domingo, 31 de janeiro de 2021

A Data Mais Negra da Nossa História

 



‘A data de 1 de Fevereiro de 1908 é a mais negra de toda a nossa História. Sabe-se que o duplo regicídio de D. Carlos e do Príncipe Real seu filho não foi a obra individual de um facínora, de um niilista ou de um doido. Foi a tremenda execução de uma sentença friamente lavrada por um conluio revolucionário.

Alguns indivíduos aparentemente normais, serenos, senhores de si, tendo talvez um lar, tendo uma família, gozando amplamente a saúde, a liberdade, a alegria de viver, reúne-se em tertúlia política e por uma dissidência de partido resolvem por unanimidade matar um homem e uma criança.
(…) Do Rei que ele foi me permito consignar apenas que monstruosamente o assassinaram no preciso momento culminante em que, perante o abjecto rebaixamento dos costumes políticos do seu tempo, ele empreendia como Chefe do Estado a mais profunda, a mais decisiva obra de remodelação administrativa, de renovamento moral e de saneamento público de que jamais fora objecto, desde a sua origem até então, o corrompido e viciado regime constitucional.


Lucidamente cônscio de que nesse aventuroso lance arriscava talvez a coroa e a vida, ele não vacilou um instante, e encarando a morte caminhou firme e resolutamente para ela, amortalhado, como os heróis e os mártires, na resplandecente convicção do dever cumprido.’


Ramalho Ortigão | Artigo “El-Rei Dom Carlos I de Portugal” de 21 de Janeiro de 1913


Recolha: Plataforma de Cidadania Monárquica

sábado, 30 de janeiro de 2021

Missa de Sufrágio pelas almas de Sua Majestade o Rei Dom Carlos e de Sua Alteza Real o Príncipe Dom Luís Filipe

 


Tendo em consideração as restrições no âmbito do combate à pandemia e a decisão da Conferência Episcopal Portuguesa sobre a realização de missas presenciais, informamos que a Missa de Sufrágio pelas almas de Sua Majestade o Rei Dom Carlos e de Sua Alteza Real o Príncipe Dom Luís Filipe, habitualmente mandada celebrar pela Real Associação de Lisboa, este ano não terá lugar na Igreja de S. Vicente de Fora.

Em alternativa, dada a relevância do piedoso acto para os monárquicos e para a memória colectiva de todos, a Direcção da Real Associação de Lisboa apela aos seus associados e amigos a participarem na Missa de Sufrágio, a ser transmitida online, celebrada pelo nosso associado, o Rev. Padre Tiago Ribeiro Pinto, pároco na Paróquia de Miratejo, na segunda-feira, dia 1 de Fevereiro. A celebração terá início pelas 18 horas e poderá ser seguida na página de Facebook da Real Associação de Lisboa.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Não há nem mistério, nem fascismo no Alentejo

 



A respeito das infelicíssimas declarações de Malato sobre os alentejanos, acusando-os de fascistas, importa que façamos um breve e esclarecedor exercício.


Do saudoso Manuel Inácio Pestana, este magnífico trabalho lê-se numa hora e oferece uma das facetas mais marcantes do Alentejo, essa região misteriosa que se fecha sobre si e será certamente a única do país que nos oferece a ilusão de uma grandeza territorial que Portugal não possui. O importante, o que habitualmente escapa ao observador mais distraído, é o facto de o nosso Alentejo ser a única região portuguesa que oferece uma organização social fundada num sistema familiar comunitário que se estruturou historicamente na acumulação de duas experiências históricas marcantes: aquela nascida da interferência do Islão e, depois, a de haver sido durante mais de 600 anos território administrado por ordens monástico-militares ou concedida a famílias senhoriais muito imbricadas com o povo. Ali, só muito tardiamente se conheceu a "propriedade privada", pelo que a entrada de rompante dos senhores liberais foi um traumatismo de que os alentejanos nunca terão recuperado. Antes de 1834, o celeiro, o forno, os moinhos, as terras de pasto, as azenhas e a lenha eram franqueados a todos os camponeses e foreiros. O regime de facto comunitário sob supervisão religiosa oferecia tecto, fogo, trabalho, escola eclesial, assistência espiritual e a enfermaria, pelo que o Alentejo terá sido certamente a região menos individualista, a mais solidária e socialmente mais envolvente e protectora.


Não esquecer que, por alguma razão, foi o último baluarte do Antigo Regime e da causa miguelista. Os senhores liberais vindos de Lisboa arrasaram tudo isso, erigiram cercas e muros, puseram fora os bons padres e reduziram a população a proletários rurais jornaleiros. Sem a Igreja, o alentejano perdeu o vínculo à religião formal, mas desviou a sua religiosidade para uma espera paciente do retorno a uma era de paz, dignidade e respeito que o mundo lhe negava. A adesão ao PC terá certamente esse cunho de realização da atormentada espera. Pobres, frugais, pacientes e muitas vezes resignados, os alentejanos não terão sido recompensados pela lógica política de um regime estribado no peso do voto, pelo que o PC os terá lentamente trocado por outras mais apetecíveis coutadas eleitorais, nomeadamente a cintura industrial de Lisboa e as caóticas urbanizações que envolvem Lisboa (Cacém, Loures, Odivelas, Amadora).


Empobrecidos, abandonados e deprimidos, os alentejanos viraram-se anteontem para Ventura, não por serem fascistas, odiosos e malsãos, mas por terem sido postos de parte e transformados em ultraperiferia económica e política do país. Há que saber encontrar as razões, em vez de despender disparates dignos de galináceos.
No dia em que os alentejanos fixarem um partido, votarão comunitariamente, compactamente e sem objecções no novo aliado.


MCB


Fonte: Nova Portugalidade

quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Acerca das funções do Rei em Monarquia.

 



Se olharmos com atenção para o que se passa nos países europeus onde a Monarquia é o regime vigente, facilmente chegamos à conclusão de que quem "manda", entenda-se quem governa, são os governos eleitos democraticamente pelos eleitores desses mesmos países, como de resto sucede em Portugal.


