sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Umas Termópilas na China, em 1647 - Os 300 de Macau

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Por razões que estimamos absurdas e conflitantes com o labor historiográfico, muito poucos estudos têm sido dedicados aos soldados da fortuna portugueses que batalharam no Oriente entre os séculos XVI e XVII, emprestando o seu saber militar a governantes asiáticos. O estatuto do mercenário - hoje desconsiderado - era então um ofício como qualquer outro. As guerras do renascimento e as dos início da Idade Moderna eram travadas, senão maioritariamente, pelo menos significativamente por homens pagos para os trabalhos de Marte.

Mercenários portugueses havia que serviam os reis birmaneses contra os reis do Sião, como os havia nos exércitos siameses nas guerras com os birmaneses. Soldados da fortuna portugueses serviam também nas fileiras dos exércitos muçulmanos do império Mogol (Índia), na infantaria do reino hindu de Vijayanagar e nos pequenos estados que debruavam o Golfo de Bengala.

Conheci há tempos um investigador escocês que prepara uma obra sobre a participação de mercenários portugueses na guerra que opôs os últimos Ming chineses à nova dinastia Manchu (1644-1911). Não lhe consegui indicar material de arquivo relevante, pois na Torre do Tombo são parcas as referências a tal envolvimento. Limitei-me a recomendar-lhe o clássico de Charles Boxer, Expedições militares portuguesas em auxílio Mings contra os Manchus, 1621-1647.

O que sabemos, contudo, é que em 1646, as autoridades de Macau foram pressionadas para colaborarem na guerra que Zhu Youlang - o último Ming - travava com os Manchus invasores. Estes haviam tomado Pequim e Nanquim e a guerra deslocara-se para o sul do Império do Meio. Estava-se na última fase de uma guerra que surgia como antecipadamente perdida para os partidários da dinastia em ocaso. Em Janeiro de 1647, Cantão, a grande cidade do sul caia e o exército Ming retirou para Kweilin, capital da vizinha província de Kwangsi.

Em Macau formou-se um inteiro regimento de arcabuzeiros, formado por filhos da terra (macaenses), por reinóis (gente do Portugal europeu) e muitos escravos negros. Eram 300, como os guerreiros que Esparta enviou para as Termópilas. Em Kweilin, o comando não era de Leónidas, mas de um certo Nicolau Ferreira, sobre quem pesa um denso mistério.

Assim que chegados a Kwelin, dedicaram-se os mercenários a afanosos trabalhos de engenharia: trincheiras, redutos, parapeitos, reforço de muros, encharcamento de terrenos e armadilhas ocuparam-nos durante quase três meses até que, em meados de Abril, um enorme exército inimigo se aproximou da cidade. Excessivamente confiante, o comandante manchu ordenou um ataque inopinado. Os arcabuzes e a artilharia dos portugueses causaram enormes estragos na massa da infantaria tártara, obrigando-a a recuar. Depois, durante meses, vagas de assaltos foram lançados sobre a cidade, e todas repelidas. A resistência de Kweiling arrastou-se até 1648 quando, esgotadas a pólvora e as munições e muito dizimados, os mercenários sobreviventes regressaram a Macau, furtando-se represálias.

MCB


quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Do Império Português



A Casa portuguesa, este velho solar português feito pela espada dos Reis nos campos de batalha, pela sua astúcia nas conferências diplomáticas, e pelo sangue generoso e o sacrifício ilimitado dos que, dentro dos seus limites nasceram, e, vassalos daqueles Reis se orgulharam de ser, este velho solar português deita, pelas bandas do Oriente e do Norte, para os solares de Espanha.

Disputaram, uns e outros, durante três séculos. Portugal acabou, finalmente, por convencer os vizinhos, da sua personalidade, e trancou as portas e as janelas da sua casa que davam para as terras do vizinho, e, seguro de que este não poderia facilmente assaltar-lhe as janelas e arrombar-lhe as portas, voltou-se para o mar misterioso e nebuloso, de trilhos ignorados ou esquecidos, de praias desconhecidas, e de limites quiméricos. Voltou-se para o mar; e firmando-se na tensão profunda que constituía fundamentalmente o seu querer viver, afirmou essa vontade na mais tenaz, na mais inteligente, na mais bela das realizações.

Debruçado, no Promontório de Sagres, sobre o mar infinito, estudando, na sua casa de Sagres, com nautas, astrólogos e cartógrafos, os segredos do Espaço, o Infante traçava os primeiros delineamentos decisivos do novo Império cristão. Ele corporizava as aspirações latentes do seu povo, que já fora a Ceuta desfraldar, nas muralhas dos infiéis, o estandarte da Cruz!

Ia gravada nas velas das nossas caravelas, ela que já andava nos dinheiros do tempo do nosso D. Sancho I.

Nos padrões que os nossos navegadores e descobridores implantavam, a marcar o nosso direito e a nossa posse, era ela que se alçava a dominá-los. E foi ela que um dos maiores Reis da nossa história escolheu para a sua empresa – com a legenda: in hoc signo vinces.
Se tirarmos ao Imperialismo português a sua característica cristã – tudo se torna incompreensível na acção imperialista dos portugueses de 1400 e 1500.

Nós não nos abalançámos à realização da Epopeia – como os corsários franceses, como os piratas ingleses, por apetite do roubo. Não nos deitámos a realizar a Epopeia marítima, por despeito, como os navegadores de Castela. Não foi Cartago, não foram os romanos, os nossos modelos, os nossos mestres. Não!

