sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

Abortar sem sequer ter o tempo para reflectir

 


«O que tens a fazer, fá-lo depressa». Estas foram as palavras que Jesus dirigiu a Judas na Última Ceia. Desta forma, fez o traidor compreender que sabia tudo. Obviamente, isto não era um convite a traí-lo, mas queria significar exactamente o contrário: um último apelo à sua consciência. Nosso Senhor usou, deste modo, a figura retórica da antífrase: dizer uma coisa para significar o seu oposto.

Na Holanda, por outro lado, não recorreram à antífrase quando, há alguns dias, a Segunda Câmara do Parlamento aprovou uma modificação à lei sobre o aborto que elimina o período de reflexão de cinco dias antes que o procedimento possa ser realizado. O «fá-lo depressa» neste caso significa realmente “apressa-te a abortar”. A proposta de lei, que ainda terá de passar pela Primeira Câmara para se tornar lei, foi votada por 101 deputados contra 38. Entre os outros partidos que votaram contra, foram os três partidos de inspiração cristã. Jan Paternotte, Presidente do partido Democrat66, que propôs este projecto de lei e que se professa católico, disse: «Não é razoável pensar que as mulheres devem simplesmente ir a uma clínica para abortar sem pensar primeiro na sua decisão». Este tempo de reflexão seria «errado, paternalista e obsoleto».

É verdade que as mulheres que vão ao médico porque querem abortar já maturaram a intenção de o fazer, parece banal dizê-lo. Mas a lei holandesa, como a nossa [a italiana, n.d.r.], também prevê uma entrevista obrigatória com o médico que, hipoteticamente, poderia também persuadi-la a não abortar. Não só, mas não há nada que exclua a possibilidade de haver mulheres que vão ao médico em dúvida sobre a sua decisão de abortar. Assim, os cinco dias seguintes à entrevista poderiam ser úteis para repensar salutarmente e, portanto, para salvar muitas vidas. A partir disto compreende-se que os cinco dias após a entrevista com o médico têm um valor muito particular, têm um peso específico muito maior do que todos os dias que precedem a entrevista. Isto é verdade sobretudo porque, após a entrevista, a mulher pode amadurecer com ainda maior consciência a escolha dramática que está prestes a fazer. Por outras palavras, o aborto, a partir de uma hipótese puramente abstracta, após a entrevista torna-se uma verdadeira escolha, começa a realizar-se, a concretizar-se com seriedade. E é naquele período de tempo que podem ocorrer inversões inesperadas.

Este despertar de consciência por parte da mulher deve ser bendito, especialmente por aqueles que se vangloriam do consentimento informado, da centralidade da mulher no processo de tomada de decisão, do princípio da autodeterminação e, acima de tudo, da liberdade de abortar. Conceder mais tempo para reflexão não valida todos estes princípios? A resposta só pode ser afirmativa. Assim, eliminar este tempo de reflexão é mais uma prova de que a frente abortista, não só a frente holandesa mas também a frente internacional, não se preocupa nada com a autodeterminação da mulher e com a sua liberdade. Estas são apenas um espelho para cotovias, meros pretextos para promover somente aquilo que realmente lhes interessa, nomeadamente o aborto, sempre e em qualquer caso.

Quanto mais abortos forem efectuados, mais fácil e mais rápido melhor. É por isso que estão a insistir em pílulas abortivas – também na Holanda está a ser discutido um projecto de lei que permitiria aos médicos de família prescrever as pílulas abortivas –, tornando-as não prescritíveis pelos médicos, dependendo do caso, ou prevendo tempos de internamento diário no hospital, eis a guerra contra os médicos objectores e eis o cancelamento dos tempos de reflexão. Tal como agora existe o divórcio expresso, também na Holanda o aborto expresso está a ser promovido para o tornar mais easy and fast, ou melhor, smart. Mas mesmo que vendam o aborto como um passeio, porque fácil e conveniente, o aborto continua a ser um homicídio pré-natal que também causa a morte da alma da mãe.

Aos parlamentares da Primeira Câmara do Parlamento holandês, que ainda têm de aprovar o projecto de lei, Jesus, então como agora, volta a dizer: «O que tens a fazer, fá-lo depressa».      

Tommaso Scandroglio


Fonte: Dies Irae

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