 de Abril de 1906.
Estas cisões não se verificavam por exemplo do lado da maçonaria, nem no Partido republicano Português, que mesmo reunindo membros que nutriam uns pelos outros ódios figadais, mantiveram a união até ao golpe revolucionário que implantou o Estado das Coisas republicano a 5 de Outubro de 1910. Exemplo disso é a Carbonária Portuguesa, liderada por Luz de Almeida, apoiada pelo próprio grão-mestre do Grande Oriente Lusitano Unido, que, tendo agora terreno fértil, lançou-se no recrutamento de fidelidades nos quartéis, especialmente na Marinha.
Ao 1.º governo do reinado de Dom Manuel II, segue-se o Governo de Sebastião Teles, apoiado por Veiga Beirão e pelos lucianistas, visando pôr ordem no exército, mas já era tarde. As chefias militares, a braços com a densa burocracia, emaranhavam-se em espessos relatórios e na sua análise, assim como da decifração de falsos e elaboradíssimos planos revolucionários idealizados pelos republicanos como engodo, sem que tomassem consciência do verdadeiro perigo: o enraizamento da Carbonária entre sargentos, soldados e marinheiros. Na Câmara Baixa das Cortes o deputado republicano António José de Almeida profere um discurso iníquo: ‘a bomba de dinamite em revolução, e em certos casos, pode ser tão legítima, pelo menos, como as granadas de artilharia, que não são mais do que bombas legais, explosivos ao serviço da ordem.’ Mas o que merecia bastão da Guarda e prisão por apelar à revolução pelo terrorismo nem sequer foi alvo de suspensão. Era a banalização da liberdade, que nada valia porque tudo permitia!
Os governos que sucederam aos dois primeiros, avaliavam cegamente a lealdade dos militares ao regime através de sucessivas visitas a regimentos por El-Rei que era continuadamente aclamado, pois o problema não residia no Monarca de trato afável.
A 11 de Abril sucede o Congresso do Partido Republicano Português, em Setúbal, com a subida de carbonários ao Directório republicano e que termina com a aprovação do programa que prevê o derrube da Monarquia pela via revolucionária.
Segue-se o Governo de Wenceslau de Lima, mas que sofre forte oposição do despeitado José Luciano de Castro, que o apelida de valido de Teixeira de Sousa e qualifica o Gabinete como o governo da Politécnica do Porto.
Talvez por ser a época de maior liberdade que Portugal gozou, com censura inexistente – lembremos só as caricaturas de Bordallo Pinheiro – e total liberdade de expressão, verifica-se uma forte propaganda republicana em que se insulta o Rei por panfleto e escrito impresso através de pasquins como A Cartilha do Cidadão da Carbonária, e revistas como a Alma Nacional – dirigida por António José de Almeida – e dos mais diversos jornais criados com esse propósito; relembre-se o dito do republicano Brito Camacho: ‘quanto mais liberdades nos derem, mais delas usaremos contra eles’. A propaganda republicana demagógica assentava em mentiras descaradas: clamavam que Portugal era um País atrasado e o Povo analfabeto. Ora, em 1910, ainda em Monarquia, Portugal tinha 60% do PNB per capita da Europa; existiam 4.400 escolas públicas e 1.000 particulares; o progresso material também se constatava nos 3 000 km de caminhos-de-ferro e nos 12 218 km de estradas reais, distritais e municipais, assim como centenas de novas pontes, das quais duas no Porto e uma sobre o Tejo; e, ainda 4 323 quilómetros de linhas telegráficas, com 119 estações, e os maiores vultos das letras portuguesas assim como o progresso material haviam surgido a partir do Reinado de Dom Luís I…. mas a propaganda republicana não era cerceada, em nome da liberdade de imprensa!
A rede de serviços de informação da Monarquia Constitucional era assegurada pela pouco eficaz Polícia Preventiva, à qual escapou primeiro o Regicídio, depois, os engenhos artesanais de João Borges e Manuel Ramos, o recrutamento da Carbonária nos quartéis, os tumultos e a organização da comissão militar republicana para o derrube da Monarquia.