No continente, durante os três séculos de consolidação política, se fomos, em face de Castela recalcitrante, portugueses ciosos da nossa honra, do nosso nome, e da nossa independência – quero dizer, da honra, do nome e da independência dos nossos reis, fomos também cruzados cristãos, perante a afronta da mourama.

Cruzados fomos, e cruzados continuamos a ser, em África, em Índia, em América, em Oceânia – porque o que primacialmente nos levou às paragens mais remotas, e nos sujeitou aos riscos mais graves, foi o sentimento cristão.

Mas muito se engana quem vê na nossa acção de cruzados, jeitos de anunciação de foot-ball, de golf, ou de pedestrianismo cristão.

Fomos cruzados, para servir a Fé. E foi para a servir, que fizemos o Império – o Império cristão que ninguém mais fez.

Quando o Infante, em Sagres, continuando a obra que, meio século antes, D. Afonso IV semeara, viu o caminho para a Índia, e na consciência plena da sua vontade, procurando-o, guiou o povo português para essa meta de glórias, era a mais exaltada fé católica que o inspirava, e se tornava de ser de toda a sua vida.

Civilização essencialmente cristã, a civilização portuguesa tinha uma força estimulante interna, uma ideia-força que vencia e venceu todos os obstáculos: a propagação da fé católica.

Só o nega quem ignora ou finge desconhecer os documentos.

Entre tantos, oiçamos este testemunho bem de valor: é de Francisco de Almeida, o cronista do mais deslealmente caluniado dos nossos reis: «Mas como o principal fruyto que os Reis deste reyno pretenderão, e desejarão sempre nas terras que desubrião e conquistavão de novo, foy a conversão dos infieis, e a dilatação e acrecentamento da nossa santa fé catholica isto fez a el Rey dom João pôr os olhos com mais atenção na povoação do Brasil...» (IVª parte, cap. 32).

Só por milagre quase inacessível às inteligências de hoje, paganizadas, obscurecidas, decrépitas, só por milagre se pode explicar que um povo minúsculo – meia mão de gente! – tivesse sido capaz de estender o seu domínio, o seu Império, sobre milhões e milhões de almas de todas as raças, de todos os tons psíquicos, espalhadas pelas mais longínquas terras.

Em África, primeiro, em Ásia, em América, em Oceânia – por todo o orbe, a Cruz de Cristo portuguesa se instalou dominadora, e venceu todas as batalhas que lhe deram.
Império tão vasto, que o Poeta pode dizer dele, dirigindo-se a D. Sebastião, que era um «alto Império» que

O sol, logo em nascendo, vê primeiro;
Vê-o também no meio do Hemisphério,
E, quando dece, o deixa derradeiro.
(I, 8)

O Império português é um milagre de Deus!

Porque pudemos realizá-lo? Porque conseguimos levá-lo a termo, no espaço relativamente curto de século e meio?

Primeiro, porque acreditávamos na nossa missão – na nossa missão de cruzados, de dianteiros da Fé, de soldados de Deus. E a primeira condição para se poder realizar bem uma obra consiste em acreditarmos em nós, e nela. Acreditar que somos capazes de a fazer, e acreditar em que ela tem de se realizar. Os portugueses dos séculos dos Descobrimentos acreditavam na verdade católica – morrendo por ela, sob os golpes dos alfanges, nas muralhas de Diu, ou nas praias da América. Acreditavam em Deus, porque não os tocara ainda a malária da Dúvida racionalista, e a lepra calcinante do Livre Pensamento.

Acreditavam em que eram portadores da Verdade – daquela Verdade impassível ante todos os ataques, e invulnerável diante de todos os ultrajes. Acreditavam em que eram portadores do verbo divino, por amor do qual a morte é gloriosa, e todo o sofrimento é prazer.

Eram raros viçosos daquela árvore de maravilhas que se chamou Nun'Álvares; eram filhos obedientes daquela Mãe transumana que se chama Igreja Católica.

O ideal supremo que os guiava não era o tirar aos outros o que os outros tinham; nem rasoirar os valores; nem ombrear com a divindade: o seu ideal supremo era servir e amar a Deus. E todos serviam e amavam a Deus, desde os reis, nos paços, aos camponeses da serra lavradia; desde os pastores das serras agrestes, aos nautas destemidos, desde Camões, poeta de génio, a Albuquerque, guerreiro de raça.

Andava longe a Reforma bastarda; e quando se aproximou, – previdente, oportuno, e cumpridor dos seus deveres, D. João III opôs-lhe uma milícia – a Companhia, e um cordão sanitário, esplêndido, para o tempo – a Inquisição.

Ainda não se pressentiam os rumores da Revolução sangrenta das sarjetas e prostíbulos, a cujo serviço se puseram os sábios da Enciclopédia, e as elegantes mièvres dos salões de Paris, e das ante-câmaras de Versalhes...

Tudo isso vinha longe – e o solar português, rezando, ao anoitecer, as Ave-Marias das Trindades, e fazendo o sinal da cruz, ao surgir da alvorada, cria em Deus, e servia Deus. Se era forte e puro na sua fé, era forte e leal na sua vida cívica. Os seus reis foram sempre paternais na justiça, justiceiros no prémio ou na pena. E o povo a quem as loucuras do homem despolarizado não tinham proclamado ainda soberano, o povo que ignorava o poder bruxo dos papelinhos do voto, na governação do Estado – o povo unia-se à volta do seu chefe natural, daquele que não saíra das tropelias e malabarices de uma urna, mas viera dos desígnios impenetráveis da Providência, para mandar, e ser obedecido, para guiar, e ser respeitado.

