No bicentenário da invasão da Rússia pela
Grande Armée, campanha que precipitou a queda de Bonaparte e o fim da
hegemonia política francesa, evoca-se o embate entre um projecto autoritário de
unificação da Europa - construção artificial mantida pela força das armas - e o
único Estado europeu com meios para de se lhe opor. O conflito foi moderno nos
meios tecnológicos aplicados, total pela indiferenciação entre combatentes e não
combatentes e anunciador das grandes guerras do século XX, pelo peso que nela
tiveram a propaganda, a contra-informação e os movimentos da opinião pública. A
Campanha de 1812 foi algo mais que uma guerra de proporções até aí jamais
vivida; acontecimento marcante da consciência identitária da nação russa,
revelou à Europa o poderio russo, consagrando-o como um dos pólos do equilíbrio
europeu. Na Campanha participaram milhares de soldados da Legião Portuguesa,
empurrados para a aventura russa que foi, para a quase totalidade, viagem sem
regresso. Em consequência da derrota de Napoleão na Rússia e das sublevações
nacionais anti-francesas que se lhe seguiram, germinaria no Congresso de Viena a
primeira tentativa para um acordo para a preservação da paz no continente
envolvendo em concerto todos os estados europeus.
Miguel Castelo-Branco
Fonte: Combustões
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