“Estranha revolução, esta, que desilude e humilha quem sempre ardentemente a desejou.
Estamos a viver em pleno absurdo, a escrever no livro da História gatafunhos que nenhuma inteligência poderá decifrar no futuro. Todas as conjecturas têm a mesma probabilidade de acerto ou desacerto. Jogamos uma roleta de loucos, que tanto anda como desanda.
O espectáculo que damos neste momento é o de um manicómio territorial onde enfermeiros improvisados e atrevidos submetem nove milhões de concidadãos a um eletrochoque aberrante e desumano”.
Miguel Torga
20 de Junho de 1975
O Presidente português, conhecido na língua japonesa como “Ta Ki Ta Li Ta Kula” foi, desta feita, a Paris – provavelmente com o secreto intuito de visitar os alfarrabistas das margens do Sena – presume-se que a convite do seu homólogo Macron, a fim de assistir à festa nacional francesa.
Um exercício, aliás, de mau gosto como veremos à frente.
À parte o General Eanes, que era austero, circunspecto e levava a sério os assuntos de Estado, cedo se assistiu ao desregramento das viagens, por parte dos inquilinos de Belém, dos governantes, dos deputados, dos presidentes de câmara e, de uma forma geral, de todos os lugares de chefia da máquina do Estado.
Parece uma corrida de deslumbrados.
E, claro, se perguntarmos a cada um e a todos, sobre a importância das suas deslocações, seguramente dirão com ar sério e compenetrado, que sim, são importantes!
É certo que a cada vez maior complexidade das relações internacionais, o desmesurado aumento do número de países (uma parte considerável dos quais não tem sequer condições para o ser) e a multiplicação absurda de organismos, comités, fóruns, grupos de trabalho, etc., não ajuda nada à questão. E tal ocorre um pouco por todo o mundo, sobretudo nos países tidos por mais desenvolvidos.
É claro que as agências de viagens, companhias de transporte (sobretudo aéreo), hotéis, restaurantes, e outros ramos de actividade, que beneficiam desta fúria de deslocações, devem esfregar as mãos de contentes, mas a massa dos contribuintes tem que pagar uma nota preta para sustentar todo este rodopio.
Duvidamos seriamente que os benefícios para os mesmos (contribuintes) superem sequer minimamente, o passivo de toda esta situação. Bem como a justiça social relativa, não parece nada sair reforçada.
Pensávamos nós, que se tinha atingido o ápice do despudor, ao tempo de um “marajá” que deixou nome na história como Soares, Mário Soares. Mas não, eis que agora – a era dos “Ronaldo's” – passámos a ter um presidente (o Ronaldo das viagens que vai, certamente, querer estilhaçar recordes) que, a avaliar pelo exercício já decorrido, vai bater aos pontos (e por “knock-out”!) a performance do antigo “globetrotter”. As tartarugas gigantes das Seychelles que se cuidem, pois há-de chegar a sua vez e no fim ganham uma “selfie”!
Uma viagem presidencial deve ser uma coisa bem pensada, ser cirúrgica e ter uma razão forte de interesse nacional que a sustente e justifique. Não é a mesma coisa que ir beber um café a Cacilhas.
Tudo o que se passa, há muitos anos, aparenta ser o mais das vezes leviano, vulgar; para cumprir calendário; por capricho e sem o menor respeito pelo dinheiro dos contribuintes.
Não sei mesmo porque é que não se acaba com esta coisa das passadeiras vermelhas; honras militares; condecorações e jantares de estadão…
Vão de "jeans", arranjem uns ajudantes de campo que carreguem umas mochilas, levem uns “tuk tuk” para passear, bebam uns copos e fiquem fora o mais tempo possível pois já ninguém vos leva a sério ou tem saudades vossas…
Será que não há fundo para a fossa abissal das viagens? A Assembleia da República devia, supostamente (ah, ah, ah), autorizar e controlar as ditas, mas como os senhores deputados têm um comportamento semelhante, tal prerrogativa nunca passou de um pró-forma, que deve estar permanentemente em modo “automático”.
Agora o “14 de Julho” leia-se, de 1789, data da tão glorificada Revolução Francesa.
Andariam melhor os franceses em mudar a data do seu dia nacional, pois por um azar dos Távoras, em nada os dignifica e não se vislumbra que orgulho possam ter em tão funesta efeméride.