O povo português dos Descobrimentos, o povo português que fez o Império desconhecia os génios miríficos que as plebes geram, no tumulto das arruaças, e no rascante voejar dos impropérios. Todo ele era uma família – unânime na crença religiosa, homogénea no sentimento de obediência.

Ignorava a panaceia mórbida dos Direitos, porque vivia dentro do quadrado firme dos Deveres.

Alfredo Pimenta in «O Império Colonial como factor de Civilização», 1936.


Fonte: Veritatis

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

VASCO LOURENÇO E A CRETINICE ESFÉRICA

 “O principal dever de um soldado não é morrer pela sua Pátria. É fazer com que o (…) do soldado inimigo morra pela Pátria dele”.
General George Patton


            Houve em tempos já recuados, um capitão instrutor na Academia Militar, cujo nome não interessa, que era conhecido pelo “cretino esférico”.
            A razão era simples, dizia-se: é que de qualquer ângulo que se olhasse para ele, era sempre cretino.
            O arrazoado vem a propósito de uma escrevinhação do cidadão Vasco Lourenço (VL), em tempos “Conselheiro da Revolução” (uma cretinice esférica de “revolução”, diga-se em abono da verdade), que deu à estampa no Jornal “Público” - um actual quase feudo do Bloco Canhoto - sob o título “A Guerra Colonial ainda não acabou?”, no pretérito 19 de Julho.
            No meio de tiros de pólvora seca, pelos vistos os únicos que sabe disparar, e tiradas ocas condizentes com a esfericidade dos termos exalados por este ser - que, seguramente, entrou na Academia Militar por engano e por engano saiu de lá, formado em Infantaria - veio atacar os combatentes que cumpriram o seu dever para com a sua Pátria e ofender gratuitamente o oficial do Exército Português vivo, mais condecorado, pelo facto de o Exército pretender promovê-lo a Major.
            Trata-se do Capitão Comando Marcelino da Mata, graduado em Tenente-Coronel.
            Este combatente de excepção pertenceu ao Batalhão de Comandos, criado no teatro operacional da Guiné Portuguesa, durante o último conflito ultramarino em que a Nação dos portugueses foi atacada vilmente, na sua essência cultural, soberana e pluricontinental, a que o cidadão em causa apelidou de “guerra colonial”.
            De facto - e fazendo jus, ao título do seu artigo – esta guerra não acabou, nem vai acabar pela simples razão que não existiu…
            O texto de VL é, todo ele, miserável e só demonstra a sua má formação.
            O que terá levado este ser aparentemente ressabiado, que só uma situação revolucionária permitiu a sua promoção a coronel, dada a sua medíocre folha de serviços, a atacar um militar que se revelou um guerreiro indómito, que participou em mais de 2000 operações de combate (mais propriamente 2412!), durante mais de 10 anos, a quem o Exército e o País devem numerosos e relevantes serviços – apesar de nunca ter cursado uma Escola Superior Militar – e a opôr-se a que ele seja promovido a Major, quando tal injustiça já há muito devia ter sido reparada?
            Mas como é que este ser, difícil de adjectivar, tem o topete de escrever publicamente uma alarvidade destas?
            Quem é que se julga?
            Acusa-o de crimes de guerra? Quais? Tem provas?
            E não sabe que só aos tribunais cabe decidir sobre tal?
            De facto não é como aleivosamente escreveu (e o jornal deu destaque) que “a promoção de Marcelino da Mata, a existir, constitui uma enorme vergonha para o Portugal de Abril”; o Portugal de Abril é que tem sido uma vergonha para um herói que, pelos vistos, o único erro que cometeu foi o de, sendo negro, ter sobressaído no Exército Português!
            Ou, inclusive, já se esqueceu das sevícias a que foi sujeito, no antigo RALIS, por outras vergonhas de oficiais – lustrosos nas suas promoções – nos idos do PREC?
            Curiosamente nunca se ouviu o “ilustre abrileiro”, insurgir-se contra a vergonha do decreto-lei 43/99 (e muitos outros de semelhante coturno), conhecido na gíria, pela “Lei dos Garimpeiros”, que previa a reconstituição das carreiras dos militares (oficiais e sargentos do Quadro Permanente), que tivessem tido as suas carreiras eventualmente prejudicadas por via do tal processo revolucionário e que tem constituído (parece que ainda não acabou) um escândalo inominável, que vai manchar a Instituição Militar para todo o sempre…
            E este “iluminado” ainda teve o despautério de apelidar de “assassinos” os participantes na operação “Mar Verde” – um “raid” sobre Conacri, em 22 de Novembro de 1970 – nunca assumido oficialmente (e bem) pelas autoridades portuguesas até hoje, em que Marcelino da Mata foi um dos principais executantes (em que se libertaram 26 prisioneiros portugueses).
            Lembra-se que este “golpe de mão” foi comandado pelo já lendário Comandante Alpoim Calvão – outro verdadeiro guerreiro luso que não deslustrou as armas portuguesas, como os da laia de VL – e que poderia ter acabado com a guerra na Guiné caso tivesse alcançado todos os seus objectivos.
            Então os “guerrilheiros” tinham os seus santuários (bases) e apoios na República da Guiné - Conacri, cujo regime representava uma feroz ditadura comunista, e o seu presidente era um louco sanguinário, e de onde partiam os cobardes ataques contra uma parcela do nosso território, que nunca lhes tinha feito sequer má vizinhança, e nós não tínhamos a legitimidade de nos defendermos e de retaliar?
            Por acaso ignora que a legítima defesa é um dos princípios base do Direito Internacional (e também da Doutrina da Igreja)?
            E diz que a guerra era injusta?
            Afinal jurou bandeira no Exército Português ou pertencia ao PAIGC?
            Olhe, não se tem esquecido de tomar os seus comprimidos diariamente?
            E deixe-me perguntar-lhe, se acha, como afirma no final do escrito, que “todas as guerras são inúteis, ilegítimas e injustificadas”, o que foi que o fez entrar como voluntário para a Academia Militar e ainda hoje ser reformado do Exército com “n” anos de serviço activo?
            Já sei, foi o regime “colonial/fascista” que o perseguiu, quiçá, obrigou e lhe toldou o espírito e a mente…
            Para viver com um mínimo de coerência porque não pede o abate ao Exército e já agora, também, à Caixa Geral de Aposentações?
             O tempora o mores! Pá…


