domingo, 7 de fevereiro de 2021

Grande Entrevista a SAR D. Duarte Pio de Bragança ao "Descendências Magazine"

 



O Chefe da Casa Real Portuguesa, Dom Duarte Pio João Miguel Gabriel Rafael de Bragança é filho dos Duques de Bragança, Dom Duarte Nuno, Neto de D. Miguel I, Rei de Portugal e Dona Maria Francisca de Orleans e Bragança, Princesa do Brasil, trineta do Imperador D. Pedro I do Brasil, também conhecido como D. Pedro IV de Portugal.
Em período de exílio que atingiu a Família Real, nasceu na Suíça mas em território português: na Embaixada de Portugal em Berna, a 15 de Maio de 1945. Teve por padrinhos Sua Santidade o Papa Pio XII e por madrinha a Rainha Dona Amélia de Orleans e Bragança, então viúva de D. Carlos I, Rei de Portugal.
Permitido o regresso a Portugal da Família Real nos anos 50, estudou no Colégio Nuno Álvares (Caldas da Saúde) em Santo Tirso entre 1957 e 1959.Em 1960 ingressou no Colégio Militar, prosseguindo, posteriormente, os Seus estudos no Instituto Superior de Agronomia e ainda no Instituto para o Desenvolvimento na Universidade de Genebra.


Estamos muito agradecidos pela honra desta entrevista. Como avalia as medidas tomadas pela OMS no tratamento desta pandemia mundial?

Fica sempre a suspeita de que o Presidente da OMS tenha algumas motivações mais políticas do que científicas. Sei que ele esteve ligado ao Governo radical na Etiópia, o DERG, que aterrorizou a população etíope depois de ter assassinado o Imperador Haile Selasse. Espero estar a ser injusto, mas certamente que houve umas quantas incoerências e incompetências nas atitudes tomadas por ele. Em todo o caso tem experiência em matéria de mortos.

Quais as suas principais preocupações neste momento com todas estas alterações geopolíticas no mundo?

Segundo têm denunciado vários Papas e outros líderes religiosos, a economia mundial parece estar sobretudo ao serviço de certos interesses de grupo, em vez de estar ao serviço das populações, e em particular da grande percentagem de pessoas que vivem em pobreza no mundo. Mesmo na Europa, incluindo em Portugal, isto acontece. Veja o seguinte: muita gente sofre por não ter trabalho remunerado, e muitos outros sofrem por ter trabalho a mais e não se poderem dedicar à família e a atividades que lhes dêem prazer. Isto demonstra má organização da economia. Por outo lado, foi notícia recentemente uma atitude muito inteligente da Autoeuropa e da sua organização laboral. Em vez de despedirem os trabalhadores excedentários quando houve uma grave diminuição das encomendas, concordaram em que todos reduziriam o seu tempo de trabalho semanal, e consequentemente o salário auferido, mas assim ninguém seria despedido. Esta prática contraria as posições sindicais, mas é humanamente inteligente e economicamente eficiente. Muitas da nossas atividades económicas poderiam ser recicladas a fim de melhor servirem a população em geral. Como se explica que ao mesmo tempo haja pessoas a passar fome, outros a não conseguirem vender os seus produtos agrícolas e ao mesmo tempo haver tanta comida desperdiçada, nas famílias e no comércio. O Banco Alimentar, ainda que obviamente sendo uma solução muito limitada e um “tapa-buracos”, é um bom exemplo. O Refood é outro caso de sucesso, assim como o magnífico trabalho da Cáritas Diocesanas.

Que papéis podem ter as monarquias no desfecho de toda esta situação?

