domingo, 18 de outubro de 2020

A fraude da ideologia afrocentrista

 

Tem encontrado assinalável êxito entre nós as duas obras de François-Xavier Fauvelle recentemente traduzidas para o nosso idioma: O Atlas Histórico de África, publicado pela Guera e Paz em Julho passado, e, da mesma editora, A Ideologia Afrocentrista: à Conquista da História. Este segundo texto é de capital importância para desvelar a imensa fraude anti-científica que dá pelo nome de afrocentrismo, o qual pretende substituir o saber historiográfico pela ideologia. Dado o relevantíssimo conteúdo de A Ideologia Afrocentrista à Conquista da História, recomendamo-la como leitura prioritária para quantos ainda não terão compreendido que a "História" e a "memória" de que falam os "activistas", não só não é história, como uma anti-história. Sem documentos, sem provas materiais, sem campanhas arqueológicas e até sem testemunhos indirectos, passando sobre as cronologias e sobre quaisquer ciências auxiliares da História, dá-se por satisfeita pedindo à historiografia ocidental o ónus da prova, em vez de oferecer qualquer fundamento para as suas desvairadas teses.


Há décadas, pela mão de um improvisado historiador senegalês, Anta Diop, quis-se fazer crer que os egípcios antigos eram negros, que Sócrates era negro e que as pirâmides da América pré-colombiana teriam sido construídas por africanos ali chegados no século XIV. Não deixei passar a ocasião e escrevi a um amigo norte-americano, docente numa prestigiada universidade da Califórnia, que não só confirmou como alargou consideravelmente o leque de exemplos da campanha, hoje em curso, de africanização da história universal. A questão egípcia é importante, pois, aceitando uma certa tradição, velha de séculos, a civilização nilótica seria uma fonte matricial para o arranque da civilização no Egeu Oriental; logo, Creta e a Grécia seriam tributárias do Egipto. Ora, para além dos guerreiros da Núbia, que serviam nos exércitos dos faraós, só há registo de uma dinastia negra no alto Egipto: a dinastia Kush, de pouca duração e sem obra de vulto. O lóbi universitário afrocêntrico desenvolve uma campanha de crescente intimidação sobre a comunidade científica, teorizando e legislando ao arrepio da metodologia que valida o trabalho de investigação historiográfica.


Para essa corrente, fanatizada pelo preconceito ou espicaçada por motivos de natureza auto-terapêutica, toda a história mundial, codificada pelos europeus, esconde outra realidade. A génese das grandes civilizações dever-se-á ao protagonismo e engenho do homem negro: da Índia dos dravidianos aos "negritos" do sudeste-asiático, das civilizações pré-colombianas às mongólicas, todas teriam sido, primitivamente, tributárias da "civilização africana".
O fecho de abóbada desta tremenda mistificação incide, fatalmente, sobre uma das grandes figuras da Antiguidade. Cleópatra - mulher, satisfazendo o feminismo - seria, inevitavelmente negra, como negro teria sido Ramsés III. Se as elucubrações arianistas de finais do século XIX são hoje objecto do riso, o que dizer de uma historiografia feita sem arqueologia, sem decifração e hermenêutica ? Sabemos que pelas américas tudo é lícito: vende ou não vende, cumpre ou não cumpre a agenda dos grupos de pressão. Se não, não interessa.


MCB


François-Xavier Fauvelle - A Ideologia Afrocentrista - À Conquista da História. Lisboa: Guerra e Paz, 2020.
Preço: €14.50

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