Conde de Schaumburgo-Lippe
As relações entre Portugal e a Alemanha terão sido, ao longo dos séculos, as mais sinceras e menos calculadas; logo, que entre alemães e portugueses, que jamais colidiram nos interesses, há uma relação de afecto, respeito mútuo e consideração. Lembro que os alemães que em Portugal viveram desde o século XV foram sempre agentes de elevação e aprimoramento. Há muitos anos, tendo o Professor Artur Anselmo como professor num curso sobre a história da edição em Portugal, fui confrontado com a evidência da prioridade alemã na instalação da arte negra ou da imprimição em Portugal, com esses míticos Johann Gherlinc - talvez o impressor do incunábulo Tratado de Confisson - mas também Valentim Fernandes (ou antes, Valentin Ferdinand), escudeiro de D. João II e expoente da prototipografia portuguesa, mais Hermann von Kempen, coroas de glória da edição em Portugal. Valentim Fernandes foi português por adopção, tabelião dos mercadores de Lisboa e dono da Formiguinha que acompanhou as primeiras jornadas ao Oriente, tradutor das viagens de Marco Polo, responsável pelas Ordenações.
Depois, o que teria sido o Portugal militar dos séculos XVII e XVIII sem o conde-duque de Schomberg e sem Friedrich Wilhelm Ernst zu Schaumburg-Lippe ? O que teria sido do património monumental português sem esse príncipe e protector das artes e das letras que foi o Rei D. Fernando de Saxe Coburgo-Gota, edificador da Pena, salvador da Batalha, entusiasta e divulgador da ópera, comissário das participações portuguesas nas primeiras grandes feiras mundiais ?
Os alemães que em Portugal viveram lutaram sempre contra o preconceito xenófobo, tiveram de provar superioridade e exibir público amor por nós para, finalmente, serem aceites como iguais. Não há campo onde não se tenham evidenciado. A arqueologia portuguesa, que era coisa pouco menor que campanhas de destruição (com excepção honrosa para Estácio da Veiga), ganhou respeitabilidade científica com o casal Leissner (Georg e Vera) e com o Instituto Arqueológico Alemão. Os alemães rendidos a Portugal estiveram em todos os campos das letras, das artes, da música, da investigação científica e da promoção da educação. Nunca nos tentaram colonizar ideologicamente. Amaram este país e, que eu saiba, nunca lhes tributámos agradecimento.
MCB
Fonte: Nova Portugalidade
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