Como aqui dizíamos, urge uma maior atenção do Palácio das Necessidades, passando a olhar o Reino de Marrocos como a excepção num Magrebe cujo futuro é incerto.
Ontem (1 de Julho), a população votou sim no referendo convocado pelo Rei Mohamed VI. Não houve lugar a votos de defuntos, a sufrágios viajantes de urna em urna ou pelo contrário, qualquer proibição ou cerceamento da liberdade de escolha. Quem esta manhã lesse o Expresso, ficaria na incerteza acerca do porvir daquele país, pois o artigo que desfia os acontecimentos marroquinos, pinta de tons sombrios as possibilidades de sucesso da iniciativa, evocando ranger de dentes salafitas ou a "esquerda" mais radical. O resultado está à vista. A proposta da Coroa colheu uma preferência de tal forma esmagadora que nos faz recordar as fantasiosas "eleições" de a Coreia dos Kim, da China ou do desaparecido bloco de Leste. Mas ali mais a sul, não houve lugar para qualquer fraude e como podemos ler no Morocco News, verificou-se uma total liberdade para todos exprimirem os seus pontos de vista. O próprio texto é disso uma clara prova.
Nem sequer se cumpriu a sugestão de "falta de legitimidade" do referendo, pois tendo o Expresso sugerido participações eleitorais rondando 40% do eleitorado, os marroquinos excederam qualquer expectativa, fazendo corar de vergonha uma certa república não assim tão fisicamente distante. Há quanto tempo 70% dos portugueses se dignam em acorrer às urnas? O Sr. Cavaco Silva que o diga. Mais ainda, as cidades bem povoadas de gente nova e de estudantes ansiosamente aguardados pelas canhotas sapiências como potenciais contestatários, mobilizaram-se maciçamente e o sim foi arrasador. É certo o esbracejar de alguns círculos ocidentais sempre muito exigentes em estabelecer os "padrões da democracia" e assim, já se antevê uma nova táctica que encontra nos poderes que o monarca conserva quanto às Forças Armadas e assuntos religiosos, um artificial casus belli. Pouco lhes interessará a "presidencialização" do 1º Ministro, o primado do Partido vencedor, a liberdade de expressão, reunião, organização e heresia das heresias, a igualdade legal entre homens e mulheres. Nem sequer nos poderemos admirar, se se gizar uma santa aliança entre os esquerdistas do costume e os mais radicais convivas de saguão da mesquita. Os progressistas europeus aplaudirão.
Um Marrocos reformista, mais próspero e estável, é um tranquilizante que a Península Ibérica ansiosamente aguarda.
Nuno Castelo-Branco
Fonte: Estado Sentido
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