Nas Monarquias europeias os Reis e Rainhas têm dado um bom exemplo no sentido de apontar problemas e soluções aos Governos e à opinião pública, bem como de contribuir para a estabilidade política. A Espanha e a Bélgica provavelmente já se teriam desintegrado se vivessem em regime republicano. Em Inglaterra, nos Países Escandinavos, na Holanda e em Luxemburgo as Famílias Reais têm também prestado um serviço insubstituível em muitas ocasiões, apesar dos problemas familiares que também atingiram essas Famílias.
Nesta pandemia quem ler os jornais nacionais publicados nestas Monarquias percebe o grande trabalho desempenhado atualmente pelas suas Famílias Reais.Ainda há tempos, de visita à Suécia, assisti à Comemoração do Dia Nacional. Milhares de pessoas nas ruas de Estocolmo assistiam a um desfile com grande pompa e circunstância, em que participavam os Reis e a sua Família em carruagens de cavalo com uma escolta de cavalaria com uniformes clássicos. Eu perguntei se os suecos, tradicionalmente bastante forretas, não estariam incomodados com estas despesas. Explicaram-me que todas as despesas, incluindo os cavalos, eram pagas por uma Fundação criada por subscrição pública e não custavam nada ao orçamento do Estado. Isto é um bom exemplo para Portugal, onde se gasta imenso dinheiro dos impostos com iniciativas de luxo.

Tendo sido um grande político e militar, D. Afonso Henriques, o nosso primeiro Rei, de que se envergonharia do Portugal de hoje, que ele conquistou?

Com efeito a parte que ele conquistou ainda não foi entregue aos vizinhos europeus, nem aos vizinhos do outro lado do Mediterrâneo. Ele estará mais preocupado com alguns nossos amigos asiáticos… Já D. Manuel I deve andar mais revoltado. De facto nada sobrou daquilo que Portugal conseguiu ser desde a sua época até 1975. O que sobrou é a ligação de afectos entre o que são hoje os Países da CPLP. Mas essa ligação tem que ser cuidadosamente cultivada, a fim de não desaparecer também à medida que as pessoas que eram cidadãos portugueses em 1974 e a quem foi retirado esse estatuto com as independências, vão desaparecendo. À imagem do programa Erasmus podia-se criar um programa Padre António Vieira para os Países de língua Portuguesa. Um dos problemas com a vinda dos jovens mais favorecidos dos países africanos é que muitos preferem ficar cá, em vez de regressarem e ajudarem a desenvolver os seus países. Esse problema poderia ser resolvido como propôs a ex-Ministra da Maria de Belém Roseira: o diploma universitário recebido por estes estudantes com bolsas só seria válido no seu país de origem durante pelo menos 10 anos, depois passaria a ser um diploma internacional. Quem não quisesse, então teria que pagar os seus estudos.

Sabemos que colabora com Príncipe Eduardo, do Reino Unido num programa internacional chamado Prémio Duque de Edimburgo, que em Portugal se designa por Prémio Infante D. Henrique, do qual é o presidente honorário. Em que consiste esse programa? Quem se pode candidatar?

O Programa destina-se a fazer com que os jovens pratiquem actividades que desenvolvem as suas capacidades, incluindo um serviço à Comunidade, aprender um novo desporto, desenvolver um talento e fazer uma expedição numa área de natureza, orientação, etc. O Programa para se desenvolver com o apoio de monitores tem que ser feito em grupo, normalmente através da escola ou de algum clube. Tem havido uma grande receptividade das escolas e em alguns casos também por parte das Câmaras Municipais. Para participar, pode contactar directamente o Secretariado Nacional. Os contactos são os seguintes: tel. 213 430 497, e-mail: premio-idh.geral@sapo.pt; site: https://premio-idh.com.

A sua bisavó materna foi a princesa Isabel, filha de D. Pedro II do Brasil. Que relações mantém com esse país, nosso irmão?

As relações com os meus Primos brasileiros têm sido sempre de grande amizade. Em alguns casos temos trabalhado juntos. É pena não ter podido ir tanto quanto gostaria ao Brasil. Em Fevereiro de 2020 fui a São Paulo com a nossa filha Maria Francisca, a convite da Casa de Portugal para fazer uma conferência sobre a importância presente e futura da Lusofonia. No caminho ficámos três dias no Recife a visitar a Família do meu excelente amigo, o escritor Ariano Suassuna, infelizmente falecido há pouco tempo. Fomos também conhecer a floresta amazónica e a cidade de Manaus. A nossa Filha tinha ido uns dias antes para visitar os nossos Primos no Rio de Janeiro e em Paraty.

