A lenda negra que pesa sobre o Magnânimo é hoje património exclusivo dos preguiçosos, dos desonestos intelectuais e dos sectários. Foi um grande Rei, não se poupou aos incómodos da função, foi entusiasta de letrados, de artistas e homens de ciência, um exigente recrutador de servidores do Estado. Ora, hoje, ao ler Mendes Coelho, deparei com um exemplo da entrega esforçada do Rei ao seu ofício. Num dia da primavera de 1721, incógnito e acompanhado de dois prebostes, cavalgou por caminhos lamacentos, dormindo em descampados e submetido à aspereza dos elementos, até que chegou a Évora pelo início da noite do terceiro dia, ordenando que os responsáveis do Santo Ofício local se apresentassem de imediato na Casa da Inquisição. Ali chegados, aturdidos pela presença do monarca, foi-lhes ordenado que mostrassem os calabouços, os alimentos destinados aos detidos, os livros de registo e de contabilidade. Assim era o tal Rei "freirático", ocioso "obscurantista". É o que digo sempre: a grande batalha em Portugal para desalojar politicamente a mentira tem de se fazer na revelação da história.
Miguel Castelo-Branco
Fonte: Nova Portugalidade
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