quinta-feira, 22 de outubro de 2020

O incêndio no Chile e a recusa do Belo

 A exigência infantil de querer organizar o mundo conforme seu jeito de ver as coisas é a marca do pensamento de esquerda e só existe um meio para isso: destruir tudo o que é elevado

Igreja La Asuncion queima durante um protesto em 18 de outubro de 2020 em Santiago, Chile. Uma série de protestos e distúrbios sociais surgiram após um aumento na tarifa do metrô (Foto de Marcelo Hernandez / Getty Images)

O filósofo romeno Gabriel Liiceanu escreveu uma trilogia sobre a estrutura base do movimento esquerdista: a mentira, o ódio, a sedução. Seduz-se com a mentira que gera o ódio. O ódio, portanto, é a única paixão genuína do esquerdista. Tudo mais é pose.

Liiceanu diz: “O meio mais eficaz de destituir um homem da esfera do humano é a criação de um bestiário do ódio que dá possibilidade de classificar o objeto do ódio numa espécie ou outra de animais.” E continua: “Desse momento ele (o objeto do ódio) pode ser morto com a consciência limpa do que vai à caça para fazer um bem à comunidade, para extirpar um ‘nocivo’.” A tradução é de Elpídio Mario Dantas Fonseca.

Repare em qualquer esquerdista e veja que, quando não está colérico de raiva, está simulando comportamentos afáveis e mentindo. De Lula a Marilena Chauí, todo esquerdista já foi flagrado porejando seu ódio a tudo que não lhes cause um tipo de emoção redentora. É uma exigência infantil de querer organizar o mundo conforme seu padrão de condutas – que, no caso, é sempre um padrão muito baixo.

E não poderia ser outro senão a religião, sobretudo a judaico-cristã, o símbolo que atrai o ódio mais feroz da esquerda. “A religião é o ópio do povo”. A frase de Marx, o degenerado mor, é o mantra que faz fervilhar a cabecinha de vento de todo esquerdista. Já disse aqui que a religião é um dos apoios vitais da humanidade, junto com a arte.

A arte, por ser uma expressão humana de ordenação do mundo, não precisou ser destruída. Bastou corromper seus artesãos. A intuição que nasce no âmago é moldada por princípios já desvirtuados. Já as tentativas de se corromper a religião foram todas fracassadas, embora se veja alguns êxitos pontuais, como a teologia da libertação. A sua substituta integral, a ciência, tampouco pode dar conta da totalidade do real.

Michael Walsh, no excelente livro sobre a Escola de Frankfurt, diz que “é possível negar as especificidades do Gênesis, devido ao culto generalizado da ‘ciência’, mas não há como negar sua poesia, que repercute profundamente em nossas almas”. É contra essa poesia e contra a própria alma que o revolucionário brutalizado se volta. A letra de funk que se revolta contra um soneto de Dante.

As cenas de barbárie no Chile são aterradoras, mas apenas mais um parágrafo no longo caminho de destruição e ódio que marca o movimento esquerdista e seus subprodutos, como o feminismo. Nos vídeos, é possível vê-las, as feministas, comemorando a destruição da Igreja da Assunção – que mantinha um berçário de gatinhos, inclusive. Ou seja, a revolta é também, mesmo que por acaso, contra os únicos animais puros que ainda toleram uma feminista.

É só mais um ato de rancor contra qualquer valor elevado. Foi assim na revolução francesa, na União Soviética e nos países que foram forçados ou aderiram espontaneamente a uma visão de mundo que tem como objetivo corrigir por meio da violência toda falha que há em um coração humano.

São séculos de mentiras contadas de forma sedutora, como se a religião tolhesse nossa liberdade básica, como se obstruísse nossa essência que é, na fala de um existencialista, fornicar e ler jornais. A igreja é um pilar firme demais para ser substituído. O socialismo/comunismo, base onde se quer enganchar todos os altos valores, não tem essa firmeza. É tão frágil que só o crime pode socorrê-lo. Por isso é tão necessário o ódio.

O movimento progressista, esquerdista, comunista – como se queira chamar -, é essencialmente infértil. Ao negar um Criador, fica impedida de criar e por isso destrói. No livro A Mente do Criador, Dorothy Sayers fala que “o poeta não é obrigado, por assim dizer, a destruir o material de um Hamlet a fim de criar um Falstaff (…)”. O esquerdista não tem essa dimensão. Não pode criar algo belo, porque já recusou tudo o que é belo.

E não pode amar porque jamais será capaz de entender o primeiro mandamento. Tudo o que faz é sequestrar os altos valores em nome de uma pretensa felicidade passageira que jamais virá. A ideologia esquerdista é um eterno adiamento.

Ao que parece não haverá uma saída pacífica para essa ruptura cada vez mais profunda. A próxima década dá indícios de que não será nada serena.


Por Carlos de Freitas, Senso Incomum


Fonte: Epoch Times

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