sexta-feira, 28 de junho de 2019

A APOLOGIA DO “DOLCE FAR NIENTE”


“O tempora! O mores!”
“Ó tempos! Ó costumes!”
 Exclamação de Cícero
(Contra a depravação dos seus contemporâneos)
                
Deve ser para esquecer.
As agruras da vida…
Reparem caros concidadãos como a coisa está entranhada (como diria o Pessoa).
Chusmas de jornalistas, sendo a maioria radialistas (pelo menos pelos “sound bytes” que me chegam), ficam deliciados com os dias de calor, que logo associam à praia. Daí o incentivo para ir para a praia, congratular-se com o estar na praia, é um passo curto…
A que corresponde, já agora, a abominação da chuva que, como se sabe não faz falta nenhuma…
Até aqui se vê a diferença entre uma cultura citadina, quiçá, suburbana infecciosa – cuja alternativa invernosa é ir passear de fato de treino para os centros comerciais – e a ruralidade do interior cada vez mais abandonado e despovoado.
A última frase que nos feriu os tímpanos foi pronunciada na Rádio Renascença no pretérito 28 de Abril: “ter areia no carro não é tão bom? É sinal que estamos perto da praia…”
Bom, ir à praia, apesar de ser um hábito relativamente recente – inaugurado pela Corte Inglesa em fins de setecentos, mas apenas verdadeiramente assumido e generalizado, no século XX e por fases – não tem nada de mal e eu não me eximo a fazê-lo.
A questão está em que para se ir à praia, outros ou os mesmos, têm que assegurar que o podem fazer.
Ou seja, tem a ver com bom senso e o trabalho (melhor dizendo produtividade) realizado.
Ou seja o bom senso deve dizer-nos que o trabalho vem primeiro que o lazer; que os direitos devem derivar dos deveres cumpridos (ao contrário do que prescreve a nossa douta Constituição); que a praia serve para retemperar as forças físicas e anímicas para continuar a vida, mas não é um fim em si mesmo. A praia não educa, nós é que devemos ser educados para ir à praia. Outros exemplos (e não só de praia) se poderiam dar.
Quanto ao trabalho, e à produtividade, quem quer saber dele? É tido como uma canga!
Uma chatice.
Quem lhe louva os méritos? Quem lhe sobressai a necessidade? Quem incensa o bem -fazer?
Pois parece que ninguém.
Antes pelo contrário, tudo se faz para o depreciarem, denegrir e evitar.
Criou-se o mito das boas e das más profissões, em vez de se justiçar os bons e os maus profissionais; estimula-se a preguiça através do subsídio de desemprego (de que se abusa); do rendimento mínimo garantido (de que se abusa) e de outros apoios sociais (de que também se abusa!).
O resultado é que os nacionais (e, sobretudo, os europeus) deixaram de querer fazer determinados ofícios e tarefas, resultando as incongruências da emigração e da imigração (de que se abusa); a ociosidade (com o seu cortejo de consequências/vícios) e estarem os centros de emprego cheios de desempregados e uma quantidade enorme de vagas de emprego por preencher…
Para tal muito contribuiu o fim das Escolas Técnicas e Comerciais; o nivelar por baixo e a estúpida mania de que toda a gente tem que ter uma licenciatura!
Acontece, porém, que a Natureza surtiu imperfeita no âmbito do ócio e do trabalho, ou seja, obriga – desde a Idade da Pedra Lascada - a que, o “homo sapiens sapiens” tenha de respirar; comer e beber qualquer coisa diariamente; tem de se proteger das intempéries; acumule algumas reservas para dias piores; garanta uma forma qualquer de energia; consiga sobreviver através da reprodução e se organize e estude um pouco o que se passa à sua volta, a fim de aprender alguma coisa. Só para ficarmos por aqui.
Azar dos Távoras, não é que tudo isto dá um trabalho dos diabos? E que dizer de todos aqueles que são a maioria, que passam a vida a labutar, a aspirar pela reforma (que é outra modernice com poucos anos – refiro estas coisas para situar devidamente as questões) e depois se esquecem de a preparar e estiolam pelos cantos, sem sequer lhes apetecer ir à praia? Ora a “praia” parece que se traduziu nesta sociedade moderna numa obsessão, enquanto não há quem elogie o trabalho.
Mais ainda, passou a trabalhar-se para ir de férias e, quando se regressa destas, precisa-se de novo ir para a praia descansar. Das férias e da “depressão” de se ter que ir trabalhar novamente…
Os próprios feriados passaram a ser “ilhas” para se ir para a praia, em vez de se comemorar a razão da sua origem. Sendo assim, como justificar a sua existência?
Os jornalistas, os comentadores, a escola, e por arrastamento (aqui põe-se a questão do ovo e da galinha) os políticos, vão na onda da demagogia e do “laisser faire, laisser passer”.
Os sindicalistas e os Partidos Políticos, além de não valorizarem o trabalho reivindicam constantemente, não a sua melhor organização e produtividade, mas o trabalhar menos, recebendo mais. Por sua vez os empresários dão prioridade ao lucro em detrimento da elevação moral e da “alegria” no trabalho. Preferem a distribuição de dividendos à liderança e ao investimento.
No início dos tempos, o trabalho revertia para o próprio e as trocas eram directas através de produtos, ou em troca de segurança.
Até se inventar o dinheiro.
Um “cómodo” muito eficaz que permite trocar trabalho ou a aquisição/venda de um produto ou serviço, por uma retribuição monetária.
Mas, para além de se manter esta relação em desequilíbrio constante, conseguiu - se desestabilizar as relações sociais e entre Estados, para todo o sempre e fomentou - se os piores instintos da natureza humana, como a cupidez, a avareza ou a ganância.
Mas isso já é outro âmbito de discussão e já ninguém se lembra de como tudo começou.
Se calhar o melhor mesmo é ir para a praia.                  
               