Os Reis são um permanente "carimbo" da nossa Pátria. Um Rei, preparado desde o seu nascimento, não divide, contrariamente ao presidente, porque não sendo oriundo de um partido político, está, como dizia Francisco Sousa Tavares, "para além do poder", ou seja, o Rei pertence a todos de igual modo, independentemente do campo político e/ou ideológico, tal como a própria Pátria igualmente a todos pertence. Ao Rei, não tendo, a função de governar nem nela se imiscuir, cabe a importantíssima função de arbitrar de forma realmente isenta o jogo político-partidário, papel sempre difícil para o presidente dado o seu historial partidário e a constante preocupação com a sua reeleição. Analisando os primeiros e os segundos mandatos dos presidentes da república facilmente constatamos que há uma enormíssima diferença no agir entre os dois, sendo o segundo grandemente caraterizado por momentos de conflituosidade entre a presidência e o governo, algo quase inexistente no primeiro.
O Rei ou a Rainha, evidentemente, é um símbolo, não um político. E símbolos dão, alimentam e orientam convicções, devendo por isso ser perenes. Presidentes podem, e quero acreditar que procuram fazê-lo, dentro das limitações insanáveis anteriormente referidas, exercer os seu mandatos o melhor possível, contudo são cidadãos que, no plano simbólico, têm um vínculo claramente diferente com a Pátria. O presidente é apenas um seu representante temporário, ao passo que o Rei tem com ela todo um percurso histórico paralelo.


Dr. Luís Gaspar Dâmaso


Fonte: Causa Real

quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

Tributo: Coro Misto assinala 500 anos da morte de D. Manuel I

 


“A Renascença – 500 anos da morte de D. Manuel I” é o novo projecto do Coro Misto da Beira Interior, que conta com o alto patrocínio de SAR D. Duarte, duque de Bragança, que também marcará presença no concerto de apresentação pública deste trabalho, o que deverá acontecer no mês de Junho.

Este novo trabalho resultará na gravação de um CD com obras do século XV, de Guillaume Dufay, Juan del Encina, T. Arbeau, Josquin des Prés entre outros, assim como um DVD em cenário palaciano e gravado nas localidades cujo Foral foi atribuído precisamente por D. Manuel I.

De acordo com a Associação Cultural da Beira Interior (ACBI), à qual pertence o Coro Misto da Beira Interior, nesta fase inicial, o projecto tem apoio da Fundação Inatel e das câmaras municipais da Covilhã, Sabugal e Idanha-a-Nova, havendo ainda outras instituições que se juntarão ao mesmo.

Para além do Coro Misto da Beira Interior participa neste projecto o Coro Infantil da Beira Interior, que integra crianças da Covilhã, da Escola EB 2/3 do Tortosendo e da Escola Serra da Gardunha do Fundão.

A ACBI justifica ainda a realização deste projecto com o facto de D. Manuel I ter sido um dos mais importantes monarcas na área da cultura, daí este tributo como forma de assinalar esta efeméride, os 500 anos da sua morte.


Fonte: Reconquista

segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

O português, primeira língua da planetarização

 


Primeira língua europeia ouvida e exercitada fora da Europa, o português foi, para muitos africanos, asiáticos e ameríndios, a língua primordial por excelência da universalização dos saberes, a grande dádiva pela qual fluíram os quadros e arrumações científicas que a planetarização tornou possível. Para povos até então ágrafos, o português depressa se converteu no veículo da civilização, como bem lembrava Garcia de Resende na Vida e Feitos d’El Rei Dom João II ao referir-se aos jovens congoleses que desde finais do século XV aprenderam a ler e escrever pelas Cartilhas portuguesas.


O fluxo de impressos não parou de crescer, sendo tão grande a procura que em 1490 seguiram para o Golfo da Guiné dois impressores de cartilhas. Na Europa, ainda a arte da imprensa dava os primeiros passos, e já em remotas paragens tropicais pequenas mãos de crianças negras folheavam livros – essas maravilhas de saber – em busca de conhecimento. A avidez com que os africanos receberam a imprensa tornou-se manifesta assim que o poder português se estabeleceu no Índico. Para a Etiópia seguiram em 1515 dois mil e quinhentos volumes impressos, prenda de Dom Manuel I para o Negus. Afonso de Albuquerque, numa das suas cartas ao Venturoso, dava conta do zelo com que se entregavam os portugueses à difusão da língua, informando o Rei que em Cochim se abrira uma escola que acolhia uma centena de crianças indianas. Depressa, porém, teve de se abandonar a prática do envio de livros de Lisboa, tamanha a solicitação. Preferiu a Coroa portuguesa instalar na Ásia tipografias que respondessem com celeridade à procura. Assim, em Goa montou-se uma tipografia em 1556, e quando a marcha para Leste alargou o espaço português oriental, logo surgiu uma tipografia em Macau (1584) e outra no Japão (1591).


A revolução cultural portuguesa estava em marcha. Em meados do século XVII, o português convertera-se na língua franca asiática e, como tal, não havia inglês ou holandês que àquelas paragens chegasse que não tivesse de aprender o idioma português.


Miguel Castelo-Branco


Fonte: Nova Portugalidade


sábado, 23 de janeiro de 2021

Duques de Bragança concederam entrevista ao programa ‘Dois às 10’

 


Os Duques de Bragança concederam uma entrevista ao programa da TVI "Dois às 10" onde falaram sobre o dia do seu casamento, e da sua vida, entre outras questões.

A entrevista também contou com depoimentos dos seus três filhos, o Infante Dom Afonso de Bragança, a Infanta Dona Maria Francisca de Bragança e o Infante Dom Dinis de Bragança.

Os três elogiaram os pais e deixaram mensagens de admiração e orgulho aos progenitores. 

Veja a entrevista  aquiaqui e aqui.



sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

A suspensão da descrença

 


O Rei é livre, já se gritou em Almacave. Que
se continue a viver num regime que promove
a ilusão de liberdade é algo que é nossa
responsabilidade combater e denunciar.