João José Brandão Ferreira
Oficial Piloto Aviador


Fonte: O Adamastor

terça-feira, 28 de agosto de 2018

Um grande país tem de saber receber

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Passam esta semana 58 anos sobre a visita de Estado que os reis da Tailândia realizaram a Portugal. Protocolo de Estado em grande forma, banquetes, visitas e honras ornadas pela curiosidade e logo entusiasmo que o povo de Lisboa dedicou à bela rainha Sirikit. Entrada no céu português com cerrada escolta dos jactos da nossa Força Aérea, visita ao Alfeite e ao Hospital do Ultramar - então na vanguarda da investigação no domínio das doenças tropicais - mais três banquetes (Estufa Fria, Queluz e Ajuda), recepção nos Paços do Concelho e despedida multitudinária na Portela, com muita tropa e estandartes, governo em peso e grandes acenos no momento da despedida. Portugal recebeu na proporção da sua dimensão e na condição de mais antigo aliado do velho Sião. Foi tudo planeado ao segundo, com uma dignidade e elegância que não mais se voltou a ver em terras portuguesas. Infelizmente, perdeu-se o tom solene e a grandeza que o Estado deve afivelar quando recebe. Uma pontinha de monumentalidade não faz mal a ninguém ! Mostraram-me o álbum do Protocolo de Estado tailandês e senti uma pontinha de orgulho ao verificar que batemos aos pontos holandeses, dinamarqueses e alemães na arte de puxar pelos galões. Que se restaure, depressa, o éclat das grandes recepções.

MCB

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segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Santa Mónica, mãe de Santo Agostinho

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Santa Mónica nasceu no norte da África, em Tagaste, no ano 332, numa família cristã que lhe entregou – segundo o costume da época e local – como esposa de um jovem chamado Patrício.

Como cristã exemplar que era, Mónica preocupava-se com a conversão de sua família, por isso se consumiu na oração pelo esposo violento, rude, pagão e, principalmente, pelo filho mais velho, Agostinho, que vivia nos vícios e pecado. A história nos testemunha as inúmeras preces, ultrajes e sofrimentos por que Santa Mónica passou para ver a conversão e o baptismo, tanto de seu esposo, quanto daquele que lhe mereceu o conselho: “Continue a rezar, pois é impossível que se perca um filho de tantas lágrimas”.

Santa Mónica tinha três filhos. E passou a interceder, de forma especial, por Agostinho, dotado de muita inteligência e uma inquieta busca da verdade, o que fez com que resolvesse procurar as respostas e a felicidade fora da Igreja de Cristo. Por isso se envolveu em meias verdades e muitas mentiras. Contudo, a mãe, fervorosa e fiel, nunca deixou de interceder com amor e ardor, durante 33 anos, e antes de morrer, em 387, ela mesma disse ao filho, já convertido e cristão: “Uma única coisa me fazia desejar viver ainda um pouco, ver-te cristão antes de morrer”.

Por esta razão, o filho Santo Agostinho, que se tornara Bispo e doutor da Igreja, pôde escrever: “Ela me gerou seja na sua carne para que eu viesse à luz do tempo, seja com o seu coração para que eu nascesse à luz da eternidade”.

Santa Mónica, rogai por nós!

Fonte: Canção Nova

domingo, 26 de agosto de 2018

Tolerância zero para a pedofilia

Os fiéis e os não-crentes estão fartos de palavras de condenação da pedofilia pela hierarquia da Igreja e exigem, como é de justiça, que se passe das palavras aos actos.

