A palavra «colonialismo», por tudo o que implica, condensa um dos processos mais perversos de lavagem cerebral ocorrido durante a era soviética (1917-1991), estratégia de guerra psicológica antiocidental cujos agentes no terreno acabaram por ser os meios universitários. Estes existem por razões inversas, para defenderem a sanidade mental dos povos através da socialização do rigor e da qualidade conhecimento. Para assumir tais características, o conhecimento tem de ser sustentado em conceitos (ou teorias) de validade universal e em evidências empíricas (factos integralmente comprováveis). A palavra «colonialismo» representa uma engenharia mental que regou tudo isso.
Ainda que não existissem outras razões, o que está em causa chega e sobra para obrigar as ciências sociais e humanas a uma reforma profunda. Todavia, académicos e intelectuais resistem a tão elementar dever três décadas após o fim do comunismo soviético. Às pessoas comuns resta, por isso, a dignidade de recusarem utilizar um termo que as humilha, «colonialismo», uma vez que está ao seu alcance a decência e neutralidade do velho termo «colonização». Este trata da mesma maneira, com justiça, ocidentais e não-ocidentais, ao mesmo tempo capta com equilíbrio o bem e o mal associados a encontros civilizacionais entre colonizados e colonizadores ao longo dos muitos séculos de história nos mais variados continentes.
Um exercício simples ajuda a clarificar a questão, bastando que cada um de nós construa uma tabela de dupla entrada. De um lado, pode colocar como título «Contributos da herança colonial de romanos e árabes para a transformação civilizacional dos povos europeus» (século I a.C. ao século XV). Do lado oposto, pode colocar como título «Contributos dos portugueses/europeus para a transformação civilizacional dos povos africanos» (finais do século XIX a finais do século XX, o período da ocupação colonial efetiva de África). Depois, não é difícil preencher a tabela.
Do lado esquerdo, sobre os europeus enquanto colonizados (os territórios ancestrais de Portugal e Espanha são significativos), proponho alguns tópicos da herança civilizacional romana ou árabe: cultura escrita, ideia de estado territorial centralizado fundado na lei escrita, um modelo de civilização material até aí desconhecido (casas, cidades, estradas e demais edificações), monetarização e complexificação das economias (autoconsumo e troca direta substituídos por troca indireta, produto por moeda, e aparecimento de mercados), cálculo, novos hábitos de vida (como tomar banho e beber vinho), cristianismo (a crença no Deus único não foi indiferente ao desenvolvimento do pensamento conceptual abstrato), os mais variados progressos técnicos e científicos, a imposição da pax romana ou a tolerância religiosa islâmica da época.
O conjunto de heranças históricas referido é valorizado nas interpretações que os portugueses e outros povos europeus da atualidade fazem do seu longo passado, incluindo dos seus ancestrais, enquanto colonizados. Tais heranças são transmitidas à generalidade dos cidadãos europeus ocidentais desde o ensino elementar para estimular a sanidade existencial das identidades sociais às quais hoje pertencem. Com isso, as memórias históricas ocidentais não se fixam na componente negativa dos momentos em que os povos autóctones e os ocupantes se combatiam, relacionavam e depois separaram-se, uma vez que existe a consciência social de que a separação física não suprimiu a partilha civilizacional anterior, pelo contrário, pode e deve reforçá-la. Entre os europeus, o foco incide, por isso, no que ficou de positivo do legado dos colonizadores romanos, árabes ou outros.
Em abstrato, não seria difícil proceder do modo idêntico no lado oposto da tabela, o que corresponde aos europeus enquanto colonizadores (Portugal volta a ser um caso significativo). Todavia, os termos contributos e civilizacional no título, aquilo que os europeus legaram aos africanos nos séculos XIX e XX, neste caso serão a priori condenados pela academia e pela intelectualidade atuais, assim como a lógica interpretativa consequente, ainda que essa mesma casta pensante legitime o que ficou escrito antes, quando os europeus eram os colonizados; ainda que saibamos que este segundo lado da tabela irá ser preenchido com tópicos na substância semelhantes aos do primeiro lado em quase tudo; e ainda que africanos comuns que viveram na época colonial, ou que dela tomaram conhecimento nas suas relações quotidianas, forneçam dados empíricos bastantes para o preenchimento semelhante dos dois lados da tabela.
Aquilo que os europeus herdaram como colonizados, e até hoje valorizam na Europa, não é na substância distinto do que legaram como colonizadores sobretudo nas Américas e em África. Será até do mais elementar bom senso admitir que a maior revolução cultural de sempre da África Subsariana, ainda em curso, foi espoletada pela difusão da cultura escrita pelos colonos europeus.
Nada deve à racionalidade analítica, que deveria ser própria dos meios universitários e intelectuais, não colher e desvalorizar ou rejeitar evidências empíricas resultantes de testemunhos vivenciais dos antigos colonizados africanos que viveram na época, como ainda adulterar o sentido de conceitos ou teorias. Acontece que à medida que portugueses e demais europeus, e respetivos ancestrais, passam de colonizados a colonizadores, e quanto mais nos aproximamos do século XX, mais se invertem os critérios de avaliação pretensamente científicos sobre os fenómenos sociais e históricos que, por essa razão, devem ser tratados com base em teorias e conceitos tanto quanto possível estáveis e universais, aplicáveis a uma mesma categoria de fenómenos independentemente das variações no tempo e no espaço.
Quando portugueses e demais europeus passam de colonizados a colonizadores, o fenómeno perde a carga positiva de transformação civilizacional dos povos colonizados para ganhar a carga tenebrosa de crime premeditado contra a humanidade anacronicamente julgado. Para cumprir tal desígnio, o conceito transita de colonização (os europeus foram colonizados) para colonialismo (os europeus foram colonialistas), adjetivação apriorística pejorativa imposta pela máquina de guerra psicológica soviética.
De agora em diante, caro Leitor, espero que compreenda que protege a dignidade da sua pessoa e da sua inteligência, assim como da sua identidade nacional sempre que recusar utilizar a palavra «colonialismo» e, em vez dela, preferir a palavra «colonização». A opressão mental sempre se fez por via da manipulação e controlo do vocabulário, e é tempo de pôr cobro a tal violência psicológica imposta aos povos ocidentais pelas suas próprias elites académicas, intelectuais ou da comunicação social. André Ventura e o CHEGA existem, entre outras razões, para travar esta guerra.
Gabriel Mithá Ribeiro
Vice-Presidente do CHEGA!
Fonte: CHEGA