“Tem a palavra o Senhor Deputado:
- Senhor Primeiro-Ministro, isto está de tal maneira mau que até as raparigas licenciadas têm que se prostituir para sobreviver.
O Primeiro-Ministro com o seu sorriso responde:
- Lá está o Senhor Deputado a inverter tudo, o que se passa é que o nosso sistema de ensino está tão bom, que até as prostitutas hoje são licenciadas.”
Conversa de Parlamento.
A propósito de um trabalho jornalístico sobre uma possível reconfiguração da “Direita Nacionalista” (assim designada), a quem alguns conotam com a direita radical/extremista, protagonizada (ainda segundo a mesma fonte) por uma nova geração, assumidamente identitária e contra a emigração, e de uma palestra que fiz para uma jovem organização, talvez abusivamente incluída na designação atrás mencionada, fui questionado por um jornalista, que me colocou três questões sobre o assunto.
Resolvi adaptar o texto que entreguei com as respostas, o que resultou no artigo que segue.
Não tenho conhecimento especial sobre o que julgo ser apelidado sobre “reconfiguração da Direita Nacionalista…”, para além do que vem expresso nos “media”, o que me parece o mais das vezes distorcido por falta de isenção noticiosa.
Também não sei avaliar o que se deve entender por “radical/extremista”. Se for extremista, pouco a distinguirá nos fins e processos dos extremismos (totalitarismos) do outro extremo do leque partidário; se por “radical” entendermos aquele que aprofunda ou vai às raízes dos problemas, já me pareceria uma lufada de ar fresco, coisa infelizmente impensável na lógica político/partidária.
E se são contra a imigração desregrada, como também vem expresso, só é pena serem pouco.
Clarifico:
O problema “migratório” actual é muito mais um problema geopolítico do que humanitário. E deve ser parado a bem ou a mal.
Por três ordens de razões: de segurança e soberania; de integração (que alimenta várias actividades ilícitas), e sobretudo pelo risco de alteração profunda da matriz cultural, social e identitária da Nação Portuguesa (no nosso caso), como tal.
Este facto já está a gerar consequências terríveis em vários países europeus, que serão más para todos (e não só para alguns), piorando dramaticamente as questões humanitárias em vez de as minorar ou resolver.
Aquilo que se pode entender por “Direita” começou a ficar destroçado ainda antes do fim do “Estado Novo” (como a dita “Extrema Direita” foi liquidada, em 1934, com o fim do “Nacional-Sindicalismo”), Regime que prosseguia um fim político e doutrinário nacional e patriótico, algo equidistante de ideologias (ou para além delas), sem preocupações de conotações de esquerda/direita – sem embargo do seu carácter estruturalmente anti comunista, mas também anti liberal selvagem e independente de jugos estrangeiros ou organizações “capciosas” mais ou menos secretas/discretas.
Concretamente, não me parece que se esteja, ainda, a dar passos para um projecto político unitário e consistente.
Há falta de doutrina; muito “complexo de quinta”; muita divisão, etc., não tendo ainda aparecido uma liderança destacada.
Vivemos numa sociedade muito atomizada, hedonista, egoísta e individualista, para que um projecto nacional consistente – é isso o que verdadeiramente devia estar em causa – possa vingar, facilmente.
As mentiras históricas, políticas e sociais postas a correr, após o 25 de Abril de 1974, (algumas das quais passaram a ser uma espécie de “mentiras de Estado”); a blindagem que as actuais forças políticas com assento parlamentar, fizeram do sistema político e a maioria dos “média”, subvertidos pela chamada “Escola de Frankfurt”, e não só, não ajudam, também, a mudanças no “status quo”.
Além disto uma das imagens de marca das forças que sustentam a III República foi confinar o Parlamento a estar reduzido – ainda segundo a linguagem serôdia da Revolução Francesa – entre o Centro e a Extrema-esquerda…
E isto tendo por base (digo eu) a afirmação de que os Partidos Políticos são, talvez, a pior invenção de sempre, da “Ciência Política”!
Enfim, o caminho faz-se caminhando e tudo o que se possa fazer para agitar o pântano suicidário em que estamos, será sinal de Esperança.
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A actual geração, melhor dizendo uma pequena parte dela, pois está marcada, constrangida e algo asfixiada pelo politicamente correcto; a alienação futebolística, das novelas e dos concertos rock; baralhada pelo dilúvio de notícias e desinformação; desmoralizada por escândalos consecutivos de corrupção e maus exemplos e, sobretudo, tocada pelo Relativismo Moral, que atenta diariamente com a noção do BEM e do MAL está, naturalmente, a questionar e a questionar-se, a fazer perguntas e a colocar questões.
Procura novos caminhos e um ideal que valha a pena abraçar.