Existe uma espécie de contrato tácito que é pedido aos leitores de ficção literária ou espectadores de artes performativas como o cinema ou o teatro, por exemplo: é a suspensão da descrença. Ou seja: pelo tempo que durarem aqueles espectáculos ou aque­las páginas nós acreditamos que os personagens são reais, que vivem e acreditam o que exibem naquele momento. Mesmo o mais cínico dos cínicos não terá coragem de interromper uma peça para dizer que nada do que está em palco é verda­de e que os actores não são quem ali estão a dizer que são. É um acordo benéfico para as duas partes e que resulta quanto melhor essa descrença for consegui­da por quem escreve ou interpreta.

Se o leitor começa a estranhar o intróito inesperado, avanço já com a analogia: a eleição de um presidente da república portu­guesa – para ficarmos pelo que nos é próximo e nos interessa - vive também da suspensão da descrença. Expliquemos: o ar­tigo 122 da nossa Constituição declara que como condição de elegibilidade o candidato deva ser cidadão português e com idade igual ou superior a 35 anos, desde que não possua impedimentos legais para isso. O que está implí­cito neste artigo é a possibilidade de qualquer cidadão português que reúna as condições descritas poder chegar ao cargo de chefe de Estado. Primeira suspensão da descrença: a possibilida­de está lá e é bom que exista e que se a possa garantir; mas a probabilidade de facto de um qualquer cidadão anónimo chegar ao cargo de chefe de Estado é reduzidíssima, mesmo que para isso te­nha conseguido reunir as 7.500 assina­turas de eleitores que a lei prevê como número mínimo. A eleição presidencial pede sempre uma máquina eleitoral cara; são de facto os partidos políti­cos que, ao apoiarem determinado cidadão, oferecem as condições ne­cessárias para a sua candidatura, por mais apoios privados ou fortuna pessoal que o candidato possua. O que naturalmente torna o candidato ao cargo mais elevado do país refém de ideologias e eleitorados de quem o apoiou. O que nos leva à segunda falácia, utilizada indistintamente por todos os presidentes eleitos em democracia após terem vencido as eleições: “Sou e serei o presidente de todos os portugueses”. Embora para efeitos legais e práticos isso passe a ser verdade durante o mandato, o presidente é dos portugueses que o elegeram. Os outros – os que votaram noutro candidato ou se abstiveram – ou não se revêm no chefe de Estado ou pouco lhes importa.

Quem quiser acreditar que o cargo de chefe de Estado no sistema presidencial é acessível a qual­quer um e que depois de eleito passa a ser uma figura transversal e amada e respeitada por todos está em plena suspensão da des­crença. Se quisermos uma das grandes vantagens das monarquias podemos come­çar por aqui mesmo: o Rei é uma figura perene, preparada e conhecida por todos para assumir o seu papel. Assim como é conhecido quem o sucede. Mais importante ainda - e natural­mente refiro-me sempre às monarquias constitucio­nais – o Rei é independente, suprapartidário e supra­-ideológico, limitado apenas pela lei fundamental do seu país aprovada que define o seu papel e poder na vida pública e política.

O primeiro presidente e a origem do semipresidencialismo

A história do sistema presidencial português é longa e por vezes sinuosa. Logo depois da Revolução Republicana, o primeiro presidente da autoproclamada Repúbli­ca Portuguesa - Manuel de Arriaga – foi eleito co­legialmente pela recém­-formada Assembleia Nacional Constituinte – que por sua vez foi eleita por sufrágio directo (mas não universal) e em apenas metade dos círculos elei­torais. Como em determinadas circuns­crições havia mais lugares por preencher do que candidatos, os vencedores eram proclamados eleitos sem votação… Para além de ter aumentado a incapacidade eleitoral dos cidadãos em relação ao que havia em monarquia, a república rejeitou o sufrágio universal interditando o voto às mulheres, analfabetos e uma parte dos mi­litares. Sidónio Pais ainda tentou, em 1918, devolver o voto aos cidadãos mascu­linos com idade acima dos 21 anos. Mas a história foi a que se soube e as inca­pacidades repostas no ano seguinte. Coisas da ética republicana.

A Revolução de Maio de 1926 e o Estado Novo a que veio dar lugar relegou a escolha do chefe de Estado a uma farsa que esvaziou do cargo toda a réstia possível de dignidade, com eleições mani­puladas e com os candi­datos que se opunham ao regime a serem perseguidos ou ameaçados.

Com o advento da demo­cracia, e depois de passadas as tribulações que todas as revoluções trazem agarradas, o general Ramalho Eanes tor­na-se o primeiro presidente a ser eleito em sufrágio directo e universal em 1976 e já sob a nova constituição aprovada uns meses antes. Eanes inaugura também o sistema semipresidencial portu­guês, ainda hoje em vigor.

É um híbrido político estranho, este sistema. O seu embrião terá surgido na República de Weimar ale­mã (1919-1933). Um sistema praticamente forçado pelas potências aliadas que tinham vencido a Alema­nha na I Grande Guerra, em que os políticos eram dependendo das diferentes concepções adoptadas.

No semipresidencialismo o chefe de Estado tem poderes executivos, como o de voto ou o da disso­lução da Assembleia da República – o que pode ser uma maneira de contornar a impossibilidade directa de demitir o governo.

Portugal partilha o chamado sistema premier-prési­dent com vários países, desde a França ao Madagáscar passando pelo Burkina-Faso. Não está consagrado em nenhum artigo constitucional. O sistema não está explicitado e é justificado pela prática política. Assim como a divisão de poderes. Extraordinário, quando existe uma alínea, a b), do artigo 288º da Constitui­ção portuguesa) sobre a revisão constitucional que apenas admite de forma clara os limites materiais da revisão da constituição se for respeitada a natu­reza específica do regime republicano. Mas isso já os monárquicos sabem há muito e contra isso lutam há muito tempo.