No Exército e na Marinha contínua o vazio de fidelidades que já vinha da deposição de Vasconcellos Porto e Ayres D’Ornellas, respectivamente  Ministro da Guerra e Ministro do Estado e da Marinha no governo de João Franco, – esta quebra da estratégia reformista levou à confusão, ao imobilismo e à deserção para as hostes carbonárias, que alcança o perigoso número de 20 mil primos. A Carbonária era uma organização política, mas de cariz armado, uma espécie de brigada de artilharia, terrorista e secreta, inimiga da Monarquia, do clero e das congregações religiosas. Oficialmente, foi fundada em 1898 e o seu líder, desde 1900, era Luz de Almeida. Era paralela da Maçonaria, embora sem ligações orgânicas à Maçonaria Portuguesa ou outras Obediências Maçónicas, não obstante ter utilizado algumas lojas do então Grande Oriente Lusitano Unido para aquartelar os seus órgãos superiores, e colaborado oficialmente com esta Obediência para a tentativa de revolução republicana falhada de 28 de Janeiro de 1908 – conspiração urdida pelos republicanos, pela Carbonária e pelos dissidentes progressistas -, para o Regicídio de 1 de Fevereiro de 1908, e, depois para a implantação da República. A Carbonária impunha aos seus filiados que ‘possuíssem ocultamente uma arma com os competentes cartuchos’.
Entretanto, atiravam ao Monarca Dom Manuel II as culpas que eram dos políticos e do sistema que os últimos foram viciando, de sorte que, por parte do rotativismo partidário nos últimos tempos da Monarquia não havia senão interesses e nenhuma sincera dedicação à Coroa – especialmente com a partida forçada de uns poucos aptos e dedicados ao Rei e à Monarquia. Todos diligenciavam as suas comodidades e agenciavam o seu sossego e ninguém dentro do sistema estava disposto ou tinha coragem para sacrificar a vida pela bondade do regímen e do Monarca.
El-Rei Dom Manuel II subsistia como a única força ainda viva e operante no País, lembrando o que Eça de Queiroz dizia de D. Carlos I! Bem ciente e zeloso das suas funções enquanto Rei procurava cumprir da melhor maneira possível as suas funções de Chefe de Estado. Dentro dos princípios da Carta Constitucional e da legalidade, sabia que naqueles momentos de nova degradação do constitucionalismo, o Monarca era essencial e deveria reinar de forma muito activa, dedicada e exercendo escrupulosamente o seu Poder Moderador, desdobrando-se incansavelmente, de forma a reformar a política de desentendimentos, de ódios invejosos e de interesses que assolava o País, pelo que se dedicava exclusivamente à servidão de reinar: ’Depois de Vós, Nós’, rezava a divisa D’El-Rei Dom Manuel II de Portugal.
Prova da Sua visão política foi a tentativa de captar para o lado da Monarquia o emergente Partido saído da fusão do Partido dos Operário Socialistas com os outros socialistas, que por diferenças irreconciliáveis se afastaram dos republicanos, pelo que estes últimos nunca tiveram do seu lado as classes trabalhadoras. Estas diligências deixaram o Rei muito benquisto entre as classes operárias. ‘Os homens de hoje, como eu, crêem com ardente fé na redenção da nossa Pátria pelo Povo, o qual intervindo, a exemplo de outros países, de um modo directo, consciente dos próprios interesses e, ouso, dizer, preponderante no andamento dos negócios públicos, há-de regenerar fundamentalmente a sociedade…, põem todas as esperanças, como uma espécie de fetichismo, na vontade indomável, na largueza de vistas, na energia que em Vossa Majestade são preciosas qualidades individuais, mas também qualidades inalteradamente herdadas’, escreveu o socialista Alfredo Achiles Monteverde a El-Rei Dom Manuel II, em 07 de Outubro de 1909.
Rei de todos e para todos, suprapartidário, independente, acima de intrigas políticas, justo e recto, Dom Manuel II nunca foi fonte de qualquer crise ou problema político.
Mas todo o génio e boa vontade do Rei embatia naquele ensejo da burguesia político-social de apropriar-se do poder definitivamente, mesmo aqueles que, porque haviam alcançado estatuto social baseado na acumulação de bens, o liberalismo fizera Pares, mas porque sem pingo de nobreza baseada no modelo de nascimento que funcionava como o mais importante classificador social em que a antiguidade era o bem fundamental da linhagem, carregavam esse estigma que os diferenciava da nobreza de espada.
