domingo, 23 de fevereiro de 2020

A UE contra a cultura europeia

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Noticia-se que a União Europeia exigirá ao Reino Unido a "devolução" à Grécia dos famosos mármores de Elgin, provenientes do Partenon de Atenas, como condição das negociações para um tratado de comércio entre as duas partes. Trata-se de uma estupidez que não deixa de demonstrar a impressionante falta de tacto, e mesmo grosseria, da Comissão Europeia.
Várias preocupações se nos impõem.
Primeira: se é da devolução de património histórico e cultural que se trata, não seria lícito pedir a extensão do mesmo princípio aos próprios Estados-membros da União Europeia? Portugal, impiedosamente rapinado pelas invasões francesas e, depois, pelo "devorismo" posterior às guerras civis entre absolutistas e liberais, muito poderia exigir dos museus e galerias da Europa e do mundo.
Segunda: compreenderá a União Europeia que portas abre este perigoso precedente, em particular quanto à "devolução" de património proveniente do que são hoje países da Ásia, do Médio Oriente e da África, património esse, aliás, que encontrou na Europa refúgio seguro que nenhuma outra parte do mundo poderá garantir? Compreenderá a União Europeia que de semelhante cruzada só poderá resultar o fortalecimento daqueles clamam hoje pelo esvaziamento dos museus e galerias da Europa e pela transferência de património para países frequentemente instáveis, vulneráveis ao terrorismo e ao tráfico de arte, sem tradição de reverência pela História, desprovidos de técnicos capazes e, pior, em cleptocracias em que é muitas vezes impossível distinguir o que é propriedade pública e o que é de presidentes, ministros ou chefes militares? Esperava-se maior maturidade de Bruxelas. Definitivamente, há quem não perceba que a cultura não é nem pode ser um brinquedo na mão dos políticos.

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