João José Brandão Ferreira
Oficial Piloto Aviador (Ref.)


Fonte: O Adamastor

quinta-feira, 27 de junho de 2019

Quando o analfabetismo triunfou em Portugal

A imagem pode conter: fogo

Há tempos, num textozinho, um académico voltava - impenitente e ignorante que é - a oferecer o retrato de um Portugal beato, obscurantista, imóvel e odiosamente hostil às letras. Ora, chegou a hora de estes fulanos deixarem de lado a galeria de quadrinhos anedóticos à Oliveira Martins ou à Antero e se debruçarem sobre a imensa documentação acessível a qualquer investigador no arquivo nacional e nos arquivos regionais.

Os acontecimentos e a profusão dos testemunhos contemporâneos - suficientemente ilustrados por dados estatísticos - confirmam-no: no fim do Antigo Regime, o ensino entrou subitamente em colapso. O analfabetismo estrutural que doravante marcaria profundamente a sociedade portuguesa na segunda metade do século XIX e todo o século XX, não terá sido herança do Portugal antigo, mas do Liberalismo. De Ernesto José Caldas, na História de um fogo morto, retiro o seguinte elucidativo episódio do saque e destruição sistemática das bibliotecas conventuais e monásticas que cobriam o território português:

"As livrarias a monte. Tudo roubou. Primeiro acudiam os que se tinham na conta de entendidos; depois os curiosos; por último a canalha que roubava para vender a peso. As mercearias encheram-se de missais, de breviários, de sermonários, de tudo quanto constituía o fundo dessas bibliotecas".

Os 300.000 volumes que escaparam à rapina ou à destruição constituiriam, talvez, um décimo dos livros existentes em Portugal nos finais do Antigo Regime. Nem as bibliotecas de particulares se salvaram à vaga de ódio e terrorismo cultural. Seria importante lembrar que, entre 1833 e 1836, foram sequestradas as livrarias dos "rebeldes" - ou seja, dos miguelistas - as quais possuíam dezenas de milhares de títulos. Destes últimos (os "rebeldes") deram entrada na Biblioteca Nacional cerca de 30.000 volumes, pelo que se pode imaginar as dezenas ou mesmo centenas de milhares de obras roubadas, queimadas e perdidas. A elite cultural do país desapareceu, pura e simplesmente.

MCB

terça-feira, 25 de junho de 2019

24 de Junho de 1128: Batalha de São Mamede


O reinado de D. Afonso Henriques é, por assim dizer, uma peça inteiriça: todo ele, de ponta a ponta, é um sistema de esforços conjugados, e superiormente dirigidos, para a independência do Condado de Portugal.

A batalha de S. Mamede é o primeiro acto decisivo, claro, que não admite dúvidas, da série gloriosa de feitos do fundador do Reino de Portugal. É o nosso grito de independência, é a nossa primeira afirmação de personalidade e de vontade. Vitorioso da hoste estrangeira, Afonso Henriques ergue voo, nas suas legítimas aspirações, e sonha o talhar de fronteiras que é o seu longo reinado.

Génio político e militar formidável, Afonso Henriques é o obreiro máximo da nossa existência como Nação. E foi na batalha de S. Mamede que o plano grandioso se fixou, se concretizou e definiu. Sem a batalha de S. Mamede, a história de Portugal não podia existir: ela foi o seu berço.

Tudo quanto veio depois, a obra inolvidável das dinastias que se seguiram, saiu do combate dos campos de S. Mamede, em que D. Afonso Henriques passando sobre os seus sentimentos de filho, defrontou a vontade da Mãe, subjugada à influência do estrangeiro. Perdoa-se a D. Teresa essa fraqueza sentimental de uma paixão serôdia – recordando-se que também ela cooperara, ainda em vida do marido, para que as condições do condado portucalense tornassem possível o gesto audacioso de Afonso Henriques, em 1128.

Volvidos 800 anos sobre essa data fascinante, a Nação persiste. Foi a continuidade da Realeza que garantiu essa persistência. Neste ano em que escrevo, em que me irritam os nervos, cantos de sereia castelhana que mascaram mal disfarçados apetites do Imperialismo Ibérico, é um dever, e um dever sagrado, recordar a batalha de S. Mamede, e a figura prestigiosa do Rei que a venceu. Coincidência curiosa: há oito séculos, nasceu Portugal. Em 1128, ergue-se o Sol magnífico; em 1828, abre-se a noite nefanda. Como vimaranense e como português, não posso, nesta hora, calar o grito sagrado: – Viva Portugal!

Alfredo Pimenta in «A Ilustração Moderna», n.º 25/26, Julho-Agosto de 1928


Fonte: Veritatis

domingo, 23 de junho de 2019

O secretário de Estado da (má) Educação

A área de Cidadania e Desenvolvimento, dirigida a crianças desde os 6 anos de idade, é o ‘cavalo de Tróia’ para a introdução da ideologia de género.