Sua Majestade Fidelíssima o Rei Dom Manuel II calcorreava, ainda, o País de lés-a-lés, onde o bom e monárquico Povo português o aclamava entusiasticamente e exortava de alegria à Sua passagem, sugestionados não já pela expressão superlativa da imagem real – Ele que tinha por avoengos os Imperadores romanos da Dinastia Comnenus e Paleólogo, os Reis Capetos de França, a estirpe real dos Orleães, os Saxe-Coburgo e Gotha, os Imperadores da Hispânia, o Rei Fundador Afonso Henriques -, mas porque percorria as ruas sondando e interagindo com o Seu Povo, visitando os doentes nos hospitais, levando-lhes o tão importante aconchego espiritual, mostrando-se português em tudo e não se fazendo esquisito em estender a mão a qualquer súbdito e a dirigir a Sua palavra cordial a qualquer um.
Quando era necessário medir a popularidade da Coroa e da Monarquia, o comboio real rumava ao Porto e ao Minho. Às visitas do Rei, em qualquer localidade deste Portugal de raiz, como no Porto ou Viana do Castelo, acudia o Povo e a nobreza urbana e rural, com ruidosas manifestações de sentimento e dedicação traduzidos em ensurdecedores e castiços ‘Bib’ó Rei!’, pelo que mais do que nunca o trono do Rei de Portugal era alçado não num estrado, mas erguido nas bases sólidas do direito público nacional e escorado na dedicação recíproca entre Monarca e Povo que acontecia deste os primórdios da nacionalidade quando o Rei Fundador Dom Afonso Henriques teve esta ideia chamada Portugal.
Mas na política as crises sucediam-se e Júlio de Vilhena que se propunha formar um governo de combate, foi finalmente convidado por Dom Manuel II, mas para formar um governo que pudesse ser apoiado por todos e estabelecesse um período de trégua política entre os partidos. Vilhena não correspondeu com a diligência que se impunha ao mandado d‘El-Rei e deu-se por vencido avançando como razão lhe ser impossível conciliar os dissidentes e os teixeiristas com os progressistas. Foram então, também, encarregados de organizar o governo Teixeira de Sousa, António de Azevedo, Anselmo de Andrade e Wenceslau de Lima. Incumbe formar governo a Teixeira de Sousa, amigo pessoal de Bernardino Machado, Afonso Costa, Brito Camacho e França Borges. Teixeira de Sousa, aquele que considera que o  governo estava sempre com a liberdade, ou melhor liberalidade, e não com a tradição. Assim, tal como os republicanos, estabeleceu como adversários primordiais os clérigos e o ultramontismo.
Emergiu então, do lado monárquico um coro oposicionista de progressistas, vilhenistas, henriquistas, franquistas e nacionalistas, todos Paivantes e todos contra o governo.
O Rei apela a uma trégua nas lutas partidárias, mas não é ouvido!
O Rei e as instituições da Monarquia nunca foram os bloqueadores do funcionamento das instituições políticas, mas os que mais contribuíam para o seu funcionamento, porém a política é terreno podre.
Quanto os políticos com as suas questiúnculas estavam a prejudicar o País e a Coroa, a quem depois imputavam culpas, não merecidas, pela inaptidão própria destes homens que se meneavam nos jogos dos interesses partidários!
Em 1909, apercebendo-se que a política desestabilizava a Monarquia, D. Manuel II contrata, a expensas suas, o Sociólogo e politólogo francês Léon Poinsard, para este elaborar uma exposição sobre a situação política do País. No relatório final o francês defendeu que a solução passaria por debelar os clientelismos fruto do Rotativismo e que se devia reestruturar a administração local, e como resultado natural aconteceria a necessária reforma política. Mais fácil dizê-lo do que fazê-lo e o Monarca encontra a oposição dos políticos que na sôfrega preocupação em colher o pão diário – e algo mais – anulariam qualquer tentativa de reformar o regime político do constitucionalismo monárquico. Consequência do ‘tudo como dantes no quartel-general de Abrantes’, a situação política degrada-se e sucedem-se sete governos em apenas 24 meses.
