quinta-feira, 25 de outubro de 2018

O Rei Como Pilar Moral



Escreveu S.M.F. El-Rei Dom Pedro V de Portugal: “As nossas desagradáveis questões políticas têm feito esquecer a natureza verdadeira das cousas, e para os seus fins tem confundido tudo.”; e ‘Se os governos quiserem hoje ser úteis à sociedade, se eles não quiserem adiantar a época do terrível cataclismo que espera um estado de coisas factício em que o dolo e imoralidade e o ludíbrio do Povo ocupa uma parte tão considerável, eles terão que olhar mais pelo Povo que padecia em silêncio sem se queixar porque já nem mesmo se sabe queixar.’; e também: “Sabemos que os Reis são homens como os outros, que eles têm desejos, paixões e defeitos; que eles têm os meios naturais de satisfazer a esses desejos, de ceder ao império dessas paixões, e de seguir a via errónea dos seus defeitos; mas devemos também lembrar-nos que existe para eles uma lei moral muito mais severa do que para os outros, porque quanto mais elevada é a posição tanto maior é a influência do exemplo.”
Subscrevemos sem moderação as palavras d’El-Rei, pois, de facto, a função Real é um Ofício que o Monarca deve desempenhar com sentido de missão, pois constantemente sobre o escrutínio público o Rei procura desempenhar o melhor possível o seu serviço dirigido no sentido do aperfeiçoamento constante.
Só um Rei terá uma superior consciência dos problemas nacionais, pois a educação de um Príncipe é orientada da forma que se entende ser a mais adequada ao melhor desempenho do seu futuro mester de Rei, de forma a reinar da forma mais útil e favorável para o País. Reinar é uma especialização na defesa dos interesses da Nação que nunca podem ser alvo de desdém e indiferença.
A mais-valia do Monarca consiste num misto de preparação, probidade e neutralidade, que evita que o Rei caia no aperto da impreparação – maduro a tomar decisões nunca saltará etapas que possam perigar o estado da Nação -, nunca tropeçará no embaraço da falta de ética, na enrascada do comprometimento, pois mantém uma posição de neutralidade em relação a questões políticas, imune a lobbies, sem compromissos unilaterais que feririam a dignidade do poder moderador que se Lhe exige, enquanto Chefe de Estado, e de titular do poder executivo, que delega no Ministério do Reino, governando não as pastas, mas o Presidente do Ministério ou PM.
A política, pela sua própria essência, campo de pelejas intermináveis, sobrecarregada de invejas, tem esse destino singular de ser ferida e acicatada, por questões, interesses e lobbies partidários, económicos e financeiros ou mesmo desta ou daquela classe social. Por isso não poucas vezes o bem comum não está suficientemente acautelado.
Assim a função de reinar elimina os comprometimentos e as frívolas promessas de campanha e torna a chefia do Estado merecedora de confiança, porque independente de calendários e questiúnculas eleitorais.
Ora, com a figura do Rei que exprime a virtude da dedicação ao bem comum e tem uma superior consciência dos assuntos nacionais, representando da forma mais ética possível a Nação, a Comunidade confia no Rei e revê-se nele, e quererá seguir-lhe o exemplo o que vai fazer repercutir nas instituições democráticas essa ordem.
No nosso ainda novo século, como em nenhum outro antes, testemunha-se nas repúblicas o maior desprezo pela política e pelas instituições, supostamente, democráticas, muito pelo que acontece nos gabinetes do actual sistema, em que políticos manhosos, empanturrados de afetação, sobranceria e questiúnculas de ética duvidosa, exercitam a poder com dominação achando-se depositários da jurisdição totalitária de abater a vontade do Povo e os princípios morais que devem reger o exercício de funções públicas.
Muitas vezes num ambiente de óbvias tensões, de uma enorme cadeia de causas e feitos, de inúmeros interesses individuais, é esse fim último de Bem Comum que só uma figura totalmente livre e independente pode ter o discernimento para perceber. Essa liberdade, absolutamente necessária, só um Rei possui: “Nosso Rei é livre!”. O Rei, também, protege e ama o Povo e a Nação e todas as suas coisas; aos primeiros ama como um Pai e as suas coisas guarda como se fossem Suas. Lembremo-nos da célebre tirada d’ El-Rei Dom João II: ‘Quero que se entenda que a Bandeira Portuguesa defende e protege até um papagaio!’
Servir! – Sempre servir… o Povo, a Nação, até à morte e até depois dela… pelo exemplo!
Miguel Villas-Boas

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