O seu bisavô paterno foi o rei D. Miguel e descendem dele também os reis da Bélgica e os Grão-duques do Luxemburgo. Que tipo de proximidade tem com esses familiares?

Temos uma grande relação de amizade e também com outros descentes como os Príncipes de Liechtenstein, a Família Real da Baviera, a Família dos Arquiduques de Habsburgo, descendentes da Imperatriz Zita Bourbon-Parma, que casou com o Imperador Carlos de Áustria cujo corpo está na Igreja do Monte no Funchal.

Que circunstâncias actuais fazem com que a força e o prestígio da instituição monárquica se mantenham e existam ainda muitos monárquicos em Portugal e no mundo?

O seu prestígio vem do facto de continuar a ser muito útil para as populações desses países. Esta utilidade deve-se à experiência e preparação que os Reis e Rainhas demonstram quando assumem a Chefia de Estado e passa também pela relação afectiva que têm com todos os compatriotas.

Quais os valores que a Monarquia nunca abdica? Quais são esses valores que a república deveria integrar? Sentido de responsabilidade a longo prazo em vez de se preocuparem só até às próximas eleições, sentido de inclusão de que somos todos um só povo, apesar das divisões políticas.

É como diz. Em particular a defesa dos valores permanentes da comunidade nacional. Por exemplo os três Chefes de Estado (nossos primos) recusaram assinar as leis a favor do genocídio promovido pelas leis do aborto.

Existe uma ética exclusivamente monárquica?

Eu oiço muito falar na ética republicana, mas confesso que nunca percebi em que é que os republicanos têm uma ética superior aos das restantes pessoas. Olhando para a grande parte das repúblicas actuais, incluindo a nossa, não se pode dizer que a ética dos seus responsáveis seja mais elevada do que a ética dos políticos das Monarquias. Claro que há políticos moralmente sérios como desonestos em ambos os regimes. Sendo a definição de República o bem comum. Vários Reis portugueses intitulavam-se defensores da “República”. Não vejo que os autoproclamados políticos republicanos tenham valores éticos mais elevados do que os políticos monárquicos. Na prática vemos que em geral os políticos em Monarquia têm um sentido de responsabilidade a longo prazo mais profundo.

A Princesa Diana aproximou os povos de todo o mundo às monarquias? Causas abraçadas como as de Diana deveriam estar mais presentes nas agendas dos monarcas?

Todos os Reis actualmente se preocupam e trabalham a favor da justiça social e da proteção do ambiente. O que a Princesa Diana tinha de especial era um carisma muito particular que se podia comparar com o da Princesa Grace do Mónaco ou com o da actual Rainha Matilde da Bélgica, entre outras Princesas. Para além das qualidades e da graça natural delas, conta também com o que se chama de a Graça de Estado, que é o dom que o Espírito Santo concede ao Governantes que o merecem. Infelizmente a Graça também se pode perder.

Na história da monarquia mundial, há um pré e um pós princesa Diana. Qual o impacto desse drama na imagem que o povo ficou do príncipe Carlos?

No começo foi bastante negativa, mas algum tempo depois, numa sondagem feita em Inglaterra sobre quem seria o 1º Presidente da República caso a Inglaterra mudasse de regime, o Príncipe Carlos aparecia em 1º lugar com maioria. O nº 2 era o Richard Branson.

A que se deveu a ausência no casamento de William, em 2011?

Os Ingleses deram prioridade a todos os países da Commonwealth e às Famílias Reais reinantes. Uma união deste género é que nós devíamos procurar desenvolver com a maioria dos Países da actual CPLP. Mas é mais difícil por estarmos em República.

Que tipo de casamento deseja aos seus filhos?

