Desde o passado dia 13 de Fevereiro é legalmente possível, na Bélgica, como já era na Holanda, a eutanásia de crianças e adolescentes. Do Reino Unido chega a triste notícia de que Reece Puddington, de onze anos e com cancro desde há seis, desistiu dos tratamentos médicos. Ele próprio declarou, nas redes sociais, ter decidido "ficar em casa", para deixar a "natureza seguir o seu curso" inexorável. Também entre nós surgem vozes a reivindicar um pretenso direito a uma "morte digna".
Não é muito de estranhar que assim aconteça. Com efeito, se se pode impunemente matar um ser humano saudável ainda por nascer, porque não abreviar a vida enferma de um velho, ou de uma criança que, por esse motivo, provavelmente nunca chegará à idade adulta? A sociedade neopagã, ao rejeitar o valor absoluto da vida humana inocente, que é um princípio básico da civilização cristã, é impotente ante as investidas furiosas da cultura da morte, sobretudo quando travestida de sentimentos supostamente humanitários. Eliminados os embriões, os doentes e os velhos, a utopia eugenista de recentes tiranos parece, agora, mais próxima da realidade.
A questão não é a dor, mas o amor: só não quer viver quem não se sente amado. Quem verdadeiramente quer aos seus, não desiste deles, qualquer que seja a sua idade ou o seu mal. Não se trata de promover o encarniçamento terapêutico, mas amar aqueles que, por alguma circunstância, mais carecem desse apoio. É isso que eles, graúdos e miúdos, pedem: mais do que a saúde, ou uma morte indolor, querem um afecto que os ajude a viver a experiência da dor, na alegria do amor. E é isso que a fé cristã a todos dá: a esperança certa de um amor maior, que é vida para além da vida.
Pe. Gonçalo Portocarrero de Almada
Fonte: Povo
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