De quem podia vir a preclara ideia? De Mário Soares, claro está. Aliás, o "sagrado" está na sua linhagem, como os cálices estão na celebração da Eucaristia. Filho de um ex-sacerdote que muito oportunamente se "despadrou" logo a seguir à burricada de 1910 - o mesmo Padre João que nos juramentos de Bandeira, alegadamente tecia loas à consubstanciação do corpo da Pátria no corpo d'El-Rei -, M.S. sempre teve um fraquinho pelas coisas do transcendente, desde que isso implicasse muitas e vistosas cerimónias, fotos com os Papas e príncipes da Igreja, vestes vermelhas cardinalícias, Te Deums e outras grandiosas anti-laicidades do estilo.
Diz que o 5 de Outubro é "sagrado", porque a "maioria da população portuguesa é republicana" e ainda por cima, afiança que o povo "não gostou" da ideia da abolição do feriado republicano. Seria interessante sabermos como é que disso poderá ter tanta certeza, uma vez que a tal República é afinal de continhas bem feitas, o tal esquema que resolvia os seus assuntos no malha-costas de adversários, a mesmíssima República que provocou uma maciça fuga para o estrangeiro - nas suas três versões regimentais, diga-se -, que bombardeou, prendeu, torturou, armou-se em ditadora ad eternum, arruinou financeira e economicamente o país, que tão mal "descolonizou" e que tantos dispendiosos e imprestáveis quadrúpedes teve na manjedoura de Belém. Em suma, República deu "no troykismo" que se vive.
Coerentemente, o reformado e bem pago ex-PR vai dizendo que a abolição do feriado do 1º de Dezembro, dia da Restauração da Independência, "não é tão grave". Percebe-se...
Mário Soares não é um qualquer, há que reconhecê-lo. Por mais incrível que pareça, a sua palavra ainda encontra eco nos saudosistas dos grandes nadas e aqui está a "ultima perninha" que talvez ainda consiga preservar para os próximos anos, o dia da nossa derradeira ida à praia. A menos que o actual Relvas seja "sensível" a gorduras aventaleiras, Mário Soares que se conforme como puder. Por exemplo, pague a senha - nem tudo pode ser à borla - e vá ao jantar dos Conjurados. Ainda está a tempo.
Nuno Castelo-Branco
Fonte: Estado Sentido
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