Como sabem teremos eleições no próximo 10 de Março e essa data poderá marcar uma nova etapa histórica na política portuguesa. Será o dia em que os portugueses dirão se preferem a manutenção do monolítico bloco central ou se querem um cenário multipartidário que foge ao paradigma habitual.
Desde 1974 que duas forças dominantes se basearam na confiança e crença dos portugueses para liderar a nação: PSD e PS.
Desde então já tivemos a morte do império, três bancarrotas, a morte da nossa soberania monetária, a reconstrução republicana de uma dívida impagável e o cultivo de um descrédito em relação à política com taxas de abstenção inaceitáveis.
Este produto tem um pai e uma mãe. Infelizmente, amigos das duas partes do casal recusaram-se a combater um casamento tóxico para milhões de portugueses.
O PCP e o BE destruíram a sua identidade anti sistema depois de darem a mão ao PS. Não preciso de falar dos chavões da corrupção e de Sócrates dado que o mero apoio estrutural à democracia liberal constitui uma contradição face às profundas pretensões revolucionárias da extrema-esquerda.
Do outro lado tivemos o CDS e a agora a IL. Um foi descartado como um pano usado nas últimas legislativas por um PSD que o podia ter salvo depois de anos decadentes pós-Portismo, enquanto o outro partido quer ocupar esse posto vazio.
O CDS vai ser um apêndice do PSD caso retorne ao parlamento numa coligação pré eleitoral, sabendo muito bem que se torna inútil depositar qualquer tipo de esperança num partido que não tem soberania material e moral para fazer oposição futura a um dos responsáveis pelo estado do país. A nostalgia da AD não serve para tudo, especialmente quando o nosso país corre o sério risco de deixar de ser português.
O mesmo se aplica à IL que tem uma vertente interna que quer ser progressista e cortar com o “mesmo de sempre”. Essa facção é ideológica e não tanto pragmática, pelo que valoriza a pureza de não entrar em esquemas de subserviência ao PSD, um sem iniciativa reformista e que não pretende ser um elemento descaradamente tão aceleracionista do panorama cultural e político que assola a nossa civilização cada vez mais destruída pela imigração descontrolada, liberal-marxismo cultural, centralização económica e fraqueza geopolítica.
Falta-nos o CHEGA. Onde é que se insere este partido “isolado”? Não se insere. Pensem na quantidade de vezes que a classe política falou do CHEGA enquanto elemento “anormal” da política portuguesa. De facto, ser diferente num mar de mediocridade é uma tarefa complicada. Se mais nenhum partido quer resolver juntamente o caos imigratório, valorizar a família portuguesa (no seu modelo funcional e tradicional), reformar fiscal e burocraticamente a economia/administração pública portuguesa, assim como reformar a justiça e o próprio sistema político, então esse espaço será certamente ocupado pelo CHEGA.
O facto é que estamos numa luta contra o tempo. As portas não devem ser fechadas de forma antecipada pois a melhor coisa que podia acontecer aos portugueses nas próximas eleições, realisticamente falando e devido à urgência dos assuntos, era o CHEGA ter a pujança necessária para obrigar o PSD a incluí-lo em pastas como a administração interna, justiça, saúde ou o ensino (entre outras), de forma a assegurar um governo que na sua totalidade não seria de direita, mas seria o governo mais à direita da história da III República. Como o PSD não é de direita e tem um maior interesse na manutenção do status quo que ajudou a criar, Montenegro vai arriscar a sua sorte no voto útil para tentar esvaziar um CHEGA cada vez mais ambicioso em romper o bipartidarismo.
Mais importante do que os ministérios, seriam os agentes políticos que poderiam dar tempo aos portugueses para respirar. Respirar no sentido de assegurar que existe uma mudança fiscal profunda face ao atual estado de coisas onde o povo vive atolado em impostos. Respirar no sentido de colocar um travão à imigração e cumprir uma lei decente ao deportar todos os imigrantes ilegais e impedir que elementos subversivos em termos culturais e de segurança possam entrar no nosso território. Respirar no sentido de verem dirimidos os problemas gritantes na saúde, ensino, transportes e habitação.
Em 4 anos poderia ser feita muita coisa se o CHEGA fosse visto como a força popular que é, tal como noutros países da Europa que incluem elementos do ID e ECR nos seus governos: Itália, Finlândia, Suécia. Tudo países atrasados como podemos ver.
Sabendo que não é do interesse da IL e do PSD que o CHEGA tenha uma oportunidade para se normalizar, cabe ao próprio CHEGA fazer das eleições de 10 de Março uma luta que vai além da dicotomia entre esquerda e direita. Estas eleições terão de ser, na verdade, uma luta entre os partidos do sistema e os que não apoiam o actual sistema.
Se os partidos já só pensam em formas de impedir o CHEGA de entrar no governo, porque não abraçar essa mentalidade minguada? Se querem o mesmo sistema de sempre a governar, o PSD que peça ajuda ao PS para a sua bancada se abster na aprovação do próximo plano de governo e orçamento de Estado.
Afinal de contas, se o próprio PSD deu a mão ao PS de Sócrates quando este não tinha maioria para aprovar o seu plano de governo e orçamento de Estado em 2009, não seria de todo surpreendente se os socialistas retribuíssem o favor em nome da estabilidade do regime (utilmente) bipartidário.
Francisco Pereira Araújo
Fonte: Inconveniente
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