As debilidades deste tipo de regime são óbvias e têm-se feito sentir por vezes de forma clara e tensa. A instabilidade política que advém de uma situação de coabitação – que acontece quando o chefe de Es­tado é eleito com o apoio de forças políticas adver­sárias das que formam o executivo – é recorrente na história da democracia portuguesa. Recorde-se os casos de Eanes com Soares e do presidente Soares com Cavaco Silva, para não ser exaustivo. O sistema semipresidencial reforça a fragilidade que é ter um chefe de Estado refém de ideologias e outros interesses partidários ou não. Mais uma vez, a ideia do mero árbitro ou moderador é uma suspensão da descrença. Como muitas vezes pode acontecer que seja o próprio governo a pres­sionar o chefe de Estado para aprovar determinados pontos fracturantes da agenda que defende.

Não sendo republicano, estranho este sistema fa­laciosamente montado para garantir um equilíbrio e cooperação entre órgãos de soberania. Está viciado à partida pelo facto aqui reiterado e nada despiciendo da falsa independência do chefe de Estado.

Só o Rei consegue garantir a estabilidade e a real distância dos interesses partidários e outros que cercam todos os presidentes da república. O Rei é livre, já se gritou em Almacave. Que se continue a viver num regime que promove a ilusão de liberda­de é algo que é nossa responsabilidade combater e denunciar.


Nuno Miguel Guedes


Fonte: Real Associação de Lisboa

quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Desnorte

 A corrente polémica sobre o Chega é um bom revelador do desnorte político e intelectual que por aí se instalou. O Chega tem peste, ponto; ai de uma direita sensata e comedida que se lhe aproxime. A “geringonça” montada nos Açores, essa então foi um terramoto que tirou o sono não apenas à esquerda, mas também à direita dita civilizada. Reconheçamos que a chamada direita civilizada é “civilizada” – em observância do breviário socialista – pelo péssimo motivo de que tem vergonha e medo de ser apodada de direita. A direita nunca se endireitará enquanto não perder esta covardia vergonhosa. Tenho conhecido muitas pessoas que se dizem de direita, mas que logo a seguir desfiam a lista das políticas de esquerda que abençoam. Em suma: a direita portuguesa, comedida, digerível e aprazível ainda não saiu do armário, e continua na defensiva, a desfolhar as páginas de um dicionário de eufemismos. Consequentemente, não tem pleno direito de Cidade. Será tolerada se se comportar bem, sem demasiadas franquezas, dourando as verdades e com nenhuns exageros. Até há pouco era assim.

Deixou de ser assim com a chegada da brutalidade de André Ventura. Ventura espantou e chocou muita gente, incluindo eu mesma. Elegeu um deputado – o próprio – e não perde uma oportunidade de ser inconveniente, de chamar as coisas pelos nomes, de violar todas as linhas vermelhas que são as ameias por trás das quais o establishment de esquerda vive aconchegado e protegido. O discurso de Ventura rompe com toda essa “tralha” esquerdista. Fere todas as minhas convicções liberais e conservadoras? Em parte, sim, claro. Mas as minhas convicções liberais e conservadoras, de que não abdico, tal como as de muita gente, não alteram o status quo, não rompem com o status quo, não maçam nem ameaçam ninguém. Ora quer-me parecer que é altura de sair do armário e ocupar o espaço não socialista que resta, transitoriamente despovoado, e que ainda é considerável. Isto não se consegue com falinhas mansas, porque estas são imediatamente neutralizadas e acomodadas num cantinho dentro do regime, onde não perturbam a ordem e as primazias estabelecidas.

Ventura apostou em transtornar esta nossa ordem estabelecida, este nosso aconchego caseiro que assenta numa regra basilar: não há licença para ser de direita, só há licença para ser de esquerda, extrema-esquerda ou de centro-direita, que vem a dar no mesmo que o centro-esquerda. Vivemos num regime sentado no centro, mas que, invariável e naturalmente, se espraia para a esquerda. Sejamos claros: uma direita liberal e conservadora não tem os galões necessários para governar Portugal; obviamente, falta-lhe o cursos honorum da esquerda. À cabeça desse cursos honorum figura, é claro, um passado de militância antifascista. Hoje em dia, para quem conviva com as gerações mais novas do que as que descendem de Maio de 68, o “antifascismo” é uma relíquia bafienta que nada lhes diz. Porém, constitui a principal fonte de legitimidade do PCP – pondo em evidência o arcaísmo deste milenarismo laico – e continua a ser um valor muito caro à esquerda em geral.

Penso, há muito, que vir a ocupar o espaço não socialista à direita sem o trajecto costumeiro e aceite da travessia pelos areais da esquerda, ou da “amizade” da esquerda, é um engodo. Um engodo e um entrave à afirmação de uma direita desenvergonhada de o ser. Esse espaço precisa de ser desatravancado; Ventura decidiu invadi-lo e agride toda a gente com o seu tom bombástico e espalhafatoso e os seus ditos heréticos. Talvez eu seja a única pessoa a pensar que o espalhafato de Ventura pode bem ser a única via susceptível de criar condições para forçar a entrada e estadia na Cidade de uma direita emancipada, serena, desempoeirada e orgulhosa.

E aqui deparamos com o antiquíssimo problema: quem se assume como direita, sem complexos e sem timidez? Pouca gente. Meia dúzia de colunistas que pensam pela cabeça deles. Tudo isto para dizer que a renascença e a reaparição da direita, tal como espelhada no “Manifesto”, precisou – é um facto – da aparição de um André Ventura para quebrar o tabu e lhe abrir um espaço autónomo, sem o constrangimento dos habituais preconceitos. É onde quero chegar: vejo no Chega, justamente pela sua irreverência e falta de maneiras, a possibilidade de terraplanar um território onde uma direita liberal e conservadora poderia assentar arraiais. Por esta razão, porque admito que os destemperos do Chega podem vir a ser frutuosos, não me disponho a diabolizar André Ventura.

