Corria o ano de 1940, quando, acompanhado de meus Pais, visitei várias vezes em Lisboa, a magnífica Exposição do Mundo Português. Com os ensinamentos de História Pátria da minha 4a Classe da Instrução Primária, complementados pelas explicações de meu Pai, durante as várias visitas à Exposição, pude “viver” a Fundação do Reino de Portugal, a Gesta das nossas caravelas, nos Descobrimentos, a formação de um Império, as Vitórias militares para a Restauração da Independência em 1640, e a grandeza das dinastias do Reino de Portugal.
Posteriormente, já no Liceu, pude aprofundar os conhecimentos da instrução primária e comparar a nossa História com as de vários países europeus e concluir que o nosso Portugal tinha a mais bela História da Europa, sem os crimes do assassinato de Reis e príncipes, tão abundantes na em vários países europeus. O Povo Português, amava e respeitava os nossos Reis, de tal modo que quando El-Rei D.Sebastião morreu tragicamente em Alcácer-Quibir, não quis acreditar na sua morte e assim nasceu o mito do Rei Encoberto que voltaria para salvar Portugal.
Tudo isto vem a propósito das comemorações da imposição da República em 1910, dois anos após o Regicídio. República imposta violentamente em Lisboa, numa situação de contínua perturbação, levada a cabo na capital do Reino e nunca referendada pelos Portugueses.
Na verdade, os dois últimos séculos de agitada vida pública nacional foram a consequência de antigas e graves situações vividas a partir do consulado de Pombal, com as prisões arbitrárias de todos os que se lhe opunham, com a expulsão da Companhia de Jesus, com o bárbaro abate das Casas dos Távoras e Aveiros, as repressões de protestos populares no Porto, na Trafaria ou no Algarve, de uma violência nunca antes vista em Portugal, as Invasões Napoleónicas, no século seguinte, a introdução das ideias jacobinas da Revolução Francesa, o ataque e derrube da legítima Dinastia de Bragança, substituída pela de Saxe Coburgo e Gotta, de origem estrangeira e portanto contra as Leis do Reino.
Num País ainda paralisado, sob o choque do regicídio, em que elementos ligados à Maçonaria, a que se juntavam, na constante agitação revolucionária, elementos republicanos, organizações anarquistas, a Carbonária, a Formiga Branca e uma democracia onde abundavam políticos mais preocupados com os seus interesses partidários do que com o interesse da nossa Pátria, a Monarquia, ainda que detendo a maioria absoluta no Parlamento, onde o partido republicano tinha apenas 7 por cento dos votos, a Monarquia que dera a Portugal uma História notável e a grandeza de um Império, acabou por cair, cerca de dois anos após o Regicídio, a 5 de Outubro de 1910, sendo substituída pelo regime republicano, imposto violentamente aos Portugueses e nunca referendado.
É esta data e o século que lhe segue que vão ser objecto de comemorações que abrangem as três diferentes Repúblicas, vividas pelo Povo Português e incluídas neste espaço temporal de 100 anos.
Inicia-se então a vigência de um regime de imposição revolucionária, oposto não só à legalidade constitucional como alheio às tradições de cerca de oito séculos de História Pátria, regime que vai perdurar até à actualidade através de três períodos bem diferenciados, normalmente denominados de 1a República, entre os anos de 1910 a 1926, de 2a República ou Estado Novo, correspondendo na sua quase totalidade à ditadura do Dr. António de Oliveira Salazar, entre os anos de 1926 a 1974, e finalmente o da 3a República, iniciado em 1974 e vigente até hoje . Entremos pois na apreciação do 1° período de uma República, período eivado de um primitivo jacobinismo, de origem maçónica, de que foi principal paladino o Dr. Afonso Costa, mentalmente um jacobino que, ao abrigo de legislação pombalina desenterrada para o efeito e posta novamente em vigor, abriu a guerra contra a Igreja Católica com a expulsão das Ordens Religiosas, com a legislação contra as procissões, com a prisão de elementos do Clero, no prosseguimento da boçal ideia de “acabar com a Religião em duas gerações”, como alardeava Afonso Costa. Em verdade, este período pouco mais foi que um atentado violento e antidemocrático contra os valores mais sagrados dos Portugueses.
Durante este período da República, em 16 anos, a anarquia e a desordem reinaram nas ruas de Lisboa, derrubaram 45 Governos, houve sete Parlamentos, nove Presidentes da República, dos quais um – Sidónio Pais – foi assassinado na Estação do Rossio.
Numa só noite, a 19 de Outubro de 1921, um grupo de facínoras embarcados na “Camioneta Fantasma” conduzida pelo cabo Olímpio, o “Dente de Ouro”, assassinaram 14 pessoas, entre ao quais António Granjo, Machado dos Santos, um dos fundadores da República, José Carlos da Maia, o Comandante Freitas da Silva, e o Coronel Botelho de Vasconcelos, por vezes com requintes de alarve barbárie. Por exemplo António Granjo, quando era tratado de um ferimento no pescoço, na enfermaria do Arsenal foi abatido com dezenas de tiros. Caído no chão, um corneteiro da GNR saltou para cima do peito do cadáver enterrou uma espada no ventre do morto e extraindo a arma gritou : “Vamos ver a cor do sangue do porco”.
