quinta-feira, 23 de setembro de 2010

A república em produção fictícia

Imaginemos algumas situações que hoje, qualquer bípede julgaria caricata:

1. Estando vivo até uns anos depois de 1974, o governo português convida António Lopes Ribeiro, para a realização de uma mini-série sobre a tomada do poder pelos militares e a consolidação da 2ª República sob a direcção de António de Oliveira Salazar.

2. Em 1955 e decorrida uma década após o desaparecimento do III Reich, a recentemente constituída República Federal da Alemanha, contrata Leni Riefenstahl e Wolfgang Liebeneiner, com o fim de passarem ao cinema, a tomada do poder por parte do NSDAP de Adolfo Hitler.

3. Em 1950, Rossellini é convidado para a execução de um grande documentário laudatório da tomada do poder por Mussolini, apresentando a Marcha sobre Roma como ..."uma imperiosa necessidade, ditada pelo estado de profunda decadência institucional que o país vivia". Teria consistido numa tarefa fácil, no seguimento da Trilogia Fascista que Rossellini passaria ao celulóide, com La nave bianca (1941), Un pilota ritorna (1942) e o Uomo della croce (1943).

4. Decidindo comemorar o golpe de Estado protagonizado pelo subversivo PRP + Carbonária e respectiva direcção de meia-noite, o governo português incumbe a televisão oficial do Estado, a RTP, para realizar uma mini-série alusiva aos dias 3, 4 e 5 de Outubro de 1910. Muito concretamente, estabelece-se um acordo com as "Produções Fictícias" - melhor nome não podia ser escolhido -, com a supervisão histórico-científica de António Reis, coincidentemente grão-mestre do Grande Oriente Lusitano.

Estas possibilidades parecem-vos simples idiotias? São. Parecem-vos extemporâneas, anacrónicas e abusivas da imparcialidade que o tratamento de temas da História deverá sempre merecer? Evidentemente. Sente-se roubado, insultado e desprezado? Decerto.

Apenas uma nota: a 4ª hipótese, mais uma "à portuguesa", é verdadeira!
Vivemos uma época de todos e mais alguns incríveis, pagos por si, por exemplo.
Da próxima vez que tomar um café, pense nos 21% de imposto que desembolsará e para onde irá esse dinheiro.

Nuno Castelo-Branco

Fonte: Centenário da República

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