Eu sou apenas um velho português que não se sente ideologicamente com nenhuma força política actual.
As ideologias são invenções do pensamento humano, que muitos seguiram com boas intenções, outros como alavanca para a tomada do poder e a maioria por moda.
A sua aplicação nunca resolveu nenhum problema; criaram muitos outros e não raro desembocaram em guerras ou lutas intestinas fratricidas.
A melhor ideologia, melhor dizendo, doutrina moral e social, tem mais de três mil anos e está condensada nos 10 Mandamentos. Mas sendo apenas dez, raramente o ser humano os consegue ou quer, seguir.
O nosso País, que houve nome Portugal, tem uma matriz política e cultural coesa, que lhe vem do princípio da nacionalidade. É o país com fronteira definida, mais antigo da Europa (enfim, falta resolver a questão de Olivença e o seu termo!), quiçá do mundo, mesmo tendo em conta a realidade arquipelágica do Japão que, aliás ajudámos a unificar.
Somos um dos raríssimos países, senão o único, em que a Nação antecedeu o Estado, sendo que a maioria dos estados existentes, nunca conseguiu constituir uma nação. O caso, para nós, mais paradigmático é a Espanha.
Não existem problemas de raça, língua, cultura, separatismos (andam, porém, a querer inventar problemas com a estúpida da regionalização), ou religião.
Com este pano de fundo é natural que exista uma noção prática de coesão nacional telúrica, que entrou no nosso “ADN” (e está para além das ideologias), que seja difícil beliscar e que tem conseguido sobreviver a todos os desastres havidos e às três maiores ameaças à tal matriz inicial, que ocorreram no reinado de D. João III; a seguir à implantação do Liberalismo e na sequência do golpe de estado ocorrido a 25 de Abril de 1974, a situação mais perigosa de todas.
Por isso é natural, recorrente e lógico, que velhas questões e ameaças aflorem às mentes dos mais jovens (sobretudo quando os avós não lhes passam o testemunho), apesar das tentativas, que tenho de considerar criminosas, de se querer distorcer e, ou, abolir a memória histórica e colectiva da Nação.
Numa palavra, para se alcançar as “aspirações utópicas”, clássicas, de Segurança, Justiça e Bem-Estar – por esta ordem, já que a ordem dos termos não é arbitrária – não é necessário professar qualquer tipo de ideologia especifica, mas realizar com competência, honestidade e patriotismo – daí o problema fulcral da escolha e preparação das elites – o que for julgado adequado em cada momento para o todo nacional.
Tendo à cabeça, é bom de ver, o objectivo nacional, permanente e histórico, originado nos campos de S. Mamede, em 24 de Junho de 1128 e sedimentado em Ourique, em 25 de Julho de 1139: garantir a independência soberana da Nação Portuguesa; a segurança do território e o alvedrio das suas gentes, que o habitam vai para 900 anos.
Daqui deriva a importância da preservação do termo “Nação” e da sua idiossincrasia, que não é mais do que o conjunto extrapolado de famílias, que se identificam com a tal matriz cultural inicial, que nos formou, caldeada por todas as vicissitudes históricas, que lhes foram comuns. E que através desse cadinho de séculos se transmutou de uma realidade apenas física, para uma entidade espiritual chamada Pátria. A Pátria Portuguesa (a qual está muito para além da língua de que falava o Pessoa).
Ora para se preservar a Nação é necessário adequar todo o sistema político à mesma e não violenta-la com invenções estranhas que lhe são inadequadas, nefastas e até aberrantes.
E devemos começar pela Constituição da República, bastando referir para isso que nos seus 289 artigos (a mais extensa desde a primeira datada de 1822) não refere uma única vez o termo Nação e apenas uma vez (no seu artigo 276) a palavra Pátria…
Ora isto é só por si muito lamentavelmente revelador!
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Fui convidado a participar num fórum de reflexão cívica tão mais importante, quanto se sabe que o pensamento e o discurso político e social, nacional, foram capturados por uma partidocracia que instaurou em Portugal, não uma Democracia, mas uma ditadura partidocrática, bem como a corrupção dos costumes.
Falei sobre os “Espaços Estratégicos de Interesse Nacional”, o que está no âmbito da Geopolítica. Fundamentalmente tem a ver com o problema do Espaço; os cenários geográficos e políticos com que nos defrontamos; os interesses que são importantes defender, para Portugal e as possíveis ameaças aos mesmos.
Uma análise que, melhor ou pior, sempre se fez desde Afonso Henriques até 1974, mas que daí para cá, passou a constituir uma actividade menor, difusa e envergonhada.
Enfim, uma maçada.
João José Brandão Ferreira
Oficial Piloto Aviador (Ref.)
Fonte: O Adamastor
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