É escusado fingir que não aconteceu nada, ou que não foi assim tão grave, ou que há coisas piores. Não vale a pena olhar para o lado, ou varrer a porcaria para debaixo do tapete, como tantas vezes, infelizmente, aconteceu em relação à sórdida questão da pedofilia na Igreja católica.
Já numa das minhas primeiras crónicas no Observador, a 11 de Outubro de 2014, defendi que “Só uma Igreja verdadeira e humilde é credível”, apelando à total transparência em relação a estes casos, não só por respeito para com as vítimas e as suas famílias, mas também para a justa punição e erradicação dos criminosos.
No ano seguinte, também numa crónica aqui publicada a 28 de Novembro de 2015, defendi, em “A lei e os profetas”, que só por via judicial é possível extirpar este tumor maligno que tão seriamente mina a credibilidade da Igreja católica, porque atenta contra o que há de mais sagrado: a inocência das crianças e a confiança das famílias nos sacerdotes e religiosos a quem confiam os seus filhos, para que deles recebam educação cristã.
Em “Dois óscares para quebrar um silêncio ensurdecedor”, publicado no Observador, a 5 de Março de 2016, saudei o filme americano que recordou a forma como a imprensa desse país publicou, corajosamente, dados que permitiram pôr termo a esta terrível tragédia. Aplaudi essa iniciativa porque, caso tais abusos não tivessem sido denunciados pela imprensa, talvez não fossem consciencializados, nem a hierarquia da Igreja enfrentasse esta dolorosa questão. Com efeito, essas práticas hediondas eram, por sistema, vergonhosamente silenciadas pelos que deveriam ter agido contra os prevaricadores e em defesa das vítimas, tanto mais necessitadas dessa solicitude pastoral quanto eram, por regra, inocentes e indefesas.
Talvez, desde esta tribuna, devesse ter feito mais e melhor, ao longo deste doloroso processo que agora, com as conclusões do grande júri da Pensilvânia e a carta de 20 de Agosto de 2018 do Papa Francisco, conhece mais um trágico desenvolvimento. Mas posso afirmar que, não obstante a insignificância desta minha prestação, desde sempre fui favorável às medidas que a Igreja universal e as igrejas diocesanas, bem como outras instituições religiosas católicas, se propõem finalmente adoptar, por forma a pôr termo, definitivamente, ao escândalo da pedofilia e do abuso de menores por parte de membros do clero e religiosos.
Como declarou o Papa Francisco, na sua recente carta de 20 de Agosto de 2018, “é imperativo que nós, como Igreja, possamos reconhecer e condenar, com dor e vergonha, as atrocidades cometidas por pessoas consagradas” ao longo destas últimas décadas, por vezes de forma continuada e implicitamente tolerada pela hierarquia católica. Mas não basta reconhecer o mal, como também quem na confissão se acusa de roubar deve, sob pena de que lhe seja negada a absolvição sacramental, repor o que ilicitamente subtraiu. Ou seja, os fiéis e os não-crentes estão fartos de palavras de veemente condenação desses factos e exigem, como é da mais elementar justiça, que se passe das palavras aos actos, não apenas em relação aos prevaricadores, que se devem emendar ou ser impedidos do exercício do ministério que sacrilegamente conspurcaram, mas também dos seus legítimos superiores, sobretudo quando, devidamente informados, nada fizeram, tornando-se assim cúmplices desses crimes. Mas também não são inocentes os que, constituídos em autoridade, nada sabiam, pois deviam saber, na medida em que era seu indeclinável dever estar a par da actuação dos seus subordinados.
Como escreveu agora o Papa Francisco, “olhando para o passado, tudo o que se faça nunca será suficiente para pedir perdão e procurar reparar o dano causado. Olhando para o futuro, nunca será excessivo tudo o que se fizer para gerar uma cultura capaz de evitar não só que essas situações aconteçam, mas também não possam ser ocultadas e perpetuadas.” Não basta, portanto, que se faça justiça em relação aos actos já perpetrados e que, como o Santo Padre também afirma, “nunca prescrevem”; é necessário garantir que não voltarão a acontecer casos desta natureza, nem ficarão, em caso algum, impunes.
É de justiça referir, a este propósito, a corajosa denúncia efectuada pelo Papa Bento XVI, poucas semanas antes de ser eleito sucessor de São João Paulo II. Com efeito, na sexta-feira santa de 2005, o então cardeal Joseph Ratzinger, ao dirigir a Via Sacra no Coliseu de Roma, referiu-se expressamente ao escândalo da pedofilia, como sendo uma das mais graves feridas do Corpo místico de Cristo, que é a sua Igreja, comparável ao sacrilégio de quem comunga indevidamente. “Quanta porcaria há na Igreja, e precisamente entre aqueles que, no sacerdócio, deveriam pertencer completamente a Ele! Quanta soberba, quanta autossuficiência!… A traição dos discípulos, a recepção indigna do seu Corpo e do seu Sangue é certamente o maior sofrimento do Redentor, o que Lhe trespassa o coração. Nada mais podemos fazer que dirigir-Lhe, do mais fundo da alma, este grito: Kyrie, eleison – Senhor, salvai-nos (cf. Mt 8, 25)” (Nona Estação).
Já papa, Bento XVI providenciou para que a impunidade dos clérigos e religiosos criminosos não fosse possível, determinando que estes casos, por vezes negligenciados pelas autoridades diocesanas, fossem apreciados em Roma. Foi graças a este Papa que o escandaloso fundador dos Legionários de Cristo foi afastado da instituição por ele fundada e impedido do exercício do ministério sagrado e mais de 400 sacerdotes foram destituídos, sendo compulsivamente laicizados.
O Papa Francisco foi ainda mais longe, permitindo também o julgamento de bispos suspeitos de crimes desta natureza e criminalizando, em 2013, a posse de material pornográfico que envolvesse menores. Foi ao abrigo desta nova legislação que Josef Wesolowski, arcebispo polaco e núncio da Santa Sé na República Dominicana, foi demitido do estado clerical e laicizado em 2014. Encontrava-se detido no Vaticano, aguardando julgamento pelos crimes que lhe eram imputados, quando subitamente faleceu, a 28 de Agosto de 2015.
Não obstante o que até à data foi feito, nomeadamente pelos últimos romanos pontífices, podia e dever-se-ia ter feito mais, como agora humildemente reconheceu o Papa Francisco: “Com vergonha e arrependimento, como comunidade eclesial, assumimos que não soubemos estar onde deveríamos estar, que não agimos a tempo para reconhecer a dimensão e a gravidade do dano que estava sendo causado em tantas vidas. Nós negligenciámos e abandonámos os mais novos.” É de crer que, graças a esta dolorosa tomada de consciência, o Papa Francisco se comprometa agora ainda mais a reforçar as medidas necessárias para a erradicação deste flagelo, que tão duramente fere os fiéis e afecta a credibilidade da instituição eclesial.
Em pouco mais de trinta anos de padre, nunca deixei de dar testemunho público da minha condição sacerdotal, não por vã ostentação, mas porque entendo que ser presbítero é estar ao serviço de todos os homens, crentes ou não-crentes. Talvez agora, o uso do trajo clerical atraia sobre mim olhares de desconfiança, senão mesmo de hostilidade, como sei que acontece nos Estados Unidos da América. Mas seria cobarde se, depois dos factos verificados, deixasse de me identificar como sacerdote. A Igreja é comunhão e, por isso, é razoável que o justo pague pelo pecador. Já nos primórdios do Cristianismo, São Paulo dizia: “alegro-me nos meus sofrimentos por vós e completo na minha carne o que falta à paixão de Cristo pelo seu corpo, que é a Igreja” (Col 1, 24).
Fonte: Observador

