“Disse mais: ora, não se ire o Senhor, Que ainda só mais esta vez falo: se porventura se acharem ali dez?
E disse: Não a destruirei por amor dos dez.”
Génesis, 18,32.
O Homem não quer aceitar o mistério… Quer até ser Deus de si próprio; quiçá sobrepor-se a Deus…
Ou, porventura, tentar “pegar Deus” de cernelha como parece ser o caso da eutanásia.
Mas fará sentido que o universo tenha sido criado por geração espontânea e a vida criada do nada?
Mas para quem não acredita em Deus, negue a transcendência, a existência do Bem e do Mal – que até dá para sentir no ar … - ou a existência da alma, certamente não é alheio a normas morais, à Ética…
Não vamos aduzir as razões pró e contra a “Eutanásia”, pois são conhecidas, mas apesar de tudo, convém defini-la, “o acto intencional de proporcionar a alguém uma morte indolor para aliviar o sofrimento causado por uma doença incurável ou dolorosa”.
Vamos apenas tecer algumas considerações na vastidão do tema, que várias propostas de deputados alucinados querem reduzir ao fósforo de uma discussão e votação rápida, apanhando os lorpas dos “contribuintes” desprevenidos…
E a primeira é já esta: a vida não é uma coisa que se referende e só assinei a petição para evitar “in extremis” a aprovação desta (s) proposta (s) de lei, iníquas e imorais.
Do mesmo modo a Vida não se discute (como a Pátria), defende-se.
E não vemos – como aduzido pelos adeptos da “matança” – que ajudar uma pessoa doente a morrer (onde é que a coisa vai parar?) seja defender a “Dignidade” dessa pessoa. Pois não descortino onde é que o sofrimento natural de uma pessoa possa beliscar a sua Dignidade!
O suicídio entra no campo do livre arbítrio dado ao homem para poder viver (usufruir) uma liberdade (conceito absoluto mas de aplicação relativa) responsável.
De facto o “direito” de pôr fim à vida voluntariamente, o que contraria “a priori”, o instinto natural da sobrevivência – apesar de ninguém se lembrar de ter pedido para nascer – é um “direito” (apesar de condenado desde tempos imemoriais) que só implica o individuo, do qual lhe irão pedir contas no “Juízo Final” – para quem acredita em tal – ou desfazer-se no nada para quem é ateu.
Isto independentemente da dor que possa causar em seu redor, pelo acto.
Certamente os ateus e os agnósticos são alheios a quaisquer considerações religiosas mas não quer dizer que sejam alheios a valores morais, à ética e à justiça.
Agora não se deve sair fora da esfera privada de cada um para tornar o suicídio um espectáculo público, ou pôr o Estado (quem?) responsável por “matar docemente”, quem o deseje, e a restante população ter de pagar com os seus impostos.
É assim como o Pacifismo total, isto é um individuo pode deixar-se matar, recusando usar qualquer tipo de violência para se defender (ou “dar a outra face”), mas tal não pode ser extrapolado para quem tem responsabilidades na Sociedade.
Tal assumpção é muito evidente também com aqueles que se querem “eutanasiar” devagarinho fumando desenfreadamente. Recentemente houve o cuidado de os isolar dos não fumadores para estes não serem contaminados à força… (já nem falo dos drogados, onde o caso é muito mais grave).
E os principais argumentos relativamente a estas duas classes de cidadãos prendem-se com factores de saúde pública e económicos.
Pois parece serem estes últimos o que mais preocupa as autoridades, ao contrário da verdadeira subversão da sociedade, nomeadamente a de cariz cristã, que é o que os áulicos do “MAL” querem impor aos incautos.
São insaciáveis. Já não lhes chegava a criminosa lei do aborto; a legalização do casamento homossexual; as barrigas de aluguer; as experiências de manipulação genética; tratar drogados como doentinhos; a tentativa de acabar com a raça branca e o aceleramento da mestiçagem; o fim da matriz cultural dos povos, com o multiculturalismo e as migrações; a subversão das instituições nacionais, etc., para agora quererem matar os velhinhos e os doentes terminais, numa espiral de cultura de morte, que deixa os eugenistas da Alemanha Nazi a perder de vista!
Isto é um autêntico retrocesso civilizacional, já só falta irem copiar os costumes de algumas tribos antigas que abandonavam os seus idosos, já considerados inúteis, no meio das montanhas, para morrerem.
Era a morte digna daqueles tempos…
Se esta lei não for travada, não vai ficar por aqui.
