São muitos os mundialistas; são cada vez mais. Não têm pátria, afirmam; são Cidadãos do Mundo, dizem. Destruir as nações soberanas: eis o seu programa. Que devemos responder-lhes? Talvez, como Maistre, que nunca viu essa quimera de que falavam os revolucionários, o Homem, conquanto soubesse existirem os improváveis Persas, que também existem Portugueses, mas Cidadãos do Mundo nunca vimos. Cada indivíduo, se é produto da natureza, também é produto da história, tradições e leis comuns que constituem a nação em que fez a sua aparição no espaço e no tempo. Quem o tenta negar, em geral, no mesmo acto o afirma.
Aqueles que sonham em unificar toda a terra sob o mesmo império, as mesmas leis, em que cada comunidade que hoje é soberana se converteria em província, deveriam consultar o sábio aviso de Edward Gibbon, quando narra a história da degenerescência de Roma de república em tirania. No tempo em que as fronteiras do império romano, aparentemente, coincidiam com as da terra, a ira e as depredações do tirano não eram apenas implacáveis como eram também inescapáveis. «A divisão da Europa em um número de estados independentes, unidos, porém, uns aos outros, pela comum semelhança de religião, linguagem e costumes, é causa das mais benéficas consequências para a liberdade da humanidade. Um tirano moderno, que não deparasse com resistência nem nos seus próprios escrúpulos nem no seu povo, cedo experimentaria uma suave restrição pelo exemplo dos seus iguais, por medo da sua censura, pelo conselho dos seus aliados, e pelo temor dos seus inimigos. O objecto da sua ira, escapando dos estreitos limites dos seus domínios, facilmente obteria, num clima mais propício, um refúgio seguro, uma nova fortuna mais adequada ao seu mérito, a liberdade de protestar, e talvez os meios para a vingança. Mas o império dos Romanos enchia o mundo, e, quando esse império caiu nas mãos de um só indivíduo, o mundo converteu-se segura e sombria prisão para os seus inimigos. (…) Resistir seria fatal e fugir seria impossível. Estaria cercado por todos os lados por uma vasta extensão de mar e de terra, a qual não poderia esperar atravessar sem ser descoberto, capturado, e devolvido ao seu odioso senhor».
A existência de nações independentes é não apenas uma condição da liberdade da humanidade como se revelou uma condição do seu progresso em todas as frentes da actividade humana. Os governos nacionais tiveram limitado o seu poder, vendo-se em situação de negociar soluções políticas em lugar de as impor de um só golpe. Por outro lado, a competição entre estados foi sempre um poderoso motor do progresso científico e social. O movimento entre comunidades soberanas de capitais e de trabalho, tirando partido da diversidade de circunstâncias económicas e de políticas financeiras foi uma condição do desenvolvimento das forças de produção modernas. Na verdade, só as nações, com as suas diferentes línguas, costumes e artes, permitem a expressão completa, necessariamente plural, das potências humanas.
Hugo Dantas
Fonte: Nova Portugalidade
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