Uma história
verdadeira de verdadeira fé
Quando o Bernardo e o Nuno nasceram, vieram ao mundo dois príncipes, porque filhos de Deus. Mas aqueles que os geraram não eram verdadeiramente seus pais. Se o fossem, não os teriam abandonado à nascença.
A deficiência profunda do Bernardo e a exigência de não separar os dois gémeos ditou uma história triste, que se escreve na penosa via-sacra dos diversos serviços por que foram passando e em que, não obstante a dedicação do pessoal da instituição, não encontraram nunca uma verdadeira família, nem o calor de um lar.
Pessoas houve que se interessaram pelos irmãos, mas porque não eram aqueles que estavam chamados a ser os seus verdadeiros pais, declinaram sempre a eventualidade da adopção. Mais pesava, decerto, a despesa e o incómodo de acarretar o inválido, do que a satisfação de os ter e de lhes dar o aconchego de uma casa. Mais pôde o egoísmo do que o amor.
Os anos foram passando e, à medida que o Nuno e o Bernardo cresciam, diminuíam as hipóteses de um seu acolhimento por uma família adoptiva. E aumentavam os riscos sociais inerentes a uma não integração familiar.
Mas Deus escreve direito por linhas tortas e nunca abandona os seus filhos e, por isso, deu a conhecer a existência e a triste sorte dos gémeos ao Rodrigo e à Helena, já com um filho mas impossibilitados de mais geração. E, para o casal, foi amor ao primeiro sinal.
Apesar da sua disponibilidade, não foi fácil conseguir as necessárias autorizações para a adopção dos gémeos. A Helena e o Rodrigo tiveram que travar uma verdadeira batalha contra a morosidade das entidades sociais, a burocracia dos organismos estatais, o cepticismo e a desconfiança dos responsáveis pela tutela dos menores institucionalizados e um sem-fim de obstáculos de toda a espécie que, diariamente, durante meses de ansiedade e sofrimento, puseram à prova a sua resistência psicológica e espiritual. Se houve quem, entre os seus familiares e amigos mais próximos, os apoiasse neste seu propósito, também não lhes faltaram incrédulas reticências e veladas críticas, disfarçadas de prudência: Afinal, para quê complicar a vida?!
Mas, contra toda a esperança, esperaram em Deus e mais pôde o seu amor ao Bernardo e ao Nuno. Mais pôde a sua fé.
Ontem vi e abençoei a nova família: que alegria se espelhava nos rostos daquelas duas crianças que, finalmente, encontraram os seus verdadeiros pais! Que alegria no primogénito, enriquecido pelo dom dos seus dois novos irmãos! Que alegria também nos olhos cansados do Rodrigo e da Helena, felizes na dupla experiência daquela sua nova paternidade e maternidade, que nasce directamente da sua fé e do seu amor a Deus!
O Natal do Ano da Fé vai ser diferente para esta família. Como há mais gente em casa, vai haver mais trabalho e não haverá tantos presentes para cada um. Será talvez mais sóbria a ceia, à conta da crise que pesa sobre o remediado orçamento familiar, agravado com as despesas inerentes à nova situação. Mas, finalmente, haverá Natal nos corações daqueles dois príncipes que, depois de tão longo exílio e dolorosa peregrinação pelos desertos do egoísmo humano, descobriram por fim, graças à estrela da fé de seus verdadeiros pais, a grandíssima alegria do amor de Deus, feito vida nossa no dom do seu Filho, Jesus*.
Santo Natal!
P. Gonçalo Portocarrero de Almada
* A história é real mas os nomes, como é óbvio, são fictícios.
Fonte: Povo
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