Defino-me como uma liberal-conservadora. O meu valor primeiro, inegociável, é a liberdade individual e colectiva. Creio que apenas um regime democrático nos pode conceder este Bem e é precisamente só por este motivo que apoio sem reservas a democracia. O Estado de Direito é outro Bem inestimável, que protege os nossos sagrados direitos, liberdades e garantias. O meu apego ao liberalismo, esse já vem dos tempos de quando me recordo de mim mesma. O conservadorismo deriva da minha visceral aversão a revolucionários e revoluções, uma aversão que aumentou sempre à medida que estudava “A era das revoluções” oitocentistas e, depois, os totalitarismos do século XX. Fiquei a saber com toda a clareza o que não queria. Não queria certamente que tudo ficasse parado no tempo, aliás um absurdo lógico antes mesmo de ser um absurdo sociológico. O conservadorismo não é retrógrado nem pretende inverter a marcha do Tempo. Edmund Burke (“Reflections on the French Revolution”, 1790) expôs exemplarmente a visão conservadora de uma sociedade através de um exemplo prático: os bolsos da minha casaca estão rotos por dentro, logo eu mando substituí-los por bolsos novos. Depois são as abas da casaca que precisam de substituição. Depois é a gola, etc., etc., etc.. Resultado: com gradualismo, serenamente, sem convulsões, ao fim de uns anos de remendar e substituir, Burke ficava com uma casaca nova sem nunca ter verdadeiramente destruído a antiga!

Este é o meu conceito de conservadorismo: a evolução gradual sem revolução. A ideia geminada com esta é de que o conservadorismo, assim visto, pode (e deve) acolher a ideia de progresso, mas rejeita todos os revolucionarismos e todos os malabarismos de engenharia social que violentam as consciências e crenças da maioria da comunidade nacional. Como é fácil inferir, não aprecio “vanguardas” que propalam reivindicações alheias ao sentimento da grande maioria da sociedade ou do país. Não as aprecio, mas regozijo-me com a liberdade de existência e de persistência públicas que as nossas leis lhes concedem. Não fosse esta liberdade constitucionalmente exarada, é bem possível que eu não pudesse publicar este texto, que procura sugerir que é possível conciliar o conservadorismo com o progresso e o liberalismo com a ordem social. Ou seja, que “há mais vida” para além do socialismo!...  

O Chega, se conquistar a necessária credibilidade, talvez, espero, crie ou ajude a criar um espaço de discurso público isento dos constrangimentos e dos tabus que têm, até hoje e com algumas honrosas excepções, impedido a livre expressão de quem não se revê no socialismo. O desnorte político e intelectual criado pela sua aparição parece-me um fenómeno de bom agoiro.

M. Fátima Bonifácio

Fonte: Público

terça-feira, 19 de janeiro de 2021

Monarquia Tradicional para distraídos XIX – Cidadanias

 A mais recente polémica do nosso regime laico e partidocrata, tem a ver com um tempo ocupado no ensino básico e secundário , pois é difícil considerá-lo uma disciplina, que dá pelo nome de “Cidadania”.

Há actualmente uma miscelânea de definições de cidadania.

Para o Estado todo-o-poderoso, trata-se de um conjunto de deveres, que o cidadão tem para com ele, onde sobressaem o carácter punitivo e o demasiado conflito de interesses com o vil metal. Já os direitos são tão escassos, que só se conseguem ler naquele panfleto humorístico, denominado “direitos humanos”.

Para muitos dos comentadores das novas torres de Babel, que dão pelo nome de redes sociais, cidadania é algo confuso, talvez algo vagamente ligado a regras de moral e convivência em sociedade.

Resta-nos, por isso, regressar à sua definição mais pura, a qual consiste nos direitos e deveres do cidadão para com a comunidade, município e sociedade em que vive.

É uma definição perturbante para o estado moderno, porque tal obriga a que as comunidades e Municípios tenham os seus recursos e governos singulares, que toda a sociedade evolua para um bem comum. Isto contraria a essência centralizadora desse Estado, com a sua pseudo-satisfação das necessidades egoístas dos indivíduos e cuja soma aritmética considera uma “sociedade”.

Se na definição clássica a sociedade prossegue um bem comum terreno, é com o Catolicismo que a sociedade se encaminha para a beatificação e para a perfeição de Deus, o que contraria a visão marcadamente economicista desta ”nova cidadania”, refém da “literacia financeira”, “mercado de trabalho”, ou da “educação para o consumo”.

Assim, a escolha é simples e óbvia.

Ou seguir um Estado preocupado em garantir receitas futuras e o domínio total dos indivíduos, num novo e evoluído tipo de escravatura e aceitar como fundamental a “nova cidadania”.

Ou seguir uma sociedade natural, cujo sistema Doutrinário guia o homem livre para a Felicidade e Perfeição Divinas, rejeitando este novo e iníquo “dever cívico”.


Por Deus, Pátria e Rei legitimo

Valentim Rodrigues

Fonte: Causa Tradicionalista

segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

A liberdade do Povo salva-se na liberdade do Rei.

 


‘A liberdade do Povo salva-se na liberdade do Rei. Porque a liberdade do Rei consiste em estar preso à Nação, em fazer com ela um mesmo corpo.
A liberdade que enche os discursos e os jornais de um século romântico é uma falsa liberdade, porque não tem sentido.
Nega-se a natureza humana e, em seguida, afirma-se que o homem é inteiramente livre. Destroem-se as associações, centraliza-se a administração e, sobre as ruínas de toda a obra de séculos, lançam o homem, inteiramente livre... de si próprio.
Procura-se tirar todo o poder concreto à Realeza, única força social igualmente interessada na defesa de todas as outras, e ao mesmo tempo proclama-se a liberdade como convite ao domínio do mais forte.
(…)
A liberdade do Rei é inseparável da liberdade dos Portugueses, mas esta só pode encontrar garantia perfeita e sentido adequado na liberdade do Rei.’


Barrilaro Ruas, Henrique | Político e doutrinador monárquico in ‘O Drama de um Rei’, Lisboa, 1971


Fonte: Plataforma de Cidadania Monárquica

domingo, 17 de janeiro de 2021

«Colonialismo»: a lavagem cerebral soviética

 A palavra «colonialismo», por tudo o que implica, condensa um dos processos mais perversos de lavagem cerebral ocorrido durante a era soviética (1917-1991), estratégia de guerra psicológica antiocidental cujos agentes no terreno acabaram por ser os meios universitários. Estes existem por razões inversas, para defenderem a sanidade mental dos povos através da socialização do rigor e da qualidade conhecimento. Para assumir tais características, o conhecimento tem de ser sustentado em conceitos (ou teorias) de validade universal e em evidências empíricas (factos integralmente comprováveis). A palavra «colonialismo» representa uma engenharia mental que regou tudo isso. 