A data é uma mentira histórica, onde predominaram os baixos instintos da condição humana; não se vislumbram razões sociais e políticas de peso, para mudanças tão radicais; tão pouco são credíveis e verosímeis as terríveis acusações feitas aos responsáveis de então, nomeadamente a Família Real; muito menos se encontra justificação para as depredações efectuadas e os crimes e morticínios cometidos.
Grande igualdade!
As aspirações de “liberdade” acabaram rapidamente num reino de terror e pouco depois tudo virou numa ditadura corporizada num homem de génio militar, administrativo e político, que colocou a Europa (e não só) a ferro e fogo, visando uma tentativa de implantação do imperialismo francês em todo o lado. Espetacular fraternidade…
Portugal sofreu cinco invasões do seu território europeu e muitas escaramuças no Ultramar, por causa disso.
Vou elencar as cinco, pois por norma, só se consideram três – e mesmo estas se perguntarmos quais foram aos licenciados que hoje temos, 95% não as saberá dizer (tão pouco o século em que ocorreram…). A tal geração mais bem preparada de sempre (risos) …
A primeira corporizou-se em 1801, a chamada “Guerra das Laranjas”, onde só participaram espanhóis (que nos traíram depois da Campanha do Rossilhão), e que estavam feitos com os franceses; a segunda, em 1807, comandada por Junot; a terceira em 1809, com Soult, à testa; a quarta e mais devastadora, liderada por Massena, em 1810 e a quinta (que só durou 20 dias), comandada pelo General Marmont e que se limitou às terras de Riba - Côa, com início em 3/4/1812.
E ainda tivemos que ir atrás deles, empurrando-os na ponta da espada até Toulouse, quando o cabo-de-guerra corso se rendeu pela 1ª vez.
Por isso ir às comemorações da risível “Tomada da Bastilha”, não é de bom gosto, nem condecora ninguém e especialmente um dignitário da Terra de Santa Maria.
Abaixo, pois, a Revolução; e viva a Contra – Revolução!
A França, aliás, tirando o período do assalto ao ultramar português, nos anos 50 e sobretudo 60, do século passado, em que nos ajudou (ao tempo do General De Gaulle), nunca foi nossa amiga.
Não o foi na 1ª Dinastia, por via das relações que tínhamos com a Borgonha, depois pela aliança que fez com a Espanha na Guerra dos 100 anos e da nossa Aliança Inglesa, acabando num confronto em Aljubarrota; na II Dinastia, passou a atacar-nos no mar com corsários e tentou desalojar-nos de vários locais nomeadamente do Brasil.
Sendo em simultâneo uma potência marítima e continental, esta última teve predomínio, o que por norma a opunha às potências marítimas entre as quais Portugal se encontra.
Ajudaram-nos em parte, na Restauração, mas por puro interesse estratégico e pontual, oscilando o seu auxílio ou inimizade, em função das suas contendas com o reino vizinho.
Nas grandes guerras em que entrámos (a maioria obrigados), a França esteve sempre do outro lado da contenda, como foram os casos da Guerra da Sucessão de Espanha e da Guerra dos Sete Anos.
Durante todo o século XIX, humilhou-nos várias vezes, além de terem deixado o país exangue com as invasões, semearam por cá as ideias jacobinas e as lojas maçónicas do Grande Oriente Lusitano, que juntamente com a maçonaria irregular de origem inglesa, têm dilacerado e dividido o país até aos dias de hoje.
Mas os basbaques nacionais ficam sempre alvoraçados com as ideias que sopram daquelas bandas…
Durante a I Grande Guerra e tirando um fugaz apoio político por via das ideias republicanas instaladas, para mal dos nossos pecados, após o 5 de Outubro de 1910, ostracizaram o apoio que lhes demos (e nada nos obrigava a fazê-lo) e ignoraram-nos nas negociações de paz e seguintes. Durante a Guerra Civil de Espanha, pouco faltou para se colocarem ao lado de Moscovo contra nós, vindo a claudicar durante a II GM, onde o seu comportamento foi lastimável.
Passou a ser a Pátria do sempre em festa revolucionário, sempre com gabarolices de galo cantante e quase sempre saídas de sendeiro.
Resistem e existem, pois na equação estratégica de Cline, a França tem um elevado potencial disponível (por exemplo, o solo e o subsolo mais rico da Europa), mas não são flor que se cheire. E hoje são seguramente um dos países (a Suécia faz-lhe agora concorrência) mais “doentes” do Continente Europeu – o que os incidentes ocorridos com os coletes amarelos ou outros, espelham. Pelos vistos nem o dia nacional, do seu país, respeitam!