No dia seguinte à aprovação eventual, desta lei antinatural, antimoral e antiética, logo surgirão novas “ideias” por parte dos “tarados” de serviço. Antevejo, a lei da poligamia; do casamento de uma mulher com um cavalo; evocando o António Boto (poema “sentados nos meus joelhos…”) lá aparecerá a despenalização para os pedófilos; “relações abertas” para todos os gostos; “missas negras” serão celebradas à luz do dia, etc. um etecetera que só tem limite na maldade e na estupidez humana que como se sabe tende para o infinito.
E porque só estender a eutanásia aos doentes terminais que o requeiram (para já…)? Porque não a alargar aos portadores de qualquer deficiência grave, física ou mental? E logo à nascença!
E porque se há-de atirar com essa responsabilidade para cima dos profissionais de saúde que, logo por azar (!) têm códigos deontológicos que proíbem tais práticas?
Porque não ressuscitar a figura do “carrasco” (que cortava cabeças a machado; puxava a segurança da guilhotina ou punham os desgraçados a baloiçar pelo pescoço). Será uma injecção letal melhor que um tiro na nuca?
Os senhores deputados tão defensores da “Dignidade” humana quando terminarem os seus mandatos como representantes do povo (ah,ah,ah) quererão candidatar-se à futura e nobre profissão de carrasco?
Então em Portugal orgulhamo-nos (e bem) de termos sido os primeiros a abolir a escravatura, no território europeu; de termos sido os primeiros a abolir a pena de morte; não termos sequer, no nosso Código Penal, a prisão perpétua e agora quere-se aprovar, numa casa que sempre deixou muito a desejar, uma legislação destas?
Pelos vistos só copiamos os maus exemplos que vêm do estrangeiro, mesmo sendo uma escassa minoria os países onde tal foi aprovado, e sem aprender com os “desmandos” que neles já se manifestam?
Tudo isto representa um atentado violento contra o “Direito Natural”. Ora existem “leis naturais” que são imprescritíveis e que estão cá muito antes do Direito Positivo e não devem ser contrariadas por este.
Lembremos “Antígona”, de Sófocles, Atenas, 440 aC:
“Eu não pensava que as tuas ordens tivessem uma autoridade tal que um mortal pudesse permitir-se de transgredir as leis não escritas, mas imprescritíveis dos deuses. Porque não é de hoje nem de ontem que elas estão em vigor, mas desde sempre e ninguém sabe quando elas foram promulgadas”.
A Natureza vai sempre, aliás, buscar aquilo que é seu…
É preciso também dizer que modernamente se começou a tentar torcer, menosprezar e acabar com o “Direito Natural”, em meados do século XVIII, através do “Iluminismo”, dos “Racionalistas” e da Maçonaria (ou seja lá o que está por detrás dela), que foram exponenciando o “Direito Positivo” – baseado apenas na razão dos Homens e na Ciência – a ponto de, hoje em dia, se ter deixado de falar no Direito Natural que é de todos, é de sempre e está intimamente ligado à vida na terra. Mesmo deixando o “Transcendente” de fora.
Desta “razão” se aproveitou o Capitalismo, continuando o ataque ao Direito Natural, agora de modo exacerbado, pelo Marxismo, Comunismo, Anarquismo e outros “ismos” que por aí medraram, como a parvoeira dos exageros feministas…
Sobretudo após o fim da II Guerra Mundial e dado que a “Ditadura do Proletariado” e a via “revolucionária da tomada do poder pelo povo”, não fizeram vencimento na Europa Ocidental e mais tarde nas Américas, foi a vez da “Escola de Frankfurt” e suas derivações, como é o “Fórum de S. Paulo”, começarem a espalhar o “Marxismo Cultural” e as suas teses subversivas e malignas.
Tudo isto tem submergido as Igrejas Cristãs, com destaque para a Católica (que tem sido pouco firme e corajosa na defesa dos seus princípios) tendo a Igreja Ortodoxa sobrevivido miraculosamente a 70 anos de Comunismo, na URSS e países de Leste.
A única religião que tem resistido a esta avalanche de ataque ao Direito Natural tem sido a islâmica, e nos países onde são maioritários. Mas tal só faz exacerbar o “ódio” que têm ao “infiel”…
E é preciso também deixar claro que a questão de viver ou morrer, nada tem a ver com Democracia. Por isso Pilatos nunca devia ter lavado as mãos e permitido uma votação ululante, de braço no ar…
A vida é um valor absoluto por isso não pode estar dependente de modismos, maiorias, minorias ou de votações na Assembleia da República.
Há pois que pôr ordem na casa sob pena de nos transformarmos numa espécie de Sodoma e Gomorra, a que alude o Génesis.
E qualquer dia, não restarão 10 justos para serem salvos…
João José Brandão Ferreira
Oficial Piloto Aviador (Ref.)
Fonte: O Adamastor
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