‘A crise pátria de que o crime de 1 de Fevereiro de 1908 foi uma convulsão selvática subsiste por resolver hoje ainda, e, dia a dia, temerosa e instante.
À “Monarquia sem monárquicos” sucedeu a “República sem republicanos”.
Porque destes, os melhores e mais sinceros e respeitáveis, recolhem à inactividade desenganada vendo que a Republica-facto foi a inversão escandalosa da Republica-ideal dos seus sonhos patrióticos.
Os “Erros que de longe vinham” dos tempos do liberalismo constitucional continuaram a funcionar, sob o predomínio turbulento de grupos políticos, em parte compostos por elementos oriundos da mesma derrubada Monarquia, persistindo o tripúdio das rivalidades personalistas e das ambições mesquinhas, sobre o corpo desgraçado dum País, a quem aqueles próprios que deveriam elevá-lo e servi-lo antes pelo contrário abatem no solo das perdições e vergonhas.
Agravada ainda a situação, porque às causas anteriores de ineficácia e instabilidade, veio somar-se a ausência de correctivo suprapartidário, de estabilização e ponderação que a Monarquia representava. Subindo ao poder em plena emancipação desregrada as oligarquias partidistas, e a sua causa revolucionaria.
Do mesmo poder se desencadearam portanto ventos de insânia, espalhando à toa sementes de perversidade, de egoísmo gozador, e da ganância desonesta. E à mistura, nas asas demolidoras do vendaval, arrastadas seguem, a moral das consciências, e o prestígio da Nação, as Finanças do Tesouro e as fontes particulares e públicas do Crédito e da riqueza.
É a devastação em marcha. É o desmoronamento em realidade efectiva. São em resumo os frutos da maldição surgindo, vermelhos e pútridos, das raízes que no crime se plantaram.
E o grande sacrificado por esse crime nefando de 1 de Fevereiro parece-me que estou a vê-lo lá nas regiões misteriosas onde o acolheu sem dúvida a Providência Divina criadora e suprema ordenadora dos homens e das sociedades. Inspirado ainda o seu espírito pela mesma paixão dos destinos Nacionais que o conduziu ao sacrifício no altar do Dever.’
Cmdt. Henrique de Paiva Couceiro | Reflexão de Circa 1918 do Herói Militar das Campanhas de África, Governador-Geral de Angola e um dos poucos militares que na Revolução republicana de 1910 se bateria, com denodo, pela defesa da Monarquia; Comandante Monárquico Organizador das incursões monárquicas de 5 de Outubro de 1911 e de 6 a 8 de Julho de 1912 e restaurador da Monarquia Constitucional a 19 de Janeiro de 1919 - sendo Regente do Reino em nome de S.M.F. El-Rei Dom Manuel II de Portugal -, no episódio conhecido como ‘Monarquia do Norte’; nas suas próprias palavras, em Outubro de 1911
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