No mesmo dia em que foi aqui publicada a crónica A ideologia de género não é ciência, é ideologia, o secretário de Estado da Educação, Professor Doutor João Costa, fez, numa rede social, o seguinte comentário: “Este é o mesmo senhor – tenho alguma dificuldade em chamá-lo Padre – que há uns anos insultou um jovem por não tirar um chapéu sem procurar saber que ele o enterrou na cabeça para não ser reconhecido pelo pai, que lhe batia para não ir à escola. Estamos, portanto, conversados. Felizmente, como me disse um Padre a sério, a Igreja é como a arca de Noé: há espaço para todos. Deve ser fácil pregar em circuitos fechados de elites privilegiadas.”
O jornal Notícias do Viriato, que divulgou esta mensagem com o título óbvio – “Secretário de Estado da Educação insulta Padre” – acrescentou a seguinte explicação: “O secretário de Estado da Educação, João Costa, ao reagir no Facebook a um artigo de opinião no Observador sobre a Ideologia de Género, do Padre Gonçalo Portocarrero de Almada, referiu-se ao Padre como não sendo ‘a sério’ e que tinha ‘dificuldade em chamá-lo Padre’. Curiosamente, o título do artigo de opinião anterior do Padre, intitulava-se de Já abriu a caça aos Padres?”.
Se o que um senhor João Costa pensa de um padre qualquer nem a este interessa, muito menos à opinião pública. Mas, mesmo tendo o ofendido relevado o insulto, não pode passar despercebida a grave acusação de que o dito presbítero insultou um jovem, desmerecendo da sua condição sacerdotal, formulada publicamente pelo secretário de Estado da Educação. Com efeito, há alguns anos, um efémero Ministro da Cultura foi mesmo obrigado a demitir-se, por se ter expressado também, numa rede social, de uma forma indigna de um membro do governo. Não é, portanto, por motivos pessoais – aliás inexistentes – que se presta este esclarecimento, mas em prol da verdade e a bem da nação.
A 12-1-2016, publiquei neste jornal a crónica O ministro da (má) educação na Baixa da Banheira, em que, entre outras coisas, escrevia: “No Público do passado dia 5 de Janeiro [de 2016] noticia-se, em artigo de página inteira, a visita que, na véspera, o ministro da Educação e o secretário de Estado João Costa fizeram à Escola Secundária da Baixa da Banheira, por ocasião do início do segundo período lectivo. A acompanhar o texto, consta uma fotografia em que se podem ver, ao fundo, os governantes e comitiva junto à porta aberta da sala onde, em primeiro plano, aparecem quatro presumíveis alunos daquela escola”.
Até aqui o facto, que me limitei a registar. Depois, acrescentei o seguinte comentário: “O que mais prende a atenção é o facto de três dos ditos quatro alunos estarem de cabeça coberta, em plena sala de aula. Um, decerto o mais friorento, não se contentou com um simples gorro, porque enfiou o capuz do seu blusão impermeável que, ao tapar-lhe as orelhas e a boca, indicia um total alheamento. Os outros dois ficaram-se por uns mais discretos bonés, que um deles usa com a pala para trás. Ora, ter a cabeça coberta, dentro de uma sala, é objectivamente uma falta de respeito, tanto em Bragança como em Faro, ou na Baixa da Banheira, salvo algum muito discutível modismo local que me esteja a escapar”.
E rematei o assunto, dizendo: “Talvez alguém pense que a questão dos bonés é relativamente secundária, tendo em conta os enormes desafios a que devem fazer frente as escolas em zonas mais sensíveis, como é o caso. Não ponho em causa as intenções daqueles adolescentes, nem o mérito dos seus professores e da sua escola, mas a educação, ou é integral ou não é nada. Educar não é despejar um conjunto de conteúdos nas cabeças de uns quantos indivíduos, na esperança de que depois os saibam debitar. É, sobretudo e principalmente, formar cidadãos livres e responsáveis, que amanhã possam contribuir validamente para o bem comum. Para tal, precisa-se certamente de alguma bagagem cultural e técnica mas, mais ainda, de aprender a conviver, o que não se pode fazer sem um mínimo de educação. De boa educação, entenda-se!”
Agora, três anos e meio depois, o secretário de Estado da Educação foi desenterrar esta crónica para dizer que sou “o mesmo senhor […] que há uns anos insultou um jovem por não tirar um chapéu sem procurar saber que ele o enterrou na cabeça para não ser reconhecido pelo pai, que lhe batia para não ir à escola.
O comentário do Professor Doutor João Costa, tal como foi publicado no Notícias do Viriato, apresenta graves deficiências gramaticais, indesculpáveis num membro do governo, que até é secretário de Estado da Educação e doutorado em linguística. Por exemplo, a frase “que há uns anos insultou um jovem por não tirar um chapéu sem procurar saber que ele o enterrou na cabeça para não ser reconhecido pelo pai” (uf!) carece de alguma pontuação, em benefício dos asmáticos e não só. Também a alusão a “um chapéu” (?!) não é correcta, porque, embora chapéus haja muitos, ali só havia gorros, capuzes e bonés. Enfim, faltas de educação…
Mais infeliz, porque caluniosa, é a sua afirmação de que, nesse texto, se “insultou um jovem”. Na dita crónica, que pode ser lida na íntegra no Observador, não só não há nenhum insulto, como até muito delicadamente se reconheceram “os enormes desafios a que devem fazer frente as escolas em zonas mais sensíveis, como é o caso”, ao mesmo tempo que se afirmou, expressamente, que não se punham “em causa as intenções daqueles adolescentes, nem o mérito dos seus professores e da sua escola”. Aliás, não foi “um jovem”, mas três os que foram referidos por estarem encapuçados na sala de aula – será que os três padeciam da mesma incompreensão familiar?! E, em relação ao que estava mais resguardado, até houve a caridade de o desculpar, supondo que era “decerto o mais friorento”. Portanto, senhor secretário de Estado, onde está o insulto?!
Se alguém não teve a devida consideração pelo jovem em questão foram, decerto, a escola e os ditos governantes. Com efeito, não respeitaram o direito à imagem desse aluno, nem a sua privacidade, porque deixaram que fosse publicada, num jornal de expressão nacional, a sua fotografia. Sabendo da melindrosa situação familiar desse rapaz, os dirigentes daquele estabelecimento de ensino não deviam ter permitido a presença de jornalistas ou, autorizando-a, deveriam ter proibido a publicação de fotografias do dito estudante. Mas, claro, como todos os motivos são bons para fazer propaganda política, o ministro e o secretário de Estado deixaram-se retratar junto daquele aluno, sem se preocuparem com a consequência trágica que, para o jovem, podia decorrer dessa sua acção gratuita e publicitária. E, como se não bastasse, três anos e meio depois, o mesmo secretário de Estado vem a público dizer que fui eu que insultei o pobre estudante …
Quanto à arca de Noé, é muito de saudar o seu conhecimento bíblico. Mas, para o país, seria melhor que, em vez de promover a opção política totalitária do monopólio estatal da educação, garantisse a constitucional liberdade de aprender e de ensinar. Como?  Viabilizando os colégios de maior qualidade educativa, como o da Imaculada Conceição, em Cernache, agora impedido, pelo Ministério da Educação, de prosseguir a sua meritória acção educativa e social, que privilegiava sobretudo os estudantes mais carenciados.
A Doutora Mafalda Miranda Barbosa, professora da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, também comentou, na mesma rede social, a crónica que tanto indignou o secretário de Estado da Educação: “Um texto a não perder. Um texto que, pelos vistos, incomoda os políticos no governo, o que só mostra o seu valor. Até porque contra ele não conseguiu o senhor secretário de Estado que se resolveu pronunciar mobilizar um único argumento, preferindo desferir ataques ad hominem”. De facto, é de lamentar – ou talvez não – que o Doutor João Costa não tenha sido capaz de fazer uma única crítica ao teor da referida crónica e, por isso, se tenha visto obrigado a recorrer ao insulto pessoal, como aliás o Notícias de Viriato publicamente reconheceu, no título da respectiva notícia.
É óbvio que o recurso à calúnia mais não foi do que uma manobra de diversão, para desviar a atenção do que realmente interessa: a implementação, em Portugal, da ideologia de género. Como muito bem escreveu o Engº Mário Cunha Reis, conselheiro nacional do CDS, “a área de Cidadania e Desenvolvimento, dirigida a crianças desde os 6 anos de idade, é o ‘cavalo de Tróia’ para a introdução da ideologia de género, da sexualidade precoce e da cultura LGBT” (Ideologia de Estado,Observador, 16-3-2019).
O mesmo engenheiro escreveu ainda: “João Costa rejeita a existência da Ideologia de Género. Demonstração? Simples: ‘Uma pesquisa bibliográfica simples no catálogo da Biblioteca Nacional não regista qualquer entrada sobre Ideologia de Género (sic). Tive oportunidade confirmar e de fazer igualmente uma pesquisa por Ideologia Comunista. De facto, para ambas não há qualquer resultado, pelo que devo depreender também que a ideologia comunista não existe, não obstante ter sido causadora da perda de milhões de vidas humanas. Bizarro, não é? Contudo, fazendo uma pesquisa por queer, a teoria que confere o carácter científico à ideologia de género, a que defende que a orientação sexual e a identidade sexual ou de género é uma construção social, não estando constrangida pela natureza ou pela biologia, é apresentada mais de uma dezena de entradas”.
Conclui Mário Cunha Reis: “Se o Doutor João Costa estivesse a prestar provas académicas, por certo que ouviria do júri que se esperava dele maior honestidade intelectual; mas, afinal, trata-se, agora, de um mero governante socialista”. Pois é, e é pena. Haja a esperança de que o próximo Secretário de Estado da Educação, mesmo que seja também de um governo low Cost(a), não só seja um governante a sério, mas sobretudo seja sério. Pode ser que ainda haja algum, no porão da arca de Noé…
Fonte: Observador

