terça-feira, 4 de junho de 2019

Portugueses que preferiam a morte na honra à vergonha da capitulação: o sacrifício do galeão Nossa Senhora do Rosário

Oito anos sobre a Restauração da Independência, conseguida em 1640, a Holanda conservava-se firme no Brasil. Apoiado pelos ricos capitalistas de Amesterdão, o invasor penetrava perigosamente a terra brasileira, e dela ameaçava expulsar definitivamente Portugal. Em Março de 1648, transposto o Atlântico, uma pequena frota portuguesa dirigiu-se à Baía de Todos-os-Santos, no que é hoje o Estado brasileiro da Bahia, com o objectivo de desembarcar o novo governador-geral Dom António Teles de Meneses. Ao entrar na Baía, a armada foi surpreendida por força holandesa muito superior.

Grande a surpresa, maior foi a confusão. Por sorte, pôde escapar-se em segurança o galeão português em que seguia o novo governador-geral. Menos afortunado foi o Nossa Senhora do Rosário, galeão fortíssimo mas, como é normal em embarcações deste tipo, pesado, lento e mau de manobrar. Impedido de retirar-se pelo Utrecht e o Huys van Nassau, dois navios da frota holandesa, o comandante português escolheu, então, a honra sobre a vida e o sacrifício total à vergonha da derrota. Com a abordagem inevitável, a tripulação portuguesa fez rebentar o paiol de pólvora do próprio navio. Deu-se violentíssima explosão, rebentando o Nossa Senhora do Rosário e os dois navios holandeses. De parte a parte, as baixas terão rondado entre quinhentos e seiscentos mortos.

Sentido de dever, amor à bandeira, fidelidade ao Rei; estes eram portugueses que se guiavam por altos princípios, e esses princípios pagaram-nos centenas deles, marinheiros de Portugal, com a própria vida naquela tarde de Março de 1648. A frota holandesa, privada dos melhores navios, retirou-se em desordem. Das águas foram salvos alguns portugueses, e é deles que nos chega a prova de uma das mais gloriosas páginas da História da Armada, assim como vinte e seis marinheiros holandeses e, ardendo e muito danificados, os restos do Huys van Nassau. A nau flamenga pôde ainda ser rebocada, encalhada e recuperada. Por nós reconstruída, veio a servir sob o pavilhão português com o nome de "Fortuna".

Os destroços do Nossa Senhora do Rosário e do Utrecht continuam a habitar as profundezas da Baía de Todos-os-Santos, sendo hoje motivo de interesse para os mergulhadores.

RPB

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