Espero que eles encontrem alguém que os ajude a cumprirem a sua missão perante Deus e perante os Portugueses, e obviamente com quem tenham uma profunda afinidade em relação aos aspectos fundamentais da vida. Esta afinidade é que constitui a base de um casamento feliz capaz de ultrapassar possíveis desentendimentos ou outras crises.

O que privilegia na educação que transmite aos seus filhos?

Os valores de que falei, a capacidade de que todas as decisões sejam tomadas com lógica, em vez de serem principalmente emocionais, pois a emoção frequentemente contradiz a razão. Os valores evangélicos são sempre um guia útil para a nossa vida e que felizmente os nossos filhos têm bem interiorizados. É sabido que o que os filhos aprendem com os pais não é principalmente o que lhes dizemos, mas o exemplo que lhes damos. Esses valores são válidos também para quem não tenha convicções religiosas, mas é claro que a formação cristã ajuda muito.

Que comentário tem a fazer sobre a manutenção do património arquitetónico Real em Portugal, nomeadamente no que respeita a Castelos e Palácios?

Nos últimos tempos, infelizmente, começaram a ser seguidos critérios que em vez de ajudarem à manutenção dos nossos monumentos, sobretudo dos castelos, estão a ter resultados que são contrários ao bom senso e mesmo ao sentimento da maioria da população. Por exemplo, vemos castelos belíssimos e até agora bem preservados que estão a ser desfigurados pelo que chamam “intervenções”. Em muitos casos a ideia caridosa de dar acesso às cadeiras de rodas a todos os lados de um castelo acaba por o desfigurar completamente. Elevadores de alumínio, passadiços de aço, etc, desfiguraram por exemplo o castelo de Palmela, Ourém ou de Porto de Mós, Marialva, entre outros. Em muitos casos as associações representativas da população, e por vezes até as Câmaras Municipais, se manifestaram contra estas intervenções. Os arquitectos responsáveis justificam-se com o malfadado protocolo de Veneza, que lhes dizia ser uma espécie de dogma ou obrigação moral de intervir marcando a nossa época! Ora, na Europa e no mundo já praticamente ninguém acredita neste terrível disparate cultural. Só alguns arquitectos ficam felizes por poder manifestar o seu autoproclamado génio desfigurando monumentos que fazem parte da nossa memória e da nossa História. É fundamental haver um grande movimento cívico e educacional que possa alterar esta atitude.

A título de exemplo e porque os castelos não existem apenas em Lisboa ou no sul de Portugal, recordamos que visitou o Castelo de Montalegre, Trás – os – Montes. Viu as obras concluídas? Fazemos a pergunta pois temos conhecimento que marcou presença no lançamento da primeira pedra na requalificação e à data manifestou preocupações no sentido de se respeitar o património e a sua construção de raiz.

Nalguns casos vi as obras concluídas, por vezes com mais bom senso e noutras extremamente ofensivas ao bom senso. Este problema é extensível também ao facto de algumas Câmaras Municipais autorizarem que se desfigurem aldeias, ruas, bairros com grande equilíbrio arquitetónico para não contrariar algum empresário da construção civil ou algum amigo. Mesmo em Lisboa não é aceitável que em frente ao Mosteiro dos Jerónimos se tenha deixado construir um edifício como o Centro Cultural de Belém. Mesmo o edifício da Fundação Champalimaud, que tem uma arquitetura de grande beleza, teria ficado muito melhor numa zona mais moderna da cidade, como a do Parque das Nações.

Que mensagem quer deixar aos nosso leitores, nomeadamente aos lusodescendentes disseminados pelo mundo fora, impedidos de virem a Portugal, neste Natal e neste 1 de Dezembro?

As famílias que não se podem unir fisicamente podem estar unidas espiritualmente, em particular se tiverem acesso às tecnologias que permitem um contacto visual uns com os outros. Isto é mais complicado com os parentes de maior idade que tenham dificuldade em utilizar estes meios. Poderão pedir ajuda aos mais novos.

Fonte: Descendências Magazine

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