terça-feira, 15 de outubro de 2019

A justa oposição dos Povos


Os Povos que, enfim, não são tão tolos como eles os querem fazer, ou querem que sejam, começam a desconfiar de tanta manteiga e de tão palavrosos Impostores; e pelo que eles começam a fazer e a decretar, conhecem que o fim máximo destes perturbadores do sossego das Nações é roubar e dominar; a reacção é igual à compressão, e a elasticidade moral é mais valente que a elasticidade física; e por um impulso natural, e unânime recalcitra, e diz altamente que não está para aturar uma cambada de Arlequins e Saltimbancos, uma caterva de Tira-dentes, que ainda até agora, por quase quarenta anos, não dizem senão o mesmo, não tem outras frases, outra linguagem na França, na Espanha, em Nápoles, no Piemonte, e nas margens do Tejo cristalino, embutindo a mesma descosida arenga, ou nariz de cera de Médico, ao Botocudo n'América, e a este seu Criado no Forno do Tijolo. Universaliza-se e pronuncia-se esta justíssima oposição, porque os Povos, enfim, antes querem estar pelo que lhes prometia o Homem das Botas e o Gigante Voraz, do que pelo que promete esta Horda de amotinadores, que arrancam as Nações do seio da tranquilidade, aluindo-lhes os alicerces da ventura social, firmados nos antigos costumes, nas antigas Leis: fossem embora um jugo de ferro, ninguém se queixava a estes Senhores, e ninguém lhes encomendava tal Sermão; e se alguém lho tinha encomendado, que lho pagasse.

Pe. José Agostinho de Macedo in «Cartas de José Agostinho de Macedo a seu amigo J.J.P.L.», 1827


Fonte: Veritatis

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