sábado, 22 de junho de 2019

Desfazer mitos históricos: D. João V, o que não passava a vida em Odivelas

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A lenda negra que pesa sobre o Magnânimo é hoje património exclusivo dos preguiçosos, dos desonestos intelectuais e dos sectários. Foi um grande Rei, não se poupou aos incómodos da função, foi entusiasta de letrados, de artistas e homens de ciência, um exigente recrutador de servidores do Estado. Ora, hoje, ao ler Mendes Coelho, deparei com um exemplo da entrega esforçada do Rei ao seu ofício. Num dia da primavera de 1721, incógnito e acompanhado de dois prebostes, cavalgou por caminhos lamacentos, dormindo em descampados e submetido à aspereza dos elementos, até que chegou a Évora pelo início da noite do terceiro dia, ordenando que os responsáveis do Santo Ofício local se apresentassem de imediato na Casa da Inquisição. Ali chegados, aturdidos pela presença do monarca, foi-lhes ordenado que mostrassem os calabouços, os alimentos destinados aos detidos, os livros de registo e de contabilidade. Assim era o tal Rei "freirático", ocioso "obscurantista". É o que digo sempre: a grande batalha em Portugal para desalojar politicamente a mentira tem de se fazer na revelação da história.


Miguel Castelo-Branco


sexta-feira, 21 de junho de 2019

Visita ao Convento de Carnide - Roteiros Reais



No próximo dia 29 de Junho, pelas 10:00, a Real Associação de Lisboa retoma a sua rubrica dos Roteiros Reais, desta vez para conhecermos os segredos do Convento de Carnide. 
Esta iniciativa tem lugares limitados* e um custo de 15,00 eur por pessoa. O local de encontro será no Largo do Coreto em Carnide (junto ao coreto) – com acesso pelo Metro para Carnide, ou pelo autocarro 726.
Para mais esclarecimentos e inscrições, contacte-nos através do endereço secretariado@reallisboa.pt, pelo telefone 21 342 81 15 ou presencialmente na nossa sede no novo horário de atendimento: de segunda a sexta-feira das 11:00 às 14:00. 
O Mosteiro de Carnide
Situado às portas de Lisboa este é um dos mais bem guardados segredos da cidade. Fundado no séc. XVII pela Princesa Margarida, filha do Imperador do Sacro-Império, este convento vem a ser a morada escolhida por uma outra princesa para nele habitar, a Infanta D. Maria, filha legitimada de D. João IV. Esta jóia do património lisboeta, que resistiu ao Terramoto de 1755, guarda a sua estrutura original e uma fabulosa colecção de azulejos dos séculos XVII e XVIII, além de outras artes decorativas de rara beleza. 
Nesta visita, guiada pelo nosso associado Joel Moedas Miguel, vamos ficar a conhecer os segredos deste convento, visitando a Igreja, o claustro, o antigo refeitório, a cozinha, e o túmulo desta misteriosa princesa portuguesa. 

quarta-feira, 19 de junho de 2019

A RECONFIGURAÇÃO DA “DIREITA NACIONALISTA”?

“Tem a palavra o Senhor Deputado:
 - Senhor Primeiro-Ministro, isto está de tal maneira mau que até as raparigas licenciadas têm que se prostituir para sobreviver.

O Primeiro-Ministro com o seu sorriso responde:
- Lá está o Senhor Deputado a inverter tudo, o que se passa é que o nosso sistema de ensino está tão bom, que até as prostitutas hoje são licenciadas.”

Conversa de Parlamento.

