sexta-feira, 31 de março de 2023

O ministro, a bastonária, o merceeiro e o diabo

 Por princípio a baixa de impostos é sempre algo positivo. No entanto, tentar fazer da política fiscal um instrumento para baixar o preço dos bens para o consumidor é não apenas uma ideia estapafúrdia, como também algo profundamente estúpido, perverso e contraproducente, prejudicando sobretudo as pessoas mais pobres.

A iliteracia económica da generalidade da população e a dificuldade que a maioria das pessoas tem em fazer uma análise racional e contraintuitiva das medidas para além do imediatismo epidérmico que possa ser visível, é campo aberto para a manipulação dos mais despudorados políticos da nossa praça, em especial o videirinho caudilho que é António Costa.

Mas sobre preço já fiz crónicas e, por isso, a pretexto da telenovela do “Iva Zero” destaco dois outros aspectos.

Desde logo a falta de vergonha na cara dos nossos jornalistas em convidar para comentar as medidas do governo familiares próximos dos titulares de cargos políticos. Eis, por exemplo a mulher do ministro da saúde a comentar as medidas do seu marido: ver vídeo ao 1m30s.

Outra coisa extraordinária e dificilmente explicável é a facilidade com que a grande distribuição ou muda de opinião, ou é profundamente ingénua ou é activamente colaborante com as patranhas do governo. Repare por exemplo na evolução das posições públicas de um dos grandes players no mercado. Em 2018 o dono do Pingo Doce confiava em António Costa, este ano já considera o governo uma cambada de mentirosos e desonesto, mas passados breves dias a associação que representa a empresa está aos abraços ao primeiro-ministro e feliz por ter feito um pacto com o Diabo, perdão, com o governo: ver vídeo aos 2m48s.

Isto não se inventa.

O país é uma anedota de mau gosto.





Fonte: Blasfémias

quinta-feira, 30 de março de 2023

Histeria climática

 


"O planeta vai morrer”. É assim que uma professora se dirige aos alunos da 1ª classe de uma das escolas públicas espalhadas por este Portugal.

As alterações climáticas são um facto conhecido e ancestral. O que é novo é o seu significado contemporâneo, que pretende forçar a ideia de que essas alterações são causadas pelo homem e podem ser mitigadas pelo homem. Esta ideia não é consensual entre os especialistas, porém, ela é hegemónica nos meios de comunicação.

O que temos aqui não é um problema material, mas sim um problema de linguagem. Os pós-modernistas diziam que a realidade é uma construção sócio-linguística, e estavam parcialmente certos. A realidade é o que é, mas a nossa concepção dela, por vezes, é um produto das frentes da comunicação social – informação e entretenimento – que depois é reafirmado pelas pessoas do nosso entorno que consomem os mesmos conteúdos.

Para isso contribui muito a formatação precoce, mas as crianças pequenas não poderiam entender a complexidade do assunto das alterações climáticas. Por isso os adultos utilizam uma analogia totalmente falsa (o planeta não morre pelos seus próprios processos naturais, como ninguém morre por fazer a digestão), mas que produz o efeito pretendido, que é induzir a ansiedade e a histeria, de modo a adestrar a futura massa de manobra do movimento revolucionário.

Torna-se ainda mais claro que o assunto é exacerbado e instrumentalizado pelos grupos revolucionários quando vemos associações de conceitos como “racismo climático”. Quando se faz um esforço acrobático para conectar o conceito da luta de classes com algo completamente externo à sociedade humana, sabemos que estamos perante teorias neo-marxistas, cujo objectivo é, sempre foi e sempre será tomar o poder para escravizar os indivíduos.

A humanidade sempre viveu apesar das alterações climáticas. Elas são um dado da natureza. Desde sempre, vemos humanos construírem morada nas condições mais inóspitas que se possa imaginar. O perigo material faz parte da nossa existência.

Evoluímos muito para criar uma segurança colectiva que nos permitisse viver mais e mais confortavelmente, mas chegamos num ponto em que essa blindagem se tornou opressiva para as novas gerações. Elas já nasceram no conforto e na protecção máxima, e isso, junto com a perda do fervor religioso e da consciência de que só em Deus pode existir a segurança máxima, está a dar-se uma transferência nas mentes mais jovens.

Elas protestam contra as alterações, pois estão aprisionadas no efémero. Sendo que o desejo humano pelo eterno e imutável permanece, pois faz parte da nossa condição ontológica, e tendo-o desconectado da imagem de Deus, resta-nos procurar um substituto secular. Daí os protestos contra as alterações climáticas, que não são mais do que protestos contra o efémero e a busca histérica por uma segurança que só existe espiritualmente. Essa busca é a manifestação pervertida da busca desejável e necessária do verdadeiro e único Imutável. Porém, sem ter para onde virar a sua angústia, rogam ao Estado que resolva o problema, como se fosse ele o todo-poderoso.

Como sempre, os humanos vão reaprender a viver no meio das mudanças e da insegurança. Mas tenhamos presente que sem Deus, sem a presença da estrutura da realidade, e sem a consciência da hierarquia natural da existência, os nossos gritos sempre serão mudos.


Francisca Silva

Fonte: Inconveniente

terça-feira, 28 de março de 2023

Sexo, casamento, abusos e padres (1)

 


Casamento (dos padres) como solução para os abusos de menores?

Há meses (mesmo anos) que a Igreja Católica está colocada no pelourinho mediático e na fogueira pública. No primeiro caso para ser enxovalhada e no segundo para ser queimada. Tudo começou no estrangeiro, nomeadamente em países como os Estados Unidos, a França, a Irlanda e tantos outros. Agora chegou a Portugal. Estava escrito nas estrelas. E há muito tempo.

É raro o dia em que o assunto não seja abordado pela comunicação social (CS).

Posto isto, e antes de avançar, precisamos de referir que ninguém é tão rigoroso sobre esta temática, como a própria Igreja. Se há abusos confirmados, os abusadores têm de ser severamente punidos e as vítimas protegidas. Esta é uma evidência para todos e tem sido a palavra de ordem na Igreja universal. Vários Papas o disseram e os Bispos Portugueses reafirmam-no.

