«O homem político lisonjeia, mente, difama, atraiçoa. Na política portuguesa raros dão um passo que o não conquistem por algum destes vícios. Toda a gente o sabe. As eleições fazem-se ou pela compra da consciência a dinheiro, ou pela promessa, pela lisonja, pelo dolo, pela mentira. Não há integridade nem limpeza de carácter que resista à influência degradante e sordidíssima de uma campanha eleitoral. Em presença do eleitor, nas conversações, nos comícios e na imprensa, para desvanecer atritos, para abater dificuldades, para minar resistências, o candidato, de concessão em concessão, de recuamento em recuamento, de curva em curva, de cortesia em cortesia, desdiz todas as suas opiniões, desmente todos os seus propósitos, falseia todas as suas convicções, renega todas as suas crenças. A campanha eleitoral é uma navegação pestilencial pelo cano de esgoto de todas as imundícies da conveniência, do egoísmo e da ambição. Tal tribuno que hoje bate nos peitos com o punho cerrado, fazendo saltar pelos olhos chispas de valor e deitando pela boca os mais estrondosos borbotões de independência, escumas da raiva cívica e patriótica foi para esse lugar de rojo pela lama, com os joelhos no chão, babando-se em condescendências asquerosas e em risos nojentos.»
Livro: As Farpas de Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão
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