    A propósito de um trabalho jornalístico sobre uma possível reconfiguração da “Direita Nacionalista” (assim designada), a quem alguns conotam com a direita radical/extremista, protagonizada (ainda segundo a mesma fonte) por uma nova geração, assumidamente identitária e contra a emigração, e de uma palestra que fiz para uma jovem organização, talvez abusivamente incluída na designação atrás mencionada, fui questionado por um jornalista, que me colocou três questões sobre o assunto.
    Resolvi adaptar o texto que entreguei com as respostas, o que resultou no artigo que segue.
     Não tenho conhecimento especial sobre o que julgo ser apelidado sobre “reconfiguração da Direita Nacionalista…”, para além do que vem expresso nos “media”, o que me parece o mais das vezes distorcido por falta de isenção noticiosa.
             Também não sei avaliar o que se deve entender por “radical/extremista”. Se for extremista, pouco a distinguirá nos fins e processos dos extremismos (totalitarismos) do outro extremo do leque partidário; se por “radical” entendermos aquele que aprofunda ou vai às raízes dos problemas, já me pareceria uma lufada de ar fresco, coisa infelizmente impensável na lógica político/partidária.
    E se são contra a imigração desregrada, como também vem expresso, só é pena serem pouco.
    Clarifico:
    O problema “migratório” actual é muito mais um problema geopolítico do que humanitário. E deve ser parado a bem ou a mal.
    Por três ordens de razões: de segurança e soberania; de integração (que alimenta várias actividades ilícitas), e sobretudo pelo risco de alteração profunda da matriz cultural, social e identitária da Nação Portuguesa (no nosso caso), como tal.
    Este facto já está a gerar consequências terríveis em vários países europeus, que serão más para todos (e não só para alguns), piorando dramaticamente as questões humanitárias em vez de as minorar ou resolver.
    Aquilo que se pode entender por “Direita” começou a ficar destroçado ainda antes do fim do “Estado Novo” (como a dita “Extrema Direita” foi liquidada, em 1934, com o fim do “Nacional-Sindicalismo”), Regime que prosseguia um fim político e doutrinário nacional e patriótico, algo equidistante de ideologias (ou para além delas), sem preocupações de conotações de esquerda/direita – sem embargo do seu carácter estruturalmente anti comunista, mas também anti liberal selvagem e independente de jugos estrangeiros ou organizações “capciosas” mais ou menos secretas/discretas.
    Concretamente, não me parece que se esteja, ainda, a dar passos para um projecto político unitário e consistente.
    Há falta de doutrina; muito “complexo de quinta”; muita divisão, etc., não tendo ainda aparecido uma liderança destacada.
    Vivemos numa sociedade muito atomizada, hedonista, egoísta e individualista, para que um projecto nacional consistente – é isso o que verdadeiramente devia estar em causa – possa vingar, facilmente.
     As mentiras históricas, políticas e sociais postas a correr, após o 25 de Abril de 1974, (algumas das quais passaram a ser uma espécie de “mentiras de Estado”); a blindagem que as actuais forças políticas com assento parlamentar, fizeram do sistema político e a maioria dos “média”, subvertidos pela chamada “Escola de Frankfurt”, e não só, não ajudam, também, a mudanças no “status quo”.
    Além disto uma das imagens de marca das forças que sustentam a III República foi confinar o Parlamento a estar reduzido – ainda segundo a linguagem serôdia da Revolução Francesa – entre o Centro e a Extrema-esquerda…
    E isto tendo por base (digo eu) a afirmação de que os Partidos Políticos são, talvez, a pior invenção de sempre, da “Ciência Política”!
    Enfim, o caminho faz-se caminhando e tudo o que se possa fazer para agitar o pântano suicidário em que estamos, será sinal de Esperança.
                                                             *****
A actual geração, melhor dizendo uma pequena parte dela, pois está marcada, constrangida e algo asfixiada pelo politicamente correcto; a alienação futebolística, das novelas e dos concertos rock; baralhada pelo dilúvio de notícias e desinformação; desmoralizada por escândalos consecutivos de corrupção e maus exemplos e, sobretudo, tocada pelo Relativismo Moral, que atenta diariamente com a noção do BEM e do MAL está, naturalmente, a questionar e a questionar-se, a fazer perguntas e a colocar questões.
    Procura novos caminhos e um ideal que valha a pena abraçar.
    Eu sou apenas um velho português que não se sente ideologicamente com nenhuma força política actual.
     As ideologias são invenções do pensamento humano, que muitos seguiram com boas intenções, outros como alavanca para a tomada do poder e a maioria por moda.
    A sua aplicação nunca resolveu nenhum problema; criaram muitos outros e não raro desembocaram em guerras ou lutas intestinas fratricidas.
    A melhor ideologia, melhor dizendo, doutrina moral e social, tem mais de três mil anos e está condensada nos 10 Mandamentos. Mas sendo apenas dez, raramente o ser humano os consegue ou quer, seguir.
    O nosso País, que houve nome Portugal, tem uma matriz política e cultural coesa, que lhe vem do princípio da nacionalidade. É o país com fronteira definida, mais antigo da Europa (enfim, falta resolver a questão de Olivença e o seu termo!), quiçá do mundo, mesmo tendo em conta a realidade arquipelágica do Japão que, aliás ajudámos a unificar.