Contudo, também precisamos de referir que em toda esta polémica, há uma campanha de «pânico moral», que nos quer fazer crer que padre é sinónimo de abusador de menores. Aliás, para alguém que chegue de Marte e ligue a televisão, os padres – em Portugal e no mundo – são todos pedófilos. Nem sequer há a presunção de inocência, são abusadores. Ponto final.

Evidentemente que, a partir do momento em que há um caso de abuso na Igreja, quem se colocou a jeito foi a pessoa que incorreu neste hediondo crime. Não há volta a dar. E se esse abusador é membro da hierarquia da Igreja, maior a gravidade da situação. Portanto, se há alguém culpado de toda esta polémica, temos de o escrever com toda a clareza, é o padre abusador.

Porém, perante isto, e quando, diariamente, através da CS, temos casos de abusos de menores no seio das famílias, ninguém, no seu perfeito juízo, dirá que as famílias são abusadoras e pedófilas. No caso da Igreja, como se tem visto, uma suspeita é generalizada e atiram-se logo, de imediato, «os padres» para a fogueira. Muitas vezes, casos com dezenas de anos após os (supostos) abusos e até com a morte dos (supostos) abusadores. Nestas situações, como se percebe, o acusado nem sequer pode defender-se e perante a opinião pública a conclusão é óbvia: «morto é culpado». Assunto encerrado. E como há toda uma percepção mediática e pública desta questão dos abusos, a população é tentada a generalizar e nem se dá ao trabalho de reflectir sobre o assunto. Prova clara da eficácia da campanha do pânico moral.

Para os mais distraídos, esta campanha parece estar montada há vários anos e com muitos apoios, incluindo alguns sectores da própria Igreja, que pretendem impôr uma «reforma (i)moral» na Instituição. A estratégia é clara desde o primeiro instante e os próprios o admitem de forma directa. Quando responsáveis pela Comissão Independente (CI), que se dedicaram a analisar os supostos casos de abusos perpetrados por elementos do clero em Portugal, dizem que a solução é acabar com o celibato dos padres, percebemos qual a sua real intenção e «independência». O mesmo dizem os supostos «comentadores católicos», escolhidos a dedo, para abordar o assunto nas televisões e nas rádios. Não há um que desafine da pauta: a solução é mudar a disciplina da Igreja e permitir o casamento dos sacerdotes. Ou seja, não se discute o assunto do ponto de vista moral, mas ataque-se a disciplina do celibato eclesiástico católico, como se a disciplina celibatária fosse a culpada dos abusos.

Aqui chegados, não vale a pena termos ilusões. Não há, salvo raras excepções, preocupação para com as vítimas, mas, no meio desta situação de (supostos) abusos, uma intenção clara de mudar a disciplina da Igreja sobre o celibato. Posição corroborada por alguns grupos católicos que consideram que a defesa da «liberdade sexual» seria a solução para os padres abusadores. Neste caso, esquecem que a libertinagem sexual e imoral permitida pela sociedade e incentivada, tantas vezes, pela própria CS é que ajudou a promover os abusos.

O que falta, neste caso, e como se sabe à saciedade, é perceber então qual o motivo para termos o maior número de abusos de menores no seio das famílias, nomeadamente de pessoas casadas, nomeadamente, tantas vezes, os próprios pais, padrastos, tios, avós, primos, etc. e sua ligação com o «não celibatário». Em suma, se a maioria dos abusadores não são celibatários, em que medida é que o fim do celibato resolveria o problema dos abusos de menores no seio da Igreja?

Não acredito em «teorias da conspiração», mas parece haver aqui uma intenção clara: a destruição do verdadeiro dique moral ainda presente na nossa sociedade: a Igreja e sua doutrina. Se não há, parece. E, como alguém diria, neste, como em tantos outros temas, «o que parece, é».


José de CarvalhoProfessor e Investigador de História

Fonte: Inconveniente

segunda-feira, 27 de março de 2023

Os padres aos leões!

 


Quando no dia 18 de Julho do ano 64 começou o grande incêndio de Roma, logo se espalharam os rumores de que os culpados seriam os cristãos. A juntar a esta terrível acusação, logo outras surgiram: que envenenavam poços, que fariam sacrifícios rituais de crianças bebendo o seu sangue, que fariam orgias, etc. A revolta popular foi tanta que o povo de Roma gritava “os cristãos aos leões”. Claro que os boatos eram falsos e tinham por finalidade ocultar o verdadeiro culpado do incêndio de Roma (e de várias outras acusações dirigidas aos cristãos), o Imperador Nero, que assim encontrou alvos perfeitos para satisfazer a turba.

O método de exaltar a turba com denúncias anónimas foi usado repetidas vezes ao longo da história, muitas vezes resultando em enormíssimas mortandades. Quantas vezes ao longo da história minorias foram perseguidas com bases em rumores falsos, espalhados por quem os queria destruir?

A denúncia anónima sempre foi o método preferido dos tiranos, desde o tempo dos césares, até às ditaduras actuais. A denúncia anónima sempre foi um método extramente eficaz de eliminar adversários, praticar vinganças mesquinhas e manchar inocentes.

Por isso, o Direito tem um enorme cuidado no que toca a denúncias anónimas. Em Portugal, para que uma denúncia anónima seja sequer investigada, é preciso que existam indícios de um crime. Não basta dizer às autoridades informações vagas, sem sequer nomear a vítima. Uma denúncia que se limite a dizer que a pessoa x fez o crime y há z anos terá como destino o lixo.
Isto é um princípio básico de qualquer Estado de Direito. Qualquer pessoa tem o direito de não ver a sua vida investigada e revirada só porque um qualquer adversário decidiu fazer uma denúncia falsa às autoridades.

Este princípio era bastante unanime até há poucas semanas. Infelizmente agora parece aplicar-se a todos, excepto aos padres. Desde a publicação do Relatório da Comissão Independente, e da afirmação de Pedro Strech (que afinal era falsa) de que haveria cem abusadores vivos, gerou-se um movimento, capitaneado por Daniel Sampaio e Laborinho Lúcio, a exigir a suspensão sem mais, de qualquer sacerdote indicado no dito relatório.

