Quando no dia 18 de Julho do ano 64 começou o grande incêndio de Roma, logo se espalharam os rumores de que os culpados seriam os cristãos. A juntar a esta terrível acusação, logo outras surgiram: que envenenavam poços, que fariam sacrifícios rituais de crianças bebendo o seu sangue, que fariam orgias, etc. A revolta popular foi tanta que o povo de Roma gritava “os cristãos aos leões”. Claro que os boatos eram falsos e tinham por finalidade ocultar o verdadeiro culpado do incêndio de Roma (e de várias outras acusações dirigidas aos cristãos), o Imperador Nero, que assim encontrou alvos perfeitos para satisfazer a turba.
O método de exaltar a turba com denúncias anónimas foi usado repetidas vezes ao longo da história, muitas vezes resultando em enormíssimas mortandades. Quantas vezes ao longo da história minorias foram perseguidas com bases em rumores falsos, espalhados por quem os queria destruir?
A denúncia anónima sempre foi o método preferido dos tiranos, desde o tempo dos césares, até às ditaduras actuais. A denúncia anónima sempre foi um método extramente eficaz de eliminar adversários, praticar vinganças mesquinhas e manchar inocentes.
Por isso, o Direito tem um enorme cuidado no que toca a denúncias anónimas. Em Portugal, para que uma denúncia anónima seja sequer investigada, é preciso que existam indícios de um crime. Não basta dizer às autoridades informações vagas, sem sequer nomear a vítima. Uma denúncia que se limite a dizer que a pessoa x fez o crime y há z anos terá como destino o lixo.
Isto é um princípio básico de qualquer Estado de Direito. Qualquer pessoa tem o direito de não ver a sua vida investigada e revirada só porque um qualquer adversário decidiu fazer uma denúncia falsa às autoridades.
Este princípio era bastante unanime até há poucas semanas. Infelizmente agora parece aplicar-se a todos, excepto aos padres. Desde a publicação do Relatório da Comissão Independente, e da afirmação de Pedro Strech (que afinal era falsa) de que haveria cem abusadores vivos, gerou-se um movimento, capitaneado por Daniel Sampaio e Laborinho Lúcio, a exigir a suspensão sem mais, de qualquer sacerdote indicado no dito relatório.
O problema é que o relatório é baseado em denúncias anónimas que a Comissão não validou, como já veio admitir. O trabalho da Comissão foi ouvir as denúncias e compilar a informação. Não houve qualquer tipo de investigação. Daí o número de mortos, desconhecidos ou já investigados que constavam na famosa lista entregue às dioceses. Contudo, isso não impediu deputados, colunistas, e membros da própria Comissão, ao arrepio de todo o Direito, de exigir que qualquer padre referido, independentemente de provas ou indícios, fosse suspenso.
Há neste momento sacerdotes suspensos por conta de denúncias que nem sequer dariam para abrir um inquérito no Ministério Público. Uma denúncia anónima, enviada digitalmente, sem se saber quem é a vítima, ou que crime foi cometido, ou onde, é suficiente para suspender a vida de um sacerdote. Pouco importa que não haja qualquer prova ou indício, pouco importa uma vida inteira ao serviço dos outros sem qualquer suspeita, pouco importa o testemunho de milhares de pessoas, uma única denúncia anónima (que não servia sequer para abrir um inquérito na polícia) basta. Tudo para satisfazer a sede de sangue popular.
Isto não é justiça, isto não é colocar as vítimas em primeiro lugar, isto é simplesmente a barbárie. No Twitter clama-se “os padres aos leões” e assim é. As vítimas merecem justiça, não ver a sua dor ser usada com arma de arremesso.
Que aqueles que de forma publica, ou por secretas obediências, odeiem a Igreja, não se importem de subverter a justiça, é normal. É assim desde Nero.
Ver pessoas de bom senso que para aplacar a revolta pelos tenebrosos crimes de alguns sacerdotes estarem dispostos a fazer o mesmo, é assustador.
A Comissão fez o seu trabalho recolhendo denúncias. O Relatório não é sobre eles, nem sobre as suas agendas, mas sobre as vítimas. Agora é a hora de se remeterem ao silêncio e permitirem à justiça trabalhar.
