Em Portugal, a comunicação social está enfeudada a interesses económicos e preferências políticas que não correspondem à opinião pública.
A comunicação social tem relevância a nível nacional, porque é o meio através do qual a maioria dos cidadãos tem contacto com a realidade social. A imprensa não é meramente informativa, porque a forma como dá uma notícia e a valoriza não é neutra, nem indiferente. Se, como alguém disse, em política o que parece é, e é aos meios de comunicação social que compete dizer o que parece, é óbvia a sua transcendência política.
Assim sendo, entende-se a importância da media nas sociedades democráticas, em que o povo é chamado a exercer a soberania em função do conhecimento que tem da realidade. Por isso, não é por acaso que os regimes totalitários controlam a comunicação social. Por sua vez, um regime democrático pressupõe uma imprensa livre e plural.
Mas, mesmo nos regimes formalmente democráticos, é recorrente a tentação de controlar as televisões, rádios e jornais, nomeadamente através da concessão de subsídios que ‘compram’, ou pelo menos ‘hipotecam’, a liberdade de pensamento e de expressão. Alguns jornalistas fazem do seu ofício uma militância política e social: em vez de assumirem uma atitude objectiva e imparcial, apenas condicionada pela verdade dos factos, fazem da sua tribuna um púlpito de onde pregam a sua ideologia, impõem os seus preconceitos e, com alguma frequência, dão livre curso aos seus ódios de estimação.
Não é preciso fazer uma exaustiva investigação sobre a comunicação social para concluir que, em Portugal, este poder, que pela sua natureza não é democrático, está concentrado em grupos económicos e preferências políticas que não coincidem, nessa proporção, com a opinião pública. Só os grandes grupos económicos se podem dar ao luxo de serem proprietários de uma televisão, rádio ou jornal de grande tiragem nacional. E, curiosamente, muitos dos jornalistas, que pontificam na nossa praça, alinham pelos mesmos princípios de ordem política e social. Desta realidade decorre uma imprensa enviesada, um discurso político homogéneo e divorciado do pensar e sentir da grande maioria dos portugueses, que não se revê nos conteúdos ideológicos destas televisões, nem destas rádios e jornais.
Alguns exemplos. É sabido que há um partido, dito de extrema-direita, que não esconde a sua antipatia pelos ciganos. Falar de ciganos é, para alguns, racismo ou xenofobia, e, por isso, desprezível: entende a imprensa politicamente correcta que, nestes casos, é preferível não identificar etnicamente os protagonistas de um eventual delito. É verdade que não se pode considerar que todos os membros de uma etnia são, por esse motivo, criminosos, mas também não se pode deixar de reconhecer uma certa arrogância paternalista na atitude de proibir qualquer alusão a essa condição étnica, sobretudo quando é informativamente pertinente e relevante. De facto, a verdade é, numa sociedade livre e democrática, um direito fundamental; pelo contrário, a censura é timbre dos regimes autoritários, sejam eles de extrema-esquerda ou de extrema-direita.
Importa não esquecer que a verdade não é um bem disponível pelos proprietários dos meios de comunicação social, nem pelos jornalistas, mas um direito fundamental de todos os cidadãos.
A prática da censura tem um efeito perverso, na medida em que o leitor, à falta de dados objetivos, tende a interpretar de forma arbitrária e injusta as lacunas dos órgãos de informação. Se, por exemplo, se sabe que um incidente provocado por ciganos, ou afrodescendentes, será noticiado sem referência à etnia dos responsáveis, qualquer episódio dessa natureza, em que não se refira a origem dos protagonistas, será imputado pela opinião pública aos membros dessas minorias, o que nem sempre será verdade e é, portanto, injusto.
Por outro lado, este escrúpulo em relação a ciganos e afrodescendentes não se observa para outras minorias. Com efeito, se um cigano rouba, não se pode identificar a sua etnia, nem deve ser mencionada a raça do afrodescendente que é notícia por razão de um alegado delito. Mas se, pelo contrário, um padre é suspeito de um crime, não há nenhum meio de comunicação social que se iniba de o identificar como tal, mesmo que, como amiúde acontece, a denúncia não corresponda a nenhuma realidade digna sequer de investigação policial, ou judicial. A imprensa politicamente correcta rege-se pelo princípio dos dois pesos e duas medidas: de alguns não se pode dizer que invadiram uma esquadra da polícia, ou espancaram um médico, mesmo que o tenham feito; mas de outros já se pode dizer, publicamente, que são pedófilos, mesmo que o não sejam.
Também não falta quem condene a extrema-direita por ser populista e por praticar o discurso do ódio, que divide os portugueses e cria na sociedade conflitos que um político humanista e cristão deveria evitar. Estou de acordo com o princípio, porque um estadista deve potenciar a união entre todos e nunca semear a divisão. Mas seria injustificado pensar que só a extrema-direita é populista e cria a divisão, quando todos os partidos de ideologia marxista-leninista promovem a luta de classes e, por isso, o ódio social e, às vezes também, o ódio racial, disfarçado de anticolonialismo, ou anti-imperialismo. Basta ouvir um militante da extrema-esquerda, ou de certas organizações antirracistas, para perceber o ódio que campeia, impunemente, por essas organizações políticas e sociais que, não obstante, só estão preocupadas com o populismo e os alegados maus sentimentos da extrema-direita.
É por tudo isto e o que falta dizer, que o Inconveniente faz falta em Portugal. Não será apenas mais um jornal digital, nem mais do mesmo, porque se propõe ser voz de quem não tem voz, preencher um lugar vazio e marcar a diferença, pela afirmação da verdade e pela luta contra a intoxicação ideológica em que aposta a grande maioria da comunicação social. Não o fará, é certo, com uma impossível imparcialidade, mas sem se deixar enredar pelas teias subtis da subserviência económica e política, responsáveis pela falta de qualidade informativa dos principais meios de comunicação social.
Por razão da sua condição, o autor desta crónica nunca abordará questões político-partidárias, que não são, manifestamente, da sua competência. Mas entende que pode e deve, a título pessoal, sem ser porta-voz oficial ou oficioso de nada nem de ninguém, comentar questões de ordem ética e religiosa, de acordo com a fé e a moral católica, segundo o magistério eclesial e a Doutrina Social da Igreja. Neste sentido entende saudar, pela sua salutar diferença, este novo jornal digital.
É verdade que os regimes totalitários não respeitam a liberdade de pensamento, nem a de expressão, e que, nos Estados autoritários, os meios de comunicação social tendem a submeter-se ao poder. Assim aconteceu em Portugal, antes e depois do 25 de Abril, salvo honrosas exceções. Acontece agora também, em que a maioria dos meios de comunicação social está alinhada com o Governo, que os subsidia, e com a maioria de esquerda que lhe dá cobertura parlamentar. Por isso, é urgente e necessário para a democracia portuguesa o aparecimento do Inconveniente, um novo meio de comunicação social que aposta na liberdade e independência.
Um voto, em jeito de conclusão: que o Inconveniente seja sempre fiel a estes princípios, por amor à verdade a que temos direito.
P. Gonçalo Portocarrero de Almada
Fonte: Inconveniente
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