sábado, 25 de agosto de 2018

Sim, foram os portugueses



Há cerca de trinta anos, antes da fase indigenista, uma certa historiografia brasileira quis exercitar a possibilidade de uma história do Brasil, mas sem Portugal. Foi o tempo de ouro do "Brasil holandês", com hinos e incensório a Maurício de Nassau, ainda persistente entre alguns retardatários. Sim, os holandeses estavam no Brasil para implantar a industrialização avant la lettre, promover a difusão do conhecimento científico, aplicar tecnologias que libertariam o escravo negro do brutal regime da sanzala. Se assim fosse, por que razão haviam tomado S. Paulo de Luanda, porta de saída da mão de obra escrava destinada ao Brasil holandês ? A mesma perspectiva volta contraditoriamente à carga na análise da guerra entre "brasileiros" e holandeses, a qual terminou nos Guararapes (1648). O facciosismo quis ver nessa vitória a certidão de nascimento do Brasil e da "brasilidade". Coubera aos "brasileiros" reconquistar a sua terra ocupada pelos próceres da VOC e nessa empresa não precisaram nem do Rei de Portugal nem de soldados vindos da Europa.

A verdade que querem esconder é que se houve Brasil, essa foi obra portuguesa, não obra do acaso e das errâncias e feitos de homens duros, como os Bandeirantes, mas de um escopo legislativo que produziu e conformou o imenso espaço a uma unidade irreversível que se veio a realizar com a independência do país filho de Portugal. Das capitanias hereditárias às capitanias gerais e aos municípios, aí viveram portugueses e não "brasileiros", pois era essa a designação que ostentavam. Havia "portugueses de Angola", "portugueses de Macau", "portugueses da Índia", divididos entre reinóis (nascidos na Europa) e nascidos no território, mas todos portugueses. O que aqui aflora é, somada à ignorância, a vontade de minorias recém-chegadas em imporem a sua "brasilidade", nomeadamente imigrantes que foram ganhando protagonismo e riqueza ao longo das últimas décadas.

MCB

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Visita ufficiale del Principe di Portogallo alla Croce Rossa Italiana



I fatti storici
Nel 1855 il Re Ferdinando II, Reggente del Portogallo, primo fra tutti i governanti dell'epoca, volle premiare le gesta diFerdinando Palasciano. Lo nominò Cavaliere dell'Ordine Reale di Nostra Signora di Villa Vicosa, per ricompensare l'altissima opera umanitaria sul campo durante i Moti di Messina del 1848 e il suo sforzo per diffondere nel mondo le proprie tesi sulla "neutralità dei feriti in tempo di guerra", che poi saranno alle basi delle future Convenzioni di Ginevra.

La commemorazionePer ricordare quella storica concessione, nei giorni scorsi il Principe dom Duarte Pio di Braganza, Successore del Re Ferdinando II e Capo della Casa Reale del Portogallo, ha fatto visita al Comitato Nazionale della CRI, dove ha incontrato il Presidente Francesco Rocca e il Vice Presidente Rosario Valastro. Durante il colloquio il Presidente CRI/IFRC e il Principe hanno discusso circa la grave situazione umanitaria mondiale, intrattenendosi in particolare sui Paesi di lingua portoghese per i quali dom Duarte, in virtù degli incarichi diplomatici ricevuti dagli Stati già parte del Portogallo, svolge attività internazionale.

La Medaglia alla Bandiera della CRI
Successivamente, nella Sala Palasciano, alla presenza di Volontari e appartenenti ai Corpi Ausiliari del Comitato di Roma, del Gen. Domenico Giani (Comandante della Gendarmeria Vaticana), di alcuni Responsabili Nazionali dell'Area Principi e Valori e di decorati degli Ordini Reali Portoghesi, il Principe ha concesso la Medaglia al Merito dell'Ordine di Villa Vicosa, alla Bandiera della CRI.

