Foi há cem anos que Portugal deixou de ser uma Monarquia passando a ser um estado Republicano. Esta data está a ser comemorada com muitas festas e inaugurações de Norte a Sul do país onde abundam palanques enfeitados para acolher notáveis da sociedade e política portuguesa que se apresentam pomposos a declamar discursos ornamentados com expressões vitoriosas como se de um grande dia se tratasse. Na verdade, este foi o maior passo no sentido inverso ao progresso que a nossa nação deu em toda a sua história e o dia que estamos a comemorar foi a porta que se abriu para dar entrada aos gravíssimos problemas que hoje afectam quase todos sectores da sociedade portuguesa.
A Implantação da Republica que hoje se assinala, e incompreensivelmente se comemora, foi um acontecimento que na época em que surgiu estava longe de contar com a vontade da maioria dos Portugueses e a sua conquista dependeu de episódios da maior cobardia e crueldade que se pode imaginar. A ganância duma pequena parcela de oportunistas obcecados pelo poder deu origem ao sangrento Regicídio abrindo a porta para o actual regime.
Sem qualquer dó nem piedade, no dia Um de Fevereiro de Mil Novecentos e Oito foram assassinados no Terreiro do Paço o Rei Dom Carlos e o Príncipe Herdeiro Dom Luís Filipe, escapando a toda esta ira desmedida a Rainha Dona Amélia que se encontrava na mesma carruagem assistindo a toda aquela crueldade, sendo protagonista dum acto de valentia e coragem ao tentar derrubar os criminosos com um ramo e flores que trazia na mão.
Dom Manuel II foi outro membro da Família Real que não perdeu a vida neste dia. Aquele que veio a ser o último Rei de Portugal, antes da interrupção da Monarquia que ainda perdura, aguardava a chegada de seus Pais e Irmão perto do local onde decorreu toda esta tragédia, e ao ouvir o som dos disparos correu ainda a tempo de poder testemunhar a figura dum homem de barbas e capa preta e aspecto monstruoso com arma apontada à carruagem que transportava a sua Família. Foi esta a descrição do próprio Príncipe, referindo-se a Manuel da Buiça, um dos mercenários que não sobreviveu no ataque à Família Real. Neste dia Portugal começou a ser roubado aos Portugueses e ninguém deveria ter orgulho, mas sim vergonha de tão infeliz episódio da nossa história, e em vez de comemorar seria muito mais sensato meditar, mas isso não é possível por causa do propositado ruído que se ouve sair dos altifalantes. Passados pouco mais de dois anos e meio deste horrendo crime teve lugar a Revolução da República e a partir daqui o nosso país nunca mais parou de dar passos no sentido ao estado em que se encontra actualmente, em que mesmo aqueles que mais persistiram num discurso fantasiado se soluções também já deixaram de conseguir esconder que a situação é caótica. No entanto tudo isto passado um século é motivo para tantos portugueses fazerem uma grande festa. Ironia? Alguma, mas sobretudo muita, muita e outra vez muita mentira.
Se o Regicídio assinala a forma cobarde e cruel como foi roubada a vida aos dois Monarcas, a revolução da república representa também o assassinato da liberdade. Antes dessa data, apesar dos republicanos representarem um peso que embora ruidoso era quase insignificante em termos percentuais na população portuguesa, era-lhes concedido o direito de doutrinar as suas convicções, ao contrário da situação em que ficaram os defensores da Monarquia após a Implantação do novo regime. Aqueles que não se submetiam ao silêncio perante as desvantagens do poder que ilegitimamente e, podemos dizê-lo, criminosamente, acabara de ser instalado pela força das armas, da traição, da cobardia e do terror, passaram a ser perseguidos tendo grande parte que recorrer ao exílio como alternativa à prisão.
Portugal, que até então era considerado um País Modelo, que apesar de geograficamente fazer parte dos países que atravessavam a grave crise económica de finais do século XIX e início do século XX, apresentava argumentos para ultrapassar esta fase com êxito e gozava duma estabilidade que lhe permitia encarar o futuro com prosperidade. Após este trágico acontecimento passou a viver um período conturbado conhecendo nove Presidentes nos primeiros dezasseis anos da República sem contar aqueles que se chegaram a ser anunciados como tal sem nunca dar início ao exercício das funções. Foram várias as revoluções e tentativas de revolução na primeira década da república. A confusão era tal que houve um governo que foi anunciado e passadas três horas já estava derrubado. Os grandes cadeirões não chegavam para todos que ansiavam ocupá-los e assistia-se a esquemas maquiavélicos, com vários jogos obscuros na luta pelos apetecíveis lugares arquitectados por aqueles que estavam obcecados pelo poder dando origem ao período de maior instabilidade em toda a história de Portugal.
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Fonte: Porto de Ave
2 comentários:
Obrigado pela honra que que dá ver que as minhas palavras não são apenas minhas. desta forma elas chegam mais longe. mais do que nunca é necessário espalhar a mensagem da união necessária para vencer o oportunismo e a injustiça.
Se formos muitos a nossa voz será o grande Grito para inverter o rumo. Viva Portugal REAL.
É interessante notar que hoje, antes do jornal das 6 na Antena 1, esta rádio apresentou uma reportagem intitulada "Portugal dos Pequeninos" e em que todas as crianças interrogadas foram da opinião de que o país estava melhor se tivesse um Rei em vez de de um Presidente da República. Disseram eles que haveria "mais responsabilidade nessas coisas da política".
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