“Um tolo está sempre pronto a alvoroçar-se perante qualquer teoria ou discurso”.
Hieráclito[2]
Antigamente as “mentiras de Estado”, utilizavam-se principalmente para proteger o Estado como tal, no pressuposto que servia a Nação, de algo mais grave. Mais grave do que a própria mentira.
Até porque mentir nunca é bonito.
Tal acontecia muitas vezes em tempo de guerra, dado que a contra - informação é uma arma muito importante. Que o digam algumas estações de rádio que emitiam contra o Estado e a Nação Portuguesa durante as últimas campanhas ultramarinas portuguesas…
O “Estado de Direito Democrático” – se é que existe alguma definição oficial – como é comum a classe política e a maioria da opinião publicada, referirem-se ao actual regime ou sistema político, em vigor na sociedade portuguesa (já nem refiro a Nação, pois foi termo escorraçado do vocabulário da língua portuguesa) presumo que tal seja entendido como um sistema em que supostamente os três “poderes” – executivo, judicial e legislativo – estão “separados”; existem eleições “livres” onde cada cidadão vota num candidato que supostamente o representa – tanto no Parlamento, na Presidência da República, nas Autarquias e nessa figura de estilo que toma o nome de “Regiões Autónomas”.
Ou seja, um sistema em que a fonte legitimadora do Poder se encontra no voto popular (de toda a população). Tudo isto segundo a sacrossanta disposição de normas estatuídas num documento, que toma o pomposo título de “Constituição”. E como em Portugal se implantou ilegitimamente – já não falo de “ilegalmente”, pois todas as revoluções/golpes de estado são, por definição, ilegais – a tiro e à bomba, em 1910, após o assassinato a sangue - frio do Rei e do herdeiro da Coroa, em 1908, um regime a que chamaram República, a constituição chama-se, Constituição da República (CR).
Não deixa porém, de ser curioso assinalar, que a única Constituição – isto é, um papel que substitui uma pessoa ou conjunto de pessoas, na cadeira do Poder – que foi aprovada por plebiscito nacional, foi a Constituição de 1933, o que torna – pelas razões atrás apontadas – o “Golpe de Estado” de 25 de Abril de 1974, além de ilegal, também ilegítimo.
E tornou-se uma traição ao alienar 90% de território e 60% da população, do país que então éramos, sem consulta aos “interessados” e no meio de uma indescritível cobardia, desnorteamento e caos.
Foi assim que nasceu e se implantou o actual Estado de Direito Democrático (EDD), que de Estado tem pouco, de Direito idem e de Democrático menos.
Em síntese: a CR foi aprovada debaixo de sequestro, é antinatural, por conter ideias marxistas; antipatriota pelas mesmas razões e não só; baseada em “Direitos” em vez de “Deveres”; prolixa, dando para quase tudo o que resulta em quase nada; mal escrita, antinacional, (não fala uma única vez em “Nação” e apenas uma vez em “Pátria”, para alegar o dever e o direito de a defender, mas acabando com o Serviço Militar Obrigatório – Art.º 276); e antidemocrática por, entre outras coisas, obrigar à revisão republicana da CR e colocar a acção política exclusivamente nas alfurjas dos Partidos Políticos.
Permite ainda a existência e interferência de organizações cuja acção é assumidamente discreta e, ou, secreta, tanto de âmbito nacional como internacional. Uma absoluta incongruência num EDD…
A CR é, na prática também, uma mentira, pois todos os agentes políticos e órgãos de soberania, não cumprem objectiva e despudoradamente o principal ditame da mesma, que diz que Portugal é um país soberano e independente. Porquê? Pois porque alienam tal estatuto, constantemente e sob várias formas, sem nunca se ter feito um referendo para tal!
Juro que não tenho culpa de quase ninguém reparar nisto. Ou se reparam, estão calados.
O Estado é, pois, um espaço público teatral onde os filiados nos partidos políticos, e sindicatos afins, se mantêm numa espécie de guerra civil permanente e só serve para cobrar impostos. A Segurança e a Justiça não estão nas suas preocupações. E já há muito que desistiram sequer de imprimir moeda e levantar tropas.
E da Autoridade foi feita tábua rasa! Estão apenas interessados – é o que a realidade nos prova – na Economia e nas Finanças na medida em que tal possa favorecer os seus interesses pessoais e ganhar votos – a fórmula que uma revolução sanguinária, debochada e naturalista, inventou para que os seus sequazes assumissem o Poder. Estou a falar da Revolução Francesa (antecedida pela Americana).
A seguir trocaram os Dez Mandamentos pela Declaração Universal dos Direitos Humanos; o Teocentrismo pelo Androcentrismo e o Direito Natural pelo Direito Positivo.
A coisa nunca mais parou, nem vai parar, porque a sua essência é diabólica (e uma revolução é como uma bicicleta: quando pára, tomba…).
O Estado é democrático? Não é, é partidocrático. E os Partidos são estruturas ordinárias, sem escola, sem princípios, sem doutrina, sem gente capaz, pois ninguém os selecciona, forma, supervisa ou sanciona. Uma espécie de central distribuidora de tachos. E quando aparece alguém capaz é trucidado…
Por isso os chamados “homens bons dos concelhos” fogem de se juntar a tal trupe.
