domingo, 20 de outubro de 2019

Estudantes negros no Portugal de 1770

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Paul Erdman Isert (1756-1789), médico cirurgião, botânico e ornitólogo alemão viveu durante a década de 1780 na chamada Costa do Ouro (hoje república do Gana), situada no Golfo da Guiné, ali servindo a Companhia Dinamarquesa das Índias Ocidentais e Guiné. Dessa experiência deixou um famoso Voyages en Guinée et dans les îles Caraïbes en Amérique (1788) que na Europa foi objecto de grande curiosidade.

Isert foi testemunha do grande impacto cultural que os portugueses haviam tido na região, cedo apercebendo-se que os naturais conservavam com orgulho traços da língua, mas igualmente a prática do catolicismo, instituições, técnicas de edificação e até práticas alimentares. Assim, não deixou de notar que à aproximação de europeus, os naturais saudavam amigavelmente com um "a hora" (em boa hora, tal como então se cumprimentava em português) e as despedidas eram feitas com um "adio". O reinete local tinha como principais auxiliares brancos portugueses, responsáveis por todas as operações comerciais com as regiões costeiras demandadas por ingleses, franceses, holandeses e dinamarqueses.

Com efeito, Isert tomou consciência que os portugueses, embora já tivessem perdido o controlo das feitorias e fortins que haviam possuído na região, continuavam a manter contactos esporádicos. A atestá-lo, o facto de em Gragi, um dos chefes locais falar ainda um bom português e dele ter recebido a informação que um dos seus filhos partira há pouco para Portugal para ali estudar, ou seja, para aprender a ler, escrever e contar. Posto que o trato negreiro se dirigia do Golfo da Guiné para o Novo Mundo, foi informado que era do Brasil e não da Europa que os exércitos locais se abasteciam de armas de fogo, mas não só. A prática do consumo de tabaco fora introduzida por portugueses do Brasil, assim como árvores de frutos muito cobiçados pelas propriedades terapêuticas, tais como limoeiros e laranjeiras.

Dessa impregnação resultou um grande surto de adesão ao cristianismo e hoje, seiscentos anos após a chegada dos portugueses, 15% da população pratica a religião católica.

MCB

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