O problema é que o relatório é baseado em denúncias anónimas que a Comissão não validou, como já veio admitir. O trabalho da Comissão foi ouvir as denúncias e compilar a informação. Não houve qualquer tipo de investigação. Daí o número de mortos, desconhecidos ou já investigados que constavam na famosa lista entregue às dioceses. Contudo, isso não impediu deputados, colunistas, e membros da própria Comissão, ao arrepio de todo o Direito, de exigir que qualquer padre referido, independentemente de provas ou indícios, fosse suspenso.

Há neste momento sacerdotes suspensos por conta de denúncias que nem sequer dariam para abrir um inquérito no Ministério Público. Uma denúncia anónima, enviada digitalmente, sem se saber quem é a vítima, ou que crime foi cometido, ou onde, é suficiente para suspender a vida de um sacerdote. Pouco importa que não haja qualquer prova ou indício, pouco importa uma vida inteira ao serviço dos outros sem qualquer suspeita, pouco importa o testemunho de milhares de pessoas, uma única denúncia anónima (que não servia sequer para abrir um inquérito na polícia) basta. Tudo para satisfazer a sede de sangue popular.

Isto não é justiça, isto não é colocar as vítimas em primeiro lugar, isto é simplesmente a barbárie. No Twitter clama-se “os padres aos leões” e assim é. As vítimas merecem justiça, não ver a sua dor ser usada com arma de arremesso.

Que aqueles que de forma publica, ou por secretas obediências, odeiem a Igreja, não se importem de subverter a justiça, é normal. É assim desde Nero.

Ver pessoas de bom senso que para aplacar a revolta pelos tenebrosos crimes de alguns sacerdotes estarem dispostos a fazer o mesmo, é assustador.

A Comissão fez o seu trabalho recolhendo denúncias. O Relatório não é sobre eles, nem sobre as suas agendas, mas sobre as vítimas. Agora é a hora de se remeterem ao silêncio e permitirem à justiça trabalhar.

Quanto ao Padre Mário Rui Pedras, afastado do seu extraordiário trabalho pastoral por uma vil denúncia anónima, fico-me pelas palavras de Nosso Senhor: “Bem-aventurados sereis, quando, por minha causa, vos insultarem, vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal de vós. Alegrai-vos e exultai, pois é grande nos céus a vossa recompensa”.

Zé Maria Duque 


sábado, 25 de março de 2023

25 de Março de 1646 – Coroação da Imaculada Conceição como Rainha de Portugal

Senhora da Conceição, Protectora do Reino



Os cultos públicos e festivos que a piedade e devoção dos fiéis justamente tributam ao candidíssimo mistério da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, são tão antigos em Portugal como o mesmo Reino, porque já nos primeiros princípios dele, haviam os Portugueses erigido templos em seu obséquio, como as Paróquias das Vilas Viçosa e de Alcobaça. Correndo os tempos, pelas contradições que se levantaram em oposição do mesmo mistério, fundadas em razões aparentes e em demasiados escrúpulos de alguns Varões de grande doutrina e santidade, se esfriou, não pouco, no Orbe Cristão aquele primeiro fervor; Todavia nunca em Portugal se extinguiu, antes sabemos que o Bispo de Coimbra, Dom Raimundo, ordenou com públicos éditos que em toda a sua Diocese se solenizasse a oito de Dezembro de cada ano a Imaculada Conceição de Maria Santíssima; E logo as outras Catedrais do Reino imitaram com religiosa emulação a de Coimbra no mesmo preceito e uso. Sabemos mais, que pelo mesmo tempo a Rainha Santa Isabel mandou erigir uma Capela no Convento da Santíssima Trindade de Lisboa e a consagrou ao mesmo mistério; depois se foram edificando outras muitas Capelas, Igrejas e Mosteiros com a mesma invocação, de que o Reino e seus domínios se acham igualmente cheios e ilustrados; Foi sempre em maior aumento esta piedosa devoção, até que no ano de 1646 neste dia [25 de Março], em que então caiu o Domingo de Ramos, celebrando-se em Lisboa Côrtes dos três Estados do Reino [Clero, Nobreza e Povo], nos quais se representa o corpo inteiro da Nação, jurou o Senhor Rei Dom João IV, e com Sua Majestade os três Estados, defenderem com dispêndio da própria vida (se necessário fosse) a Conceição imaculada da Mãe de Deus, impondo pena de desnaturalização e extermínio a toda a pessoa que tivesse a sentença menos pia, e elegeu a mesma Senhora, neste glorioso mistério, Protectora e Defensora de Portugal, e lhe fez a Monarquia tributária, e a si e a seus sucessores, em cinquenta cruzados de ouro cada ano, aplicados para a Igreja Paroquial de Vila Viçosa, a qual se afirma ser a primeira que se edificou em Espanha [Península Ibérica] com o título de Conceição. O mesmo exemplo seguiram e juraram a Conceição da Senhora, as Universidades, Bispados, Colegiadas, Ordens e Congregações do Reino.

Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744


Fonte: Veritatis

25 de Março – Anunciação do Anjo Gabriel à Virgem Maria

 

27º Aniversário de SAR, O Senhor D. Afonso de Bragança, Príncipe da Beira


Dom  Afonso de Santa Maria Miguel Gabriel Rafael de Herédia de Bragança, filho primogénito de SS.AA.RR., Dom Duarte Pio de Bragança, Duque de Bragança e de Dona Isabel de Herédia de Bragança, Duquesa de Bragança, nasceu numa segunda feira, 25 de Março de 1996, às 7h38 da manhã, no Hospital da Cruz Vermelha , em Lisboa. Ostenta os títulos de Príncipe da Beira e Duque de Barcelos.


Desejamos ao nosso Príncipe Real, Saúde, Paz, Harmonia e muito Amor com toda a Nossa Querida Família Real, no mais belo exemplo de União e Tradição.


 Que Deus o guie e ilumine naquela que desejamos seja uma longa vida cheia de sucesso.


VIVA SUA ALTEZA REAL DOM AFONSO, PRÍNCIPE REAL!

VIVA A FAMÍLIA REAL!