Partidos, onde um chefe do mesmo, acolitado ou não, pelos seus mais próximos, escolhe as listas de deputados que irão (supostamente) representar o povo…
A tendência é sempre para piorar. Quando se vêm acossados, blindam o sistema, atrás de um corrupio de leis; compram influências; prometem o que sabem que não vão cumprir e fazem demagogia. Sempre.
A fórmula final adquire os contornos de nepotismo, que é aquela em que parece que estamos.
Mas quem manda na realidade não são eles; são, aparentemente, as tais organizações “sem rosto” atrás apontadas. E, no meio internacional onde nos situamos, as grandes organizações financeiras internacionais, paredes-meias com as ideologias subversivas da sociedade (olá “Escola de Frankfurt”), com especial incidência na ocidental e dentro de esta, na cristã, onde se destaca a católica…
Sendo o Estado fraco, cheio de corrupção (não há dia algum que não saiam nos “media” notícias sobre corrupção), antinacional e inepto (a não ser para cobrar os tais impostos), a Justiça – que se transformou quase exclusivamente no exercício deletério do Direito - e a organização social, económica e financeira, etc., seguem-lhe os passos.
O equilíbrio dos tais “três poderes” é ilusório, a sua desejada complementaridade é um embuste.
Cada um puxa a brasa à sua sardinha, guerreiam-se e sabotam-se. Mais uma vez é a Nação (que a ouvir os responsáveis políticos, desapareceu…) que sofre e fica à deriva.
Aquilo que se vai fazendo de útil são as iniciativas de empreendedorismo, de cidadãos, que aproveitam nichos de liberdade; investigadores, artistas, desportistas, outros profissionais, que devido ao seu valor e ocasiões que sabem aproveitar, sobressaem, a maioria deles, no estrangeiro; e o que resta de antigas e veneráveis instituições ou corporações que vão sobrevivendo e trabalhando em prol da comunidade, como são os exemplos ainda existentes na Igreja, nas Forças Armadas, na Diplomacia, nas velhas Academias, em áreas universitárias (não muitas), em Instituições de Solidariedade Social, etc.
Deixou de haver “País” como tal, não há um ideal comum, tudo é centrífugo, nada é centrípeto. Está tudo “partido”, pudera…
O que existe resulta apenas da “energia cinética” de quase 900 anos de História comum, que a muitos já pouco diz.
O resto virou uma calamidade, onde sobressai a corrupção, o relativismo moral, o “deus mamon”, a criminalidade, o desregramento da comunicação social, a incultura, a decomposição da família e das instituições, etc., enfim as barbaridades feitas “normalidades”.
Ora um sistema destes, só se mantém, através dos subsídios (haver um mínimo de dinheiro no bolso), algum pão e muito circo (futebol, telenovelas, “reality shows”), imbecilização através dos OCS (sobretudo a televisão); de uma escola que quase só produz analfabetos encartados e acesso desregrado ao crédito.
Tudo isto produziu uma dívida escandalosa, impagável nas próximas gerações, se é que em alguma.
Essa dívida – cuja principal responsabilidade, reside na falta de senso e prudência dos responsáveis portugueses – tem sido fomentada e, ou, aproveitada, desde há 250 anos pela finança apátrida internacionalista, que tem – no nosso caso e em termos contemporâneos - origem na dependência da Coroa Portuguesa, desde 1805, da Casa Inglesa Barings, falida há meia dúzia de anos na voragem da crise espoletada em 2008 – e que tinha sido mantida em respeito, durante o consulado do Professor Salazar, com vontade indómita e pulso de ferro. [3]
Essa maneira de lidar com o dinheiro (chamemos-lhe assim) voltou em força no fim dos anos 70, a que a nacionalização da banca em 1975, só deu asas…
Para os menos crentes lembra-se, se é que alguma vez deram conta, que o maior “Golpe de Estado”, alguma vez feito em todo o mundo, ocorreu em 23 de Dezembro de 1913, no próprio Congresso e Presidência Americana, o que deu origem ao “Federal Reserve Bank” (“FED”, para os amigos…).
Numa palavra não temos qualquer Democracia, mas sim uma Plutocracia onde com o decorrer do tempo, o dinheiro e o Poder, estão concentrados em cada vez menos mãos.
Estas “forças” já se aproveitaram (e nós pusemo-nos a jeito) das três bancarrotas que em Portugal já houve, desde o dia em que os cravos floriram por artes mágicas nos canos das espingardas. A quarta bancarrota vem já a caminho.
Por sorte, não tem havido ruptura de abastecimento, nem bombas nas ruas. O sol e a praia ajudam.
O vinho está (ainda) barato e é bom. Eis a grande conquista de Abril. Que já vinha detrás…
Ora um sistema como o descrito, onde sobressai a imoralidade e a dívida, só se aguenta, também, pela mentira.
É o que ilustraremos na segunda parte do escrito.
João José Brandão Ferreira
Oficial Piloto Aviador (ref.)
[1] Nem a propósito do 45º aniversário do 25 de Abril…
[2] Éfeso 540-470 A. C. Filósofo pré-socrático, considerado o “pai da Dialética”. Recebeu a alcunha de “o Obscuro”…
[3] Banco Barings (1762 – 1995), fundado por Francis Baring, era o banco mais antigo de Londres. Colapsou quando um seu empregado, que trabalhava na filial de Singapura, Nick Leeson, provocou 827 milhões de libras de prejuízo ao fazer investimentos fraudulentos (especulação), sobretudo em “contratos de futuro”
Fonte: O Adamastor
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