terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

Funerais Reais - 8 de Fevereiro de 1908

 


No dia 8 de Fevereiro, há 113 anos, num Sábado nublado que nasceu triste e enlutado, as urnas com os corpos embalsamados dos martirizados no Regicídio de 1 de Fevereiro, El-Rei o Senhor Dom Carlos I de Portugal e do Príncipe Real Dom Luís Filipe deixavam de ser velados na Capela do Palácio das Necessidades – onde repousavam desde 6 desse mês - e eram transferidos para o Mosteiro de São Vicente de Fora dando-se início aos Funerais de Estado.


O Cortejo fúnebre partiu do Palácio das Necessidades onde os corpos foram embalsamados de 2 para 3 de Fevereiro e onde seriam velados até dia 8.


Cumprindo o rigoroso protocolo medieval em uso pela Casa Real Portuguesa, nem o novo Rei Dom Manuel II ainda de braço enfaixado - resultado do ferimento sofrido no atentado perpetrado pela Carbonária a mando da comissão revolucionária republicana - envergando pela primeira vez o Grande Uniforme de Marechal-General, posto privatístico do Rei de Portugal, nem a Rainha-viúva Dona Amélia, nem Dona Maria Pia, assim como o Infante Dom Afonso, Duque do Porto, marcaram presença no Funeral do Rei e do Príncipe Real. Outrossim, assistiram da tribuna real na Capela das Necessidades, velados, à missa de corpo presente celebrada pelo cardeal Dom José de Almeida Neto (1841-1920), antigo Patriarca de Lisboa, Capelão-Mor da Casa Real, antes dos féretros dos martirizados saírem do Palácio em cortejo fúnebre para as cerimónias oficiais dos Funerais Reais, em São Vicente, e que foram presididas pelo Patriarca António Mendes Bello.


Eram 11 horas, naquela manhã lúgubre, quando as urnas soldadas, por onde, através dos tampos de cristal, se vislumbravam os corpos embalsamados dos Mártires Reais, foram depositadas sobre as carruagens que encimariam o Cortejo fúnebre. Completava o cenário de dor, um rufar lúgubre de tambores e sinos que choravam plangentes. As urnas foram cobertas por enormes mantos de veludo negro encimados por cruzes bordadas. Ao som das salvas de tiros das canhoneiras das fortalezas e dos navios fundeados no Tejo, inicia-se o Cortejo com as carruagens funerárias tiradas por 4 cavalos gualdrapados de um luto muito negro. Precedendo os carros funerários seguiam seis Alabardeiros do Real Corpo de Archeiros, com as suas alabardas invertidas, em sinal de luto.


O 9.º Conde da Asseca transportava nas mãos a Espada do Príncipe Real e D. Fernando de Serpa a Espada D’el-Rei. O elmo D’El-Rei transportava-o o Coronel Charters de Azevedo; a Cazspka do Príncipe Real – famosa barretina dos Lanceiros - que Dom Luís Filipe usava enquanto Tenente Porta-Estandarte do mítico Regimento de Cavalaria nº 2, Esquadrão de Lanceiros n.º 2 d’El-Rei, era transportada pelo Marquês do Lavradio. Os fiéis de sempre eram seguidos pelos Cavalos enlutados do Rei e do Príncipe Real, o Júpiter e o Burster, que seguiam lado a lado com o Marquês do Faial, na qualidade de Estribeiro-Mor, e a escolta de Cavalaria comandada, pelo não menos dedicado, General Craveiro Lopes.
Seguia-se o Cortejo de carruagens e coches, donde se destacavam o Príncipe Arthur, Duque de Connaught, em representação de seu irmão, Eduardo VII da Grã-Bretanha, ambos primos de D. Carlos e depois os áulicos e restante Nobreza, representantes diplomáticos e autoridades.


O Cortejo seguiu serpenteando por Lisboa, onde o Povo, que assistia pesaroso, se distribuíra em multidões compactas pelas diversas artérias.


A exemplo de certa imprensa da época [Fevereiro de 1908], cujos títulos corroboram facilmente a sua agenda tendenciosa [A República; A Paródia; A Luta], ainda hoje os escribas e escoliastas arregimentados deturpam a verdade histórica, a coberto de um suposto fanatismo republicano, afirmando que o Povo não marcou presença nas Cerimónias fúnebres dos assassinados El-Rei o Senhor Dom Carlos I de Portugal e do Príncipe Real Dom Luís Filipe. Mentiras e calúnias a que cabe administrar antídoto! E se a verdade da força das nossas palavras não for o bastante para afastar a difamação, nada melhor que a precisão real das imagens fotográficas do Cortejo fúnebre e dos funerais reais, onde se pode visionar, num luto cerrado e pesaroso, multidões compactas de Povo a assistir à passagem das carruagens funerárias que transportavam enlutadas os mártires reais, cujas vidas haviam sido ceifadas por uma coligação negativa de terroristas no fatídico dia 1 de Fevereiro de 1908. Em toda a Lisboa, por onde o Cortejo seguiu serpenteando, vislumbravam-se ainda as varandas gualdrapadas de mantas e colchas negras nos prédios das ruas por onde passaram os féretros: Av. 24 de Julho, Cais do Sodré, Terreiro do Paço, Terreiro do Trigo, Alfama, Campo de Santa Clara. O Povo espalhara-se em densas massas pelas diversas ruas e assistia plangente. Lamentos alternados com louvores à memória do seu Rei e do seu Príncipe Real, faziam-se ouvir de todos os lados. Triste e enlutado foi o Povo seguindo as urnas com os corpos embalsamados dos martirizados no Regicídio, até desembocar em São Vicente de Fora, Mosteiro e Panteão dos Bragança, onde se iniciariam os Funerais de Estado.


Defronte à Igreja as urnas foram retiradas dos Coches e passados por um encadeamento de braços de funcionários da Casa Civil do Paço, perante o lamento sofrido dos milhares de cabeças que ali acorreram para se despedir dos seus dilectos Rei e Príncipe.


Colocadas as urnas na Capela-Mor, após as cerimónias fúnebres e a Missa de Requiem e antes de serem colocados no Panteão Real dos Bragança no dia 10, os féretros D’ El-Rei o Senhor Dom Carlos I de Portugal e do Príncipe Real Dom Luís Filipe, ficariam expostos durante dois dias na Igreja de São Vicente para serem homenageados, por centenas de milhares de Portugueses que acorreram ao último adeus.


Paz às Suas Almas!


Portugal começava a sua Via Crucis!


Miguel Villas-Boas


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