Teixeira de Sousa invoca a herança regeneradora da lei de imprensa de 1866, o código administrativo de Rodrigues Sampaio de 1878, a electividade dos Pares de 1885 e a lei eleitoral de 1884. Sem lei nem ordem, a propaganda republicana, as manifestações, os atentados sucedem-se. De acordo com Júlio de Vilhena seguiram-se cem dias tresmalhados que acabam com a dissolução das Cortes, logo em 27 de Junho. No Conselho de Estado, votaram contra a dissolução Júlio de Vilhena, Veiga Beirão e José Novais. Foram de parecer favorável Pimentel Pinto, António de Azevedo, Melo e Sousa e Wenceslau de Lima.
Na impossibilidade do ‘governo intermédio’ que desejava o Rei e que se exigia para o País e regímen, marcaram-se eleições para 28 de Agosto.
Os republicanos cavalgam a onda e a 22 de Julho, José Relvas, Magalhães Lima e Alves da Veiga, mandatados pelo Partido Republicano Português, deslocam-se a Paris e Londres para contactos diplomáticos, regressando com o apoio da internacional maçónica, lembrando uma outra reunião, numa deslocação a Paris, em 1907, em que o supra-mencionado comité revolucionário urdira com um grupo de revolucionários anarquistas franceses o atentado para assassinar a Família Real. Com o falecimento do amigo de Portugal e da Família Real, o Rei Eduardo VII, o novo governo liberal britânico não tem qualquer interesse na manutenção da Monarquia em Portugal, até porque seria mais fácil com um novo e desestabilizado regímen republicano esbulhar as cobiçadas colónias portuguesas de África.
Ainda, em Julho, deu-se a solene instalação das oposições monárquicas e o Governo de Teixeira de Sousa, a 19 de Agosto, dizendo temer um movimento revolucionário das oposições monárquicas, põe as tropas de prevenção: errou o alvo!
Novas eleições! Na 46ª eleição geral – a 37ª eleição da 3ª vigência da Carta – realizada a 28 de Agosto de 1910, pouco mais de três meses antes da revolução que instaurou a República, a ida às urnas traduz-se numa vitória dos Governamentais de Teixeira de Sousa (58%), mas sobretudo numa vitória dos Partidos Monárquicos (91%) contra uns meros 9% do Partido Republicano Português que não traduz em voto popular o barulho que faz nas ruas, pois esse é feito pelos seus acólitos e não pelo justo e bom Povo que é Monárquico. Abre o Parlamento em 23 de Setembro, mas as questiúnculas partidárias mantêm-se, e no dia seguinte as Cortes são adiadas sine die.
Em 3 de Outubro de 1910, Miguel Bombarda, que era uma das figuras proeminentes dos republicanos é assassinado por um doente mental e os seus camaradas aproveitam e urdem uma teoria da conspiração: o médico fora assassinado a mando da Coroa! Num jantar com o Rei Dom Manuel II o presidente brasileiro de visita ao País informa Sua Majestade que se previam tumultos; Teixeira de Sousa quer pôr o exército em estado de alerta, mas o Gabinete não entende ser necessário. O infante Dom Afonso Henriques, Duque do Porto, último condestável do Reino e tio do Rei parte para a Cidadela de Cascais, o Rei fica mal guardado nas Necessidades, a jogar bridge com alguns dos seus mais dedicados áulicos.
De madrugada os republicanos apoiados no seu braço armado, uns 3.000 primos da Carbonária, assumem posições e perfilam-se para o combate. A Capital estava nas mãos inexperientes do nervoso governador militar Rafael Gorjão. O carbonário Machado dos Santos assalta o paiol do quartel de Campo de Ourique – sem resistência que se justifique relatar -, e segue com a sua milícia de maltrapilhos para a Rotunda. No Tejo o Adamastor e o S. Rafael amotinam-se, o D. Carlos permanece fiel. Cândido dos Reis, perante a manifesta incapacidade da Carbonária se apoderar do Arsenal do Exército e julgando tudo perdido, suicida-se. A artilharia 1 coloca-se ao lado dos revolucionários, mas sem sair para a rua. Na Rotunda os terroristas acantonam-se, junta-se-lhe a súcia de Lisboa que vai engrandecendo a unidade da ralé, os comandantes monárquicos ficam impávidos e não atacam. O Comandante Paiva Couceiro – o único oficial que se bateria com denodo em defesa da Coroa e da Monarquia – em torno do qual se haviam colocado as oposições monárquicas, que pernoitava em Cascais, é posto ao corrente da situação. Dirige-se ao seu quartel, mas os seus homens já haviam saído, junta-se-lhes e verifica que a moral dos soldados está em baixo. Começam as deserções em todos os quartéis que ainda se mantinham do lado do regime legítimo. Algumas centenas de cavaleiros do Regimento de Lanceiros 2 ajudam o Comandante, mas o terreno era pouco propício para a arma de cavalaria.