VIVA PORTUGAL!

sexta-feira, 24 de março de 2023

Desfazer antigos mitos: o reinado de D.João V

 

A historiografia oitocentista tudo fez para denegrir este grande monarca, da pena de Oliveira Martins saíram os maiores impropérios em desenhos obscuros de um rei "beato" e "lúbrico". Toda a historiografia positivista deixou traços grotescos do soberano que hoje facilmente se desmentem. Contemporâneo de D.João V, o baiano Sebastião da Rocha Pita, autor da "História da América Portuguesa" (1730), legou a imagem de um rei devoto e generoso, qualidades que a condição exigiam para o exercício do bom governo. As acções personalisticas do rei demonstram mais o seu carácter prático do que a preocupação em construir uma doutrina, a "monarquia absoluta" obscurecida pela pena de doutrinadores liberais deixará esquecer a grandiosidade da sua política. É verdade, acuse-se, que deixaram de se convocar Cortes a partir de 1720, todavia, o rei concedia audiências públicas três vezes por semana, nas quais atendia não só a nobreza como qualquer concidadão. A protecção das fronteiras e das rotas comerciais com o Oriente e com o Brasil foram sempre a prioridade. Ao longo do século XVIII os vice-reis da Índia foram sempre homens de inegável mérito e, com o impulso da Companhia de Jesus, Portugal construiu uma verdadeira cultura internacional.

O fausto das entradas dos enviados portugueses às cortes europeias ajudou a conquistar a paridade de tratamento com as grandes potências da época. Junto à Santa Sé investiu igualmente a afirmação do reino, com momentos de maior tensão também, valendo a insistência e capacidade diplomática de D.João V para em 1748 lhe ser atribuído o título de "Rei Fidelíssimo".

No quadro das artes e da cultura, ao contrário do que a historiografia positivista proto-republicana alimentou, descobre-se uma verdadeira política artística. Muito do ouro brasileiro foi investido, não em caprichos pessoais, mas em belas colecções de pintura e gravura. Foi o criador da Academia Real da História, o que demonstra o empenho do monarca pela cultura. Na Real Academia ajudou a desenvolver o desenho, a gravura e a impressão em Portugal. As práticas de legitimação da monarquia foram sendo reformulados, desde a disciplina da sociedade de corte, à criação de espaços de representação, como o Palácio e Convento de Mafra, onde disponibilizou a mais representativa biblioteca do país, a par com a Biblioteca Joanina, na Universidade de Coimbra. Majestosa e imponente, Mafra é o emblema por excelência do reinado joanino, exemplo da política artística perdulária e expoente máximo do barroco. A corte Joanina alcançou assim a preeminência cultural, o reino consolidou a independência e granjeou o respeito internacional ombreando com as potências da época.


Daniel Santos Sousa


Fonte: Corta-fitas

quinta-feira, 23 de março de 2023

Quando o oprimido se transforma no opressor

 


A ideologia de género faz parte do movimento intelectual pós-moderno, que se caracteriza pela rejeição das meta-narrativas. O grande corolário deste movimento foi a conclusão de que não existe verdade absoluta, tudo é relativo, tudo é socialmente construído, todo o conhecimento e informação que circulam pela sociedade são produtos criados por quem está no poder. Daí vem a ideia de que o género é uma construção social criada por homens brancos heterossexuais.

A ideia de que a realidade é uma construção social é apenas parcialmente verdadeira, pois deixa ocultos alguns elementos fulcrais para a compreensão do assunto. Para sermos mais correctos, poderíamos dizer que construímos a realidade, mas os materiais da construção não foram feitos por nós. Eles já lá estavam quando chegamos ao sítio da obra. Nós podemos manipular os materiais, mas não os criámos. É aqui que está a diferença crucial entre os que insistem na importância da biologia e os que procuram destruir todas as referências a essa realidade.

Neste tipo de pseudo-filosofias há um elemento de inversão do processo. Não se parte dos dados da realidade para chegar a descobertas e conclusões, mas antes, parte-se da ideia que se pretende disseminar, sem tê-la feito passar pelo teste da realidade. Essa ideia é o que anima toda a construção teórica servindo-lhe de pressuposto, muitas vezes oculto. No exemplo a seguir, vemos como a ideóloga feminista Shulamith Firestone confessa (voluntária ou involuntariamente, não sabemos) a ideia que fez erigir uma das obras mais subversivas já escritas:

“E assim como o objetivo final da revolução socialista não era apenas a eliminação do privilégio da classe económica, mas a própria distinção da classe económica, assim também o objetivo final da revolução feminina deve ser, diversamente do objetivo do primeiro movimento feminista, não apenas a eliminação do privilégio masculino, mas da própria distinção sexual”.

(“A Dialéctica do Sexo”, Shulamith Firestone)

Quão perplexos deveremos ficar ao descobrir que este recente instrumento de opressão da mulher – a ideologia de género – surgiu do seio do próprio feminismo?

A definição de mulher em todos os dicionários comporta o termo “fêmea”. Este, por sua vez, refere-se às características sexuais femininas e, especificamente, a capacidade de ser fecundada. Portanto, mulher e fêmea são palavras sinónimas, e a sua aplicação varia apenas na ênfase: a última sublinha as características biológicas, enquanto a primeira pode transcendê-las para expressar o lado metafísico, mas sem nunca deixar de as conter.

Recentemente, o Cambridge Dictionary acrescentou o seguinte à definição de mulher: “um adulto que vive e se identifica como fêmea, embora lhe tenham dito que tinha um sexo diferente ao nascer”. Esta é a realização, pelo menos linguística, da eliminação da distinção sexual.

Ora, no nosso conceito natural de “mulher” está implícita e necessária a distinção de “homem”. Poderíamos mesmo dizer que mulher é aquele que não é homem, ou que homem é aquele que não é mulher. Mas quando uma instituição determina que as pessoas, doravante, devem pensar que quando se diz “mulher” podemos estar a falar de um homem biológico, está na altura de soar todos os alarmes e levantar a guarda de protecção da nossa inteligência.

Chegamos ao momento que Chesterton previu:

“Em breve estaremos num mundo em que um homem pode ser vaiado por dizer que dois mais dois são quatro, em que gritos de fúria serão levantados contra qualquer um que diga que as vacas têm chifres, no qual as pessoas perseguirão a heresia de chamar um triângulo uma figura de três lados, e enforcar um homem por enlouquecer a multidão com a notícia de que a relva é verde.”


