D. Afonso, filho de D. Duarte, está em estágio nos Bombeiros Voluntários de Lisboa. Mas não pode ir apagar fogos tão cedo. "Não é bombeiro quem quer, é quem sabe", justifica o comandante.
Há muito tempo que Afonso de Santa Maria João Miguel Gabriel Rafael de Herédia de Bragança, filho primogénito de Dom Duarte Pio e de Dona Isabel de Herédia, discutia com a família e com os amigos “o estado de Portugal em matéria de incêndios”. A vontade de combater o problema cresceu ainda mais quando ardeu parte significativa do Pinhal de Leiria, obra pensada por D. Afonso III no século XIII e concretizada por D. Dinis, consumida nos grandes fogos de Outubro do ano passado.
Depois disso, D. Afonso encontrou-se com Paulo Vitorino, o comandante dos Bombeiros Voluntários de Lisboa: “Ele sugeriu que participasse no estágio para os bombeiros para ver como é que as corporações funcionavam e para ter essa experiência própria”. D. Afonso de Bragança aceitou o desafio. Agora, o Príncipe da Beira e Duque de Barcelos, segundo da linha de sucessão ao trono (caso Portugal fosse uma monarquia), está em recrutamento para os Bombeiros Voluntários de Lisboa.
A conversa entre D. Afonso e Paulo Vitorino aconteceu há coisa de “seis ou sete meses”, recorda o comandante. O processo de admissão do príncipe de Portugal para esse estágio não foi em nada diferente do de outro cidadão qualquer, garantiu ao Observador: “O senhor Dom Afonso de Bragança veio à nossa corporação porque queria fazer recrutamento para o corpo dos Bombeiros Voluntários de Lisboa na área Social e de Emergência Pré-Hospitalar”. Segundo o comandante, “a notícia foi recebida com muita naturalidade porque ele é igual aos outros”. Para chegar até aqui, Dom Afonso de Bragança teve de submeter-se a inspeções médicas para avaliar se “as condições físicas, psíquicas e de idoneidade” o tornavam apto para a missão.
D. Afonso: “Foram muito simpáticos, mostraram como funcionava o quartel e introduziram-me no grupo”
O estágio de D. Afonso de Bragança começou esta quarta-feira e, garante o príncipe, “correu muito bem”. “Foram muito simpáticos, mostraram como funcionava o quartel e introduziram-me no grupo”. Este era um passo que D. Afonso queria cumprir “desde sempre”: “Quando era pequeno já pensava em tornar-me bombeiro ou polícia. Achei correto. Eu quero cumprir o serviço militar, mas como já não há obrigatoriedade em fazê-lo e eu não posso fazê-lo por razões académicas, fiz aquilo que me parecia mais próximo dessa missão”, conta ele.
D. Afonso, que completou 22 anos a 25 de março, não foi requisitado para uma acção. “Eles [os estagiários] não são carne para canhão, isto não é como na I Guerra Mundial que eram todos chamados para o campo”, sublinha o comandante Paulo Vitorino. Pela frente Dom Afonso de Bragança ainda tem quase um ano de treinos para ver se está apto a cumprir a missão dos Bombeiros Voluntários de Lisboa, que celebram 150 anos de existência.
Até lá não vai sair do quartel. “Não é bombeiro quem quer, é quem sabe”, justifica Paulo Vitorino. Se terminar o estágio com sucesso, o Príncipe da Beira e Duque de Barcelos será oficialmente incorporado no corpo dos Bombeiros Voluntários de Lisboa, mas ainda não poderá combater os incêndios: para o fazer terá de passar por uma nova formação que leva mais quatro meses.
D. Afonso de Bragança não é o primeiro membro da família real portuguesa ligado aos bombeiros, algo que o príncipe só descobriu durante a primeira formação do estágio: “Aprendi muito sobre a história dos bombeiros. Contaram-me que nos emblemas dos bombeiros há sempre uma máscara de cavaleiro, que normalmente está de lado. Se aquela corporação já tiver tido um membro da família real como bombeiro, a máscara de cavaleiro aparece virada para a frente”.
O irmão do Rei D. Carlos, D. Afonso de Bragança, conhecido como o Infante D. Afonso, duque do Porto, foi comandante honorário dos Bombeiros Voluntários da Ajuda. Foi ele quem fundou essa corporação a 10 de abril de 1880. Conta-se que D. Afonso andava num carro de bombeiros a altas velocidades pelas ruas de Lisboa para acudir quem precisasse. Esse carro não tinha sirene, por isso D. Afonso gritava “Arreda!” para que as pessoas na rua se afastassem e deixassem passar o automóvel. Isso valeu-lhe a alcunha “O Arreda”.
Fonte: Observador
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