Ainda que não existissem outras razões, o que está em causa chega e sobra para obrigar as ciências sociais e humanas a uma reforma profunda. Todavia, académicos e intelectuais resistem a tão elementar dever três décadas após o fim do comunismo soviético. Às pessoas comuns resta, por isso, a dignidade de recusarem utilizar um termo que as humilha, «colonialismo», uma vez que está ao seu alcance a decência e neutralidade do velho termo «colonização». Este trata da mesma maneira, com justiça, ocidentais e não-ocidentais, ao mesmo tempo capta com equilíbrio o bem e o mal associados a encontros civilizacionais entre colonizados e colonizadores ao longo dos muitos séculos de história nos mais variados continentes. 


Um exercício simples ajuda a clarificar a questão, bastando que cada um de nós construa uma tabela de dupla entrada. De um lado, pode colocar como título «Contributos da herança colonial de romanos e árabes para a transformação civilizacional dos povos europeus» (século I a.C. ao século XV). Do lado oposto, pode colocar como título «Contributos dos portugueses/europeus para a transformação civilizacional dos povos africanos» (finais do século XIX a finais do século XX, o período da ocupação colonial efetiva de África). Depois, não é difícil preencher a tabela. 


Do lado esquerdo, sobre os europeus enquanto colonizados (os territórios ancestrais de Portugal e Espanha são significativos), proponho alguns tópicos da herança civilizacional romana ou árabe: cultura escrita, ideia de estado territorial centralizado fundado na lei escrita, um modelo de civilização material até aí desconhecido (casas, cidades, estradas e demais edificações), monetarização e complexificação das economias (autoconsumo e troca direta substituídos por troca indireta, produto por moeda, e aparecimento de mercados), cálculo, novos hábitos de vida (como tomar banho e beber vinho), cristianismo (a crença no Deus único não foi indiferente ao desenvolvimento do pensamento conceptual abstrato), os mais variados progressos técnicos e científicos, a imposição da pax romana ou a tolerância religiosa islâmica da época. 


O conjunto de heranças históricas referido é valorizado nas interpretações que os portugueses e outros povos europeus da atualidade fazem do seu longo passado, incluindo dos seus ancestrais, enquanto colonizados. Tais heranças são transmitidas à generalidade dos cidadãos europeus ocidentais desde o ensino elementar para estimular a sanidade existencial das identidades sociais às quais hoje pertencem. Com isso, as memórias históricas ocidentais não se fixam na componente negativa dos momentos em que os povos autóctones e os ocupantes se combatiam, relacionavam e depois separaram-se, uma vez que existe a consciência social de que a separação física não suprimiu a partilha civilizacional anterior, pelo contrário, pode e deve reforçá-la. Entre os europeus, o foco incide, por isso, no que ficou de positivo do legado dos colonizadores romanos, árabes ou outros. 


Em abstrato, não seria difícil proceder do modo idêntico no lado oposto da tabela, o que corresponde aos europeus enquanto colonizadores (Portugal volta a ser um caso significativo). Todavia, os termos contributos civilizacional no título, aquilo que os europeus legaram aos africanos nos séculos XIX e XX, neste caso serão a priori condenados pela academia e pela intelectualidade atuais, assim como a lógica interpretativa consequente, ainda que essa mesma casta pensante legitime o que ficou escrito antes, quando os europeus eram os colonizados; ainda que saibamos que este segundo lado da tabela irá ser preenchido com tópicos na substância semelhantes aos do primeiro lado em quase tudo; e ainda que africanos comuns que viveram na época colonial, ou que dela tomaram conhecimento nas suas relações quotidianas, forneçam dados empíricos bastantes para o preenchimento semelhante dos dois lados da tabela. 


Aquilo que os europeus herdaram como colonizados, e até hoje valorizam na Europa, não é na substância distinto do que legaram como colonizadores sobretudo nas Américas e em África. Será até do mais elementar bom senso admitir que a maior revolução cultural de sempre da África Subsariana, ainda em curso, foi espoletada pela difusão da cultura escrita pelos colonos europeus. 


Nada deve à racionalidade analítica, que deveria ser própria dos meios universitários e intelectuais, não colher e desvalorizar ou rejeitar evidências empíricas resultantes de testemunhos vivenciais dos antigos colonizados africanos que viveram na época, como ainda adulterar o sentido de conceitos ou teorias. Acontece que à medida que portugueses e demais europeus, e respetivos ancestrais, passam de colonizados a colonizadores, e quanto mais nos aproximamos do século XX, mais se invertem os critérios de avaliação pretensamente científicos sobre os fenómenos sociais e históricos que, por essa razão, devem ser tratados com base em teorias e conceitos tanto quanto possível estáveis e universais, aplicáveis a uma mesma categoria de fenómenos independentemente das variações no tempo e no espaço.


Quando portugueses e demais europeus passam de colonizados a colonizadores, o fenómeno perde a carga positiva de transformação civilizacional dos povos colonizados para ganhar a carga tenebrosa de crime premeditado contra a humanidade anacronicamente julgado. Para cumprir tal desígnio, o conceito transita de colonização (os europeus foram colonizados) para colonialismo (os europeus foram colonialistas), adjetivação apriorística pejorativa imposta pela máquina de guerra psicológica soviética. 


De agora em diante, caro Leitor, espero que compreenda que protege a dignidade da sua pessoa e da sua inteligência, assim como da sua identidade nacional sempre que recusar utilizar a palavra «colonialismo» e, em vez dela, preferir a palavra «colonização». A opressão mental sempre se fez por via da manipulação e controlo do vocabulário, e é tempo de pôr cobro a tal violência psicológica imposta aos povos ocidentais pelas suas próprias elites académicas, intelectuais ou da comunicação social. André Ventura e o CHEGA existem, entre outras razões, para travar esta guerra.

 

Gabriel Mithá Ribeiro 

Vice-Presidente do CHEGA!