A luta intensifica-se nas ruas, os ministros da Guerra e da Marinha estão completamente desorientados, o Palácio das Necessidades começa a ser bombardeado e o Rei em perigo e sem protecção de artilharia que havia sido desviada para fazer frentes aos revolucionários da Rotunda, é aconselhado via telefone pelo presidente do Governo a ir para Mafra; o Rei recusa: ‘Vão se quiserem, eu fico. Uma vez que a constituição não me nomeia nenhum papel para além de me deixar ser morto, eu obedecer-lhe-ei.’, mas os áulicos insistem e persistem e o jovem Rei anui. O Rei quase perde a vida quando uma granada é atirada contra o automóvel em que seguia a caminho de Mafra, ainda que não soubessem que nele seguia Dom Manuel II vestido à civil, contrariamente ao que pretendia, pois quis substituir o anterior uniforme de gala e vestir o uniforme de marechal-general do Exército, mas não o deixaram. Ao Rei já não deixavam reinar… sequer!
Às 22 horas a corveta D. Carlos cai nas mãos dos marinheiros revoltosos e a Monarquia caía com as ameaças de bombardeamento sobre as forças monárquicas. Apenas 60 homens perderam a vida nesse dia, o que mostra a insipiência dos combates. A Monarquia é derrubada! Ou melhor a Monarquia não caiu, deixaram-na cair.
No dia 5 de Outubro de 1910, na varanda da Câmara Municipal de Lisboa, José Relvas, acompanhado de por exemplo Inocêncio Camacho, proclama a república diante dos 300 ou 400 maltrapilhos das milícias carbonárias, mas perante a indiferença dos populares que passavam, muitos dos quais nem sabiam o que se tinha passado. Um dos que compunham a varanda vira-se para outro e exclama: ‘eles já comeram muito, agora é a nossa vez!’
Horas após o golpe revolucionário El-Rei Dom Manuel II e último de Portugal, juntamente com Sua augusta Mãe, Avó e restante comitiva de fiéis monárquicos, embarca numa barqueta de pescadores rumo ao Yacht Amélia onde os aguardava o Infante D. Afonso de Bragança.
‘Forçado pelas circunstâncias, vejo-me obrigado a embarcar no iate Real “Amélia”. Sou Português e sê-lo-ei sempre. Tenho a convicção de ter sempre cumprido o meu dever de Rei em todas as circunstâncias e de ter posto o meu coração e a minha vida ao serviço do meu País. Espero que Ele, convicto dos meus direitos e da minha dedicação, o saberá reconhecer. Viva Portugal!’, declarou El-Rei O Senhor Dom Manuel II de Portugal.
O Rei deposto, mas que ainda não se dera por vencido olha o mar de frente, sem se despedir da Terra Portugal, que não imaginava, ainda, não voltaria a ver. Julgava ir para o Porto onde organizaria a resposta monárquica ao coup – daí ter pretendido abandonar o Paço de pequeno uniforme de generalíssimo, mas pouco depois o comandante do navio, ‘para segurança de Sua Majestade’, recusa essa responsabilidade até porque disse recebera ordens do presidente do Governo para rumar a Gibraltar; o presidente do Conselho era mais um repentinamente convertido em republicano, iniciando a que seria uma enorme onda de adesivismo, maculando-se todos esses traidores ‘monárquicos’ com um Crime de Lesa-majestade.
Os italianos recolheram a Rainha Dona Maria Pia e depois, já em Gibraltar, El-Rei Dom Manuel II e a Rainha Dona Amélia embarcariam no iate particular do seu primo o Rei George V do Reino Unido, encaminhando-se o último Rei de Portugal para o exílio em Inglaterra.

Miguel Villas-Boas