La Medaglia al Merito della CRI ai sovrani portoghesi
Il Presidente Nazionale, nel ringraziare per il prestigioso riconoscimento alla nostra Associazione, ha voluto ricordare il fondamentale apporto che i Sovrani Portoghesi diedero alla nascita d al consolidamento del Diritto Internazionale Umanitario e al Movimento di Croce Rossa e Mezzaluna Rossa, consegnando al Principe - proprio in virtù di tale contributo - la Medaglia d'oro al Merito della CRI e la nomina a Socio Sostenitore.


quinta-feira, 23 de agosto de 2018

D. Nuno: Herói e Santo



Modelo de príncipes, exemplo de senhores, espelho de contemplativos, és tu bem-aventurado Nuno! Tu foste firme e forte em combate, tu foste comedido e apiedado na vitória, tu foste justo e misericordioso na paz, tu foste obediente e devoto no claustro. Assim como em toda a situação te comportaste com dignidade e brio, e como nos teus dias de vida alcançaste honra e glória, assim também alcançaste no Céu a bem-aventurança eterna.


Infante D. Pedro, citado pelo seu irmão, el-Rei D. Duarte, em carta escrita a 21 de Julho de 1437


Fonte: Veritatis

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

INCÊNDIOS: MAIS DO MESMO…INCÊNDIOS: MAIS DO MESMO…



15/8/18 (Dia da Assumpção de Nossa Senhora).

         “Ordinariamente todos os ministros são inteligentes,
           escrevem bem, discursam com cortesia e pura dicção,
           vão a faustosas inaugurações e são excelentes convivas.
           Porém, são nulos a resolver crises. Não têm austeridade,
           nem a concepção, nem o instinto político, nem a expe-
           riência que faz o Estadista. É assim que há muito tempo
           em Portugal são regidos os destinos políticos. Política do
           acaso, governado por vaidades e por interesses, por es-
           peculação e corrupção, por privilégio e influência de
           camarilha, será possível conservar a sua independência?”
           Eça de Queiroz, 1867, in “O Distrito de Évora”.[1]


            Agosto.
            Lá voltámos ao mesmo!
            Desta vez a meteorologia ajudou: Inverno e Primavera chuvosos, Verão tardio e meigo. Mas era apenas uma questão de tempo.
            E o que se falou; discutiu e se intentou fazer, neste intervalo de tempo?
            Pelo menos de dezenas de milhares de horas de televisão e rádio e quilómetros de escrita, ninguém nos livrou: tudo baldado.
            Actuou-se, ou tentou actuar-se em muitas áreas: limpezas e mais limpezas; relatórios; discussões científicas sobre ordenamento do território; escolha e compra de novos equipamentos; treino de novas equipas; muita conversa, muitas visitas, etc.
            Debalde.
            Tentou-se mexer na Protecção Civil - um cancro a vários níveis – mudando chefias e reorganizando serviços e competências (quando os civis metem os pés, lá vão chamar os militares…) o que era uma necessidade premente.
            Mas o tempo que passou foi curto e ainda não deve ter havido oportunidade de melhorar grandemente a coisa.
            O combate ao grande fogo de Monchique prova-o. Veremos o que se segue.
            Aliás a mudança de comando das operações a meio do incêndio não indicia nada de bom…
            Quis transformar-se as Forças Armadas (FA) – que estão sem nada (homens, logística, dinheiro, equipamento, etc.), em bombeiros e até se quis atribuir à Força Aérea competências sem lhes dar o mínimo de meios e autoridade, o que poderá constituir outro desastre a prazo.
            Fez-se muita coisa mas, aparentemente, nada resultou.
            E também não se apuraram responsáveis pelos desastres da “época” passada, na triste e lamentável repetição sistemática do ADN nacional…
            É natural pois, que o país continue a arder. E vai continuar a arder.
            Gostaria de estar enganado, mas reafirmo que vai continuar a arder porque depois de tudo o que apontei sucintamente atrás, ninguém se atreveu a mexer no essencial e no óbvio: em legislar contra os putativos negócios que envolvem o fogo e em cortar a mão a quem ateia os incêndios, seja por dolo (mais grave) seja por incúria.
            Sim porque os incêndios não começam sozinhos, salvo em raríssimas excepções.
            É claro que se os locais não estiverem limpos nem ordenados, a propagação do fogo é mais fácil e com maior intensidade…
            Mas isso não é causa, é efeito!
            Ora ninguém (a não ser esta praça velha e mais meia dúzia de “enviesados” mentais, que nem conseguem fazer-se ouvir …) quer dar conta desta evidência e sobre o assunto caiu um véu de silêncio cúmplice, idiota e cobardolas, dez vezes pior do que a história do rei ir nú!
            E tal estende-se da política, à comunicação social, às forças de segurança, aos empresários, aos comentadores, aos investigadores, enfim, de um modo geral a toda a gente.
            Porque será?
            Ora aí está um bom tema para politólogos, sociólogos, psicólogos, e outros “ólogos”, investigarem!
            Parece que um verdadeiro manto de auto censura caiu sobre a sociedade portuguesa.
            Parece, não, é um facto!
            Será que estamos todos em estado de negação?
            Estamos com medo de nos olharmos ao espelho?
            E escusam de mandar as culpas para cima das (hipotéticas) alterações climáticas, que passaram, aliás, a ter umas costas assaz de largas…
            O problema, meus caros concidadãos, é que se criou uma sociedade cheia de vícios, gorda de espírito e de corpo; em que a corrupção campeia; cheia de direitos e nenhuns deveres; em que os princípios falecem face aos interesses; onde o individualismo impera sobre o colectivo; onde a falsa teoria do bom selvagem esbarra na realidade da natureza humana.
            Ora o sistema “soit dizant” democrático (aliás como outros) foi eleito, desde 1974, como o alfa e o ómega da felicidade humana.
            Acontece que a prática das coisas não só permitiu todo este descalabro, como o fomentou.
            Reconhecer isso pode levar à implosão do regime. Por isso é tabu falar-se ou admitir-se que são os próprios cidadãos (a não ser que estejamos em face de grupos organizados de terroristas) deste pobre país, os principais culpados destas tragédias que nos assaltam vai para quatro décadas.
            Compreende-se, pois, que é difícil, doloroso e politicamente suicidário (para quem queira ganhar votos…) assumir estas verdades.
            O que explica muito do patético discurso público com que os políticos da nossa praça – com especial incidência neste caso, para o PM e o MAI – nos brindam amiúde.
            Mas enquanto não o fizermos e actuarmos em conformidade, as calamidades causados pelos incêndios, continuarão a abater-se sobre todos nós.
            E quanto mais dinheiro o governo anunciar que vai “despejar” no combate e prevenção dos incêndios mais fogos vai haver.
              Adeus e até ao próximo fogaréu.
           
