Se pesquisarmos notícias com as palavras “bebé encontrado” e “idoso encontrado” podemos ver que os frutos da cultura do descarte e da morte perpassam de longe os limites legais, dessensibilizando e desumanizando sempre mais e mais, por definição e lógica intrínseca.
Se perguntarmos aos portugueses se sabem que os fetos abortados são tratados como lixo e usados para produzir energia, também são capazes de responder que não era essa a pergunta que respondemos no referendo de 2007.
Se lhes perguntarmos se sabem que somos dos países recordistas em maus tratos a idosos poucos saberão. Mas a maioria sabe posicionar-se sobre a eutanásia, começando por abstrair-se da realidade que lhe bate à porta.
É por estas e mil outras razões que não suporto sequer discutir sobre princípios básicos de humanidade e civilização. Recuso-me: cuspo de nojo e bato a porta. Prefiro até ser mal-educado e manchar a minha reputação, do que dar a autoridade da interlocução a relativistas sem a mínima formação humana.
Não foi isto que fez recentemente o fundador da Prozis, Miguel Milhão, apelidando os que queriam cancelá-lo de “zombies”? Pois, se tivesse agido de outro modo, pedindo desculpas e sendo politicamente correto para não ferir suscetibilidades, demonstraria que a sua imagem vale mais do que as causas que defende, neste caso, a dignidade dos seres humanos por nascer.
É precisamente porque também tenho esta consciência de viver numa sociedade de ética tribal que não concedo a mínima credibilidade a nada que prolifere nos canais de cultura e informação dominantes. E daí a minha absoluta reserva quanto ao que ganha relevo social em matéria de opinião.
“Mas o Milhão deu a opinião dele”. Errado, ele apenas fez uma constatação fáctica: “Os bebés por nascer voltaram a ganhar direitos nos EUA”. Afirmação esta que foi encarada sob um ponto de vista ideológico, tendo sido acusado de se estar a colocar indiretamente contra o direito das mulheres a abortar. Como se os bebés por nascer não pudessem ser mulheres e ter direitos, nomeadamente direito à existência (que naturalmente precede qualquer exercício de autonomia da liberdade individual de um terceiro)…
“E qual é a tua posição sobre isto ou aquilo?” – podem perguntar. Não interessa. Quando chegar o momento, tudo isto será esquecido com a mesma rapidez com que foi imposto.
“E se te acusam de ser inconveniente?” Agradeço.
Maciel Rodrigues
Fonte: Inconveniente
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