Com a expulsão das Ordens Religiosas, o respectivo património, como obras de arte, conventos, propriedades rurais, etc., tudo foi “nacionalizado” e em muitos casos acabou em mãos particulares, ou na venda em hasta pública, quando não deixado ao abandono e à ruína .
A desordem, a violência, os interesses particulares ou partidários sobrepostos aos interesses da Pátria e dos Portugueses, deram como reacção, levantamentos contra os governos instalados em Lisboa, salientando-se, entre outros, Paiva Couceiro, Herói das campanhas de África, que à frente de forças na sua maioria constituídas por voluntários civis, chegou a instaurar no Porto, a Monarquia do Norte, com o apoio da maioria da população nortenha.
Durante este período inicial do novo regime político, que actualmente se pretende festejar, isto é os 16 anos que durou a 1a República, os Portugueses foram vítimas da desordem, de violência, de opressão da liberdade, de insegurança e de instabilidade política. Só no ano de 1920 governaram o País oito governos diferentes!
Que belo panorama para festejar!…
Mas o relato da opressão não acabou! Vai continuar, com a 2a República em 1926, com a revolta do General Gomes da Costa, que, a 28 de Maio daquele ano, a partir de Braga, marchou sobre Lisboa, a fim de pôr cobro, à desordem em que caíra a nossa Pátria. Mas preso e exilado o próprio Gomes das Costa, e com o regresso ao governo do Dr. Salazar, ex-ministro das Finanças, o movimento de 28 de Maio acabou por dar origem a uma longa ditadura, implantada mais pela experiência e temor das desordens de um passado recente e pelo vivo desejo de paz e de ordem dos Portugueses, que propriamente desejada pelos Militares de 1926.
Salazar, inicia o reforço da Autoridade do Estado, sustentado pela Polícia de Informação e Defesa do Estado (a célebre PIDE), cujos meios e poder cresceram com o tempo e cada vez mais sufocaram a liberdade de expressão, limitada oficialmente ao partido único da União Nacional.
Contudo, dois aspectos louváveis houve na actuação de António Salazar no Poder: um, a sua honestidade, irrepreensível, em questões de dinheiro, (virtude que infelizmente vai rareando entre a nossa actual classe política, com a qual comparado, o velho Zé do Telhado não passaria de um simpático e generoso ladrão dos caminhos).
O segundo, a sua política internacional, que salvou Portugal e os Portugueses da trágica Guerra europeia de 39 a 45, poupando-nos milhares de vítimas, de órfãos, de viúvas e destruições do nosso património.
Mas, em contra partida, não podemos esquecer que Salazar foi o principal responsável pela tenebrosa visão e cega conduta do problema ultramarino, bem condensados na sua afirmação em discurso aos portugueses :”Do alto destas muralhas, defenderemos o nosso Império !”, isto na segunda metade do século XX !
O titubeante governo do honesto Dr. Marcelo Caetano, limitado na sua actuação por Américo Tomaz, incapaz de dar solução à Guerra do Ultramar, acabou por fazer ruir a 2a República a 25 de Abril de 1974 , cujo golpe final foi dado por uma revolução militar sem derramamento de sangue .
Na mesma data se inicia a chamada 3a República, ainda vigente e que, mesmo dando de graça os anos do “PREC” veio instituir, com a degradação da Justiça, a corrupção, praticamente consentida, de uma grande parte dos políticos, os quais por vezes sem preparação e com ausência de valores morais, atiraram o País para uma situação de descalabro económico agravado por uma crise mundial, dando origem a um período gravíssimo, de que se não vê o fim.
Se a tudo isto juntarmos que, em termos económicos, as repúblicas são bastante mais caras que as monarquias (veja-se os custos das eleições presidenciais, os vencimentos do Presidente em exercício e dos variados ex-Presidentes ainda vivos, os custos da nossa Presidência da República, que orçam pelo dobro dos custos da Casa Real de Espanha) tudo isto comparado, com um “Rei natural” que apenas uma vez, durante o seu reinado, é solenemente aclamado no Parlamento, leva-nos, sem sombra de dúvida à conclusão de que o regime republicano que mantemos, é um luxo despropositado para o nosso País e lembro ainda que a Monarquia Portuguesa nunca andou a festejar os vários centenários da sua longa duração, nem criou feriados a comemorar revoluções de Portugueses contra Portugueses.
Com ou sem crise, a comparação da ordem, do civismo, do prestígio das Monarquias europeias com iguais parâmetros da República Portuguesa, que tristemente se pretende festejar, é simplesmente confrangedora para nós Portugueses.
Fonte: Causa Monárquica
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