           



                                                    João José Brandão Ferreira
                                                         Oficial Piloto Aviador


[1] Se bem que a afirmação de que “os ministros serem inteligentes, escreverem bem e discursarem com cortesia e pura dicção”, já tenha conhecido melhores dias…


Fonte: Adamastor

terça-feira, 21 de agosto de 2018

Escravos, mas nobres

Nenhum texto alternativo automático disponível.


Na monomania das escravaturas, lá tenho de ouvir na TV mais um guinchante a bramar contra os portugueses, suas enormidades e malfeitorias. Maria Emília Madeira Santos e Luís Filipe Thomaz chamaram há muito a atenção para o real estatuto jurídico daqueles escravos sui generis que viviam em S. Jorge da Mina e arredores. Chamados "Criados d'El-Rei", detinham privilégios comparáveis aos de cavaleiros (ou seja, pequena nobreza), sentavam-se à mesa do Capitão da fortaleza, possuíam escravos, dedicavam-se ao comércio e comandavam milícias; ou seja, eram o grupo social dominante naquelas paragens.

MCB

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

O Bombeiro D. Afonso Henriques de Bragança



Deve-se ao Infante Dom Afonso Henriques de Bragança a fundação, em 10 de Abril de 1880, da Real Associação de Bombeiros Voluntários da Ajuda, da qual foi o seu primeiro comandante.
A RABVA recebeu o alvará de Real Associação em 2 de Maio de 1881 e funcionava como sede numa parte do próprio Palácio da Ajuda.
O Infante Dom Afonso Henriques de Saxe-Coburgo-Gota e Bragança, (Ajuda – Lisboa, 31 de Julho de 1865 – Nápoles, 21 de Fevereiro de 1920), era o filho 2.° do Rei de Portugal D. Luís I e da Rainha D. Maria Pia, e irmão de Dom Carlos I, e a sua titularia foi: 3.º Duque do Porto, 6.º Príncipe Real e herdeiro do trono de Portugal (no reinado de Dom Manuel II), 24.° e último Condestável de Portugal,  109.º governador e 51.º e último Vice-Rei da Índia Portuguesa.
Fruto da mal-intencionada campanha republicana que visava denegrir os membros da Família Real Portuguesa ficou injustamente conhecido como «O Arreda». O que não conta essa estória é que Dom Afonso como comandante dos Bombeiros Voluntários da Ajuda  percorria as ruas de Lisboa num carro de bombeiros – pago do próprio bolso – a alta velocidade para levar o auxílio a quem tinha os seus bens a serem consumidos pelo fogo ou para combater incêndios nas matas adjacentes, perigando a própria vida, e como não havia sirenes nesse tempo fazia-o com uma palavra de ordem, o grito, de ‘Arreda, Arreda!’ para que os hipomóveis e os peões saíssem da frente, o que lhe valeu o cognome pouco abonatório, pois como era entusiasta de carros e foi o responsável pela organização das primeiras corridas de automóveis em Portugal, a propaganda anti-monarquia pretendeu passar a ideia que era por conduzir o seu automóvel Fiat a alta velocidade – uns ‘estonteantes’ 20 km/hora -, pelas ruas da Capital aos gritos de ‘Arreda!’, para as pessoas se afastarem e não serem atropeladas.
É, portanto, impreterível fazer a devida Honra e Justiça à Memória do Infante Dom Afonso Henriques de Bragança que com galhardia tanto honrou a divisa da sua corporação: ‘Vida por Vida’.
Entretanto, um outro Afonso, o Príncipe D. Afonso de Santa Maria de Bragança começou o estágio provatório como Estagiário Especialista nº 1231 no Corpo de Bombeiros da Real Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Lisboa, seguindo a tradição de Serviço da Dinastia de Bragança.

Miguel Villas-Boas