Quanto ao Padre Mário Rui Pedras, afastado do seu extraordiário trabalho pastoral por uma vil denúncia anónima, fico-me pelas palavras de Nosso Senhor: “Bem-aventurados sereis, quando, por minha causa, vos insultarem, vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal de vós. Alegrai-vos e exultai, pois é grande nos céus a vossa recompensa”.
O método de exaltar a turba com denúncias anónimas foi usado repetidas vezes ao longo da história, muitas vezes resultando em enormíssimas mortandades. Quantas vezes ao longo da história minorias foram perseguidas com bases em rumores falsos, espalhados por quem os queria destruir?
A denúncia anónima sempre foi o método preferido dos tiranos, desde o tempo dos césares, até às ditaduras actuais. A denúncia anónima sempre foi um método extramente eficaz de eliminar adversários, praticar vinganças mesquinhas e manchar inocentes.
Por isso, o Direito tem um enorme cuidado no que toca a denúncias anónimas. Em Portugal, para que uma denúncia anónima seja sequer investigada, é preciso que existam indícios de um crime. Não basta dizer às autoridades informações vagas, sem sequer nomear a vítima. Uma denúncia que se limite a dizer que a pessoa x fez o crime y há z anos terá como destino o lixo.
Isto é um princípio básico de qualquer Estado de Direito. Qualquer pessoa tem o direito de não ver a sua vida investigada e revirada só porque um qualquer adversário decidiu fazer uma denúncia falsa às autoridades.
Este princípio era bastante unanime até há poucas semanas. Infelizmente agora parece aplicar-se a todos, excepto aos padres. Desde a publicação do Relatório da Comissão Independente, e da afirmação de Pedro Strech (que afinal era falsa) de que haveria cem abusadores vivos, gerou-se um movimento, capitaneado por Daniel Sampaio e Laborinho Lúcio, a exigir a suspensão sem mais, de qualquer sacerdote indicado no dito relatório.
O problema é que o relatório é baseado em denúncias anónimas que a Comissão não validou, como já veio admitir. O trabalho da Comissão foi ouvir as denúncias e compilar a informação. Não houve qualquer tipo de investigação. Daí o número de mortos, desconhecidos ou já investigados que constavam na famosa lista entregue às dioceses. Contudo, isso não impediu deputados, colunistas, e membros da própria Comissão, ao arrepio de todo o Direito, de exigir que qualquer padre referido, independentemente de provas ou indícios, fosse suspenso.
Há neste momento sacerdotes suspensos por conta de denúncias que nem sequer dariam para abrir um inquérito no Ministério Público. Uma denúncia anónima, enviada digitalmente, sem se saber quem é a vítima, ou que crime foi cometido, ou onde, é suficiente para suspender a vida de um sacerdote. Pouco importa que não haja qualquer prova ou indício, pouco importa uma vida inteira ao serviço dos outros sem qualquer suspeita, pouco importa o testemunho de milhares de pessoas, uma única denúncia anónima (que não servia sequer para abrir um inquérito na polícia) basta. Tudo para satisfazer a sede de sangue popular.
Isto não é justiça, isto não é colocar as vítimas em primeiro lugar, isto é simplesmente a barbárie. No Twitter clama-se “os padres aos leões” e assim é. As vítimas merecem justiça, não ver a sua dor ser usada com arma de arremesso.
Que aqueles que de forma publica, ou por secretas obediências, odeiem a Igreja, não se importem de subverter a justiça, é normal. É assim desde Nero.
Ver pessoas de bom senso que para aplacar a revolta pelos tenebrosos crimes de alguns sacerdotes estarem dispostos a fazer o mesmo, é assustador.
A Comissão fez o seu trabalho recolhendo denúncias. O Relatório não é sobre eles, nem sobre as suas agendas, mas sobre as vítimas. Agora é a hora de se remeterem ao silêncio e permitirem à justiça trabalhar.
Quanto ao Padre Mário Rui Pedras, afastado do seu extraordiário trabalho pastoral por uma vil denúncia anónima, fico-me pelas palavras de Nosso Senhor: “Bem-aventurados sereis, quando, por minha causa, vos insultarem, vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal de vós. Alegrai-vos e exultai, pois é grande nos céus a vossa recompensa”.
Zé Maria Duque
Fonte: Nós os Poucos...
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