Fonte: CHEGA

sábado, 16 de janeiro de 2021

As nações precisam de heróis

 


Albuquerque nunca foi querido. Há desde sempre - podemos dizê-lo - um “partido anti-Albuquerque” em Portugal. “Mal com el-rei por amor dos homens, mal com os homens por amor de el-rei”, o célebre desabafo de Afonso de Albuquerque exprime com eloquência a relação que nós, portugueses, mantemos desde o século XVI com o Leão dos Mares. Na galeria dos grandes vultos portugueses que deixaram sulco na história mundial, parece haver consenso a respeito do Infante, de Bartolomeu Dias, de Vasco da Gama e de Pedro Álvares Cabral. Tal não se aplica, decididamente, ao grande Albuquerque. Há que lembrar que o conquistador de Goa, Malaca e Ormuz – o verdadeiro fundador do império português no Oriente – foi invejado e denegrido em vida e que, caso não tivesse morrido à vista de Goa antes de regressar ao Reino, não teria sido certamente recebido como um herói.


A história é, pois, velha, e após a sua morte o seu nome foi intencionalmente esquecido pelos contemporâneos. Foi necessário esperar meio século pela sua reabilitação. Coube ao seu filho Brás de Albuquerque a publicação, em 1576, dos Comentários do Grande Afonso de Albuquerque, Capitão-Geral que foi das Índias Orientais, obra que retirou do esquecimento aquele a quem Portugal ficara a dever a concepção, racionalidade e viabilidade do chamado Estado da Índia, ou seja, do vasto império entre o Cabo da Boa Esperança e o Estreito de Malaca.


Só em finais do século XIX, mercê da publicação dos sete volumes das Cartas de Afonso de Albuquerque, trabalho monumental de localização e transcrição realizado por Bulhão Pato e Henrique Lopes de Mendonça, se ganhou real consciência da importância decisiva que o Vice-Rei da Índia tivera e de quanto o país lhe ficara a dever. No quadro das celebrações em torno da chegada dos portugueses à Índia (1498-1898), Albuquerque ascende não só a grande herói nacional, como a objecto de interesse historiográfico. Contudo, persistiu sempre uma certa má vontade. Albuquerque empunhara a espada, conquistara e derramara sangue, pelo que entre nós ainda haja quem, de forma anacrónica tente julgar os valores e a conduta de um homem nascido no século XV como se de um contemporâneo nosso se tratasse. Sejamos claros: se Portugal evoca ainda hoje na Ásia a ideia de potência, devêmo-lo a Albuquerque. Num tempo em que Portugal e as restantes nações se debatem com a chamada crise das identidades, o lugar e o papel que os heróis históricos desempenham no fortalecimento da consciência nacional é importante.


MCB


Fonte: Nova Portugalidade

sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

O Ideal da Cavalaria e a Necessidade de ser Monárquico

 


Entre as recordações mais vivas que tenho da infância, a sala do meu tio bisavô José é uma das mais recorrentes. O fascínio não era dedicado à sala em si, mas a duas pequenas e curiosas esculturas de ferro colocadas em cima da mesa, duas figuras de cavaleiros medievais, em posição de ataque, como se se confrontassem numa justa. A alma da casa e do seu velho dono revolviam no mesmo espírito desta cena – as imagens, tal como o meu tio bisavô, enchiam a casa de uma dureza, de um rigor frio e velho, uma espécie de inverno branco que, em conjunto com a luz que entrava pelos cortinados da janela, enchem-me as recordações daqueles dias com uma cor que cega.

Os corredores gelados da casa velha, especialmente para a mente de uma criança, criaram em mim uma impressão muito forte, que acompanhou na pele os ensinamentos que a minha família, os meus pais, tios e avós, partilharam comigo. 

Lições de dever, de coragem, de generosidade, de caridade.

Levei comigo essas palavras e agucei as minhas conclusões ao longo dos anos. Questionei durante muito tempo os valores familiares. Um deles, o mais pitoresco, a tradição monárquica, foi talvez o que mais abalos sofreu. 

Enfrentei a dúvida que tantos jovens monárquicos enfrentam: porque razão nos devemos bater por uma ideia que mais não é do que uma afirmação estética, uma diferenciação social que, para os que não sofrem do pedantismo snob da suposta velha aristocracia, é mais prejudicial do que proveitoso?

A verdade é que a Monarquia não é palco para as vaidades da consanguinidade de sangue azul. A Monarquia não é também, ao contrário de tantos cientista políticos, um “atenuador” das lutas partidárias das democracias modernas. Isto não são monarquias, são “situações”.

A Monarquia é a conclusão do Pensamento, é a Árvore, e a flor desta Árvore é o ideal da Cavalaria.

Ao promover a lealdade a uma dinastia que se confunde com os destinos da comunidade nacional, em vez de deixar a mesma comunidade entregue aos jogos políticos dos partidos e dos seus barões, a Monarquia controla a paixão pelo poder dos poderosos. Mas fá-lo porque substitui essa paixão pelo amor ao serviço da Pátria, pelo amor aos feitos corajosos, pelo amor aos mais fracos e desprotegidos.

Numa coisa os snobs hemofílicos da falsa aristocracia têm razão: a Monarquia enobrece. Mas a Monarquia não enobrece os inúteis e os pedantes, os covardes e irresponsáveis, os que assumem as benesses da sua casta como direitos adquiridos. A monarquia enobrece os que vivem à lei da nobreza. A decadência de uma monarquia é fácil de identificar: quando é a aristocracia do dinheiro, e não a aristocracia da virtude, quem domina, os dias dessa monarquia estão contados. No mínimo, fica votada a bibelot decorativo. 

Sem nobreza não há virtude, sem virtude não há monarquia. Que ideia de nobreza será esta?

O ideal da nobreza merece ser aperfeiçoado. A nobreza não depende de um canudo universitário ou de um salário milionário – encontra-se em todas as camadas sociais, pertence a todos os grupos profissionais e a todas as actividades que garantem o bem comum na sociedade portuguesa. Encontra-se no estudante que luta por uma bolsa ou por conseguir o dinheiro das propinas, no empregado fabril ameaçado pelo fecho da sua fábrica, no desempregado que todos os dias navega anúncios atrás de anúncios de emprego na Internet.