Era bom que MRS entendesse isto para não ficar demasiado vaidoso (basbaque) em ter ficado à direita do presidente francês (apesar de não ser o mais antigo presente), ladeado por uma murcha senhora Merkel (que por acaso se chama Kasner…), nitidamente diminuída de saúde e alquebrada fisicamente.
Vamos ao senhor Macron. O senhor Macron não era propriamente um desconhecido até aparecer candidato a presidente, mas também não era nenhuma estrela com provas dadas. Era uma espécie de Obama francês.
Ou seja não existia, foi criado. Não foi eleito, foi lá posto.
Assim a modos que um tal cônsul Aristides Sousa Mendes, que 99% dos portugueses não conhecia, mas que acabou em 3º lugar (após poucas semanas de propaganda) num concurso bronco, que elegia o melhor português de sempre…
Ora Macron foi funcionário dos Rothschield’s, nome da família mais rica e poderosa do mundo, mas cujo nome há muito deixou de aparecer em qualquer órgão de comunicação social. Fica aqui esta pista…
Do mesmo modo que a Sedes, o Expresso e a ala liberal, foram criados para, aparentemente, prepararem a queda do Estado Novo, e a criação da “SIC”, tinha subjacente a mudança sociológica em Portugal e ajudar a eleger ou não, os principais governantes…
Existe um nome comum a tudo isto e que MRS conhece bem. Muito provavelmente foi até “cooptado” por ele.
Do mesmo modo, julgo não me enganar, ao dizer que depois da situação política e social, começar a estabilizar em Portugal, após o “PREC” (o que levou cerca de 10 anos), não há nenhum PR, Chefe de Governo e, porventura, Presidente da AR, que não tenha sido convidado a ir a uma reunião do Grupo de Bilderberg.
A Democracia que surgiu/derivou, nos tempos modernos, da Revolução Francesa (com antecedentes nas Revolução “Gloriosa” Inglesa, de 1688 e na Americana de 1776 – esta última muito ajudada pelos franceses contra os ingleses) e onde predominou o ataque ao Trono e ao Altar, não poderia dar grandes frutos. Mas não deixa de ser uma capa com laivos de virtuosismo e filantropia, para tudo o que se cozinha “debaixo da mesa”.
Parece que agora o cozinhado que se prepara é o reforço da Defesa Europeia. Pudera, a coisa está de rastos e avizinham-se piores dias com o “Brexit” (com o qual os tais poderes (como fenómeno Trump) aparentemente, não contavam).
A única réstia de defesa situa-se na NATO, que não é propriamente uma organização que a UE domine…
Além disso as coisas estão pretas: Trump não está pelos ajustes de pagar a defesa e desistir da concorrência económica; o senhor Putin joga melhor xadrez a dormir do que os outros todos acordados e não está a fim de deixar que lhe entrem nas suas zonas avançadas de defesa e segurança; a China ameaça reduzir as mais-valias económicas e financeiras dos europeus e comprar-lhes tudo o que ainda não está nas mãos dos países árabes ricos; o mundo muçulmano e Israel estão em convulsão permanente e tentam subverter a sociedade ocidental com proselitismo religioso.
Até o novo califa turco, Erdogan, de sua graça, se puder não se ensaia nada em vir por aí adiante a querer impôr um “país” muçulmano no centro da Europa…
A cereja em cima do bolo está a surgir com a revolta das populações europeias, que apesar de anestesiadas pelo materialismo galopante, estão a revoltar-se para reganharem a sua soberania nacional; normas morais e éticas, postas em causa pela enxurrada do cano de esgoto a céu aberto do Relativismo Moral e vários “ismos”, postos em voga pelos muitos que tentam controlar, “democraticamente”, as coisas sem ser pelas urnas (lindo nome) dos votos!
Por isso o reforço da defesa da Europa (qual Europa?) vai ser adiado mais uma vez, pois ninguém está para aí virado e ninguém se entende. E o principezinho Macron tire o cavalinho da chuva que não vai conseguir passar para a França o papel da Alemanha na Europa.
Por uma vez, os poderes eleitos portugueses tiveram uma posição correcta ao discordarem da criação de um Exército Europeu, o que é sinal de alguma lucidez e esperança, de que não se caminhe mais na integração europeia mas sim na cooperação.
O PR que temos, sorri-se muito, mas não creio que tenha grandes motivos para tal.
Enfim, pelo menos está nas suas sete quintas e diverte-se a fazer o que gosta…
João José Brandão Ferreira
Oficial Piloto Aviador (Ref.)