segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Vale da Rosa

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Ferreira do Alentejo. Uma empresa de produção de uvas abriu as portas a dezenas de refugiados da Venezuela que ali encontraram, mesmo que para alguns a título provisório, o ansiado porto de abrigo. Não cataram subsídios, nada exigiram, não quiseram surgir nos noticiários. Encontraram a paz e a calma do dia a dia num lugar distante e até há pouco desconhecido. Quem lhes deu a mão? O Estado? As ONG sempre tão pressurosas noutros casos? A U.E.? Não, apenas alguém que tal como eles, um dia também conheceu as dificuldades da partida para destinos onde a incógnita do sucesso faz a norma.

Há dias soubemos que uma dirigente política francesa é agora alvo de retaliação estatal, dir-se-ia mesmo mega-estatal, pois a acção vem teleguiada do Reichstag de Estrasburgo, ou melhor, de quem tudo conduz na Europa: Berlim. Nada mais fez senão divulgar muito ligeiras imagens que apenas fornecem um vislumbre daquilo que todos solitariamente já vimos aumentado até à centésima potência, onde o horror das queimadas de gente a eito, as degolas em série, o arrojar de pobres diabos do alto de prédios, as lapidações na praça pública sob o aplauso de massas ululantes, violações extensivas, o trucidar de infelizes correndo desesperados para fugir às lagartas dos tanques que os perseguem, as piscinas onde se afogam desgraçados dentro de jaulas, o massacre de crianças, as escravas sexuais, as execuções em massa à beira daquele rio onde terá nascido a civilização, as valas comuns contendo centos de anónimos, enfim, o esmagador rol de crimes contra a humanidade ao longo de demasiados anos perpetrados pelo Estado Islâmico. Acusada de anomalia do foro psiquiátrico, foi a melhor prenda eleitoral que lhe poderiam fornecer a título gratuito. Um erro crasso maquinado por gente sem qualquer preparação, nem sequer aquele refinado calculismo que Maquiavel tão bem relatou n' O Príncipe.

Tudo isto é bem sabido e guardado entre paredes dos domicílios onde o tom das conversas à hora do telejornal vai paulatinamente subindo a alturas estratosféricas, impublicáveis. Um rugido surdo que provoca hecatombes eleitorais.

O Estado, seja ele o português, francês, alemão, espanhol ou belga e sueco, não reage, caído na armadilha do politicamente correcto que ele mesmo, na ganância do lucro fácil obtido pelo sempre sonhado esmagamento de salários e amálgama na derradeira tentativa de liquidar as nações - visão muito simplista, contudo exacta e de compreensão fácil, tudo podendo ser resumido nisto -, é agora contornado precisamente por aqueles de quem todos os regimes dependem: o povo.

São apenas sintomas de uma revolta silenciosa, mas no Alentejo acompanhada por actos muito concretos. Oxalá essa empresa não passe agora a ser assediada por fiscais de todo o tipo, a baixa e odiosa vingança que a todos arruina, principalmente dirigida por aqueles acobertados pela política que em Portugal e no resto da Europa, sem paradoxos, vai da esquerda à direita.

Longe das vinhas da ira, saboreámos hoje o doce néctar das vinhas da solidariedade. 


Nuno Castelo-Branco


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