Houve tempos em que Portugal empreendeu projectos a longo prazo. Preparou, plantou, cuidou, estimou e viu outras gerações colherem os frutos. Demos novos mundos ao mundo porque D. Afonso III empreendeu uma plantação que o seu filho D. Dinis alargou, erguendo o Pinhal de Leiria, de onde saiu a madeira que, sob desígnio do Mestre de Avis, se transformaria nas caravelas que construíram o nosso império.
Houve tempos em que a nossa floresta não era como uma manta de retalhos, sem estratégia, desgastada por políticas alheias à realidade, desenhadas na capital, que apenas promovem o seu abandono. Houve tempos em que plantar árvores era uma missão tão nobre que se dizia que um homem só se completava depois de o fazer. Tempos em que não se criminalizava nem se levantavam suspeitas sobre quem explora a terra. Hoje, a classe política está fechada em Lisboa e o cinzento da cidade fá-la esquecer que mais de um terço do país é verde.
Demos lugar aos valores de um ambientalismo desordenado e enviesado por uma cultura marxista que odeia o lucro e os proprietários. Opinamos sem qualquer base científica sobre o tipo de espécies que podem ou não ser plantadas e perpetuamos mitos que dispensam apresentações, sobretudo sobre pequenos proprietários. Proprietários esses que vêem agora os seus terrenos a arder e são os primeiros a ser responsabilizados. Quando a floresta arde, quem investiu anos de trabalho e cuidado é o primeiro a perder, porque vê o valor da madeira desvalorizar-se. E se até pode haver quem lucre com a venda de madeira queimada, o elefante na sala não é esse. As questões que devemos colocar são estas: que país socialista é este que encarece os custos de produção, nomeadamente através de impostos e da inércia perante a escalada de preços energéticos? Que país socialista é este que vê os seus produtores terem de pagar para trabalhar, endividarem-se, e ainda espera que tenham capacidade de manter os terrenos limpos? Que país socialista é este que dá as mãos às grandes indústrias, mas esquece os cidadãos comuns? É o país que no Inverno não prepara o Verão. O país que ignorou todas as chamadas de atenção para esta temática e agora vê a floresta a arder. A resposta dada é mais um retalho para a velha manta. Perante o caos, declara-se situação de contingência, num despacho que proíbe a realização de trabalhos florestais. Não se questiona a sua pertinência num contexto de escalada de temperaturas e risco de incêndios, questiona-se apenas a falta de acção preventiva anterior e, acima de tudo, a punição, uma vez mais, dos mesmos: os pequenos proprietários. Um pequeno empresário com oito colaboradores, impedido de trabalhar por este despacho que pode ser renovado ad aeternum, com responsabilidades salariais a assegurar e com o pagamento de máquinas previamente alugadas, ao fim de uma semana de paragem perde, em média, 6 mil euros. Não basta passar despachos sem pensar nas suas consequências. Como empreender para o futuro se penalizamos aqueles que tentam gerar riqueza no presente?
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