‘O Príncipe Real era uma figura de arrebatar! Tanto El-Rei como S. M. a Rainha tinham esta preocupação na educação do Príncipe: que Sua Alteza bem merecesse da Pátria pelo que valesse, pelos seus méritos e virtudes. E o Príncipe foi o que Suas Majestades desejavam. Eu vi despontar, naquela alma portuguesa, todos os grandes sentimentos da nacionalidade. Era português na linguagem, imprevisto e delicado como um literato nato, reflexivo (as suas respostas nos exames, dadas depois de meditar, aldeados da Corte que assistia, a cabeça entre as mãos!) e espirituoso, subjetivo e cavalheiresco, enlevado e simples. E desde tamanino, dois traços magistrais e característicos vincaram definitivamente a figura do Príncipe: a ternura pelo Rei e o culto pelo Reino! Toda a nobreza que um grande sentimento demanda, no Príncipe a havia.
O Príncipe [D. Luís Filipe] sabia que o Pai [D. Carlos I] lhe estava preparando uma grande Pátria. O muito amor por seu Pai era, a par da admiração de filho, a profunda, consciente gratidão de Português, que assistia ao engrandecimento incessante de trabalho de patriota.
O sentimento patriótico tão característico no Príncipe Real, o seu espírito eminentemente culto fizeram-no entrar admiravelmente na realização dessa ideia que o alto senso político d’El-Rei D. Carlos imediatamente aprovara.
Da forte personalidade do Príncipe Real emanava um singular atracção: a amenidade do trato e a seriedade do carácter, a alegre comunicabilidade da sua mocidade eram outros tantos elementos da simpatia que despertava. (…)
Quanta vez O [Rei D. Carlos] ouvi descrever a esperança de edificar um futuro grandioso para a Pátria.
É claro que El-Rei não tinha a ilusão que esse sonho florisse de todo no Seu Reinado. Obras dessas não se realizam na vida de um homem. D. Manuel I foi precedido por D. João II. D. Carlos olhava para diante, a sua aspiração estava para lá da sua vida: era esse o seu melhor mérito.
E conscientemente, tenazmente, ia lançando as bases do engrandecimento pátrio, preparando o apogeu para o reinado do Seu amado Filho. Para que o Príncipe Real fosse o seu consciente e seguro continuador, o glorioso herdeiro da Sua obra, o facetador que havia de dar o último toque de cinzel no Seu sonho d’oiro, El-Rei, de passo que preparava a força interior que era o exército, e no exterior o ambiente de consideração, com as suas viagens e as suas óptimas relações pessoais com todos os tronos da Europa: de caminho que preparava um Povo, para as nobres alegrias do futuro, educava-lhe um Rei que incarnasse e guiasse esse Povo, nos últimos trechos da marcha para o renascimento. (…)
Mas D. Carlos educava o Príncipe Real não à Sua imagem, e sim à imagem do seu ideal de Rei. Queria-Lhe todas as virtudes que torna legendário um trono, e d’Ele tudo quanto havia de bom e grande havia repassado para o Filho.
O Príncipe sabia que o Pai lhe estava preparando uma grande Pátria. O muito amor por seu Pai era, a par da admiração de filho, a profunda, consciente gratidão de Português, que assistia ao engrandecimento incessante de trabalho de patriota. (…)
Afectuoso e educado como seu Pai, em El-Rei D. Carlos tinha um retrato do que é a cortesia e o respeito, dentro do afecto. (…)
Do que o Príncipe se apercebia, d’olhos gratos e enlevados, era do que muitos ainda hoje se não apercebem, - do grande Rei que estava sendo El-Rei D. Carlos, e de que florescente época de Renascimento para que o seu reinado nos estava encaminhando.
Como nós nos não podemos aperceber do movimento da Terra, por nela estarmos, o Príncipe Real não se apercebia de que Portugal, para vir a ser grande, até o tinha a Ele!’
General Conselheiro António Coelho V.B. Vasconcellos Porto | Ministro e secretário de Estado dos Negócios da Guerra (Mai. 1906 – Fev. 1908) e Ministro e secretário de Estado interino dos Negócios da Marinha e Ultramar (Jun. – Set. 1907) no Ministério de João Franco Castello-Branco, no reinado D’El-Rei D. Carlos I, in ‘A Marcha Para O Renascimento - El-Rei D. Carlos e o seu Reinado’
Fonte: Acção Monárquica
Sem comentários:
Enviar um comentário