19 julho 2011

O outro lado do Oceano

No meio dos destroços que esta crise vai deixar, uma verdade se imporá: a teoria do crescimento económico indefinido, a outra face da moeda do determinismo histórico, sempre de pendor materialista, faliu. Claro que esta arrastará muitas outras falências. De pessoas, de famílias, de empresas e até de Estados pretensamente soberanos.

Seja como for, bom será que nos dêmos conta de que o vil metal vai deixar de ser a pátria de muitos dos que viviam na sombra do esforço nacional, sugando sem critério recursos alheios. Como bom será também não nos deixarmos impressionar com as lágrimas dos que chorarem esta orfandade de tipo pecuniário. Quem tiver, minimamente que seja, perspectiva histórica, perceberá que Portugal não se esgota no Orçamento nem na Conta Geral do Estado. E só quem padecer de castigadora miopia pensará que Portugal se deixa confinar neste rectângulo ibérico.

Talvez não valha a pena discorrer excessivamente sobre a etiologia deste meu sentimento, mas tenho para mim muito claro que Portugal não é “isto”. Não é só “isto”. Nem sequer principalmente “isto". Não interessa saber se nunca foi ou se alguma vez terá sido. Presentemente, sinto-me seguro em descobrir Portugal nas suas gentes, nos seus valores, no seu património, na sua fé, na sua história.

Note-se que não “desterritorializo”, passe o neologismo, a minha Pátria. O território é parte integrante, substrato físico da nossa identidade colectiva. Mas não deixo que a estraçalhem num Balanço ou numa Demonstração de Resultados. Não digo que esta terra que piso me é alheia ou que pertence a terceiros. Mas, como o Senhor Dom João VI, sei que há Portugal do outro lado do Oceano. De qualquer Oceano.

Portanto, enquanto tivermos este madeiro da lusitanidade a boiar em todos os mares do globo, não nos deixaremos afundar. Temos de saber defender o que é nosso. Temos de preservar o nosso território, mas não podemos negligenciar o “resto”. Porque o “resto”, meus amigos, no tempo presente, é talvez a única realidade que está nas nossas mãos acarinhar. E também não tenho dúvidas de que a Coroa é o que dará solidez e consistência ao “resto”. Só com a Coroa “isto” poderá reflectir o “resto”.


Nuno Pombo

Fonte: Real Associação de Lisboa

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