quinta-feira, 25 de junho de 2020

660 anos do maior dos portugueses

A imagem pode conter: nuvem, céu, árvore e ar livre

Maior dos portugueses, Nun'Álvares nasceu a 24 de Junho de 1360. Há 660 anos. A história pátria celebra-o como herói e santo, reunindo a dupla condição da alma portuguesa, como também lembrou António Sardinha, a defesa do reino contra a ameaça de Castela e a defesa da fé. Empossa a espada e a cruz. Na sua vida acompanha momentos derradeiros para a afirmação de Portugal como nação independente. Um dos momentos mais empolgantes, exactamente, a eleição e respectiva aclamação de D.João I, Mestre de Avis como rei de Portugal, encontra em D. Nuno um protagonista, empresa árdua que a Batalha de Aljubarrota consagrará com a heróica vitória face ao inimigo quantas vezes mais poderoso.


Na sua conduta vivifica todas as virtudes da gesta portuguesa, como notavelmente Fernão Lopes recordou na sua "Crónica de D.João I": “assim no temporal como espiritual, vivo e depois da morte, sempre foi havido em grande reverência por todo o povo…” Esta imagem profunda releva a conduta da vida do Condestável. Por um lado, a forma como a vida militar não obscurecia nele as virtudes cristãs, testemunhando o povo as provas de caridade, de sacrifício e de dedicação ao bem comum que praticava e, por outro, a forma como respondia às crises com a mesma profundidade da fé: depois da guerra ordenava aos militares que tratassem dos feridos e dos mortos. Em nome da paz fazia a guerra.


Os seus dotes de guerra eram acompanhados por uma espiritualidade profunda: dedicado à Oração Mariana, jejuava sempre em honra da Virgem Maria, assistia diariamente à missa, e, às suas custas, erigiram-se inúmeras igrejas e mosteiros. Depois, distribuindo parte dos seus bens e das suas terras, e doando aos mais necessitados, exerceu a mais pura virtude cristã: a caridade, conduzindo a vida na verdade dos ensinamentos de Cristo. Percebe-se como a literatura positivista no século XIX, no seu anti-clericalismo, não procurou perceber e atacou esta imagem do Condestável, Oliveira Martins não terá sido particularmente generoso. Porque a santidade implica o exercício heróico da vontade, implica uma introspecção activa do ser e uma relação superior com as adversidades do mundo.


No final da vida, já desprendido dos bens materiais, mendigou o sustento pelas ruas e recusou títulos e benesses, ganhando entre o povo o nome de "Pai dos pobres". Encarnou o carácter luso na sua expressão superior, no lado místico e no lado terreno, na dedicação a Deus e na defesa da Pátria, na defesa do rei e na defesa da fé. O seu amor pela Virgem do Monte Carmelo levou-o a promover o culto mariano, reunindo assim a primeira Confraria de Leigos em Lisboa, a “Confraria do Bentinho”, origem da futura Ordem Terceira Secular.


Assim a vida de Nuno Álvares foi o exemplo da virtude e do sacrifício, do despego e da renúncia aos bens materiais, ao mesmo tempo herói de gesta cavaleiresca, figura onde o povo encontrou a identidade da sua comum vocação histórica.


Daniel Sousa


Fonte: Nova Portugalidade

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