     Somos um dos raríssimos países, senão o único, em que a Nação antecedeu o Estado, sendo que a maioria dos estados existentes, nunca conseguiu constituir uma nação. O caso, para nós, mais paradigmático é a Espanha.
    Não existem problemas de raça, língua, cultura, separatismos (andam, porém, a querer inventar problemas com a estúpida da regionalização), ou religião.
    Com este pano de fundo é natural que exista uma noção prática de coesão nacional telúrica, que entrou no nosso “ADN” (e está para além das ideologias), que seja difícil beliscar e que tem conseguido sobreviver a todos os desastres havidos e às três maiores ameaças à tal matriz inicial, que ocorreram no reinado de D. João III; a seguir à implantação do Liberalismo e na sequência do golpe de estado ocorrido a 25 de Abril de 1974, a situação mais perigosa de todas.
    Por isso é natural, recorrente e lógico, que velhas questões e ameaças aflorem às mentes dos mais jovens (sobretudo quando os avós não lhes passam o testemunho), apesar das tentativas, que tenho de considerar criminosas, de se querer distorcer e, ou, abolir a memória histórica e colectiva da Nação.
    Numa palavra, para se alcançar as “aspirações utópicas”, clássicas, de Segurança, Justiça e Bem-Estar – por esta ordem, já que a ordem dos termos não é arbitrária – não é necessário professar qualquer tipo de ideologia especifica, mas realizar com competência, honestidade e patriotismo – daí o problema fulcral da escolha e preparação das elites – o que for julgado adequado em cada momento para o todo nacional.
    Tendo à cabeça, é bom de ver, o objectivo nacional, permanente e histórico, originado nos campos de S. Mamede, em 24 de Junho de 1128 e sedimentado em Ourique, em 25 de Julho de 1139: garantir a independência soberana da Nação Portuguesa; a segurança do território e o alvedrio das suas gentes, que o habitam vai para 900 anos.
    Daqui deriva a importância da preservação do termo “Nação” e da sua idiossincrasia, que não é mais do que o conjunto extrapolado de famílias, que se identificam com a tal matriz cultural inicial, que nos formou, caldeada por todas as vicissitudes históricas, que lhes foram comuns. E que através desse cadinho de séculos se transmutou de uma realidade apenas física, para uma entidade espiritual chamada Pátria. A Pátria Portuguesa (a qual está muito para além da língua de que falava o Pessoa).
    Ora para se preservar a Nação é necessário adequar todo o sistema político à mesma e não violenta-la com invenções estranhas que lhe são inadequadas, nefastas e até aberrantes.
    E devemos começar pela Constituição da República, bastando referir para isso que nos seus 289 artigos (a mais extensa desde a primeira datada de 1822) não refere uma única vez o termo Nação e apenas uma vez (no seu artigo 276) a palavra Pátria…
    Ora isto é só por si muito lamentavelmente revelador!
                                                                  *****
    Fui convidado a participar num fórum de reflexão cívica tão mais importante, quanto se sabe que o pensamento e o discurso político e social, nacional, foram capturados por uma partidocracia que instaurou em Portugal, não uma Democracia, mas uma ditadura partidocrática, bem como a corrupção dos costumes.
    Falei sobre os “Espaços Estratégicos de Interesse Nacional”, o que está no âmbito da Geopolítica. Fundamentalmente tem a ver com o problema do Espaço; os cenários geográficos e políticos com que nos defrontamos; os interesses que são importantes defender, para Portugal e as possíveis ameaças aos mesmos.
    Uma análise que, melhor ou pior, sempre se fez desde Afonso Henriques até 1974, mas que daí para cá, passou a constituir uma actividade menor, difusa e envergonhada.
    Enfim, uma maçada.


João José Brandão Ferreira
Oficial Piloto Aviador (Ref.)


Fonte: O Adamastor

terça-feira, 18 de junho de 2019

O amor da Pátria


A Pátria é a terra que nossos pais nos legaram; é esta gleba riscada à ponta de lança e firmada à força de fé por ínclitos avós que a legaram inteira e sagrada ao gozo de seus netos; é um património de virtudes morais, de tesouros que recebemos de nossos maiores e que devemos transmitir, enriquecido, às gerações futuras. A Pátria é o passado, o presente e o futuro do mesmo povo. É uma fonte de riquezas e de alegrias.
(...)
A causa do amor da Pátria – está na paternidade – pertencemos à Pátria pelas raízes paternas. Amamos a Pátria, diz alguém, porque vimos aí um sorriso nunca mais visto, e bebemos aí um afecto nunca olvidado – o afecto e o sorriso de nossas mães.
– «A fé viva dos nossos pais reverentes aos mesmos altares e genuflexos ao mesmo Deus», é o que prezamos de mais precioso e mais belo.
– Se a terra-pátria, por mais modesta que seja, vale para nós o universo é porque «encerra uns ossos a que nos prende a alma, e entesoura umas cinzas que nos cristalizam a memória, os ossos e as cinzas de nossos pais».
– «O túmulo assemelha-se a um altar, as lágrimas que aí se vertem, as preces que aí ciciam, as flores que aí rescendem não se dirigem a uma vulgaríssima poeira, dirigem-se e elevam-se à Pátria celeste, até ao trono de Deus Clementíssimo que dá às almas o descanso eterno e a luz do perpétuo esplendor».