Francisca Silva

Fonte: Inconveniente

terça-feira, 21 de março de 2023

“Sem fé, a política é muito assustadora. Se você não tiver fé, vai querer criar o céu na terra”

 


Tradução Deus-Pátria-Rei

Rod Dreher levou alguns jornalistas para conhecer Viktor Orban em Budapeste. Excerto da sua entrevista:

Perguntei ao primeiro-ministro, um calvinista, sobre sua crença de que a regeneração da civilização ocidental requer a restauração da fé cristã.

“O cristianismo não pode ser regenerado pela política”, disse ele, acrescentando que a fé é sempre, em última análise, uma questão de converter o coração de um indivíduo. No entanto, ele acrescentou que, se os cristãos não acordarem e resistirem às tendências culturais que os estão dominando, a fé morrerá.

“A melhor esperança hoje são os ortodoxos”, disse ele. “Eles não discutem, mas acreditam. Nós [protestantes e católicos] discutimos o tempo todo”.

Orban passou a chamar os cristãos ortodoxos de "reserva mais importante" para os cristãos no Ocidente recuperarem a sua base religiosa.

Comentando sobre o péssimo estado da vida religiosa na Hungria, onde relativamente poucas pessoas vão à igreja, o primeiro-ministro disse: “Não temos ilusões sobre nossa aparência”. No entanto, se a Europa quiser sobreviver, ela deve retornar à fé que criou a ordem sagrada sobre a qual a sua civilização foi construída, acredita Viktor Orban.

“A minha análise é que essa estrutura social construída nos últimos trinta anos é totalmente contrária à natureza humana”, disse. "Está fadado a desmoronar, mas espero que não no estilo Armagedom."

Se a hegemonia da ideologia de género e outras manifestações da loucura progressista puderem ser quebradas rapidamente, então “o retorno à tradição será muito mais rápido do que podemos imaginar. Mas primeiro temos que esmagá-los politicamente”.

Continuando na intersecção entre religião e política, Orban disse que não entendia como alguém poderia ser um líder político conservador sem ser uma pessoa de fé real. Não é por acaso, disse, que a Hungria, a Eslováquia e a Polónia lideram a luta pela defesa dos valores tradicionais na Europa. Fazem parte de uma Europa menos afectada pela corrosiva modernidade.

O principal conselheiro político do primeiro-ministro, Balazs Orban (sem parentesco), entrou na conversa, dizendo: “Sem fé, a política é muito assustadora. Se você não tiver fé, vai querer criar o paraíso na terra."

O primeiro-ministro disse que os políticos podem dar às pessoas uma vida material melhor, mas não é seu trabalho dar-lhes uma vida feliz.

Falamos brevemente sobre sua viagem a Roma para homenagear Bento XVI na vigília fúnebre do Papa. O Sr. Orban disse que os calvinistas húngaros reconhecem que o catolicismo é absolutamente vital para o futuro do cristianismo, e que se a Igreja Católica é fraca, é ruim para todos os cristãos. Ele voltou à importância do renascimento religioso para a renovação civilizacional e disse que era por isso que gostava de visitar os líderes religiosos onde quer que viajasse.

segunda-feira, 20 de março de 2023

Ninguém nasce com um género. Todos nascem com um sexo biológico

Associação Americana de Pediatras urge os educadores e legisladores a rejeitarem todas as políticas que condicionam as crianças a aceitarem como normal uma vida de personificação química e cirúrgica do sexo oposto. São os factos, e não a ideologia, o que determina a realidade.

  1. A sexualidade humana é um traço biológico binário objectivo: “XY” e “XX” são marcadores genéticos de saúde, não de um distúrbio. A norma para o design humano é ser concebido ou como macho ou como fêmea. A sexualidade humana é binária por design, com o óbvio propósito da reprodução e florescimento da nossa espécie. Esse princípio é evidente em si mesmo. Os transtornos extremamente raros de diferenciação sexual (DDSs) — inclusive, mas não apenas, a feminização testicular e hiperplasia adrenal congénita — são todos desvios medicamente identificáveis da norma binária sexual, e são justamente reconhecidos como distúrbios do design humano. Indivíduos com DDSs não constituem um terceiro sexo.
  2. Ninguém nasce com um género. Todos nascem com um sexo biológico. Género (uma consciência e percepção de si mesmo como homem ou mulher) é um conceito sociológico e psicológico, não um conceito biológico objectivo. Ninguém nasce com uma consciência de si mesmo como masculino ou feminino; essa consciência desenvolve-se ao longo do tempo e, como todos os processos de desenvolvimento, pode ser descarrilada por percepções subjectivas, relacionamentos e experiências adversas da criança, desde a infância. Pessoas que se identificam como “sentindo-se do sexo oposto” ou “em algum lugar entre os dois sexos” não constituem um terceiro sexo. Elas permanecem homens biológicos ou mulheres biológicas.
  3. A crença dele ou dela de ser algo que não é indica, na melhor das hipóteses, um pensamento confuso. Quando um menino biologicamente saudável acredita que é uma menina, ou uma menina biologicamente saudável acredita que é um menino, existe um problema psicológico objectivo, que está na mente, não no corpo, e deve ser tratado como tal. Essas crianças sofrem de disforia de género (DG). Disforia de género, anteriormente chamada de transtorno de identidade de género (TIG), é um transtorno mental reconhecido pela mais recente edição do Manual de Diagnóstico e Estatística da Associação Psiquiátrica Americana (DSM-V). As teorias psicodinâmicas e sociais de DG/TIG nunca foram refutadas.
  4. puberdade não é uma doença – e as hormonas que bloqueiam a puberdade podem ser perigosas. Reversíveis ou não, as hormonas que bloqueiam a puberdade induzem a um estado doentio — a ausência de puberdade — e inibem o crescimento e a fertilidade em uma criança até então biologicamente saudável.
  5. Cerca de 98% dos meninos e 88% das meninas confusos com o próprio género acabam aceitando o seu sexo biológico depois de passarem naturalmente pela puberdade, segundo o DSM-V.
  6. Crianças que usam bloqueadores da puberdade para personificar o sexo oposto vão requerer hormonas do outro sexo no fim da adolescência. Essas hormonas (testosterona e estrogénio) estão associadas a riscos para a saúde, o que inclui, entre outros, o aumento da pressão arterial, a formação de coágulos sanguíneos, o acidente vascular cerebral e o cancro.
  7. índice de suicídio é 20 vezes maior entre adultos que usam hormonas do sexo oposto e se submetem a cirurgias de mudança de sexo – inclusive nos países mais afirmativos em relação aos chamados LGBTQ, como a Suécia. Que pessoa compassiva e razoável seria capaz de condenar crianças e jovens a esse destino, sabendo que, após a puberdade, cerca de 88% das meninas e 98% dos meninos vão acabar aceitando a realidade com boa saúde física e mental?
  8. É abuso infantil condicionar crianças a acreditarem que uma vida inteira de personificação química e cirúrgica do sexo oposto seja normal e saudável. Endossar a discordância de género como normal através da rede pública de educação e de políticas legais servirá para confundir as crianças e os pais, levando mais crianças a serem apresentadas às “clínicas de género” e aos medicamentos bloqueadores da puberdade. Isto, por sua vez, praticamente garante que essas crianças e adolescentes vão “escolher” uma vida inteira de hormonas cancerígenas e tóxicas do sexo oposto, além de pensarem na possibilidade da mutilação cirúrgica desnecessária de partes saudáveis do seu corpo quando forem jovens adultos.

