«Então, o Senhor Jesus, depois de lhes ter falado, foi arrebatado ao Céu e sentou-se à direita de Deus» (Mc 16, 19).
Aconteceu no Monte das Oliveiras, perto de Jerusalém, a Ascensão de Jesus, uma das solenidades mais importantes, juntamente com a Páscoa e o Pentecostes, que indicam, simultaneamente, o glorioso fim da vida terrena de Cristo e o início da missão dos Apóstolos, e, portanto, da Igreja. Um acontecimento extraordinário com que se confrontaram, ao longo dos séculos, muitíssimos artistas que traduziram em imagens a subida ao Céu de Jesus sob o olhar dos Onze e de Maria, que é, aqui, figura da Igreja nascente.
O primeiro modelo iconográfico toma forma no Oriente, repetindo-se nos manuscritos iluminados e nos ícones bizantinos, para depois se difundir em tantas cúpulas do Ocidente cristão. O esquema prevê, no registo superior, Cristo sentado num trono ou rodeado por uma mandorla de luz, que fala da Sua glória: abaixo, Maria, hierática e orante, acolhe, mais uma vez, no silêncio da oração, a vontade de Deus, rodeada de anjos e Apóstolos. Exemplos maravilhosos podem ser admirados na Catedral de Monreale e na cúpula central da Basílica de São Marcos em Veneza.
E depois? Depois chega o revolucionário Giotto que supera a iconografia tradicional, propondo-nos a leitura deste preciso momento do tempo num contexto narrativo, dentro do grande relato da História da Salvação que apareceu nas paredes da Cappella degli Scrovegni, em Pádua, entre 1303 e 1305. A Ascensão, que depois dele será um dos temas mais representados na pintura, é o penúltimo quadro do registo central inferior da parede esquerda, aquele ao longo do qual se desenrolam os episódios da Paixão de Jesus.
«Deus subiu por entre aclamações», recita o Salmo. O que Giotto parece interpretar à letra: Jesus está, de facto, acompanhado, no Céu, por fileiras de anjos e por uma multidão de personagens, divididos em ambos os lados e dispostos em duplas filas, que sustentam o Seu movimento ascendente, confiando na promessa evangélica: «Vou preparar-vos um lugar». A sua gestualidade reflecte-se nas mãos unidas em oração dos discípulos, ajoelhados, em vez disso, nas encostas do monte, cuja aparência estéril enfatiza a realidade e a fisicalidade concreta do lugar onde ocorre este mistério.
Os Onze contemplam a partida do seu Mestre, o olhar maravilhado, dirigido para cima pelos dois anjos que, também nesta ocasião, facilitam o diálogo entre a dimensão terrena e o divino, enquanto a figura de Maria se faz garante da continuidade da Presença do Filho no mundo.
Sobre o fundo do azul profundo do Céu, Cristo, envolto na veste branca da Ressurreição, eleva-se numa nuvem, já um símbolo no Antigo Testamento da transcendência de Deus. É o centro exacto da cena, não mais hierático e frontal, mas levado no arrebatamento para o Pai, a Quem estende os braços, revelando a força da acção divina que o atrai a Si. Nada nos revela Giotto sobre o lugar para onde Cristo se dirige: com uma intuição genial, deixa-nos imaginar aquele além, aquele espaço externo à própria moldura do quadro, o patamar que, como Maria e os Apóstolos, ansiamos alcançar. Certos de que Jesus está a preparar um lugar também para nós.
Margherita del Castillo
Aconteceu no Monte das Oliveiras, perto de Jerusalém, a Ascensão de Jesus, uma das solenidades mais importantes, juntamente com a Páscoa e o Pentecostes, que indicam, simultaneamente, o glorioso fim da vida terrena de Cristo e o início da missão dos Apóstolos, e, portanto, da Igreja. Um acontecimento extraordinário com que se confrontaram, ao longo dos séculos, muitíssimos artistas que traduziram em imagens a subida ao Céu de Jesus sob o olhar dos Onze e de Maria, que é, aqui, figura da Igreja nascente.
O primeiro modelo iconográfico toma forma no Oriente, repetindo-se nos manuscritos iluminados e nos ícones bizantinos, para depois se difundir em tantas cúpulas do Ocidente cristão. O esquema prevê, no registo superior, Cristo sentado num trono ou rodeado por uma mandorla de luz, que fala da Sua glória: abaixo, Maria, hierática e orante, acolhe, mais uma vez, no silêncio da oração, a vontade de Deus, rodeada de anjos e Apóstolos. Exemplos maravilhosos podem ser admirados na Catedral de Monreale e na cúpula central da Basílica de São Marcos em Veneza.
E depois? Depois chega o revolucionário Giotto que supera a iconografia tradicional, propondo-nos a leitura deste preciso momento do tempo num contexto narrativo, dentro do grande relato da História da Salvação que apareceu nas paredes da Cappella degli Scrovegni, em Pádua, entre 1303 e 1305. A Ascensão, que depois dele será um dos temas mais representados na pintura, é o penúltimo quadro do registo central inferior da parede esquerda, aquele ao longo do qual se desenrolam os episódios da Paixão de Jesus.
«Deus subiu por entre aclamações», recita o Salmo. O que Giotto parece interpretar à letra: Jesus está, de facto, acompanhado, no Céu, por fileiras de anjos e por uma multidão de personagens, divididos em ambos os lados e dispostos em duplas filas, que sustentam o Seu movimento ascendente, confiando na promessa evangélica: «Vou preparar-vos um lugar». A sua gestualidade reflecte-se nas mãos unidas em oração dos discípulos, ajoelhados, em vez disso, nas encostas do monte, cuja aparência estéril enfatiza a realidade e a fisicalidade concreta do lugar onde ocorre este mistério.
Os Onze contemplam a partida do seu Mestre, o olhar maravilhado, dirigido para cima pelos dois anjos que, também nesta ocasião, facilitam o diálogo entre a dimensão terrena e o divino, enquanto a figura de Maria se faz garante da continuidade da Presença do Filho no mundo.
Sobre o fundo do azul profundo do Céu, Cristo, envolto na veste branca da Ressurreição, eleva-se numa nuvem, já um símbolo no Antigo Testamento da transcendência de Deus. É o centro exacto da cena, não mais hierático e frontal, mas levado no arrebatamento para o Pai, a Quem estende os braços, revelando a força da acção divina que o atrai a Si. Nada nos revela Giotto sobre o lugar para onde Cristo se dirige: com uma intuição genial, deixa-nos imaginar aquele além, aquele espaço externo à própria moldura do quadro, o patamar que, como Maria e os Apóstolos, ansiamos alcançar. Certos de que Jesus está a preparar um lugar também para nós.
Margherita del Castillo
Fonte: Dies Irae
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