quarta-feira, 8 de março de 2023

Neutralidade que escraviza

 


Já chegou à comunicação social portuguesa uma das pautas mais absurdas do lobby LGBT – a auto-proclamada “Linguagem Neutra”.

Muito se tem feito na tentativa de impedir que a nefasta ideologia de género se instale como uma concepção de mundo válida, mas sem grandes vitórias. O lado contrário investe em várias frentes: pelo feminismo, advogando a ideia de que a Língua Portuguesa é machista por causa do masculino neutro; e pela ideologia de género, com a falsa ideia de que o género sexual dos humanos pode ser não-binário e, pelo moderno direito à representatividade, a neutralidade na linguagem não pode ser nem feminina, nem masculina.

Não-binarismo: confusão

As incongruências desta ideologia são incomensuráveis. Ao mesmo tempo em que afirmam que “o género é um espectro” e, sendo assim, uma pessoa pode identificar-se com qualquer ponto do espectro, também afirmam que as pessoas podem ser “não-binárias”. Ora, um espectro é sempre binário, pois se define pelos níveis que existem entre dois pólos. E além disso, o que vem a ser uma pessoa “não-binária”? Como é essa pessoa que não é homem nem mulher? É o quê, um unicórnio?

Esta mistura de categorias é típica de uma mentalidade que se lançou para fora da realidade e decidiu inventar uma ficção para colocar em seu lugar. Só existem dois géneros sexuais, e só esses dois, masculino e feminino, cabem na categoria de género sexual. Fora disso, apenas podemos dizer que existem vários géneros de personalidades e de condutas sexuais, bem como de expressões estéticas. No entanto, é pela pretensão de que o não-binarismo é uma categoria sexual (e, por isso, ontológica) que o lobby argumenta em favor da obrigação de neutralidade na língua. Isto, claro, porque assume que a tal da “representatividade” é um direito e uma necessidade.

Pela incongruência da ideologia se vê que existe uma motivação que está oculta, que não é assumida no seu pretexto. Mas então, por que querem incutir nas pessoas a neutralidade sexual? A resposta longa exige um livro, mas a resposta curta resume-se a isto: quanto menos definidos são os papéis masculino e feminino, mais difícil é para as pessoas procurar agir segundo o ideal do seu género sexual. A consequência disto é o enfraquecimento da família e a atomização dos indivíduos, o que os leva ao estado de vulnerabilidade ideal para serem dependentes e subservientes aos poderes deste mundo. Por outro lado, a extremização dos mesmos papéis pela via utilitária leva a uma rigidez que não é desejável para ninguém. Portanto, como em tudo, é necessário o senso da proporção.

O cerne da questão social

Para os interessados em defender-se destas investidas e impedir que a ideologia se oficialize – o que já está em andamento – será crucial compreender que o cerne da questão não é racional. Já todos os argumentos lógicos e racionais, tanto contra a ideologia de género, como contra a auto-proclamada “linguagem neutra” foram expostos. Porém, o movimento continua a ganhar apoio em todas as camadas da sociedade. A questão não é racional, mas puramente emocional, e é por isto que o combate ao nível da razão não tem conseguido barrar o avanço desta ideologia nefasta.

As pessoas tendem a apoiar causas que lhes estimulem o sentido moral. Todos nos queremos sentir boas pessoas e, tradicionalmente, o indivíduo que se nega a ajudar os outros é um pária. Daí que o discurso à volta das causas seja sempre focado na vitimização do personagem-símbolo.

É importante notar que vivemos num mundo hiper-estimulante, onde as pessoas passam a maior parte do tempo imersas nos seus trabalhos ou entregues ao entretenimento. Isso deixa pouco tempo e disponibilidade para a educação do seu senso moral, para a contemplação da realidade e para o desenvolvimento de uma vida espiritual que lhe sirva de âncora e referência para julgar o mundo. O resultado disso é que os sentimentos morais se transformam em sentimentalismo, em afectação superficial. E por isso o debate público vira uma briga de recreio.

Não é errado que as pessoas se pautem pela sua consciência moral, pelo contrário. O que está errado neste caso é que os simpatizantes LGBT (apoiantes, mas que não se identificam em categorias LGBTianas) não estão conscientes do sofrimento que vão produzir nas gerações futuras e que já hoje se faz notar. O que é necessário é revelar o que está dentro dessa caixa de Pandora.


Francisca Silva

Fonte: Inconveniente

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