Michelle A. Cretella, Médica, Presidente da Associação Americana de Pediatras

Quentin Van Meter, Médico, Vice-Presidente da Associação Americana de Pediatras Endocrinologista Pediátrico

Paul McHugh, Médico e Professor Universitário de Psiquiatria da Universidade Johns Hopkins Medical School, detentor de medalha de distinguidos serviços prestados e ex-psiquiatra-chefe do Johns Hopkins Hospital

#diganãoàideologiadegénero


Maria Helena Costa

Fonte: Inconveniente

domingo, 19 de março de 2023

5 grandiosas verdades sobre São José - Dia do Pai

1. A figura de São José no Evangelho
Sabemos que não era uma pessoa rica; era um trabalhador como milhões de homens no mundo. Exercia o ofício fatigante e humilde que Deus escolheu também para Si quando tomou a nossa carne e viveu trinta anos como uma pessoa mais entre nós. A Sagrada Escritura diz que José era artesão.

2. Uma forte personalidade
Das narrações evangélicas depreende-se a grande personalidade humana de S. José: em nenhum momento nos aparece como um homem diminuído ou assustado perante a vida; pelo contrário, sabe enfrentar-se com os problemas, superar as situações difíceis, assumir com responsabilidade e iniciativa os trabalhos que lhe são encomendados.

Não estou de acordo com a forma clássica de representar S. José como um homem velho, apesar da boa intenção de se destacar a perpétua virgindade de Maria. Eu imagino-o jovem, forte, talvez com alguns anos mais do que a Virgem, mas na pujança da vida e das forças humanas.

3. A pureza nasce do amor
Para viver a virtude da castidade não é preciso ser-se velho ou carecer de vigor. A castidade nasce do amor; a força e a alegria da juventude não constituem obstáculo para um amor limpo. Jovem era o coração e o corpo de S. José quando contraiu matrimónio com Maria, quando conheceu o mistério da sua Maternidade Divina, quando vivei junto d'Ela respeitando a integridade que Deus lhe queria oferecer ao mundo como mais um sinal da sua vinda às criaturas. Quem não for capaz de compreender um amor assim conhece muito mal o verdadeiro amor e desconhece por completo o sentido cristão da castidade.

4. Todos os dias, trabalho
José era artesão da Galileia, um homem como tantos outros. E que pode esperar da vida um habitante de uma aldeia perdida, como era Nazaré? Apenas trabalho, todos os dias, sempre com o mesmo esforço. E, no fim da jornada, uma casa pobre e pequena, para recuperar as forças e recomeçar o trabalho no dia seguinte.

Mas o nome de José significa em hebreu Deus acrescentará. Deus dá à vida santa dos que cumprem a sua vontade dimensões insuspeitadas, o que a torna importante, o que dá valor a todas as coisas, o que a torna divina. À vida humilde e santa de S. José, Deus acrescentou - se me é permitido falar assim - a vida da Virgem Maria e a de Jesus Nosso Senhor. Deus nunca se deixa vencer em generosidade. José podia fazer suas as palavras que pronunciou Santa Maria, sua Esposa: Quia fecit mihi magna qui potens est, fez em mim grandes coisas Aquele que é todo poderoso quia respexit humilitatem, porque pôs o seu olhar na minha pequenez.

5. Um homem em quem Deus confiou
José era efectivamente um homem corrente, em quem Deus confiou para realizar coisas grandes. Soube viver exactamente como o Senhor queria todos e cada um dos acontecimentos que compuseram a sua vida. Por isso, a Sagrada Escritura louva José, afirmando que era justo. 

E, na língua hebreia, justo quer dizer piedoso, servidor irrepreensível de Deus, cumpridor da vontade divina; outras vezes significa bom e caritativo para com o próximo. Numa palavra, o justo é o que ama a Deus e demonstra esse amor, cumprindo os seus mandamentos e orientando toda a sua vida para o serviço dos seus irmãos, os homens. 


S. Josemaria Escrivá in Cristo que passa, 40


sexta-feira, 17 de março de 2023

SAR, O Senhor D.Duarte, Duque de Bragança, fala sobre capela com 400 anos que corre risco de demolição

 


Índia: Capela com 400 anos corre risco de demolição para a construção de um campo de futebol

Sobre esta situação, Sua Alteza Real o Senhor Dom Duarte de Bragança, referiu à Fundação AIS, que este assunto deve inclusivamente mobilizar o poder político em Lisboa e que “As autoridades portuguesas deveriam urgentemente pelo menos pedir a suspensão de algum acto que seja irreversível, porque caso contrário um dia destes deitam tudo abaixo e depois não há nada a fazer".


