quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Gente muito perigosa

 



Hoje é 5 de Outubro. Comemora-se o revolverismo de que falava Homem Cristo (Pai); celebra-se a Carbonária e seus dinamitistas; evocam-se os bravos regicidas de 1908, mais os matadores de polícias, mais as prisões particulares em que, de 1911 a 1915, milhares de monárquicos e católicos estiveram detidos sem mandado, sem acusação e sem julgamento; exulta-se pela carnificina do 14 de Maio de 1915, pelos assaltos das populações esfomeadas às padarias e mercearias e pela entrada, aos empurrões, de Portugal na Grande Guerra.

Hoje é dia de festividades. Festeja-se as tonsuras e medições frenológicas aos jesuítas e outros regulares; festeja-se a nomeação política dos magistrados judiciais pelo democratíssimo governo de Afonso Costa; festeja-se o encurtamento do universo eleitoral, o saque e queima de redacções de jornais e revistas da oposição, os pronunciamentos militares e o terrorismo da Legião Vermelha, bem como a camioneta da morte da Noite Sangrenta de 21 de Outubro de 1921. E, em maré de comemorativismos, porque não celebrar, também, o corte definitivo da sociedade portuguesa com a ciivilização, a ditadura dos professores primários, o triunfo de um republicanismo quase boçal, eriçado de superstições positivistas, os milhares de emigrados, as manifestações europeias pedindo a intervenção das potências num país que era comparado ao insolvente México de Pancho Vila, a bancarrota por duas vezes declarada, o regresso do presidente António José de Almeida do Brasil a bordo de um cargueiro britânico, dado o paquete português que o havia levado ao Novo Mundo haver sido confiscado ao Estado português por incumprimento do pagamento de dívidas ?

A república é, verdadeiramente, uma caixa de surpresas. Percorremos a galeria das criaturinhas e espanta-nos que tenha sobrevivido por 110 anos.


Fonte: Facebook

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