Casamento (dos padres) como solução para os abusos de menores?
Há meses (mesmo anos) que a Igreja Católica está colocada no pelourinho mediático e na fogueira pública. No primeiro caso para ser enxovalhada e no segundo para ser queimada. Tudo começou no estrangeiro, nomeadamente em países como os Estados Unidos, a França, a Irlanda e tantos outros. Agora chegou a Portugal. Estava escrito nas estrelas. E há muito tempo.
É raro o dia em que o assunto não seja abordado pela comunicação social (CS).
Posto isto, e antes de avançar, precisamos de referir que ninguém é tão rigoroso sobre esta temática, como a própria Igreja. Se há abusos confirmados, os abusadores têm de ser severamente punidos e as vítimas protegidas. Esta é uma evidência para todos e tem sido a palavra de ordem na Igreja universal. Vários Papas o disseram e os Bispos Portugueses reafirmam-no.
Contudo, também precisamos de referir que em toda esta polémica, há uma campanha de «pânico moral», que nos quer fazer crer que padre é sinónimo de abusador de menores. Aliás, para alguém que chegue de Marte e ligue a televisão, os padres – em Portugal e no mundo – são todos pedófilos. Nem sequer há a presunção de inocência, são abusadores. Ponto final.
Evidentemente que, a partir do momento em que há um caso de abuso na Igreja, quem se colocou a jeito foi a pessoa que incorreu neste hediondo crime. Não há volta a dar. E se esse abusador é membro da hierarquia da Igreja, maior a gravidade da situação. Portanto, se há alguém culpado de toda esta polémica, temos de o escrever com toda a clareza, é o padre abusador.
Porém, perante isto, e quando, diariamente, através da CS, temos casos de abusos de menores no seio das famílias, ninguém, no seu perfeito juízo, dirá que as famílias são abusadoras e pedófilas. No caso da Igreja, como se tem visto, uma suspeita é generalizada e atiram-se logo, de imediato, «os padres» para a fogueira. Muitas vezes, casos com dezenas de anos após os (supostos) abusos e até com a morte dos (supostos) abusadores. Nestas situações, como se percebe, o acusado nem sequer pode defender-se e perante a opinião pública a conclusão é óbvia: «morto é culpado». Assunto encerrado. E como há toda uma percepção mediática e pública desta questão dos abusos, a população é tentada a generalizar e nem se dá ao trabalho de reflectir sobre o assunto. Prova clara da eficácia da campanha do pânico moral.
Para os mais distraídos, esta campanha parece estar montada há vários anos e com muitos apoios, incluindo alguns sectores da própria Igreja, que pretendem impôr uma «reforma (i)moral» na Instituição. A estratégia é clara desde o primeiro instante e os próprios o admitem de forma directa. Quando responsáveis pela Comissão Independente (CI), que se dedicaram a analisar os supostos casos de abusos perpetrados por elementos do clero em Portugal, dizem que a solução é acabar com o celibato dos padres, percebemos qual a sua real intenção e «independência». O mesmo dizem os supostos «comentadores católicos», escolhidos a dedo, para abordar o assunto nas televisões e nas rádios. Não há um que desafine da pauta: a solução é mudar a disciplina da Igreja e permitir o casamento dos sacerdotes. Ou seja, não se discute o assunto do ponto de vista moral, mas ataque-se a disciplina do celibato eclesiástico católico, como se a disciplina celibatária fosse a culpada dos abusos.
Aqui chegados, não vale a pena termos ilusões. Não há, salvo raras excepções, preocupação para com as vítimas, mas, no meio desta situação de (supostos) abusos, uma intenção clara de mudar a disciplina da Igreja sobre o celibato. Posição corroborada por alguns grupos católicos que consideram que a defesa da «liberdade sexual» seria a solução para os padres abusadores. Neste caso, esquecem que a libertinagem sexual e imoral permitida pela sociedade e incentivada, tantas vezes, pela própria CS é que ajudou a promover os abusos.
O que falta, neste caso, e como se sabe à saciedade, é perceber então qual o motivo para termos o maior número de abusos de menores no seio das famílias, nomeadamente de pessoas casadas, nomeadamente, tantas vezes, os próprios pais, padrastos, tios, avós, primos, etc. e sua ligação com o «não celibatário». Em suma, se a maioria dos abusadores não são celibatários, em que medida é que o fim do celibato resolveria o problema dos abusos de menores no seio da Igreja?
Não acredito em «teorias da conspiração», mas parece haver aqui uma intenção clara: a destruição do verdadeiro dique moral ainda presente na nossa sociedade: a Igreja e sua doutrina. Se não há, parece. E, como alguém diria, neste, como em tantos outros temas, «o que parece, é».
José de Carvalho, Professor e Investigador de História
Fonte: Inconveniente
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