Fonte: Monarquia Portuguesa

quinta-feira, 16 de março de 2023

Celibato

 

Celibato – Vocábulo coberto dos maiores impropérios pela moderna Filosofia. Segundo os Filósofos, é contrário às Leis da Natureza, ao bem da Sociedade, e aos deveres de Cidadão, não obstante que o Republicanismo Filosófico eleve não pequenas obrigações aos não casados. Entre os Pais de Família não podia ele achar, e efectivamente não achou muitos Propagandistas, nem sequazes: porque não é mui fácil, que um Pai sacrifique seus filhos à louca e momentânea satisfação de fazer figura numa Cadeira Legislativa, Directorial e Presidencial; nem esquecer-se de todo das propriedades que possui, por mais que veja, que não pôde já com segurança social transmiti-las em herança: o amor de Pai o força a amar a justiça, a ordem, a segurança social, a Religião, e os costumes, e por conseguinte detesta uma Democracia, que aniquila tudo quanto é bom e calca aos pés ainda o mais Santo e Justo. É verdade que uma Filosofia ímpia, e brutal, que apaga todos os sentimentos mais doces da Natureza, que exalça, e talvez celebra os mesmos parricídios, é capaz de exterminar dos mesmos corações ainda o amor paterno: porém também é certo, que não triunfa facilmente de um coração, em que a Religião, a razão, e o dever se acham unidos a uma inclinação fortíssima da Natureza. Pelo contrário, o Mancebo celibatário, que nem se ocupa, nem pensa mais que em si mesmo, vê com a maior indiferença perecer todo o Mundo, com tanto que sacie sua ambição, suas paixões, e sua luxúria. Poder-se-á negar que os mais fanáticos, e perversos Republicanos são aqueles Celibatões, que nem tem mulher legítima, nem filhos legítimos?! Os Pais de Família, que com sentimentos não fingidos se hão reunido à banda Democrática, são pela maior parte, ou beberrões, e loucos desesperados, que não podem piorar de sorte, ou algum tal e qual delirante por irreligião e cobiça. Porém os maiores luminares Filosóficos não são aqueles, que ao mesmo passo que vomitam fel e veneno contra o Celibato, passam toda a sua vida sem se casar legitimamente?

Para explicar este mistério Filosófico, convém distinguir duas espécies de Celibato. Um bom, religioso e racional; e outro libertino. O primeiro é pintado pelos Filósofos com as negras cores de anti-natural, anti-social, e danosíssimo por extremo. O segundo é mui digno de todo o Filosofo, e sobretudo conforme ao Direito Filosófico de liberdade.

Quando se trata do Celibato Eclesiástico, que é o justo e honesto, e que se professa como máxima de perfeição Religiosa, para servir melhor à Sociedade, e para vantagem das próprias famílias, pois com a maior herança, que se deixa aos irmãos, e dote às irmãs, se promovem mais os Matrimónios, então, segundo eles, o Celibato é a ruina da Sobriedade; a causa total e parcial da despovoação; e os defeitos, e faltas de alguns poucos Eclesiásticos se ponderam, e aumentam de tal modo, que não parece, senão que o dito Celibato é o princípio e a origem de toda a relaxação e de todos os escândalos, que há e há-de haver no Mundo.

Valha-me Deus! Pois o Celibato é tão mau como tudo isso?! Eu não sei que época é esta em que vivemos, que não tem dúvida de chamar negro ao que é branco, e branco ao que é negro! Digo isto: porque ou o Celibato consiste em não se casar e não ter filhos, ou em abster-se de uma e outra cousa, para se dedicar mais livremente a Deus. Se no primeiro, como tem cara os Filósofos, para lançar era rosto aos Sacerdotes o não se casarem, quando quase todos eles vivem à vaga Vénus sem nem se quer pensar em cousa, que cheire a casamento? Se, enquanto há na Republica mil Religiosos que não se casam, há cem mil Seculares que vivem solteirões e que podiam, e deviam, por justos motivos, casar-se; para que tanto estrepito e alvoroto sobre o Celibato dos mil Eclesiásticos, e tanto silêncio sobre o dos cem mil Seculares? E se consiste no segundo, porque não é isto, e não o Celibato in genere, que se condena nos Sacerdotes? Sejamos sinceros, e justos; casem-se primeiro todos os Seculares, que se acham em estado de poder faze-lo, e depois falaremos sobre o casamento dos Sacerdotes. Esta lide não se compõe com declamações, chufas e descaramentos, mas sim metendo mãos à obra. Com que, Senhores Filósofos anti-Celibatários, vamos apertando a mão nos casamentos, e tenham isto conhecido, quando queiram começar a reforma.

Outra coisa noto eu em Vossas mercês, e é: que devem ver como os Gigantes, pois, a não ser assim, não podiam deixar de conhecer o Celibato de tantos Seculares, que em poucos dias de casados abandonam a infeliz mulher, para se entregarem à mais infame, torpe, e infrutuosa leviandade. Contra estes, Senhores embusteiros, contra estes é que Vossas mercês deviam aguçar o seu zelo. Destruam-se tais Celibatos Matrimoniais; persigam-se seus Professores a fogo e a sangue; casem-se todos os Seculares, que podem, e devem casar-se; e certamente se verá a República muito mais embaraçada em prover de subsistências à Povoação, do que em aumentá-la. Verão que então se julgará uma felicidade, o não se casarem os Sacerdotes.

Os Filósofos Deístas, ou Ateus, não perdem a ocasião, quando se trata de População, de empregar toda a sua eloquência contra o Celibato Eclesiástico. Já se vê que uma das principais obrigações de todo o verdadeiro filosofante é, o denegrir por quantos modos possa a Religião, e representá-la como contraria ao bem da Sociedade. Porém tão cuidadosos e diligentes se mostram nisto, quanto preguiçosos e torpes em descobrir-nos com franqueza as verdadeiras, e legítimas causas, por que em tantas partes escasseia a População. Mas já que eles constantes em sua boa-fé se fazem desentendidos, e como esquecidos, nós lhas recordaremos.