Cón. Júlio António dos Santos in «O Crucifixo», 1942


Fonte: Veritatis

segunda-feira, 17 de junho de 2019

Guarda Real dos Archeiros


A Guarda Real dos Archeiros foi a guarda palaciana dos Reis de Portugal desde o século XVI, quando foi criada por El-Rei Dom Sebastião, até ao fim do regímen da Monarquia, com a revolução republicana do 5 de Outubro de 1910.

Os guardas eram todos portugueses e estavam armados com alabardas, pelo que a Guarda era, também, denominada como Guarda Real dos Alabardeiros.

Esta Guarda Real dos Archeiros era principalmente uma guarda cerimonial e de honra, nos últimos tempos composta por antigos militares e era capitaneada por um titular da Nobreza - o seu primeiro capitão foi D. Francisco de Sá de Menezes, Conde de Matosinhos e de São João da Foz - a segurança dos Monarcas e da Família Real era confiada a unidades regulares do Exército, como o regimento dos Lanceiros nº 2 D'El-Rei, especialmente escolhidos para essa função.

A partir do século XIX, a Guarda Real dos Archeiros tinha a sua sede no Palácio Real da Ajuda.

LVB

domingo, 16 de junho de 2019

A ideologia de género não é ciência, é ideologia

A ideologia de género não é ciência. É, como o seu próprio nome indica, ideologia, ou seja, uma interpretação política da natureza e da sexualidade humanas.