Quando tantos e tantos destes homens e mulheres, na sua luta diária, encontram tempo e disponibilidade para dar de si aos outros, é que nos apercebemos que o ideal de cavalaria, aquela dura rigidez do dever, naquela alma de ferro que se demonstra nos mais calorosos actos de amor, de facto existe, mais forte do que nunca, somente à espera de alguém ou algo que lhe dê significado. Esse alguém é, sem dúvida, a monarquia e esse algo é a necessidade de ser monárquico.


Manuel Rezende


Fonte: Notícias Viriato

quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

Balanço e perspectivas!

 Um ano marcado por duas pandemias - uma de origem externa e outra de origem interna. Qual delas a pior? É difícil responder mas inclino-me claramente para a doença caseira porque essa dura há muito tempo e não se vêem melhoras! Senão vejamos, por força do hábito e dos maus costumes temos um governo inenarrável chefiado por um indivíduo inenarrável cujo ponto alto na política foi ter sido o número dois do governo de Sócrates.


Vendo as coisas por este prisma não admira o elenco que escolheu nem os sucessivos danos que causam à sua volta. Desde o amigo de infância, ministro das golas e do SEF, passando pela extra-terrestre da Saúde e acabando na ministra da Justiça que me enganou e anda a enganar a Europa com currículos falsos, não há ninguém que se aproveite. E todos nos envergonham. Mas a enfermidade é pandémica e estende-se naturalmente ao presidente de todos vós. Sujeito peculiar que pelos vistos não tem vergonha do governo que temos. Por isso o mantém em funções. Mas o povo ama-o e o amor é cego. E nunca vai perceber porque é que estamos sempre na cauda do pelotão europeu!


Perspectivas para 2021?! Não são animadoras. Arrisco-me a dizer que o Covid há-de passar mas a pandemia interna vai continuar. A vacina?! Essa, a propaganda republicana encarregou-se de a difamar. Diz que não presta, que faz mal, e o povo crédulo tem medo dela.


Saudações monárquicas

 


Fonte: Interregno

quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

A conspiração da Alta Venda contra a Igreja

 


Os papéis secretos da Alta Venda dos Carbonários, que caíram nas mãos do Papa Gregório XVI, cobrem um período que vai de 1820 a 1846. Foram publicados a pedido do Papa Pio IX, por Crétineau-Joly na sua obra «L'Eglise Romaine en face de la Révolution». E pelo breve de aprovação dirigido ao autor a 25 de Fevereiro de 1861, Pio IX confirma a autenticidade dos documentos, mas não permitiu que fossem divulgados os verdadeiros nomes dos membros da Alta Venda implicados na correspondência. Estas cartas são absolutamente aterradoras, e se os Papas pediram a sua publicação, foi para que os fiéis saibam da conspiração arquitectada contra a Igreja pelas sociedades secretas, para que conheçam os seus planos e estejam prevenidos para a sua eventual realização. Não digo mais nada por agora, apenas que é com temor que se lêem estas linhas; não invento nada, apenas faço ler, mas não é segredo nenhum que hoje elas já estejam em realização! Sem esconder que, mesmo os seus projectos mais audazes, já se encontrem ultrapassados pela realidade actual!

D. Marcel Lefebvre in «Do Liberalismo à Apostasia: A Tragédia Conciliar», 1987


Fonte: Veritatis

terça-feira, 12 de janeiro de 2021

Não é Presidente quem quer, só é Presidente quem pode!

 


Não raras vezes, do falso argumentatório anti-Monarquia, bolsam a ideia de que um Rei é fruto do privilégio do nascimento e que, portanto, só um herdeiro presuntivo com a regalia de ADN pode vir a ser Chefe de Estado, enquanto numa república “qualquer um pode ser presidente”. Ora se a primeira é falsa, a segunda é uma percepção errónea, baseada num logro.


Pigarreiam, para colocar a voz, e soltam, naquele ufano de pesporrência, que ‘numa república qualquer um pode ser presidente! Ora repare-se, que dizem: ‘- qualquer um pode ser presidente!’; mas não dizem: ‘numa república TODOS podem ser presidente!’, que seria a verdadeira igualdade - que fingem reclamar - em que todos seriam iguais e, portanto todo e cada um dos cidadãos estaria em condições de ser presidente da república e não apenas uns quantos, ou melhor: ‘qualquer um!’ Onde pára, pois, a proclamada igualdade?! Sem dúvida que vai a pé, enquanto a equidade vai de carruagem!


Assim, a ideia de que qualquer um pode ser Presidente da República, de acordo com o princípio de igualdade entre os homens, É UMA FANTASIA!


Trata-se de uma concepção errada teorizada num modo geral quando a realidade é bem concreta e diversa; é uma alegoria geral e abstracta baseada no mito da igualdade, pois assenta em premissas erradas, uma vez que supõe existir um nivelamento social que possibilite a subida ao poder a todos os elementos e camadas sociais da sociedade, quando a maioria da população, arredada do caciquismo político ou das camadas sócio-económicas superiores, que vêem o caminho do poder mais acessível, se vê diariamente barrada dos seus supostos direitos – até dos mais elementares como a saúde, a alimentação e um tecto, e muitas vezes a vida – quanto mais serem presidentes da república!


Teorizar que à maioria é consentido o direito de atingir os privilégios que só são concedidos a uma minoria – uma vez que esta é uma democracia do Numerus Clausus, ou uma partidocracia -, é uma idealização que parte do princípio que na prática existe igualdade entre todos, quando o exercício do poder, ao contrário, é inerente a um pequeno grupo que se apropriou dos meios de poder, de coacção ou do domínio financeiro – ou é financiado por essas corporações, porque é nado do seu colo. É, portanto, UMA UTOPIA! Sim, “Portugal é diferente”, nem todos podem ser Presidente: não é Presidente quem quer, só é Presidente quem pode!


Miguel Villas-Boas


Fonte: Plataforma de Cidadania Monárquica