A guerra actual, que só a ímpia Filosofia, e seu digno filho o Republicanismo tem atiçado, não é uma das verdadeiras causas da depopulação? Quantos milhões de homens, todos na flor da idade, e quase todos daquela População útil à Sociedade, como são os Artistas e Lavradores, não tem ela a esta hora sacrificado ao seu furor? Quantos milhões de milhões, que deles espera vão a existência nos Séculos futuros, não ficaram em o nada? São acaso, Senhores Antropógrafos, esses clamores, por que os Sacerdotes se casem, para ver se com o sangue de seus filhos podeis apagar a raivosa sede de sangue, que com a de tantos milhões de Seculares ainda não pudestes mitigar? Que dor, que desgraça tão grande para esses corações filantrópicos, não é o terem-se sacrificado numa batalha dous mil homens, quando podiam ter sido vinte e cinco mil! Deveis sem embargo consolar-vos, pois se até agora não há filhos de Sacerdotes, e Religiosos, que levar ao matadouro, tendes Religiosos, e Sacerdotes, a quem não vos descuidais de levar.

E o luxo, que tantos defensores tem entre os Filósofos, não é um dos maiores impedimentos para a População? É necessário ser pouco menos que um Creso, para poder nestes tempos pensar em mulher. Uma soma, que bastaria para comprar hum terreno capaz de manter uma família, não chega para os enfeites, vestidos, jóias, relógios, etc., etc., que o império da moda, e o uso tem estabelecido para lançar às costas de uma mulher! E se isto é verdade, que razão há, ou que justiça, para pretender que mancebos honrados, e circunspectos devam arruinar-se com o Matrimónio? E em tais circunstâncias não é a libertinagem uma consequência pouco menos que necessária? Vamos a outra coisa.

A falta de Religião, que tão estendida se acha em nossos dias, (graças aos Missionários e Propagandistas Filosóficos) não é outro dos principais motivos da depopulação? Por que causa se não casa aquele peralvilho libertino, senão porque passa uma vida estragada e licenciosa, ocupada toda em armar laços e entregas às mulheres dos outros, senão porque não tem Religião? Porque teme o mancebo honesto e religioso até de pensar em casar-se no meio de uma corrupção tão universal, senão porque não há tálamo seguro, a que não manche a irreligiosa libertinagem?

O remédio pois para o aumento da População não deve buscar-se na abolição do Celibato Eclesiástico, o qual indirectamente a promove de muitos modos; mas sim em atalhar o luxo, a irreligião, e a libertinagem. E já que tanto furor e raiva os devora pelo Celibato, porque não o empregam contra o Celibato Filosófico e desonesto, que é quem oferece um vastíssimo campo? Senhores Libertinos, se Vossas Mercês não tem alentos para deslisar-se do impuro comércio com certa gentinha, e viverem castos, deixem ao menos que outros o façam; e não sejam como o diabo, que estabelece a sua felicidade em arrastar consigo à perdição toda a linhagem humana. Deixem que um Religioso com sua honestidade e desinteresse, e à custa de sua própria mortificação, renunciando a porção de herança que lhe poderia pertencer, deixe suas irmãs em estado de acharem maridos, e a seus irmãos em circunstâncias de poderem buscar mulheres. Deixem que entre tantos que nem pensam, nem podem pensar noutros filhos que nos seus, hajam Bispos, Párocos, Frades, e Sacerdotes, que pensem nos alheios, e empreguem seus ternos e amorosos cuidados nos desgraçados filhos da Sociedade. Deixem que enquanto esse espantoso número de malvados (entre os quais se acham os inimigos do Celibato) vivem sepultados no charco hediondo e abominável da leviandade e da impureza, hajam ao menos Religiosos, que com suas mortificações e penitências, aplaquem a justa indignação do Céu, e no meio da solidão levantem suas inocentes mãos, e seus lábios puríssimos, para que não venham sobre eles o fogo e o enxofre, que já outrora caíram sobre os impuros habitantes de Sodoma e Gomorra.

Desde muitos tempos, que os Políticos Liberais se tem proposto como um objecto de grandeza, e esplendor nacional a grande População; e nenhuma Nação tem querido com mais afinco seguir estes princípios como a Inglaterra, e por isso para eles o Celibato é um objecto de ódio; (prescindindo de outras muitas razões) mas julgámos ter chegado à época de conhecerem todos estes Senhores quanto é errada esta Política. Quando a Inglaterra Católica respeitava o Celibato, aconteceu por ventura que o Governo se visse na dura necessidade de sustentar tantos milhares de pobres?! Viu-se por ventura nesses tempos uma multiplicidade tão horrorosa de incendiários, que tem sacrificado ao seu furor, e condenado às chamas Edifícios, e Estabelecimentos, que custarão milhões de libras esterlinas?! E em que País do Mundo acontece que morra gente, e muita gente de fome, e de frio corno acontece naquele País? Eis-aqui pois o resultado da grande População. E se um dia acontecer (o que não só é possível, mas até já vai em caminho) que a Inglaterra perde a sua influência na Europa, e que esta lhe fecha as portas, não querendo as suas manufacturas, o que há-de acontecer a esta Nação tão populosa? Onde buscarão o alimento tantos milhares de Artistas, que tecem panos, e pescam bacalhau para vender aos Portugueses?! Há-de lhes acontecer, o que anunciou Napoleão, hão-de morrer de fome deitados sobre os fardos das fazendas? Talvez já a esta hora o maior embaraço daquele Governo será o grande excesso de População, a que mui de propósito se tem elevado aquele Povo! Se um dia chega a quebrar-se aquele freio, que contém os Ingleses, será a sua Revolução mais espantosa de quantas tem aparecido no Mundo! E se acontecer que a Península pouco satisfeita da má-fé, que a seu respeito se tem usado, der de mão a certos Tratados feitos no meio de uma perturbação invasora, que já durão há mais de vinte anos, e de que não há exemplo de igual conveniência exclusiva para a Grã-Bretanha, e aceder incertas Propostas mais vantajosas ao nosso Comércio, que outras Nações oferecem, ficará, segundo a sua própria confissão, um milhão de homens, que à custa da nossa indolência se sustentam, morrendo de fome! Este será então um castigo pela injusta perseguição feita aos Celibatários Eclesiásticos.

Muitas ideias acessórias, ao que deixámos escrito, se nos despertavam, mas... deixemos que rompa melhor a Aurora, que já começa de apontar no Horizonte Europeu; e então terão lugar em algum outro Artigo deste Vocabulário.

D. Frei Fortunato de São Boaventura in «Novo Vocabulário Filosófico-Democrático, indispensável para todos os que desejem entender a nova língua revolucionária», Nº 7, 1832


Fonte: Veritatis