A Congregação para a Educação Católica publicou agora a instrução “Homem e mulher os criou”, que recorda a incompatibilidade entre a ideologia de género e a antropologia cristã. Com efeito, o relato bíblico da criação refere que a espécie humana foi feita à imagem e semelhança de Deus e que, portanto, é divina e original a diferenciação dos sexos porque, como se lê no livro do Génesis, “Deus os criou homem e mulher” (Gn 1, 27).
Como declarou o Cardeal Giuseppe Versaldi, prefeito da Congregação para a Educação Católica, ao portal ‘Vatican News’, as “teorias do gender, particularmente as mais radicais, distanciam-se dos dados naturais, que substituem pela decisão do sujeito”. Segundo o Cardeal Versaldi, com esta ideologia “pretende-se eliminar a diferença sexual, tornando-a irrelevante para o desenvolvimento da pessoa”.
Este documento da Santa Sé, agora publicado, inicia-se com uma exposição introdutória sobre os “pontos de encontro e as críticas” da Igreja católica à ideologia de género. Esta instrução, embora crítica, elogia a “apreciável exigência de lutar contra qualquer expressão de injusta discriminação”, a maior consciência da “igual dignidade entre o homem e a mulher”, o “aprofundamento do valor da feminilidade” e o maior empenho na “educação das crianças e jovens para o respeito de todas as pessoas”, bem como pela rejeição de qualquer forma de bullying.
A segunda parte desta instrução consta de uma “reflexão crítica” sobre os aspectos que levam a propor, a nível antropológico, “uma identidade pessoal e uma intimidade afectiva radicalmente desvinculada da diferença biológica entre masculino e feminino”.
Na sua terceira e última parte, apresenta-se uma proposta de discernimento sobre “a verdade da pessoa e sobre o significado da sexualidade humana”, que é algo que cada pessoa “deve respeitar e não pode manipular como lhe apetece”.
Uma questão específica, abordada na instrução “Homem e mulher os criou”, diz respeito ao género neutro, ou terceiro género, cuja construção fictícia dificulta o processo de identificação sexual: “a formação da identidade baseia-se na alteridade; na família, a relação perante a mãe e o pai facilita à criança a elaboração da sua própria identidade-diferença sexual. O género ‘neutro’ ou ‘terceiro género’ surge, pelo contrário, como uma construção fictícia.
A referência a um terceiro género, ou género neutro, “tolda a noção de sexualidade como uma qualificação estruturante da identidade masculina e feminina. A tentativa de superar a diferença constitutiva do masculino e do feminino, como acontece na intersexualidade ou no transgénero, leva a uma ambiguidade do masculino e do feminino que, contraditoriamente, pressupõe a diferença sexual que se pretende negar ou superar. Essa oscilação entre masculino e feminino, é apenas uma exposição ‘provocadora’ contra os chamados ‘esquemas tradicionais’, que não leva em conta o sofrimento daqueles que vivem em condição indeterminada”.
A ideologia de género não só contraria os princípios morais e científicos sobre a identidade sexual, como também pretende impor-se como pensamento único, uma espécie de dogma laico sobre a natureza humana e a sua sexualidade. É também contra tal perigo que adverte este documento do magistério da Igreja. O texto da Santa Sé, partindo do “dado biológico da diferença sexual entre homem e mulher”, previne contra o perigo de que, no ensino, a ideologia de género, que não tem fundamento científico, seja imposta dogmaticamente: “Há muita confusão e nas escolas corre-se o risco de impor um pensamento único como científico. Respeitamos todos – afirma o Cardeal Giuseppe Versaldi – mas pedimos para ser respeitados”.
O texto da Congregação para a Educação Católica é dirigido aos presidentes das Conferências Episcopais, que o devem fazer chegar às escolas católicas, bem como àqueles que, “animados pela visão cristã da vida, trabalham noutras escolas”, às organizações educativas, pais e estudantes.
Já a 14 de Novembro de 2013, a Conferência Episcopal Portuguesa publicara a carta pastoral “A propósito da ideologia de género”, em que sustenta que esta ideologia pretende provocar uma “revolução antropológica”.
O documento do episcopado português identifica um conjunto de âmbitos em que esta ideologia tem vindo a promover uma “ruptura civilizacional”, que passa pela adopção de uma linguagem alternativa. Em vez de sexo (algo básico, identificador da pessoa) fala-se em género (construção cultural e psicológica de uma identidade); em vez de igualdade entre homem e mulher, refere-se a igualdade de género; e a família é substituída por famílias.
Com efeito, em vez de “ideologia de género” prefere-se agora falar de “igualdade de género”, porque aquela expressão acentua o carácter ideológico e doutrinário de uma proposta que já não tem por paradigma a família natural, que é o modelo para que remetem os artigos 16º, da Declaração Universal dos Direitos do Homem, e 36º e 67º, da Constituição da República portuguesa.
É o caso do Secretário de Estado da Educação, João Costa, que considera que é contra a ideologia de género “quem teme a igualdade”, porque prefere “a injustiça, o sofrimento escondido […] a humilhação e a discriminação”. Depois, eleva à condição de direito humano a igualdade de género, para concluir a sua obrigatoriedade, porque “os direitos humanos não se negoceiam, não se adiam e não são facultativos; a cidadania nas escolas não é facultativa” (Público, 7-3-2019).
À revelia dos pais e professores, os alunos das escolas estatais são agora formatados segundo a ideologia de género, que não em vão é ideologia e não ciência. Pior ainda, contradiz-se a Constituição que, no nº 2 do seu artº 43º, afirma taxativamente que “o Estado não pode programar a educação e a cultura segundo quaisquer directrizes filosóficas, estéticas, políticas, ideológicas ou religiosas”. Note-se que tanto se proíbe a confessionalidade religiosa no ensino estatal como qualquer directriz ideológica como é, certamente, a ideologia (ou igualdade) de género.
A especificação sexual de cada indivíduo é inata, ao contrário do que pretende a ideologia de género. Não se é homem ou mulher porque se ‘tem’ um corpo masculino ou feminino mas, precisamente porque se é homem, ou mulher, o corpo é, respectivamente, masculino ou feminino. A condição masculina ou feminina não é só nem essencialmente corpórea, nem cultural, mas decorre de uma determinação que acontece no momento da concepção do ser humano, que é, desde o seu início, homem ou mulher.
Não se vem ao mundo assexuado, nem neutro, porque nasce-se varão ou fêmea, como também se é concebido humano e dotado de inteligência e vontade: nenhum indivíduo racional pode optar por ser mineral, ou vegetal; nem por ser mais velho ou mais novo do que a sua idade real; nem por ser homem, sendo mulher, ou vice-versa. Pode haver, certamente, quem não se reveja no seu sexo, ou idade, mas essa circunstância não significa, como é óbvio, que tenha outro sexo, ou seja mais novo ou mais velho do que realmente é. O mesmo se diga de quem padece a síndroma de Turner, ou a de Klinefelter: são muito raras anomalias cromossómicas, que devem ser entendidas como aquilo que são e não como um novo sexo, ou género. E isto não é religião, nem ideologia: é ciência e biologia.
Seria interessante que a oposição escrutinasse a acção do governo nesta matéria, em defesa dos princípios constitucionais da liberdade de ensinar e de aprender, e do carácter não ideológico da educação estatal. Outro tanto se diga do Tribunal Constitucional, que deveria verificar se certas directrizes do Ministério da Educação para a educação na cidadania, nas escolas sob a sua tutela, não se encontram feridas de inconstitucionalidade…
Fonte: Observador

sexta-feira, 14 de junho de 2019

José Hermano Saraiva (1919-2019): o centenário

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Em Outubro, passam 100 sobre o nascimento desse grande educador do povo que foi José Hermano Saraiva.

O Professor Saraiva faz muita falta. Quando nos deixou, o país ficou decerto mais pobre, mais cinzento, mais entregue aos barbichinhas de quatro dias e sorriso idiota. O Professor Saraiva era petulante. Adoramos a petulância, adoramos o orgulho e o espectáculo.

Odiaram José Hermano Saraiva, cobriram-no de dichotes, caricaturaram-lhe o gesto largo, o verbo sonoro e redondo, a pose senatorial. Porquê ? Porque tinham inveja; porque este homem ensinava ao povo aquilo que eles não conseguiam ou não sabiam ensinar; porque em cada palavra, em cada pausa, em cada olhar carregava autoridade, mesmo quando improvisava, mesmo quando facilitava uma cronologia.

O intelectual orgânico, o barbichas de quatro dias fala para meia dúzia de patetas com barbichas, perde-se na confusão e no onanismozinho do citacionismo, na exibição do títulozeco académico e nos trabalhos estéreis que ninguém jamais leu. O Professor Saraiva falava para a totalidade da nação portuguesa, era venerado por quantos, humildes, nunca tendo estudado ou lido, o ouviam, aprendiam e reforçavam o espírito cívico sem o qual não há sociedade.

Amigo do povo e patriota, categorias quase extintas em tempos de burguesiazinha desmiolada e globalizada (parvalhizada) e de vende-tudo, Saraiva faz muita falta ao país.

MCB